O Senhor, por favor, não beba mais desta água”, gritou Eu Lália, derrubando o copo das mãos trêmulas do duque Breno. “Há algo muito errado acontecendo neste castelo. França, outono de 1847. As folhas douradas dançavam melancolicamente pelos jardins do imponente castelo de Monclair, residência ancestral da família Bom, entre as torres de pedra cinzenta e os vitrais coloridos que filtravam a luz outonal. Ecoavam sussurros preocupantes sobre o senhor da casa.
O duque Breno de Bomon, de apenas 32 anos, havia perdido completamente a razão. Os criados caminhavam pelas galerias com passos cautelosos, evitando o olhar perdido do jovem nobre que antes comandava suas terras com firmeza e justiça. Breno, outrora conhecido por sua inteligência aguçada e generosidade para com os menos favorecidos.
Agora vagava pelos corredores do castelo como uma alma penada, falando sozinho, tropeçando nas próprias sombras e tendo visões assombradas que faziam os mais corajosos tremerem de medo. A transformação havia começado meses após seu casamento com a bela condessa Isadora de Blunchf, uma mulher de 28 anos, dona de uma beleza fria como mármore e ambições ardentes como brasas. Zadora havia chegado ao castelo como a salvação financeira da família Bomon, trazendo consigo um dote generoso que resolveria as dívidas acumuladas pela propriedade.
O casamento arranjado pelas famílias parecia uma união perfeita aos olhos da sociedade. Ele, um duque jovem e honrado, ela uma viúva rica e refinada. Porém, logo após as núpcias, Breno começou a apresentar comportamentos estranhos.
Primeiro foram pequenos lapsos de memória, depois episódios de confusão mental seguidos por delírios que o faziam gritar durante as madrugadas. Os médicos consultados não conseguiam encontrar explicação para a súbita deterioração mental do duque. Alguns sussurravam sobre maldições familiares, outros sobre o peso das responsabilidades nobres. Enquanto Breno definhava em sua própria mente, Isadora assumia gradativamente o controle das finanças e decisões do castelo.
Com lágrimas nos olhos e voz melancólica, ela recebia as visitas da alta sociedade, lamentando profundamente o estado de seu querido esposo. “É uma tragédia ver um homem tão brilhante se perder assim”, dizia ela, enxugando discretamente uma lágrima inexistente entre todos os habitantes do castelo. Apenas uma pessoa observava a situação com olhos diferentes. Eulália, uma escrava de 24 anos, filha de africanos que haviam sido trazidos para trabalhar nas plantações da família Bomon.
Eulália possuía uma inteligência excepcional, escondida atrás de sua condição social. havia aprendido a ler e escrever em segredo, observando as lições do filho mais novo dos antigos senhores, e desenvolvera um conhecimento impressionante sobre ervas medicinais através dos ensinamentos de sua avó. Antes de continuarmos com esta história envolvente, quero agradecer a cada um de vocês que está acompanhando este momento conosco.

Cada visualização, cada minuto que vocês dedicam às nossas histórias é verdadeiramente especial para mim. É incrível pensar que neste exato momento, em algum lugar do Brasil ou do mundo, você está mergulhado nesta trama junto comigo. Se você está gostando, por favor, se inscreva no canal e ative o sininho para não perder nenhuma das nossas histórias emocionantes.
Eu, Lália, trabalhava principalmente na cozinha e nos aposentos do duque, sempre discreta e observadora. Ao contrário dos outros criados que evitavam Breno por medo de seus surtos, ela sentia uma compaixão genuína por aquele homem que outrora havia tratado os escravos com uma humanidade rara entre os nobres da época.
Breno era conhecido por proibir castigos físicos desnecessários e por garantir que todos os trabalhadores tivessem alimentação adequada e cuidados médicos quando necessário. Com o passar dos dias, Eulia começou a notar padrões estranhos no comportamento do duque. Suas crises sempre se intensificavam após as refeições principais, especialmente depois de beber a água especial que Isadora insistia em preparar pessoalmente para o marido.
A duquesa alegava que aquela água infusionada com ervas calmantes ajudaria Breno a encontrar paz interior. Mas Euha conhecia ervas e sabia que verdadeiras plantas calmantes não causavam os sintomas que observava no duque. pupilas dilatadas, tremores nas mãos, sudorese fria e, principalmente, aquela confusão mental que parecia nublar completamente sua consciência.
