“Espere… Vai Colocar Isso Dentro de Mim?” — A Luta Pela Liberdade de Lily e o Ferreiro Solitário

“Espere… Vai Colocar Isso Dentro de Mim?” — A Luta Pela Liberdade de Lily e o Ferreiro Solitário

Ela irrompeu da grama alta de verão. Havia sangue em seu vestido. O medo queimava em seus olhos. Por um instante, até o vento do Kansas pareceu parar.

Ela corria como se o inferno tivesse se estendido da pradaria para arrastá-la de volta. Seu vestido branco estava rasgado, o cabelo colado ao rosto. Continuava olhando por cima do ombro, como se alguém estivesse perto o suficiente para sentir sua respiração.

O nome dela era Lily Hart, 24 anos. Pequena, rápida, mais dura do que parecia, mas não o suficiente para fugir de um homem como Clayton Reed.

A maioria dos homens em Dodge City dizia que Clayton havia nascido em berço de ouro. Outros diziam que o ouro era roubado. De qualquer forma, ele era o tipo de barão do gado rico que acreditava que tudo o que queria já era seu, incluindo Lily. E naquele dia, ele finalmente a havia empurrado longe o suficiente para fazê-la fugir.

O sol castigava-a como fogo. A pradaria estava tão silenciosa que ela podia ouvir o próprio pulso.

Então veio o som que quase a fez cair de joelhos. O estalo de um rifle atrás dela. Seco, cruel, próximo.

A bala roçou seu quadril e a fez cair na terra. Ela atingiu o chão com força, a poeira explodiu. A respiração rasgou seu peito, mas ela se apoiou em braços trêmulos e continuou a rastejar.

Não chorou. Não gritou. Cada centímetro de seu corpo pedia para desistir, mas sua vontade dizia não.

Mais adiante, ela avistou uma linha de postes de cerca, um galpão, uma cabana, fumaça subindo de uma forja. Alguém vivia ali. Alguém que poderia ajudar, que poderia pelo menos afugentar Clayton o tempo suficiente para que ela se levantasse novamente.

Ela não sabia se alguém no Kansas era corajoso o suficiente para enfrentar Clayton, mas naquele momento, estava disposta a apostar sua vida em um estranho.

Arrastou-se pela poeira até que suas mãos atingiram o feno espalhado pelo pátio do rancho. Sua visão embaçou. O mundo girava.

E então ela o viu. Sawyer Briggs, 50 anos, ombros largos, barba grisalha, pele queimada de sol. Um rancheiro que também trabalhava com ferro para metade do condado. Estava sentado perto de um fardo de feno com um martelo na mão. Um homem que parecia ter sido esculpido na própria terra.

Ele se levantou no momento em que a viu cair. Atravessou o pátio com passos lentos e firmes, o tipo de passos que pertencem a um homem que não teme nada.

Ela tentou se levantar. Tentou avisá-lo de que Clayton estava perto. Tudo o que conseguiu foi um sussurro: “Por favor, me ajude!”

Sawyer ajoelhou-se ao lado dela. Seus olhos se estreitaram ao ver o sangue encharcando o tecido perto de seu quadril. Ele pressionou uma mão perto do ferimento, e Lily ofegou de dor, mas não se afastou. Não desta vez. Não quando sua vida estava em um fio.

Ela não tinha ideia se este homem era um santo ou um tolo, apenas que ele era a primeira pessoa entre ela e Clayton.

Ele olhou para o horizonte, onde a poeira subia dos cavaleiros de Clayton. Depois olhou de volta para ela, o rosto ilegível. Sawyer levantou Lily como se ela não pesasse mais do que um saco de ração e a levou para a sombra, ao lado da forja.

O calor que emanava da fornalha parecia o portão do inferno, mas de alguma forma fez seu tremor piorar.

Ele a colocou gentilmente em uma cama de feno limpo e pegou a garrafa de uísque guardada perto da bigorna.

Ela tentou afastar a mão dele, mas estava muito fraca. “Calma. Você bebe isso ou sangra até morrer.” Sua voz era calma, firme.

Lily tomou um gole e tossiu forte. A queimação atingiu sua garganta como um soco. Ela limpou a boca e olhou feio para ele.

“Eu não vim aqui para ser remendada por um estranho,” ela disse, embora suas mãos tremessem.

Sawyer levantou uma sobrancelha. “Você veio aqui porque o caminho acabou.”

Então ele afastou o tecido rasgado perto do quadril e viu a bala alojada profundamente na pele inchada. Ele soltou um longo suspiro.

“Isso tem que sair agora. Se eu esperar, você perderá a perna inteira.”

Lily se endireitou. Seus olhos arregalaram. “O que você planeja fazer comigo?” sua voz falhou, não por medo dele, mas por medo da dor.

Sawyer pegou uma faca de caça da forja, a lâmina fumegando devido ao calor. Ele a limpou em um pano limpo e disse: “A bala está perto da superfície. Preciso abrir um pouco a pele, o suficiente para tirá-la. Vai doer muito, mas vai salvar sua vida. As pessoas por aqui fazem isso assim desde antes de Kansas ter um nome.”

