# O Coronel que Mandou Enterrar Seus Escravos até o Pescoço Como “Lição” — Recôncavo Baiano

Na manhã de 23 de março de 1847, sete homens foram enterrados vivos até o pescoço em uma fileira no terreiro da fazenda Santa Rita, no Recôncavo Baiano. Suas cabeças ficavam expostas ao sol implacável, enquanto seus corpos permaneciam presos na terra úmida e escura. Não podiam se mover, não podiam se defender dos insetos que começaram a pousar em seus rostos, não podiam escapar do calor que fazia a terra ao redor deles ferver.


eram escravos sendo punidos por terem tentado fugir. E o homem responsável por aquela tortura, o coronel Francisco de Almeida Prado, sentava-se na varanda de sua casa grande, bebendo cachaça e observando o espetáculo de sofrimento que havia criado. Dos sete homens enterrados naquele dia, apenas três sobreviveram, e um deles, Tomás, carregaria as cicatrizes daquela tortura por toda a vida, não apenas no corpo, mas na alma.
Esta é a história real de uma das práticas de punição mais brutais da escravidão brasileira, documentada em relatos de viajantes, registros eclesiásticos e testemunhos de sobreviventes do Recôncavo baiano. O recôncavo baiano, em meados do século XIX, era uma das regiões mais ricas do Brasil.
Seus engenhos de açúcar e fazendas de fumo produziam fortunas colossais para os coronéis que dominavam a área. Mas essa riqueza era construída sobre o sangue e o sofrimento de milhares de africanos escravizados, trazidos à força para trabalhar nas plantações. As condições eram brutais mesmo pelos padrões cruéis da época. Jornadas de trabalho de 15 horas, alimentação insuficiente, castigos físicos frequentes e uma taxa de mortalidade que fazia os fazendeiros considerarem mais barato comprar novos escravos do que melhorar as condições dos que já possuíam. A fazenda Santa
Rita ficava próxima à cidade de Santo Amaro da Purificação, uma das mais importantes do recôncavo. Era propriedade do coronel Francisco de Almeida Prado, um homem de 51 anos que herdara a fazenda do pai em 1832. [Música] Francisco era conhecido em toda a região por sua crueldade excepcional, mesmo em uma sociedade que normalizava a violência contra escravos.
Possuía aproximadamente 180 pessoas escravizadas, distribuídas entre o trabalho nos canaviais, na casa de engenho, onde o açúcar era processado e nas instalações domésticas da Casa Grande. Tomás tinha 26 anos em 1847. Nascera na própria fazenda Santa Rita, filho de Benedita, uma escrava que morrera quando ele tinha apenas 8 anos.
Seu pai era desconhecido, provavelmente um dos filhos do antigo coronel ou algum feitor. Tomás cresceu trabalhando nos canaviais desde os 6 anos de idade, primeiro em tarefas leves, depois à medida que crescia, assumindo o trabalho pesado de cortar e carregar cana durante as safras intermináveis. Diferente de muitos escravos da fazenda, Tomás sabia ler, aprendera observando as lições que o professor particular dava aos filhos do coronel.
memorizando as letras e sons, praticando em segredo com pedaços de carvão em tábuas de madeira. Esse conhecimento, embora limitado, dava a Tomás uma compreensão mais ampla do mundo. Ele conseguira acesso a alguns jornais velhos descartados pela Casa Grande e lera sobre o movimento abolicionista, sobre países que já haviam abolido a escravidão, sobre rebeliões escravas que aconteciam em outras partes do Brasil.
Foi essa consciência que plantou em Tomás a semente da fuga. Ele não queria apenas escapar da fazenda Santa Rita, queria chegar a Salvador, onde ouvira dizer que havia uma comunidade de negros livres e libertos que ajudavam fugitivos. De lá, talvez conseguisse embarcar em um navio para algum lugar onde a escravidão não existisse.
Era sonho quase impossível, mas Tomás estava disposto a arriscar tudo. Durante meses, Tomás recrutou outros escravos para seu plano. Precisava ser cuidadoso. Havia delatores entre os cativos, pessoas que trocavam informações por pequenos favores dos feitores. Mais eventualmente formou um grupo de sete homens de confiança. Além dele próprio, havia Joaquim, de 31 anos, um homem forte que trabalhava na moenda.