Eram sintomas que ela já havia presenciado em sua infância quando alguns escravos rebeldes eram disciplinados, com substâncias que os deixavam dócilmente confusos. Uma tarde, enquanto limpava os aposentos do Cais, Euláia encontrou Breno, sentado na poltrona ao lado da janela, olhando fixamente para o jardim, com os olhos perdidos.
Ele segurava nas mãos um retrato de seus pais, já falecidos, e murmurava palavras incompreensíveis. Por um momento, quando o vento balançou as cortinas e a luz do sol tocou diretamente seu rosto, Euia viu algo diferente nos olhos do duque. Um lampejo de lucidez, como se a verdadeira personalidade de Breno estivesse presa dentro de seu próprio corpo, lutando para se libertar.
Naquele instante, ela tomou uma decisão que mudaria o destino de ambos para sempre. Eulália esperou Isadora se retirar para seus aposentos. E com o coração batendo descontroladamente, aproximou-se da mesa onde estava o copo de água preparado para Breno. Sem que ninguém a visse, ela derramou um pouco do líquido em um pequeno frasco que escondeu entre suas vestes.
Mas quando se virou para sair, encontrou alguém parado na porta, observando cada um de seus movimentos com olhos frios e calculistas. Era Benedita, a criada pessoal de Isadora, uma mulher de 40 anos, com o rosto marcado pela severidade e pelos anos de servidão. Seus olhos pequenos e penetrantes fixaram-se em eulália, com uma intensidade que fez o sangue da jovem gelar nas veias.
Benedita havia dedicado sua vida inteira a servir a duquesa, desenvolvendo uma lealdade cega que beirava a obsessão. O que está fazendo aqui, escrava? perguntou Benedita com voz áspera, avançando para dentro do quarto. A duquesa não gosta que mexam em seus pertences pessoais. Eulália sentiu o pequeno frasco queimar contra seu peito, escondido entre as dobras de sua roupa simples, com o coração disparado, mas mantendo a compostura que havia aprendido a cultivar ao longo dos anos, ela respondeu com voz firme: “Estava apenas terminando de limpar os aposentos, senhora Benedita. A duquesa me pediu
para garantir que tudo estivesse em perfeita ordem para o descanso do duque. Benedita aproximou-se mais, seus olhos vasculhando cada canto do quarto em busca de algo fora do lugar. Eulália permaneceu imóvel, rezando silenciosamente para que a outra mulher não notasse o pequeno volume escondido em suas vestes.
Após longos segundos que pareceram uma eternidade, Benedita resmungou algo incompreensível. e saiu do quarto, não sem antes lançar um último olhar suspeito para Eulália, tremendo levemente. Eulália terminou rapidamente suas tarefas e dirigiu-se às dependências dos escravos. uma série de pequenos quartos nos porões do castelo. Ali, longe dos olhos curiosos, ela finalmente pôde examinar o líquido que havia coletado.
A luz fraca de uma vela, o conteúdo do frasco parecia água comum, mas Eulalia sabia que as aparências podiam enganar. Naquela mesma noite, enquanto o castelo dormia, ela se dirigiu silenciosamente ao pequeno jardim de ervas, que mantinha secretamente nos fundos da propriedade. Sua avó havia lhe ensinado não apenas sobre plantas medicinais, mas também sobre como identificar substâncias perigosas.
Com cuidado, ela despejou algumas gotas do líquido em uma folha de sempre viva, uma planta conhecida por reagir rapidamente a toxinas. Em questão de minutos, a folha começou a amarelar e murchar, confirmando suas suspeitas mais terríveis. Aquela água continha algum tipo de veneno, algo sutil o suficiente para não matar imediatamente, mas poderoso o bastante para destruir lentamente a mente de quem o consumisse regularmente.
Na manhã seguinte, Eulalia observou Breno com ainda mais atenção. Durante o café da manhã, ela notou como suas mãos tremiam ao tentar segurar a xícara, como seus olhos perdiam o foco quando alguém lhe dirigia a palavra, como ele se sobressaltava com ruídos comuns da casa. Mas houve um momento que chamou especialmente sua atenção.
Quando Isadora se aproximou para beijar-lhe a testa em um gesto aparentemente carinhoso, Eulia viu algo que ninguém mais percebeu. Por uma fração de segundo, o olhar de Breno encontrou o dela e naqueles olhos azuis que um dia foram brilhantes, ela viu um pedido silencioso de ajuda.