Ele precisava estancar o sangramento antes que a levasse. Ali, a diferença entre viver e morrer era muitas vezes apenas um homem teimoso que ousava tentar.

Ela encarou a faca fumegante. “Espere, você vai colocar isso dentro de mim.”

Sawyer nem sequer piscou. “Vai acabar rápido. Fique quieta, ou isso vai dar errado rapidamente.”

Ela tentou se afastar, mas sua força se esgotara. Sua dignidade, porém, permanecia. Ela olhou diretamente nos olhos dele, desafiando-o a machucá-la.

“Faça, então. Mas se você me matar, eu vou assombrá-lo até você morrer.”

Sawyer quase sorriu. Quase. Então ele pressionou a lâmina quente em direção ao ferimento enquanto o vento trazia o trovão distante de cascos rolando pela pradaria. E bem quando o metal tocou sua pele, Lily ouviu algo que fez seu coração parar: Clayton estava mais perto do que qualquer um imaginava.


Assim que o corte foi aberto, Sawyer pegou uma haste de ferro curta que mantinha perto das brasas, a ponta brilhando fracamente. O metal quente tocou a pele de Lily, e ela soltou um som que era metade grito, metade fúria.

Sawyer pressionou firme. Não era crueldade, apenas um homem que havia feito esse tipo de coisa muitas vezes. O metal quente sibilou ao tocar a carne rasgada.

Lily agarrou um punhado da camisa dele e segurou como se estivesse pendurada em um penhasco. A dor era cega e branca, mas no momento em que pensou que desmaiaria, ouviu algo lá fora: o lento ranger de rodas de carroça, o som de cavalos, vozes baixas.

Os homens de Clayton estavam perto o suficiente para que Sawyer ficasse tenso antes dela. Pela primeira vez naquele dia, Lily entendeu que este estranho poderia ser quem pagaria o preço por sua fuga.

“Não pare,” ela sussurrou entre dentes cerrados. “Se ele me pegar assim, estou acabada.”

Sawyer não olhou para cima. “Ainda não.” Ele manteve a ferramenta firme enquanto o suor escorria por suas têmporas. Ele pressionou mais fundo. O som que saiu de Lily foi agudo o suficiente para rachar a madeira, mas ela permaneceu imóvel.

“Está lá,” murmurou Sawyer. “A bala está virando. Aguente.”

A mão de Sawyer roçou sua cintura enquanto ele a estabilizava. E por um segundo estranho, Lily sentiu um calor que não tinha nada a ver com o fogo da forja.

Um grito veio de fora. A voz profunda e fria de Clayton Reed: “Sawyer Briggs! Você tem algo que me pertence. Traga-a para fora e ninguém se machuca.”

O coração de Lily batia forte contra as costelas. Sawyer finalmente olhou para ela. Ele firmou o quadril dela com uma mão e cravou a ferramenta com a outra.

A bala saltou, caindo na terra. Lily ofegou como se tivesse ficado submersa por muito tempo.

Sawyer pegou um pedaço de pano limpo e pressionou-o em seu ferimento. Sua voz estava baixa: “Você consegue ficar de pé por um minuto, certo? Porque se Clayton entrar por aquela porta, é melhor você estar de pé ou é melhor estar pronta para lutar.”

Lily se levantou. Suas pernas tremiam, fracas, mas teimosas. Ela limpou as lágrimas. Ela não havia acabado.

Lá fora, os passos ficaram mais pesados, mais próximos. Clayton chamou novamente, mais alto: “Briggs, você tem uma chance de entregar a moça. Está me ouvindo?”

Sawyer se levantou, pegou seu martelo e acenou em direção à porta. Ele estava em menor número e em desvantagem de armas, mas viveu tempo demais para deixar o medo guiar suas escolhas.

Lily engoliu em seco. Os dois sabiam que o que viria a seguir decidiria tudo.


Clayton entrou na soleira da porta como se fosse dono de toda a pradaria. Dois homens ficaram atrás dele com os rifles prontos. Ele escaneou a sala lentamente até que seus olhos pousaram em Lily, parada ao lado de Sawyer com o pano ensanguentado pressionado em seu quadril.

“Ora, vejam só,” ele disse com um meio sorriso. “Eu cavalgo todo este caminho e encontro minha noiva escondida no celeiro de outro homem.”

Lily ficou tensa. Sawyer apenas mudou seu peso, como um touro prestes a atacar.

Clayton apontou para ela. “Venha aqui agora. Está me ouvindo?”

Lily balançou a cabeça. Sua voz tremeu, mas ela se manteve firme. “Eu não sou sua. Nem agora, nem nunca.”

Clayton riu, um som feio. Ele gesticulou para Sawyer. “Briggs, isto é simples. Você se afasta. Eu levo a moça. E todos vamos para casa. Sem problemas.”