André de 24, considerado um dos melhores cortadores de cana da fazenda. Pedro de 29, que trabalhava como ferreiro. Manuel de 35, o mais velho do grupo. Sebastião de 22, o mais jovem, e Vicente de 27, que tinha uma cicatriz profunda no rosto de um açoitamento anterior. O plano era fugir durante a noite de Lua Nova de março, quando a escuridão seria mais completa.
levariam facões roubados da casa de ferramentas, algumas roupas extras, farinha e carne seca que haviam conseguido economizar de suas rações. Seguiriam pela mata fechada até alcançar a estrada que levava a Salvador. Uma jornada de aproximadamente 60 km que esperavam completar em três ou quatro dias. Na noite de 20 de março de 1847, os sete homens se encontraram conforme planejado perto da Cenzala.
Era por volta das 2as da madrugada. Os feitores que vigiavam durante a noite estavam em seus postos habituais, mas não esperavam tentativa de fuga. As fugas eram raras na fazenda Santa Rita, não porque os escravos não quisessem fugir, mas porque sabiam que as punições para os capturados eram terríveis. Os sete homens conseguiram sair da área da fazenda sem serem detectados.
Correram pela escuridão, seus corações batendo acelerados. misturando medo e esperança. Durante as primeiras horas, tudo parecia estar funcionando. Alcançaram a mata densa e seguiram em direção Nordeste, usando as estrelas para se orientar. Tomás sentia uma alegria que não experimentava há anos. Liberdade estava ao alcance.
Talvez, apenas talvez, conseguissem escapar. Mas na manhã seguinte, quando os feitores fizeram a contagem matinal dos escravos, descobriram que sete homens estavam faltando. O coronel Francisco foi informado imediatamente. Sua reação foi de fúria absoluta, não apenas pela perda econômica que sete escravos representavam, mas pela afronta à sua autoridade.
Escravos que fugiam eram escravos que não temiam suficientemente seu senhor. Isso não podia ser tolerado. O coronel imediatamente organizou uma expedição de captura. Reuniu seis capitães do mato, homens especializados em rastrear e capturar escravos fugitivos, equipados com armas de fogo, facões, cordas e cães treinados para seguir rastros humanos.
Ofereceu recompensa generosa pela captura dos sete fugitivos vivos. Queria fazer um exemplo deles. Morte seria misericórdia demais. Os cães encontraram o rastro dos fugitivos. Antes do meio-dia, os sete homens haviam cometido erro crucial. Em vez de seguir por terreno rochoso, onde os cães teriam dificuldade de rastrear, seguiram por caminhos mais fáceis através da mata, deixando rastros claros.
Os capitães do mato, experientes, seguiram o rastro com eficiência metódica. Na tarde de 21 de março, apenas um dia após a fuga, os capitães do mato alcançaram os fugitivos. Os sete homens tentaram resistir. André conseguiu ferir um dos capitães com seu facão antes de ser derrubado por um tiro de espingarda que atravessou seu ombro.
Vicente lutou ferozmente até ser dominado por três homens e amarrado. Os outros foram capturados um por um, alguns tentando correr, outros tentando se esconder. Em menos de uma hora, todos os sete estavam amarrados e sendo arrastados de volta para a fazenda Santa Rita. A viagem de volta foi agonizante. Os homens foram amarrados uns aos outros em fila, com cordas ao redor dos pescoços.
Qualquer um que tropeçasse puxava os outros. André sangrava profusamente do ferimento no ombro, mas não recebeu nenhum tratamento. Os capitães do mato os açoitavam ocasionalmente com chicotes, apenas para lembrá-los de sua situação. Tomás caminhava em silêncio, sabendo que o pior ainda estava por vir. chegaram à fazenda Santa Rita na manhã de 22 de março.
O coronel Francisco os esperava no terreiro da fazenda. Todos os outros escravos haviam sido forçados a parar o trabalho e formar um semicírculo ao redor do terreiro. Era importante que todos testemunhassem o que aconteceria com aqueles que tentavam fugir. “Vocês tentaram me roubar”, disse o coronel. Sua voz calma, mas carregada de ameaça.
Sete peças valiosas de minha propriedade decidiram que podiam simplesmente ir embora. Preciso ensiná-los uma lição que nunca esquecerão e preciso garantir que todos aqui. Ele gesticulou para os outros escravos assistindo. Compreendam o que acontece com quem tenta fugir. O coronel então explicou a punição. Os sete homens seriam enterrados até o pescoço no terreiro da fazenda.
permaneceriam assim por três dias completos, expostos ao sol, sem água, sem comida. Se sobrevivessem, seriam libertados dos buracos e retornariam ao trabalho. Os que morressem serviriam como exemplo permanente. A escolha dessa punição específica não era acidental. O coronel Francisco havia aprendido sobre ela com outros fazendeiros da região.