Estou curiosa para saber de que cidade ou estado vocês estão acompanhando essa história. Me conta nos comentários. É incrível imaginar como nossas histórias viajam e alcançam cantos tão diferentes do Brasil e do mundo. Mal posso esperar para descobrir até onde chegaremos juntos. Agora, prepare-se, porque Lália está prestes a tomar uma decisão que mudará tudo.
Nos dias que se seguiram, Eulia começou a elaborar um plano arriscado. Sabia que não podia simplesmente confrontar Isadora ou denunciar suas suspeitas. Quem acreditaria na palavra de uma escrava contra a de uma duqueza? Precisava de provas concretas. E, mais importante ainda, precisava encontrar uma forma de ajudar Breno sem colocar ambos em perigo mortal.
Sua primeira estratégia foi tentar interceptar a água envenenada sempre que possível. Durante suas tarefas diárias, ela começou a criar pequenas distrações que lhe permitissem derramar discretamente o conteúdo dos copos preparados por Isadora. Às vezes, acidentalmente esbarrava na mesa, fazendo o líquido entornar.
Outras vezes, alegava que havia visto uma mosca no copo e precisava trocá-lo. Cada pequena sabotagem era um risco calculado, mas Eulália estava determinada a salvar o homem que havia mostrado bondade em um mundo onde ela conhecia principalmente crueldade. Gradualmente, com menos veneno sendo consumido, Breno começou a apresentar sinais sutis de melhora. Seus olhos pareciam um pouco mais alertas, suas mãos tremiam menos e houve momentos em que ele conseguiu manter conversas coerentes por alguns minutos.
Eulia observava essas pequenas vitórias com o coração apertado, sabendo que cada dia de lucidez restaurada era também um dia de maior perigo para ambos. Foi durante uma dessas tardes de relativa clareza mental que aconteceu algo que mudaria para sempre a dinâmica entre eles. Eulalia estava reorganizando os livros na biblioteca pessoal de Breno quando ele entrou no recinto caminhando com mais firmeza do que havia demonstrado em semanas.
Ela se preparou para sair discretamente, como sempre fazia quando ele aparecia, mas sua voz a deteve. Espere”, disse ele com uma voz que, embora ainda fraca, carregava vestígios da autoridade que um dia possuira. “Ã, você é eulia, não é?” Surpresa por ele se lembrar de seu nome, ela se virou lentamente, mantendo os olhos baixos, como era esperado de sua condição.
“Sim, Vossa Excelência, olhe para mim”, pediu ele. Com uma gentileza que contrastava com a dureza do mundo em que viviam. Quando ela ergueu os olhos, encontrou-se diante de um homem que, mesmo debilitado pelas semanas de envenenamento, ainda mantinha uma dignidade natural.
Mas foi nos olhos dele que ela viu algo que a deixou sem fôlego. Gratidão. De alguma forma, em seus momentos de maior lucidez, ele havia percebido que ela estava tentando ajudá-lo. “Eu não sei exatamente o que você tem feito”, disse ele, aproximando-se devagar. Mas tenho a impressão de que devo minha sanidade crescente a seus cuidados. Há dias em que me sinto, mas eu mesmo, e nesses dias sempre noto sua presença por perto.
Eulália sentiu lágrimas picar em seus olhos. Era a primeira vez em meses que alguém reconhecia sua humanidade, sua capacidade de cuidar e proteger. Vossa Excelência não precisa agradecer. Apenas cumpro deveres. Não”, respondeu ele com uma firmeza que há muito não demonstrava. Isso vai muito além do dever.
Você tem me protegido quando ninguém mais acreditava que eu valia a pena ser protegido. Naquele momento, algo sutil, mais profundo, passou entre eles. Não era ainda amor, mas o reconhecimento mútuo de duas almas, que haviam encontrado uma no outra, um refúgio em meio ao caos. Eulália viu em Breno não apenas o nobre que havia perdido sua posição, mas um homem íntegro, lutando para se libertar de uma prisão invisível.
E Breno, por sua vez, reconheceu em Eulália não uma simples escrava, mas uma mulher de coragem e inteligência extraordinárias, disposta a arriscar tudo para salvar alguém que o mundo considerava perdido. Mas sua conversa foi brutalmente interrompida pelo som de passos rápidos. se aproximando da biblioteca. Isadora apareceu na porta, seus olhos frios se alternando entre Breno e Eulália, com uma suspeita crescente.
