(1879, São Luís) A trágica e horripilante vida de Rita Menezes

Bem-vindo a este percurso por um dos casos mais inquietantes registrados na história de São Luís, Maranhão. Antes de iniciar, convido você a deixar nos comentários de onde nos está vendo e a hora exata em que escuta esta narração. Interessa-nos saber até que lugares e em que momentos do dia ou da noite chegam estes relatos documentados.

Em 1879, a cidade de São Luís vivia sob o peso de uma decadência que se estendia desde os tempos áureos do algodão. As ruas de pedra portuguesa ecoavam com menos frequência os passos dos comerciantes prósperos e muitas das casas senhoriais do centro histórico começavam a mostrar sinais de abandono.

Foi neste cenário de lenta deterioração que se desenrolou uma das histórias mais perturbadoras já registradas nos arquivos da antiga província maranhense. Rita Menezes era filha de Joaquim Antônio Menezes, comerciante de tecidos estabelecido na rua do Egito, próximo ao mercado central.

A família residia em um sobrado de três pavimentos na rua Grande, uma construção típica da arquitetura colonial portuguesa que dominava o centro da capital. A casa, com suas janelas de madeira pintadas de azul desbotado e azulejos que começavam a se desprender das paredes externas, abrigava não apenas a família nuclear, mas também alguns agregados e dois escravos domésticos.

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Nos livros de batismo, sua mãe aparece identificada como Antônia Francisca da Conceição, filha de portugueses estabelecidos na região desde o final do século anterior. O que chama a atenção nos registros paroquiais é uma anotação lateral feita com tinta diferente e caligrafia mais trêmula, que simplesmente diz criança marcada pela desgraça desde o berço.

A infância de Rita transcorreu nos limites impostos pela educação rígida, típica das famílias abastadas da época. Aprendeu a ler com um professor particular, o Sr. Manuel Correia Santos, que também ensinava as filhas de outras famílias comerciantes da região. Segundo anotações encontradas em um diário pessoal descoberto décadas mais tarde, durante reformas na antiga residência, Rita demonstrava desde cedo uma inteligência peculiar, mas também comportamentos que inquietavam os adultos ao seu redor.

O professor Santos, em correspondência privada endereçada à sua irmã em Belém, escreveu em janeiro de 1874: “A menina Rita possui uma capacidade de observação que, por vezes, me causa desconforto.” Ela anota detalhes sobre as pessoas que passam pela rua, descreve com precisão assustadora os hábitos dos vizinhos e parece capaz de prever quando alguém está prestes a adoecer ou partir desta vida.

A casa dos Menezes estava localizada em uma das artérias mais movimentadas do centro histórico, permitindo uma visão privilegiada do movimento cotidiano da cidade. Do segundo andar, onde ficava o quarto de Rita, era possível observar o vai e vem dos comerciantes, escravos, carregadores, senhoras em suas liteiras e toda a vida urbana que pulsava nas ruas calçadas de pedra.

Rita passou a maior parte de sua adolescência nesta posição de observadora, registrando em cadernos de papel pardo tudo o que via e ouvia. Os primeiros sinais de que algo se desenvolvia de forma perturbadora na vida de Rita começaram a aparecer no final de 1877. Segundo relatos de vizinhos registrados anos mais tarde pelo delegado municipal, a jovem, então com 16 anos, passou a ser vista conversando sozinha na janela durante as madrugadas. O senr.

Benedito Ferreira Lima, proprietário da Casa Fronteira, relatou que frequentemente acordava com vozes vindas da direção do sobrado dos Menezes, mas quando se dirigia à janela, encontrava apenas Rita falando em tom baixo, como se mantivesse um diálogo com alguém invisível. Durante este período, a saúde de Antônia Francisca, mãe de Rita, começou a se deteriorar rapidamente. O médico da família, Dr.

Raimundo Correa Pinto, anotou em seus registros pessoais que a senhora apresentava sintomas de natureza nervosa, com episódios de melancolia profunda e recusa a alimentar. As anotações médicas, descobertas em um baú no arquivo da Santa Casa de Misericórdia, revelam que Antônia frequentemente alegava ouvir vozes vindas do quarto da filha, mesmo quando Rita não se encontrava em casa.

O inverno de 1878 trouxe chuvas intensas que alagaram várias ruas do centro histórico. Durante este período, Rita desenvolveu o hábito de sair durante as tempestades, caminhando pelas ruas encharcadas, vestida apenas com uma camisola branca. Os vizinhos relataram que ela permanecia parada em pontos específicos da cidade, sempre em frente a casas onde posteriormente alguém adoecia. gravemente ou morria.

