XANDÃO PEGA GUSTAVO GAYER COM A MÃO NA MASSA. FILME DE BOLSONARO VIRA PIADA NAS REDES

Em um cenário onde a estabilidade parece ser apenas uma miragem distante, as últimas semanas em Brasília se converteram em um espetáculo de crises sucessivas, intervenções jurídicas dramáticas e escândalos que misturam o submundo da política com o mundo da arte e do cinema. O Brasil acompanha, atônito, uma série de acontecimentos que colocam em xeque a moralidade, a legalidade e até a sanidade da representação popular no Congresso Nacional.

De um lado, a mão firme do Judiciário, representada pelo ministro Alexandre de Moraes, o “Xandão”, impõe limites com decisões monocráticas que redefinem o destino de mandatos parlamentares. De outro, a bancada bolsonarista, atordoada e encurralada, lida com indiciamentos por corrupção, um filme que vira escárnio público e a sombra de um veto presidencial sobre um controverso “acordão” que visa suavizar a punição de golpistas. É um enredo complexo, digno de uma produção de suspense, mas que, infelizmente, é a mais pura realidade brasileira.

O Xeque-Mate de Moraes: Carla Zambelli Perde o Mandato por Decisão Monocrática

O ponto central da explosão institucional desta semana reside no caso da deputada federal Carla Zambelli. Após um voto na Câmara que, em uma manobra controversa, decidiu pela manutenção de seu mandato, o cenário de comemoração da direita durou poucas horas. A decisão da Câmara ignorou uma premissa fundamental do direito brasileiro: a perda automática do mandato parlamentar quando há uma condenação em ação penal criminal com trânsito em julgado.

A legislação é clara: se um deputado perde seus direitos políticos, ele não pode mais exercer a função para a qual foi eleito. No entanto, em um movimento que beirou a insubordinação, a Mesa Diretora da Câmara tentou politizar o que deveria ser um ato administrativo. O Supremo Tribunal Federal, contudo, não hesitou.

Alexandre de Moraes anulou a votação da Câmara e determinou a perda imediata do mandato de Zambelli, dando um prazo de 48 horas para a posse de sua suplente. A mensagem de Moraes é inequívoca: a Constituição e as leis se impõem sobre a vontade política do Congresso, especialmente em casos de condenação definitiva.

Universidade de São Paulo emite nota de solidariedade ao professor Alexandre  de Moraes

Mais do que apenas a cassação de Zambelli, essa decisão tem um efeito cascata que pode derrubar mais dois parlamentares. Com a anulação dos quase um milhão de votos que a deputada obteve, o quociente eleitoral do PL será recalculado. Essa recontagem ameaça os mandatos dos deputados Paulo Bilinski e Tiririca, que foram eleitos na esteira da votação expressiva de Zambelli. A turma do “dominó” bolsonarista pode estar prestes a presenciar uma queda em série no Congresso.

A Casa em Desordem: A Batalha Interna na Presidência da Câmara

Enquanto o Judiciário impõe a ordem, a Câmara vive um momento de descontrole interno. O presidente da Casa, Arthur Lira, manifestou publicamente sua insatisfação com a gestão de seu afilhado político e atual presidente em exercício, Hugo Mota. Lira, notoriamente irritado com a falta de pulso e as decisões desastradas de Mota, classificou a situação da Câmara como uma “esculhambação”, um caos total.

A insatisfação de Lira é alimentada, em parte, pelo fracasso em cassar o mandato do deputado Glauber Braga (PSOL), um de seus mais ferrenhos críticos, que o acusa constantemente de envolvimento em falcatruas do orçamento secreto. Mota, por sua vez, tentou se defender publicamente, alegando que a presidência da Câmara não é “ferramenta de revanchismo”.

No entanto, foi justamente Hugo Mota quem optou por descumprir a ordem judicial e colocar a cassação de Zambelli em votação, desafiando o STF e resultando em sua completa desmoralização após a intervenção de Moraes. Mota, que não possui a estatura ética, moral ou política para o cargo, segundo críticas internas, demonstra o nível de imaturidade e ineficácia que atualmente domina a cúpula do Legislativo.

O caso de Glauber Braga, por outro lado, resultou em um “acordão” para uma suspensão de seis meses, em vez da cassação. A punição, embora ainda excessiva para muitos, foi vista como o “mal menor” e evitou uma inelegibilidade de oito anos. A vaga de Braga será ocupada temporariamente pela experiente política Heloísa Helena, que traz consigo uma história de coerência e combatividade.

A Mão na Massa: O Indiciamento de Gustavo Gayer e a Suspeita de Desvio

Se as crises jurídicas e políticas não bastassem, o bolsonarismo enfrenta um duro golpe com o indiciamento do deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) pela Polícia Federal. As acusações são graves: desvio de verbas da cota parlamentar.

O inquérito da PF aponta que Gayer teria utilizado a cota – dinheiro destinado à manutenção de seu gabinete, como aluguel e despesas operacionais – para fins escusos. Um dos pontos centrais é o aluguel de um imóvel que ele declarou como seu escritório político em Goiânia. Acontece que, no local, funcionava uma escola de inglês de sua propriedade. Ou seja, o dinheiro público, bancado pelo pagador de impostos, estaria sendo desviado para pagar o aluguel de uma de suas empresas privadas.

Além disso, Gayer é investigado por direcionar verbas para uma Organização Social (OSCIP), uma ONG que ele teria comprado ou manipulado, e por suposta falsificação de documentos para que essa entidade pudesse receber os repasses.