Breno, querido, o que está fazendo aqui? Você deveria estar descansando. E você, escrava, dirigiu-se a Eulália com voz cortante. Prepare imediatamente a água especial do meu marido. Ele claramente precisa de uma dose mais forte. Hoje o sangue de Eulália gelou nas veias ao ouvir as palavras de Isadora.
A expressão da duquesa havia mudado completamente, onde antes havia uma máscara de preocupação conjugal, agora brilhava uma frieza calculista que não deixava dúvidas sobre suas verdadeiras intenções. Breno, ainda confuso, mas visivelmente mais alerta do que havia estado em semanas, olhou para a esposa com uma expressão que misturava surpresa e um crescente desconforto. Isadora.
Eu me sinto melhor hoje, disse ele, tentando manter a voz firme. Talvez não precise da água especial por enquanto. A duquesa forçou um sorriso que não chegou aos olhos. Ah, não sense, meu querido. O médico foi muito claro sobre a importância do tratamento constante. Uma interrupção agora poderia causar uma recaída terrível. Ela se virou para Eulália, que permanecia imóvel como uma estátua. Vá agora.
E desta vez certifique-se de que a infusão seja particularmente forte. Eulália fez uma reverência e saiu da biblioteca, mas não antes de trocar um olhar rápido com Breno. Naquele momento, ela viu que ele havia compreendido algo fundamental. A lucidez crescente havia trazido consigo a capacidade de observar e questionar o que acontecia ao seu redor, e as peças do quebra-cabeças começavam a se encaixar em sua mente.
Nos corredores, Eulália caminhava com passos medidos, sua mente trabalhando freneticamente. Sabia que Isadora havia notado a melhora de Breno e estava determinada a aumentar a dosagem do veneno. precisava encontrar uma forma de protegê-lo sem despertar ainda mais suspeitas, mas as opções eram cada vez mais limitadas.
Ao chegar à cozinha, encontrou Benedita já esperando por ela, com um frasco de vidro escuro nas mãos. A criada observou eulia com olhos que pareciam enxergar através de sua alma. A duquesa me pediu para supervisionar pessoalmente a preparação da água medicinal hoje”, disse Benedita, com um tom que não admitia questionamentos.
“Ela quer ter certeza de que tudo seja feito exatamente como deve ser”. Eulalia assistiu impotente, enquanto Benedita despejava uma quantidade alarmante do líquido escuro na água cristalina. O veneno tinha um cheiro levemente adocicado que mascarava sua natureza letal. Quando terminou, Benedita entregou o copo a Eulalha com um sorriso cruel.
Leve isso diretamente ao duque e certifique-se de que ele beba tudo até a última gota. Com o coração pesado, Eulalha pegou o copo e dirigiu-se aos aposentos do Cis. Cada passo parecia uma eternidade. Cada batimento do coração ecoava como um tambor de guerra em seus ouvidos. sabia que não podia permitir que Breno bebesse aquela quantidade de veneno.
Seria suficiente para mergulhá-lo novamente no estado de confusão mental, talvez permanentemente desta vez. Ao chegar ao quarto, encontrou Breno sentado em sua poltrona favorita, olhando pela janela para os jardins que um dia havia amado percorrer. Isadora estava ao seu lado, ajeitando suas almofadas com gestos aparentemente carinhosos.
Mas eu, Lália, podia ver atenção em cada movimento da duqueza. Ah, finalmente, disse Isadora quando viu Eulalia entrar. Traga isso aqui. Breno precisa tomar sua medicina imediatamente. Breno olhou para o copo nas mãos de Eulália e, por um momento, seus olhos se encontraram. Ela viu neles uma compreensão silenciosa que a deixou sem fôlego. Ele sabia.
De alguma forma, ele havia entendido que aquela água era a fonte de seus tormentos. Eu eu não me sinto bem hoje”, disse Breno, desviando o olhar do copo. “Talvez pudesse tomar mais tarde.” Isadora endureceu. Preno, não seja criança. Você sabe o quanto este tratamento é importante para sua recuperação? Foi nesse momento que Eulia tomou uma decisão que mudaria tudo.
Com um movimento aparentemente desajeitado, ela tropeçou ao se aproximar, fazendo o copo voar de suas mãos e se estilhaçar no chão de mármore. O líquido escuro se espalhou pelo piso, como uma mancha sinistra. “Oh, não!”, exclamou ela, fingindo desespero. “Hum, perdão, Vossa Excelência, sou muito desastrada.” Isadora ficou lívida de raiva.