Enterrar escravos até o pescoço era considerado método de punição particularmente eficaz, porque causava sofrimento intenso e prolongado, sem deixar as marcas permanentes e visíveis do açoitamento. Um escravo coberto de cicatrizes de chicote valia menos no mercado caso o senhor decidisse vendê-lo. Mas enterrar preservava a mercadoria.
enquanto quebrava completamente o espírito. Durante a tarde de 22 de março, escravos foram forçados a cavar sete buracos no terreiro em linha reta, espaçados aproximadamente 2 m um do outro. Os buracos tinham profundidade suficiente para que um homem ficasse de pé com apenas a cabeça exposta. A terra retirada foi amontoada ao lado de cada buraco.
Ao entardecer, a preparação estava completa. Um por um, os sete fugitivos foram colocados nos buracos. Tinham que ficar de pé, com os braços presos ao longo do corpo. Não podiam se sentar, não podiam se agachar, apenas ficar em pé imóveis, enquanto a terra era jogada de volta ao redor deles, compactada firmemente para garantir que não conseguissem se mover.
Tomás foi o terceiro a ser enterrado. Sentiu a terra fria e úmida sendo jogada ao redor de suas pernas, subindo até seus joelhos. Depois sua cintura, seu peito. A pressão da terra compactada tornava difícil respirar profundamente. Quando a Terra alcançou o seu pescoço, ele teve um momento de pânico absoluto, sentindo que seria completamente enterrado vivo.
Mas pararam ali, deixando sua cabeça completamente exposta. Quando os sete homens estavam todos enterrados, o sol já estava se pondo. O coronel Francisco caminhou lentamente pela linha de cabeças, emergindo da terra. “Vocês ficarão aí por três dias”, disse ele. “Se tiverem sorte, sobreviverão. Se não tiverem bem, suas mortes ensinarão aos outros o preço da desobediência.
” Então ele voltou para a casa grande, deixando sete homens à sua agonia. A primeira noite foi a mais difícil psicologicamente. A escuridão absoluta, a impossibilidade de movimento, a sensação de estar enterrado vivo criava um terror que era quase pior que a dor física. Tomás tentou conversar com André, que estava enterrado ao seu lado, mas sua voz saía fraca, sufocada pela pressão da terra ao redor de seu peito.
André não respondeu. Mais tarde, Tomás descobriria que o ferimento de bala no ombro de André havia se infectado e ele estava febril e semiconsciente. Quando o sol nasceu na manhã de 23 de março, trouxe novo tipo de tortura. O calor começou a aumentar rapidamente. Às 8 da manhã, o sol já estava forte o suficiente para queimar a pele.
Às 10 horas era insuportável. As cabeças dos sete homens ficavam completamente expostas, sem nenhuma sombra, sob sol escaldante do recôncavo baiano em março. Tomás sentiu sua pele começar a queimar. tentou fechar os olhos contra o brilho, mas isso não ajudava contra o calor. Suor escorria por seu rosto, mas não podia limpar.
Moscas começaram a pousar em seu rosto, atraídas pelo suor e pelo cheiro de medo. Não podia espantá-las. Elas caminhavam sobre seus olhos, entravam em suas narinas, pousavam em seus lábios. Era tortura adicional que o fazia querer gritar. A sede chegou por volta do meio-dia. Tomás não bebia água desde a manhã anterior, antes da captura.


Sua boca ficou seca, sua língua inchada. Tentou produzir saliva, mas não conseguia. A desidratação começava a afetar seu pensamento. Via coisas que não estavam lá, sombras que se moviam, vozes que chamavam seu nome. Do outro lado da linha, Manuel começou a gritar: “Água, por favor, água!” Sua voz era rouca, desesperada, mas não havia água.
Os feitores que guardavam os homens enterrados tinham ordens estritas de não dar nada. Manuel gritou por horas até sua voz falhar completamente. André morreu no segundo dia. Tomás percebeu quando seu amigo parou de responder aos chamados. A cabeça de André caiu para a frente, queixo tocando a terra e não se moveu mais.
