Alguns homens não morrem de balas. Eles morrem do silêncio. De guardar coisas que deveriam ter gritado. De passar por coisas que deveriam ter enfrentado. Você já se sentou sozinho à noite, se perguntando se perdeu sua única chance de fazer as coisas certas? Will Morgan se perguntava. Ele não ouvia seu nome ser pronunciado como se importasse há anos. O mundo não se preocupava se ele ainda estava vivo. Ele apenas continuava, sem dar a mínima. Um dia, ele teve uma esposa; no outro, apenas um pedaço de terra atrás do galpão.
Naquela manhã, Will não estava procurando nada. Apenas mais uma cerca quebrada, até que viu o saco. Ele estava pendurado torto sob um algodoeiro baixo, balançando preguiçosamente com a brisa. O tipo de coisa que um homem ignora se for esperto. Problema nem sempre avisa antes de atacar. Mas algo nele parecia errado, muito quieto, muito parado. Ele se aproximou, apertando os olhos sob a aba do chapéu. O saco não estava amarrado direito, mais como se tivesse sido jogado e pego pela metade. Burlap rasgado, manchado pelo sol. Havia manchas escuras perto da base. Então ele ouviu. Um som que você não esquece depois de ouvir. Não um grito, nem mesmo um gemido, apenas respiração. Fraca, humana.
Ele desmontou lentamente, com cuidado. O saco se mexeu. Dentro, estava uma mulher, talvez 25 anos. Seu vestido estava rasgado, a pele seca e esturricada, os lábios rachados e ensanguentados. Um dos pulsos ainda estava amarrado com fio enferrujado. Ela não implorou, não gritou. Ela apenas disse, como se já estivesse morrido por dentro: “Me mate logo.” Will parou. Então, ele se agachou, puxou a manta fina que a cobria. E o que viu fez seu estômago se revirar. Não porque fosse recente, mas porque quem fez isso queria que fosse permanente. Não a deixaram morrer. A deixaram desaparecer.
A fazenda não era grande coisa. Uma varanda empoeirada. Duas cadeiras rangendo. Ninguém jamais sentava. Um telhado que gemeu mais do que um homem com ressaca toda vez que o vento soprava. Mas para ela, era o lugar mais perto de segurança que ela sentira em anos. Will não perguntou o nome dela. Não perguntou o que aconteceu ou por que foi deixada daquela maneira. Ele não perguntou nada. E talvez tenha sido por isso que ela ficou, mesmo sem dormir na cama. Ela se encolhia no chão, ao lado do fogão, como alguém com medo de que o colchão pudesse morder. Ela se encolhia quando a chaleira apitava. Ficava olhando para a porta, como se esperasse que ela se abrisse a qualquer momento. Na maioria dos dias, ela nada dizia. Apenas bebia o que Will colocava na xícara de lata e mordiscava o pão, como se pudesse estar envenenado. Mas ela ainda estava lá. Isso já significava algo.
Will também não era muito de conversa. Ele só continuava. Consertando cercas, alimentando o gado, trazendo-lhe refeições como uma rotina. E talvez fosse isso. Talvez o silêncio entre eles fosse sua própria linguagem. Uma semana passou. Depois, numa manhã, enquanto ele cortava lenha, ela saiu de casa, o cabelo amarrado com um pedaço de pano, os ombros retos, mas rígidos, como se tivesse que se lembrar de como ficar ereta. Ela não disse uma palavra. Apenas assistiu ele balançar o machado. Então, ela pegou um tronco. Ele não a impediu. Eles cortaram lenha em silêncio. Duas pessoas que já haviam ficado sem palavras muito antes de se encontrarem.
Mais tarde, naquela noite, ela sussurrou uma frase. “Você não me tocou.” Will a olhou, mas não falou. Ela assentiu uma única vez, como se isso dissesse mais do que qualquer outra coisa poderia. E pela primeira vez, ela terminou sua comida. Tudo. Ela até sorriu. Não foi um sorriso largo. Não foi fácil, mas foi real.
Agora, aqui está a coisa. Se essa fosse o fim, você pensaria que talvez esta fosse uma história sobre cura, sobre bons homens e segundas chances, mas a cura não é fácil. Especialmente quando o passado volta à cidade. O silêncio não durou muito. Nunca dura por aqui. Começou com pegadas de cascos. Profundas, frescas na terra perto da cerca do sul. Will as viu uma manhã cedo, assim que o sol apareceu no horizonte. Não eram dele. Não eram da cidade também. Ele não disse nada a ela. Apenas verificou seu rifle e cavalgou pela fronteira duas vezes naquele dia. Naquela noite, ela se sentou um pouco mais perto do fogo. Disse que não conseguia dormir. Disse que algo parecia errado.
Então veio o nome. Marcado dentro do pulso dela como uma marca. Uma tatuagem mal feita. Apenas três letras. JKS. Will já tinha visto antes. Anos atrás, em um bêbado fora de Bisby que se gabava alto de coisas das quais nenhum homem deveria se orgulhar. Naquela época, Will apenas se afastou. Pensou que, se não olhasse, não seria puxado para o problema de alguém mais. Mas agora aquele nome estava queimado na pele dela e isso tornou-se o problema dele também.
Ele cavalgou até Tombstone na manhã seguinte, não para falar, mas para ouvir. Três garotas desaparecidas nos últimos quatro meses. Duas do Texas, uma de Santa Fé, todas com menos de 25 anos. Todas sumidas sem um som, e ninguém fez nada. O xerife disse que não havia testemunhas, nenhuma evidência, sem sentido espalhar pânico. Will apenas assentiu. Agradeceu e cavalgou para fora como um homem sem nada em mente, mas algo havia se quebrado dentro dele. Porque dessa vez não se tratava apenas de justiça. Tratava-se dela.
Naquela noite, sob o brilho da lâmpada a óleo, ela perguntou por que ele tinha ido à cidade. Ele não olhou para cima, apenas continuou limpando a coronha do rifle e disse bem baixo: “Às vezes, homens maus precisam saber que alguém ainda está vigiando.” Foi quando a mão dela tocou a dele, só por um segundo. E foi aí que ele soube.
Não era apenas uma segunda chance para ela. Era para ele também.