Sua incompetente, como pode ser tão descuidada? Mas antes que pudesse continuar, Breno se levantou de sua poltrona com uma firmeza que surpreendeu ambas as mulheres. Ed, não foi culpa dela, Isadora. O copo escorregou porque minhas mãos ainda tremem. Se alguém deve ser culpado, sou eu. A intervenção de Breno em defesa de Oulia criou um momento de tensão palpável no ar.
Isadora olhou de um para o outro, seus olhos se estreitando com uma suspeita que rapidamente se transformava em certeza perigosa. E se fosse você, teria coragem de enfrentar tudo por amor? Deixe sua opinião nos comentários, porque a partir de agora as coisas vão ficar ainda mais intensas. Nos dias que se seguiram, a atmosfera no castelo tornou-se sufocante.
E Zadora havia aumentado sua vigilância sobre Breno, mas também sobre Eulália. Benedita era instruída a acompanhar cada movimento da jovem escrava, tornando impossível qualquer tentativa de sabotagem. Pior ainda, a duquesa havia começado a fazer comentários aparentemente casuais sobre a necessidade de renovar o quadro de criados, especialmente aqueles que se mostravam inadequados para suas funções.
Apesar do perigo crescente, Breno e Eulália começaram a encontrar formas sutis de se comunicar. Um olhar prolongado durante o jantar, um livro deixado aberto em uma página específica, pequenos gestos que passavam despercebidos aos outros, mas que carregavam significados profundos entre eles.
Breno, recuperando gradualmente sua capacidade de raciocínio, havia começado a questionar não apenas sua condição, mas toda a situação que o cercava. Uma noite, aproveitando um momento em que Isadora havia saído para uma visita social, Breno conseguiu encontrar Eulália sozinha na biblioteca.
Ela estava organizando livros quando ele entrou silenciosamente, fechando a porta atrás de si. Eulia chamou ele suavemente. Ela se virou surpresa e assustada. Vossa Excelência não deveria estar aqui. Se a duquesa descobrir, ela não vai descobrir, disse ele, aproximando-se. Preciso falar com você. Preciso entender o que está acontecendo comigo, com nós. Pela primeira vez, Eulalha permitiu que suas defesas baixassem completamente. Ah, Vossa Excelência, eu eu não posso.
Nossa diferença social, as consequências. Esqueça as diferenças sociais por um momento”, pediu ele, chegando mais perto. “Você salvou minha vida, minha sanidade e no processo salvou também algo que eu pensava ter perdido para sempre.
” O que, meu senhor? “A capacidade de sentir?”, respondeu ele com uma honestidade que cortou o coração de Eulália. Durante meses, vivia em uma névoa, sentindo que estava morrendo lentamente por dentro. Mas você, você me trouxe de volta à vida. E agora quando olho para você, sinto algo que vai muito além da gratidão. E Lália sentiu lágrimas brotarem em seus olhos. A Vossa Excelência, eu também sinto, mas isso é impossível. Sou uma escrava, você é um duque.
Esse sentimento só pode trazer destruição para ambos. Talvez, admitiu ele. Mas pela primeira vez em meses me sinto vivo. E isso é mais precioso do que qualquer convenção social. Ele estendeu a mão para tocar gentilmente o rosto dela, um gesto de uma ternura infinita que contrastava brutalmente com a realidade cruel do mundo em que viviam.
Por um momento, apenas um momento, eles existiram além das barreiras que a sociedade havia construído ao seu redor, mas a realidade os trouxe de volta com a força de um raio ponto o som de vozes se aproximando do corredor os fez se separar imediatamente. Era Isadora, retornando mais cedo do que esperado. E ela trazia consigo o Dr. Montag, um médico conhecido por seus métodos controversos.
Doutor, como eu lhe dizia, meu marido tem apresentado comportamentos cada vez mais estranhos. Talvez seja necessário considerar métodos mais drásticos de tratamento. Ele até mesmo tem defendido os criados de forma inapropriada, como se houvesse perdido completamente o senso de hierarquia social. Dr.