A infecção do ferimento de bala combinada com desidratação e insolação, havia matado. Seu corpo permaneceu enterrado, começando a decompor no calor. Sebastião, o mais jovem do grupo, morreu na segunda noite, simplesmente parou de respirar. Sua morte foi mais silenciosa que a de André. Tomás ouviu um suspiro longo e depois nada. Duas mortes em dois dias.
No terceiro dia, Vicente enlouqueceu. Começou a falar sozinho, conversando com pessoas que não estavam lá. Ra, depois chorava, depois gritava. A exposição prolongada ao sol, a desidratação severa e o trauma psicológico haviam quebrado sua mente. Continuaria vivo fisicamente por mais algumas horas, mas mentalmente já havia partido.
Na tarde do terceiro dia, o coronel Francisco finalmente ordenou que os sobreviventes fossem desenterrados. Apenas quatro dos sete homens ainda estavam vivos. Tomás, Joaquim, Pedro e Manuel. Vicente ainda respirava, mas estava completamente incoerente. André e Sebastião estavam mortos havia mais de um dia. Quando a terra foi removida e Tomás finalmente pôde se mover, suas pernas não o sustentaram.
Caiu imediatamente. Seus músculos haviam ficado três dias na mesma posição. A circulação comprometida pela pressão da Terra. Sua pele estava queimada pelo sol, coberta de bolhas. Estava gravemente desidratado, com febre alta da insolação. Os quatro sobreviventes foram arrastados para a cenzala, onde receberam água e um pouco de farinha.
Não foi compaixão. O coronel simplesmente não queria perder mais investimento financeiro. Escravos mortos não trabalhavam, nem podiam ser vendidos. Vicente morreu dois dias depois do desenterramento. Nunca recuperou a sanidade. Ficou deitado na cenzala falando sozinho, até que seu coração simplesmente parou.
Dos sete homens que tentaram fugir, apenas três sobreviveram: Tomás, Joaquim e Pedro. Manuel desenvolveu gangrena nas pernas devido à circulação comprometida e morreu três semanas depois em agonia. Tomás levou meses para se recuperar fisicamente. Suas queimaduras de sol cicatrizaram lentamente, deixando manchas escuras permanentes em sua pele.
Desenvolveu problemas nos pulmões que o fariam torcir sangue pelo resto da vida, resultado da pressão prolongada da Terra ao redor de seu peito. Mas as cicatrizes psicológicas foram muito piores. Ele desenvolveu terror de espaços fechados. Não conseguia entrar em quartos pequenos. sem sentir pânico.
Sonhava todas as noites que estava enterrado novamente, incapaz de se mover, sentindo a terra pesada ao redor de seu corpo. Acordava gritando, coberto de suor frio. Os outros escravos começaram a evitá-lo, perturbados por seus pesadelos constantes. A notícia do que havia acontecido na fazenda Santa Rita se espalhou pela região.
Outros fazendeiros ficaram impressionados com a eficácia do método. Enterrar escravos até o pescoço se tornou punição cada vez mais comum no recôncavo baiano. Era vista como alternativa moderna ao açoitamento tradicional, pois causava sofrimento intenso sem danificar permanentemente a mercadoria. Um viajante inglês chamado James Henderson, que visitou a região em 1850, registrou em seu diário ter testemunhado essa punição em uma fazenda perto de Cachoeira.
Ele escreveu: “Vi algo que nunca esquecerei. Três homens negros enterrados até o pescoço sob sol escaldante, suas cabeças inchadas e queimadas, moscas cobrindo seus rostos. Quando perguntei ao fazendeiro sobre isso, ele explicou casualmente que eram escravos sendo punidos por preguiça. Disse que os manteria assim por dois dias.
Fiquei horrorizado, mas meu protesto foi recebido com risos. Este é o verdadeiro rosto da escravidão brasileira. Padre Antônio Silva, pároco de Santo Amaro, também documentou a prática em seus registros. Em uma carta ao bispo de Salvador, datada de 1852, ele escreveu: “A crueldade dos senhores de engenho desta região ultrapassa os limites da imaginação cristã.
Ouvi confissões de escravos que descreveram punição, onde são enterrados vivos até o pescoço por dias, sem água ou comida, sob sol que derrete o cérebro. Alguns morrem, outros perdem a sanidade. Como podemos chamar este lugar de nação cristã quando permitimos tais barbaridades? Tomás viveu mais 17 anos após o enterramento.