Sawyer deslizou uma bota para a frente. Apenas uma, mas o suficiente para mudar o ar na sala. “Você atirou nela,” ele disse baixinho. “Você a perseguiu por metade da pradaria e acha que eu vou deixá-lo sair com ela? Não vai acontecer.”

O sorriso de Clayton desapareceu. “Problemas, então.”

O primeiro tiro soou tão alto que a forja estremeceu. O capanga de Clayton atirou muito cedo, muito selvagem. Sawyer avançou, pegou a pesada concha de ferro ao lado da bigorna e a balançou com força. O golpe arrancou o rifle da mão do homem.

Lily tropeçou para trás contra o feno, mas permaneceu de pé.

Clayton agarrou o braço dela e puxou com tanta força que ela gritou. Sawyer se virou rápido, agarrou Clayton pelo colarinho e o jogou contra a viga de madeira com uma força que chacoalhou as ferramentas.

Clayton cuspiu sangue e sibilou. “Você pensa que pode roubar de mim? Você pensa que pode pegar o que é meu?”

Sawyer se inclinou. “Ela não é um objeto, e com certeza não é sua.”

O segundo capanga levantou o rifle, mirando nas costas de Sawyer. Lily viu primeiro. Seu fôlego parou. Ela sabia que em mais um instante, toda a luta poderia terminar em morte.

Então ela fez a única coisa que lhe restava. Ela agarrou a coisa mais próxima que conseguiu alcançar, não para lutar como um soldado, mas para balançar o suficiente para quebrar a mira dele.

Ela não esperou que o medo a alcançasse. Balançou o ferro com toda a força que lhe restava. O som estalou no celeiro como um sino de igreja. O atirador caiu de joelhos, atordoado, a arma escorregando de suas mãos.

Clayton congelou o tempo suficiente para Sawyer se libertar e empurrá-lo de volta contra o poste. Pela primeira vez, o perigo no celeiro parecia estar se inclinando para o lado deles.

Os dois homens se encararam, ofegantes. Clayton atacou primeiro, selvagem e desleixado. Mas Sawyer se moveu como um homem que havia sobrevivido a muitos anos difíceis para ser derrubado por mais um valentão. Um soco sólido, e Clayton atingiu a terra.

O celeiro ficou quieto. Apenas o fogo da forja crepitava no canto.

Lily estava parada, a ferramenta de ferro tremendo em suas mãos. Mas havia um fogo em seus olhos agora, firme e novo. Ela não apenas sobreviveu, ela lutou.

Sawyer foi para o lado dela e pegou o ferro gentilmente. Ele olhou para ela com algo próximo ao orgulho. “Você salvou minha vida.” Sua voz estava calma, mas ela podia ouvir a verdade. Pela primeira vez desde que fugiu de Clayton, o coração de Lily se acalmou.

Clayton gemeu na terra. Seus homens o ajudaram a se levantar, a coragem deles quebrada. Ele olhou para Lily com ódio. Mas Sawyer se colocou entre eles.

Sua voz era baixa, lenta e final. “Ela acabou com você. Cavalgue e não volte.”

Clayton se levantou, limpando o sangue da boca. “Isto não acabou, Briggs. Eu vou voltar com todos os homens que tenho.”

Sawyer deu um passo à frente, o suficiente para fazê-lo parar de falar. “Então é melhor trazer um pregador também.”

Clayton recuou lentamente, não derrotado, apenas planejando.

Lily soltou um longo suspiro. Toda a luta pareceu escoar dela de uma vez. Sawyer a segurou antes que ela caísse. Não como um herói, mas como um ser humano que se recusava a deixar alguém desmoronar na sua frente.

Ele a acomodou perto da forja e enrolou um cobertor em seus ombros.

“Você se levantou hoje. A maioria das pessoas passa a vida inteira esperando que outra pessoa as salve, mas você salvou a si mesma. Nunca se esqueça disso.”

Lily olhou para o fogo brilhante e sussurrou: “Eu pensei que estava fugindo porque era fraca.”

Sawyer balançou a cabeça. “Correr em direção à liberdade não é fraqueza. É o primeiro passo para se tornar quem você deveria ser.”

Ao pôr do sol sobre os campos do Kansas, Lily finalmente sentiu o peso sair de seu peito. Não porque estava segura, mas porque havia assumido o controle de sua própria história. Quando a última luz se esvaiu, Lily percebeu que seu ferimento não doía mais tanto.

O que a assustava mais era não saber para onde ir. Liberdade parecia grande e brilhante em sua cabeça. Ali, na poeira fria, parecia apenas uma estrada sem mapa.

Sawyer foi até a cerca e selou seu segundo cavalo, o velho castrado preto que ele raramente usava. Ele olhou para ela com olhos calmos e firmes e disse: “Venha, a noite fica fria aqui fora.”

Eles partiram na escuridão, dois estranhos unidos pela luta, em direção a um futuro incerto, mas totalmente escolhido por eles.

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