Montagu era um homem de aparência sinistra, com olhos pequenos e frios, que pareciam dessar tudo o que observavam. Sua reputação nos círculos médicos era controversa. Alguns o consideravam um visionário, outros sussurravam sobre métodos que beiravam a tortura. Ele havia se especializado em tratamentos para distúrbios mentais que envolviam isolamento completo, sangrias excessivas e, em casos extremos, procedimentos que deixavam os pacientes em estado vegetativo permanente. “Duquza de Blanch F”, disse ele, ajustando os óculos
enquanto observava Breno com interesse clínico. Pelos sintomas que me descreveu, temo que o estado de seu marido seja mais grave do que inicialmente suspeitávamos. A melhora temporária que mencionou pode ser, na verdade, um sinal de deterioração iminente. Eulalia sentiu o sangue gelar em suas veias.
Escondida atrás de uma coluna no corredor, ela havia conseguido escutar toda a conversa. Isadora estava orquestrando algo terrível, usando a suposta melhora de Breno como pretexto para submetê-lo a tratamentos que poderiam destruí-lo permanentemente. “Doutor, estou muito preocupada”, continuou Isadora com uma performance de esposa dedicada que teria convencido qualquer observador. Se ontem mesmo ele defendeu uma escrava que havia quebrado algo importante.
Claramente seu julgamento está comprometido. Compreendo perfeitamente”, respondeu o médico fazendo anotações em um caderno de couro. “Essódios de comportamento irracional são típicos de deterioração mental progressiva. Recomendo internação imediata em minha clínica privada, onde posso aplicar tratamentos mais intensivos.
” Naquele momento, Eulalia compreendeu que estava diante de uma encruzilhada fatal. Se Breno fosse levado para a clínica do Dr. Montagu, jamais sairia de lá com sua sanidade intacta. Isadora havia encontrado a solução perfeita para se livrar definitivamente do marido que estava recuperando a lucidez e com ela a capacidade de questionar o que estava acontecendo.
Durante os três dias seguintes, os preparativos para a internação terapêutica de Breno avançaram rapidamente. Isadora havia convocado os advogados da família para ajustar a documentação que lhe daria controle total sobre as finanças do CAIS durante o tratamento do marido. Simultaneamente, ela havia aumentado ainda mais a dosagem do veneno, mantendo Breno em um estado de confusão que tornava impossível qualquer resistência coerente.
Eulia assistia a tudo com crescente desespero. Suas tentativas de sabotagem haviam se tornado impossíveis sob a vigilância constante de Benedita. Pior ainda, ela havia notado que outros criados começavam a olhá-la com suspeita. Isadora havia espalhado rumores sobre sua influência inadequada sobre o duque, criando um ambiente hostil que a isolava cada vez mais.
Na véspera da partida para a clínica, aconteceu algo que mudaria tudo para sempre. Eulália estava limpando os corredores quando ouviu vozes exaltadas vindas do escritório de Isadora. Aproximando-se silenciosamente, conseguiu ouvir uma conversa que confirmou seus piores temores. “Preciso ter certeza de que ele não volta”, dizia Isadora ao Dr. Montagu. “O tratamento deve ser definitivo.
Compreendo perfeitamente, Duquesa,”, respondeu o médico com frieza clínica. O procedimento que tenho em mente garantirá que seu marido permaneça em estado vegetativo permanente. Oficialmente, será registrado como uma complicação de seu distúrbio mental preexistente. E quanto tempo levará? Algumas semanas.
Tempo suficiente para que você consolide o controle legal sobre a propriedade. Depois disso, se algum acidente ocorresse durante o tratamento, bem, esses casos são mais comuns do que se imagina. Eulália teve que cobrir a boca para conter um grito de horror. Não se tratava apenas de envenenamento ou controle. Isador estava planejando o assassinato de Breno de forma que parecesse uma morte natural resultante de sua suposta loucura.
Naquele momento, ela tomou a decisão mais corajosa de sua vida. Naquela mesma noite, aproveitando um momento em que Benedita havia se afastado, Eulália conseguiu chegar aos aposentos de Breno. Ela o encontrou em um estado lastimável. Os últimos dias de dosagem aumentada haviam cobrado seu preço, deixando-o novamente confuso e desorientado.
Mas quando ele a viu, um lampejo de reconhecimento atravessou seus olhos turvos. “Eu lá!”, murmurou ele, lutando para focar o olhar. “Sim, sou eu”, respondeu ela, ajoelhando-se ao lado de sua cadeira. Meu senhor, preciso lhe contar algo terrível, mas primeiro ela tirou de suas vestes um pequeno frasco com um líquido claro. Este é um antídoto que preparei com ervas da minha avó.
vai ajudá-lo a recuperar a clareza mental temporariamente, mas precisamos agir rápido. Breno, mesmo em seu estado confuso, confiou nela completamente. Bebeu o líquido sem hesitar e em poucos minutos sua mente começou a se clarear como se emergisse de um pesadelo profundo. “O que? O que está acontecendo comigo?”, perguntou ele, passando as mãos pelo rosto.