O caso está sob relatoria de Alexandre de Moraes. O indiciamento pela PF significa que há elementos e indícios robustos de culpa. Se a Procuradoria-Geral da República formalizar a denúncia e o STF aceitá-la, Gayer se tornará réu em um processo criminal. Caso seja condenado, a punição é pesada: a perda dos direitos políticos e a inelegibilidade que, somada à pena de cumprimento de prisão, pode ultrapassar 13 anos.

O Filme Que Virou Farça: A Produção Cinematográfica em Meio ao Escândalo

O projeto de um filme em inglês sobre Jair Bolsonaro, intitulado Dark Horse (Azarão), mal começou a ser rodado e já se tornou uma fonte inesgotável de polêmicas e piadas nas redes sociais.

O trailer do filme, que busca retratar o ex-presidente como um herói que superou adversidades e a facada, foi recebido com escárnio pelo público, que o comparou a uma comédia pastelão. A interpretação dos atores, especialmente na cena da facada, foi descrita como patética e risível.

A farsa se estende para além da tela. O Sindicato dos Trabalhadores da Arte (SATED) foi acionado para investigar denúncias graves no set de filmagens em São Paulo, incluindo reclamações de agressões verbais e físicas, além de fornecimento de comida estragada para figurantes e equipe técnica. Um ambiente de trabalho insalubre e desrespeitoso, supervisionado por produtores com vínculos conhecidos com o bolsonarismo.

Condenação de Bolsonaro por golpe de Estado não sepultaria bolsonarismo,  afirmam autores de novo livro sobre 'Brasil Profundo' - BBC News Brasil

O escândalo atinge até a esfera internacional: a cantora Beyoncé acionou a justiça após sua música ser utilizada sem autorização no teaser de divulgação. O vídeo foi rapidamente derrubado do YouTube por violar direitos autorais, comprovando que a produção, além de tudo, cometeu uma ilegalidade grosseira.

Para completar, o Intercept Brasil revelou as “ligações perigosas” da produtora. A empresa que está por trás do filme de Bolsonaro é a mesma que possui um contrato milionário, de R$ 108 milhões, com a prefeitura de São Paulo, comandada por Ricardo Nunes, para a instalação de pontos de Wi-Fi. Um contrato que, além de ter sido firmado em condições questionáveis (licitação solitária e preço duas vezes superior ao mercado), liga a produtora, sem experiência em tecnologia, diretamente ao poder municipal paulista. E em um dos trechos mais sombrios da investigação, a produtora também teria repassado R$ 12 milhões a um indivíduo suspeito de crime grave, Alex Bispo, apenas reforçando o submundo nebuloso que financia a obra.

O “Acordão” e a Sentença Final para o Golpe

Outro tema de profunda gravidade é a proposta de Projeto de Lei (PL) de Dosimetria, que visa reduzir as penas para os envolvidos no golpe de 8 de janeiro, incluindo Jair Bolsonaro.

O colunista Luís Costa Pinto denunciou o que seria um “acordão” costurado nas sombras entre membros do Congresso e três ministros do Supremo: Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes e Dias Toffoli. A negociação teria sido mediada por figuras como Michel Temer e Aécio Neves, junto ao relator Paulinho da Força. A condição imposta pelo STF: o PL poderia reduzir as penas – uma prerrogativa do Legislativo – mas jamais poderia configurar uma anistia total para crimes contra a democracia, o que seria declarado inconstitucional.

O projeto já passou pela Câmara e agora tramita no Senado. O relator no Senado, Espiridião Amim, um bolsonarista, reconhece o risco de transformar o PL em anistia total, o que derrubaria todo o acordo e forçaria o veto do STF. Assim, por receio de perder o que já foi conquistado, a própria base governista de extrema-direita hesita em avançar na tentativa de anistia plena.

No entanto, o freio final pode vir da Presidência da República. Luiz Inácio Lula da Silva já sinalizou que, embora vá avaliar o texto final, seu instinto é vetar o projeto. Para Lula, os responsáveis pelo 8 de janeiro devem pagar integralmente pela tentativa de golpe. Caso o veto seja confirmado, o Congresso precisará de maioria absoluta (257 deputados e 41 senadores) para derrubá-lo. O caminho para a impunidade, portanto, ainda é longo e incerto.

Convocação e Perícia: Os Últimos Movimentos

Em meio a este cenário, a esquerda retoma as ruas. Uma manifestação maciça está convocada para o próximo domingo, na Avenida Paulista, em São Paulo, com o lema de exigir respeito do Congresso Nacional e reforçar a posição de “Sem Anistia para Golpistas”.

E a trama pessoal de Jair Bolsonaro se adensa. Após ser preso, o ex-presidente solicitou autorização para realizar duas cirurgias (em uma hérnia inguinal e para tratar um soluço crônico) e, em seguida, cumprir o período de recuperação em prisão domiciliar.

Alexandre de Moraes, no entanto, não se deixou levar pela súbita urgência médica. Diante da cronologia suspeita – a necessidade cirúrgica só surgiu após a prisão – Moraes determinou que peritos da Polícia Federal avaliem os laudos e exames para atestar a real urgência e necessidade da intervenção. Enquanto a perícia não comprovar a emergência, o pedido de soltura para domiciliar é negado.

O Brasil se move em um ritmo alucinante, ditado por conflitos de poder, decisões judiciais inadiáveis e a sombra de crimes financeiros. O que se desenrola no palco político é a peça mais dramática e controversa da história recente do país, e o público, mais do que nunca, é parte atuante desta história.

Related Posts

Our Privacy policy

https://abc24times.com - © 2025 News