Trabalhou nos canaviais da fazenda Santa Rita até 1864, quando o coronel Francisco morreu e a fazenda foi herdada por seu filho, que eventualmente vendeu a maioria dos escravos para pagar dívidas. Tomás foi vendido para uma fazenda menor em Cachoeira, onde trabalhou até 1871, quando conseguiu comprar sua alforia usando economias acumuladas ao longo de anos.
Como homem livre, Tomás estabeleceu-se em uma pequena vila perto de Salvador. Trabalhava como carpinteiro, ofício que aprendera durante seus últimos anos como escravo. Nunca se casou, nunca teve filhos. Os pesadelos do enterramento o perseguiram até o fim de sua vida. Em 1882, 10 anos após a lei do ventre livre, um jovem jornalista abolicionista chamado Luís Gama visitou Tomás e registrou seu testemunho.
A entrevista foi publicada no jornal A Redenção de São Paulo e causou comoção entre leitores. Tomás, então, com 61 anos, descreveu em detalhes o que havia sofrido 35 anos antes. Nunca esqueci aqueles três dias. Tomás disse ao jornalista. Toda a noite quando fecho os olhos, estou de volta naquele buraco. Sinto a terra pressionando meu peito, o sol queimando minha cabeça, as moscas em meu rosto.
Ouço os gritos de Manuel pedindo água. Vejo a cabeça de André caindo para a frente quando morreu. As pessoas me perguntam por não tentei fugir novamente depois que me recuperei. Como poderiam entender, o coronel não precisava mais de correntes para me prender. O medo que ele plantou em mim era corrente mais forte que qualquer ferro.
O testemunho de Tomás ajudou a expor a brutalidade específica da escravidão no recôncavo baiano. Abolicionistas usaram sua história como exemplo do que chamavam de refinamento diabólico da crueldade escravista, mostrando que os senhores não eram apenas violentos, mas criativos em desenvolver novos métodos de tortura.
A prática de enterrar escravos até o pescoço continuou até os últimos anos da escravidão no Brasil. Há registros documentados de casos até 1886, apenas 2 anos antes da lei Áurea. Era punição que não violava tecnicamente nenhuma lei, pois não havia legislação específica contra ela. Os senhores argumentavam que era menos violenta que o açoitamento, já que não deixava cicatrizes visíveis.
Tomás morreu em 1888, poucos meses após a abolição da escravidão. Tinha 67 anos. Viveu apenas o suficiente para ver o sistema que o torturara finalmente desmoronar. Seus últimos dias foram passados em uma pequena casa em Salvador, cuidado por uma comunidade de ex-escravos que se ajudavam mutuamente. No dia de sua morte, Tomás estava deitado em seu catre, respirando com dificuldade devido aos problemas pulmonares que desenvolvera durante o enterramento. Décadas antes.
Um amigo que estava ao seu lado relatou suas últimas palavras. Finalmente vou descansar. Finalmente não sonharei mais com aquele buraco. Espero que as pessoas lembrem do que aconteceu conosco. Espero que nunca esqueçam. A fazenda Santa Rita foi abandonada após a abolição. Sem trabalho, escravo tornou-se economicamente inviável.
A casa grande caiu em ruínas. O terreiro onde sete homens foram enterrados foi tomado pela vegetação. Hoje é difícil identificar onde exatamente ficava a fazenda. A natureza reclamou o lugar, apagando as evidências físicas daquele horror. Mas a memória permanece nos registros de viajantes, nos testemunhos de sobreviventes, nas cartas de padres horrorizados, na consciência coletiva dos descendentes de escravos que conhecem as histórias passadas de geração em geração.
A história de Tomás e dos outros seis homens enterrados vivos é um lembrete de que a escravidão brasileira não foi apenas trabalho forçado, foi sistema de terror calculado, onde a criatividade humana era pervertida para desenvolver novos métodos de causar sofrimento. O coronel Francisco de Almeida, Prado, morreu rico e respeitado em 1864.
Nunca foi punido por suas ações, nunca expressou remorço para ele e para outros como ele. Escravos não eram seres humanos dignos de compaixão, mas propriedade que precisava ser controlada através do medo. E o medo que ele plantou naqueles sete homens enterrados até o pescoço ecoou através de gerações. Lembrando a todos que a crueldade humana não tem limites quando um grupo de pessoas tem poder absoluto sobre outro.
[Música]

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