“Sua esposa está envenenando você há meses”, disse com voz firme, mas trêmula. E amanhã ela planeja levá-lo para uma clínica onde um médico corrupto vai acabar com sua vida de forma que pareça natural. Breno ficou em silêncio por longos segundos, processando a informação terrível. Quando finalmente falou, sua voz carregava uma mistura de dor e determinação que Eulália jamais havia ouvido. Quanto tempo temos? Até o amanhecer. Depois disso, será tarde demais.
Ele se levantou, cambaleante, mas determinado. Então vamos acabar com isso de uma vez por todas. Mas no exato momento em que Breno se preparava para confrontar Isadora, a porta do quarto se abriu violentamente. Era Benedita, acompanhada de dois homens enormes que Eulia nunca havia visto antes. Nadia a Duquesa desconfiava que vocês dois estavam tramando algo”, disse Benedita com um sorriso cruel.
Estes são os seguranças particulares do Dr. Montagui, e eu tenho ordens muito específicas sobre o que fazer com escravas que se envolvem em assuntos que não lhes dizem respeito. Os dois homens avançaram em direção a Eulália com movimentos ameaçadores. Mas algo extraordinário aconteceu. Breno, com sua mente finalmente livre do veneno que o havia aprisionado por meses, interpôs-se entre eles e a mulher que havia salvado sua vida.
Parem!”, gritou ele com uma autoridade que há muito não demonstrava. “Eu sou ainda o duque de Bomont nesta casa e ninguém tocará nela sem minhas ordens”. Benedita riu com desprezo. Vossa Excelência não está em condições de dar ordens a ninguém. A duquesa já assinou os papéis que comprovam sua incapacidade mental. Legalmente, o senhor não tem mais autoridade sobre coisa alguma.
Foi então que Breno compreendeu a extensão completa da traição. Isadora não havia apenas tentado envenená-lo. Ela havia orquestrado meticulosamente a destruição de sua capacidade legal, sua dignidade e, finalmente, sua própria vida. “Onde está minha esposa?”, perguntou ele com uma frieza que fez todos no quarto recuarem um passo. “Ah, aqui estou, meu querido”, disse Isadora, surgindo na porta com Dr. Montagu.
ao seu lado. Ela estava vestida de luto como se já fosse viúva. Vim me despedir antes de sua partida para a clínica. O confronto que se seguiu foi como a revelação final de uma peça teatral macabra. E Zadora, vendo que seu plano havia sido descoberto, abandonou completamente a máscara de esposa dedicada.
Você realmente achou que alguém como eu se casaria com você por amor? Hum. perguntou ela com crueldade. Eu precisava de seu dinheiro, suas terras, seu título. Você era apenas um obstáculo a ser removido no momento certo. E eu facilitei seus planos, me tornando um alvo fácil, respondeu Breno com uma amargura que cortava como uma lâmina. Mas cometi apenas um erro, Isadora.
Subestimei a coragem e a inteligência de alguém que você considerava inferior. Ele olhou para Eulália com uma mistura de gratidão e algo muito mais profundo. Esta mulher que você trata como propriedade mostrou mais honra e compaixão do que todos os nobres que conheço juntos. Dr.
Montag, impaciente com o drama que se desenrolava, fez um sinal para os seguranças. Chega de conversa. Levem ambos. O duque para minha carruagem, a escrava para Bem, ela sabe demais para continuar viva. Qual parte mais te emocionou até aqui? Me conte antes do desfecho, porque agora vem a revir a volta que ninguém esperava. Foi nesse momento que aconteceu algo que ninguém havia previsto.
Os outros criados do castelo, que há meses observavam silenciosamente os estranhos acontecimentos, começaram a aparecer nas portas e corredores. Eles haviam ouvido os gritos e, mais importante ainda, haviam finalmente compreendido o que Lalia vinha tentando fazer sozinha há tanto tempo. João, o jardineiro mais antigo, foi o primeiro a falar: “Senhor Duque, nós sabemos que a senhora sempre foi boa conosco e a menina Eulalha também.
