
Estatísticas e Contexto da Rebelião de Gabriel (1800)
A história da rebelião planejada por Gabriel Prosser em 1800, no Condado de Henrico, Virgínia, é inseparável das estatísticas demográficas e sociais da época. Esses números revelam por que a revolta era vista como uma ameaça existencial pelos proprietários de escravos e por que Gabriel acreditava ser possível ter sucesso.
Demografia da Virgínia e de Richmond em 1800
O principal fator que alimentou o medo e a paranoia entre os brancos e, inversamente, a esperança entre os escravizados, era a densidade populacional de negros na Virgínia.
População Escravizada na Virgínia: Quase 40% da população total da Virgínia era escravizada. O narrador afirma que “quase quatro em cada dez pessoas era propriedade de outra pessoa.” Essa alta proporção criava um medo constante de levantes.
População de Richmond: Em 1800, Richmond tinha cerca de 5.700 pessoas. O narrador descreve a cidade como “explosiva” devido à proximidade numérica: havia “ligeiramente mais negros do que brancos.” Essa divisão alimentava o constante medo entre os proprietários de escravos.
Perfil dos Conspiradores e Escravidão Habilitada
A rebelião de Gabriel não foi um levante de escravos da lavoura; foi organizada por escravizados urbanos e semi-livres, que possuíam habilidades e mobilidade raras.
Habilidade de Leitura e Escrita: Gabriel era “raro, um dos 5% dos escravizados que podiam ler e escrever.” Essa alfabetização era um poder que o tornava “valioso” para o seu proprietário, mas “perigoso” para o sistema.
Armamento e Recrutamento:
Recrutamento: Os registros mencionam que Gabriel construiu uma rede de recrutamento em cerca de 10 condados. Estima-se que “centenas, talvez um milhar de homens” pretendiam se levantar. Historiadores modernos tendem a considerar o número de mil como um exagero, mas a conspiração era vasta para a época.
Armas Forjadas: Os conspiradores forjaram cerca de “12 dúzias de espadas” (144 espadas) e “50 lanças,” além de moldarem bolas de mosquete.
O Custo da Rebelião e suas Consequências Legais
Após a traição e o fracasso da rebelião, a Virgínia respondeu com execuções e leis repressivas que redefiniram a vida dos negros por décadas.
Execuções:
Oficialmente, 26 homens foram executados por enforcamento, incluindo Gabriel, seus irmãos Solomon e Martin, e seu segundo em comando, Jack Ditcher.
O narrador sugere que o “número real provavelmente era mais alto,” já que muitos podem ter morrido “sem julgamento, mortos por turbas ou milícias.”
Compensação Financeira: Gabriel foi avaliado em $500 pelos juízes, o valor que seu proprietário, Thomas Prossa, receberia do Estado da Virgínia como “compensação pela perda de propriedade.” Essa ação final tratava o líder da rebelião como mercadoria.
Leis Repressivas (Pós-1800): A Assembleia Geral da Virgínia aprovou leis draconianas em resposta ao medo.
Em 1802, tornou-se ilegal para negros pilotarem barcos (um meio de transporte crucial, utilizado por Gabriel para sua mobilidade).
Em 1804, reuniões de pessoas escravizadas em domingos sem supervisão branca foram proibidas.
Em 1808, o sistema de “hiring out” (aluguel de mão-de-obra, que deu a Gabriel sua mobilidade e acesso a dinheiro) foi proibido.
Também em 1808, uma lei especialmente cruel determinou que qualquer pessoa negra recém-libertada teria 12 meses para deixar a Virgínia, sob pena de ser reescravizada.
O Legado de Samuel Joshua
O legado da resistência de Gabriel foi mantido vivo por seus descendentes, começando com seu filho, Samuel Joshua, nascido nove meses após a morte de Gabriel.
Samuel Joshua: Ele foi classificado como um “escravo reprodutor” (breeder slave). Os registros indicam que ele teve “mais de 100 filhos ao longo de sua vida.” Esses filhos foram vendidos para diversos estados do Sul, espalhando secretamente a linhagem e a história de Gabriel.
Descendentes Atuais: Estima-se que “milhares de pessoas são descendentes de Gabriel através de seu filho Samuel Joshua,” vivendo em todos os estados dos EUA.