O Alarme Toca: A Anulação das Sanções e o Pânico Político
A notícia que ecoou de Washington, D.C., na última semana, não foi apenas um revés diplomático, mas um verdadeiro sismo político que atingiu o núcleo do bolsonarismo: o governo dos Estados Unidos decidiu anular as sanções da Lei Magnitsky impostas anteriormente ao Ministro Alexandre de Moraes e sua esposa. Para quem acompanha de perto os movimentos do xadrez geopolítico, esta “bomba” não causou surpresa, mas para o grupo político que apostava na pressão externa como tábua de salvação, o impacto foi de um nocaute imediato.
A suspensão da Lei Magnitsky contra o ministro representa uma derrota inequívoca e a normalização total das relações entre Brasil e Estados Unidos. A melhor parte desta reviravolta, no entanto, reside no fato de que o Brasil, sob a atual administração, não cedeu absolutamente nada em troca.
A articulação desta derrota vinha sendo cozinhada há dias. Conforme foi sinalizado pela imprensa especializada em política, havia um movimento de “amaciar” a base de apoiadores, preparando-os para a perda iminente. Essa estratégia se fazia necessária para evitar a desmobilização completa do grupo diante da inevitável reversão de política externa americana. O que se viu, contudo, foi o oposto do que a ala mais radical da oposição esperava.

Os Estados Unidos, ao tirarem as sanções, dão o próximo passo esperado: a re-concessão de vistos a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e outras figuras públicas que tiveram seus documentos retirados anteriormente. As relações entre os dois países voltam a ficar plenamente normalizadas, marcando o fim de um período de tensões diplomáticas e interferências diretas na política interna brasileira.
O Mito da Negociação e a Força da Soberania
A narrativa da oposição, muitas vezes veiculada por setores da imprensa e líderes políticos, pregava que era preciso “ceder” ou “se humilhar” diante do ex-presidente americano para conseguir vitórias diplomáticas. A lógica era a de que “com Trump se negocia assim: você tem que deixar ele anunciar uma vitória lá para o povo dele, tem que se humilhar”. Figuras proeminentes chegaram a ser aplaudidas por defenderem essa tese em veículos de comunicação.
A realidade, no entanto, desmentiu essa visão. Ninguém que se submeteu a essa lógica obteve ganhos substanciais. A administração brasileira, por sua vez, bateu o pé. O ex-presidente americano havia imposto tarifas ao Brasil, o que, ironicamente, resultou em inflação de produtos essenciais – como carne e café – em seu próprio país. Isso teve um impacto direto em sua popularidade, que despencou drasticamente.
A revogação das sanções e das tarifas não foi, portanto, uma recompensa por submissão, mas uma manobra tática para tentar reverter uma crise econômica interna. O governo brasileiro ofereceu apenas a “oportunidade” de remover os preços inflacionados através da retirada das tarifas. A Lei Magnitsky foi o recuo final. O Brasil não fez qualquer concessão. A negociação se resumiu a um sorriso e à normalização das relações. Nem mesmo um “obrigado” formal foi necessário para consolidar o ganho diplomático.
Essa postura firme desmantelou a tese de que é preciso se submeter a grandes potências e demonstrou que a defesa da soberania e dos interesses nacionais pode, sim, ser a melhor estratégia diplomática.
O Lamento de Eduardo Bolsonaro: Contradição e Isolamento Geopolítico

A reação da ala radical da oposição foi imediata e cheia de melancolia, liderada pela “nota pública” de Eduardo Bolsonaro. O deputado utilizou as redes sociais para expressar seu “pesar” diante da decisão do governo americano. O texto, escrito em tom de lamento e desilusão, lamentava que a sociedade brasileira não tivesse “conseguido construir a unidade política necessária para enfrentar seus próprios problemas estruturais”.
A nota pública de Eduardo Bolsonaro, no entanto, revela uma profunda contradição. Enquanto ele fala em “agravamento da situação atual”, a realidade é que o Brasil tem, agora, relações mais sólidas e normais com os Estados Unidos. Seu foco estava visivelmente voltado para a defesa dos “interesses estratégicos dos americanos”, como ele mesmo citou, pouco se importando com a normalização das relações para o Brasil. Em essência, ele lamentava a derrota de uma causa pessoal e ideológica, não a pátria.
Este lamento ganha contornos ainda mais dramáticos quando analisamos os recentes movimentos internacionais do deputado. Ele buscou abrigo e apoio em uma série de viagens a países e líderes internacionais, alguns deles rotulados como autocratas. Após a decisão americana, ele foi para Israel, depois para o Catar, além de ter tido encontros anteriores com líderes de El Salvador e Hungria.