Se há injustiça acontecendo nesta casa, nós não vamos ficar calados. Um por um, mais criados apareceram.” Maria, a cozinheira principal, Pedro, o capataz dos estábulos, Ana, a lavadeira, todos aqueles que haviam trabalhado por anos sob o comando justo de Breno e que haviam testemunhado sua súbita transformação com suspeita crescente. Dr. Montag riu com desdém.
“Vocês realmente acham que um grupo de criados pode se opor a documentos legais?” “Talvez não”, disse uma voz nova na porta. Mas eu posso. Todos se viraram para ver um homem bem vestido que ninguém esperava. Era magistrado Henri de Buáis, o juiz responsável pelos assuntos legais da região, acompanhado por dois oficiais da lei. Recebi uma mensagem anônima muito interessante hoje, continuou o magistrado observando a cena com olhos penetrantes.
Alguém me informou sobre irregularidades nos documentos de incapacidade mental do duque de Bomon. Decidi investigar pessoalmente. Isadora empalideceu visivelmente. Magistrado do Boac. Que tipo de irregularidades? O tipo que envolve falsificação de assinaturas médicas e corrupção de profissionais da saúde, respondeu ele secamente. Dr.
Montag, o senhor está sob prisão por fraude médica e conspiração. Dr. Montager tentou fugir, mas os oficiais foram mais rápidos. Enquanto era algemado, ele gritou acusações contra Isadora, tentando salvar a própria pele, revelando todos os detalhes do plano diabólico. “Ela me pagou para falsificar o diagnóstico”, berrou ele.
“A duqueza me prometeu uma fortuna para declarar o marido legalmente incapaz. “Eu tenho documentos que provam tudo.” Isadora, vendo seu mundo desabar ao seu redor, fez uma última tentativa desesperada. sacou uma pequena adaga escondida entre suas vestes e avançou contra eulália. Se não posso ter o que quero, pelo menos posso me vingar de quem destruiu meus planos”, gritou ela com os olhos ardendo de ódio. Mas Breno foi mais rápido.
Com um movimento que demonstrava que havia recuperado completamente sua força e agilidade, ele segurou o punho de Isadora, desarmando-a em um gesto que ecoou por todo o castelo. Acabou. Zadora! Disse ele com uma calma que contrastava com o caos ao redor. Sua guerra contra mim e contra tudo o que represento terminou.
Nos meses que se seguiram, os julgamentos de Isadora e Dr. Montag chocaram toda a alta sociedade francesa. As evidências de envenenamento, falsificação de documentos e tentativa de assassinato eram irrefutáveis. Isadora foi condenada à prisão perpétua enquanto o Dr. Montagu enfrentou a guilhotina por seus crimes contra múltiplas vítimas.
Breno, completamente recuperado e com seu nome limpo, enfrentou então o maior desafio de sua vida, decidir o que fazer em relação a Eulália. O amor que havia nascido entre eles durante os momentos mais sombrios de sua vida era innegável, mas as convenções sociais da época tornavam qualquer união oficial impossível. Foi então que ele tomou uma decisão que escandalizou e inspirou em igual medida.
Em uma cerimônia privada realizada na pequena capela do castelo diante apenas dos criados que os haviam apoiado durante a crise, Breno se casou com Eulália. Ele havia renunciado formalmente ao título do Cal, transferindo-o para um primo distante, declarando que preferia viver como homem livre, casado com a mulher que amava, do que como nobre aprisionado pelas convenções de uma sociedade.
Hipócrita, o casal partido. Castelo de Monclair. Em uma manhã de primavera, deixando para trás as intrigas da nobreza francesa. Eles se estabeleceram em uma pequena propriedade rural, onde Breno trabalhou a Terra com as próprias mãos e Eulália pôde finalmente usar livremente sua inteligência e conhecimento de ervas, tornando-se a curandeira respeitada da região. Sua história se espalhou como lenda pelos vilarejos.
O duque, que escolheu o amor verdadeiro sobre os privilégios sociais, e a escrava, cuja coragem e sabedoria salvaram não apenas um homem, mas também sua própria alma. Eles viveram muitos anos felizes, criando uma família onde o amor superou todas as barreiras que a sociedade havia tentado impor.
E assim provaram que a verdadeira nobreza não está no sangue ou no título, mas na coragem de lutar pelo que é certo, na sabedoria de reconhecer o verdadeiro valor das pessoas e, acima de tudo, na força de um amor. Ur.