A pergunta que fica é: por que essa peregrinação internacional? Por que a busca por figuras políticas que se alinham à sua ideologia, em vez de retornar ao seu mandato? E, mais intrigante, por que ele não está mais nos Estados Unidos?
Surgem especulações sobre sua situação migratória. Um visto de turismo comum permite, em geral, que se permaneça até 180 dias por ano no país. Após sucessivas entradas e saídas, o limite de permanência de seis meses diretos pode ter sido atingido. Se esse for o caso, ele está impedido de retornar legalmente por um período de tempo equivalente. O que era para ser uma plataforma política internacional se tornou um exílio autoimposto, e a impossibilidade de retornar aos EUA após o revés da Magnitsky intensifica o sentimento de isolamento.
O Caos Interno e a Admissão de Derrota
O reflexo da derrota Magnitsky no Brasil foi um sentimento de caos e desespero entre os apoiadores mais fervorosos. Prints de grupos de mensagens em aplicativos, como Telegram e WhatsApp, mostram o clima de desânimo. Frases como “Putz, é o fim do Brasil”, “já era para nós, agora acabou” e “podem apagar a luz aí” ilustram a percepção de que a última esperança externa se desvaneceu.
Houve, inclusive, a admissão da derrota política. Um dos apoiadores chegou a escrever que “Os caras estão mais fortes agora. Têm Executivo e o Judiciário nas mãos. Vamos ficar quietos porque a esquerda ganhou”. O reconhecimento de que o grupo político opositor consolidou seu poder após a eleição marca um momento de capitulação, pelo menos no campo da retórica virtual.
Até mesmo figuras tidas como aliadas na imprensa, que veicularam ameaças e narrativas pró-sanções no passado, acabaram, involuntariamente, contribuindo para o cenário atual. As matérias que davam conta de que o Barroso seria o próximo a ser sancionado, por exemplo, acabaram por acovardar o ministro, que antecipou sua saída do STF. Isso abriu a vaga para a indicação de um novo ministro alinhado com o atual governo, o que foi encarado como um efeito colateral positivo para a atual administração e um tiro no próprio pé da oposição.
O que se desenha é a implosão de um projeto político que dependia da desestabilização interna e do apoio externo para se sustentar. Com o apoio externo evaporado, a estrutura interna começa a ruir.
O Fim do Mandato e a Espada de Dâmocles da Interpol
O “chororô” de Eduardo Bolsonaro não é apenas um lamento ideológico, mas um prenúncio de um problema legal muito mais sério. Fontes indicam que a cassação de seu mandato por faltas na Câmara dos Deputados é iminente, já tendo sido notificado pelo deputado Hugo Mota.
A cassação por faltas, se concretizada, terá uma consequência legal direta e devastadora: a emissão de um mandado de prisão e, consequentemente, a inclusão do nome de Eduardo Bolsonaro na lista da Interpol.
É neste ponto que sua peregrinação internacional se torna insustentável. Países como Catar, Israel ou El Salvador, que o deputado buscou em suas viagens, raramente desafiam uma ordem de prisão internacional emitida pela Interpol. Se a ordem for emitida, sua prisão é quase inevitável, seguida pelo processo de extradição para o Brasil.
O desespero de Eduardo Bolsonaro é, portanto, totalmente compreensível. Ele corre o risco de ser extraditado, seguindo o mesmo caminho que pode ser trilhado por outros aliados, como Carla Zambelli e Ramagem. O destino final seria o confinamento, a mesma situação enfrentada atualmente por seu pai, Jair Messias Bolsonaro.
Jair Bolsonaro, aliás, também não vive seus melhores dias. O ex-presidente, preso, tem reclamado de “solidão”, uma solidão agravada pela falta de visitas frequentes, incluindo a de sua própria esposa, Michelle Bolsonaro, que, apesar da proximidade logística de sua residência com o local de detenção, tem evitado os encontros. Seu desejo de ser transferido para um hospital, buscando um tratamento mais privilegiado com visitas ilimitadas, foi frustrado.
O cenário é de completo desmantelamento: derrota diplomática, isolamento internacional, caos interno na base e a iminência de sanções legais que podem culminar na prisão e extradição de líderes-chave. O que se presencia é a implosão de um movimento, marcando um dos dias mais significativos na política recente brasileira. O cerco se fecha, e a realidade, sem a proteção da Magnitsky, mostra-se cada vez mais dura.