Joaquim Menezes, preocupado com o comportamento da filha, procurou ajuda do padre Antônio Ribeiro, o mesmo que havia batizado Rita anos antes. Segundo anotações encontradas nos arquivos da paróquia, o comerciante relatou que a filha demonstrava conhecimentos sobre eventos que ainda não haviam acontecido, especialmente relacionados à mortes na vizinhança.

O padre anotou textualmente: “O pai alega que a filha previu, com três dias de antecedência a morte súbita do senhor Oliveira, da casa de secos e molhados, descrevendo inclusive a posição em que seria encontrado o corpo. Durante os meses seguintes, a situação na casa dos Menezes tornou-se progressivamente mais tensa.

Antônia Francisca recusava-se a permanecer sozinha com a filha. alegando que Rita falava coisas que nenhuma jovem deveria saber. O comportamento de Rita começou a afetar também os escravos domésticos, que relataram ao Senr. Joaquim episódios em que a jovem descrevia com precisão detalhes íntimos da vida pessoal deles, incluindo informações sobre parentes que viviam em outras províncias.

Em março de 1879, quando Rita completou 18 anos, os episódios se intensificaram drasticamente. Segundo registros policiais da época, encontrados nos arquivos do antigo palácio da polícia, os vizinhos começaram a apresentar queixas formais sobre distúrbios noturnos vindos da residência dos Menezes.

O escrivão José Antônio Ferreira anotou que as reclamações sempre mencionavam vozes múltiplas vindas do sobrado, como se várias pessoas conversassem simultaneamente, mas apenas a voz da jovem Rita era reconhecível. O primeiro evento verdadeiramente perturbador ocorreu na madrugada de 23 de abril daquele ano. Segundo o relato do Sr.

Benedito Lima, foi acordado por gritos vindos da casa dos Menezes. Ao se dirigir à janela, avistou Rita no quintal dos fundos, ajoelhada próximo ao poço da propriedade, falando em voz alta com alguém que não conseguiu identificar. O mais inquietante, segundo seu depoimento, era que Rita não falava sozinha. Parecia responder a perguntas e comentários, mantendo pausas regulares, como se ouvisse respostas.

Na manhã seguinte, Antônia Francisca foi encontrada morta em seu quarto. O Dr. Raimundo Pinto atestou morte por parada cardíaca, mas anotou em seus registros particulares que o corpo apresentava sinais de extremo terror, com os olhos abertos e uma expressão de horror que ele jamais havia observado em outros falecimentos naturais.

Mais perturbador ainda foi a descoberta de que Rita havia preparado as roupas de luto da mãe uma semana antes da morte, alegando ao pai que seria necessário muito em breve. O funeral de Antônia Francisca foi marcado por um episódio que permaneceu na memória dos moradores locais por décadas.

Durante o cortejo fúnebre, Rita caminhou em silêncio atrás do caixão, mas várias testemunhas relataram que ela parecia conversar discretamente com alguém ao seu lado. O coveiro José Maria Santos, em depoimento prestado anos mais tarde, afirmou que durante o sepultamento Rita se aproximou dele e descreveu com precisão detalhes sobre outros corpos enterrados no cemitério, incluindo informações sobre pessoas que haviam morrido antes de ela nascer.

Após a morte da mãe, a vida na casa dos Menezes mudou drasticamente. Joaquim, incapaz de compreender ou controlar o comportamento da filha, passou a evitar sua presença. Rita começou a assumir a administração doméstica, mas sua forma peculiar de conduzir as tarefas inquietava profundamente os empregados.

Ela demonstrava conhecer detalhes íntimos sobre a vida pessoal de cada um, incluindo segredos familiares que nunca haviam sido compartilhados com os patrões. A escrava doméstica Benedita, em depoimento registrado pelo delegado, relatou que Rita frequentemente lhe contava detalhes sobre seus filhos, que viviam em uma fazenda distante, incluindo descrições precisas de suas atividades diárias e estado de saúde.

Assim, a moça sabia quando meu filho estava doente, antes mesmo de eu receber notícias”, declarou Benedita. Ela me disse no sábado que minha filha mais nova havia se machucado na segunda-feira e quando chegou carta da fazenda na quinta, era exatamente o que havia acontecido.

Durante o verão de 1879, Rita desenvolveu o hábito de receber visitas em horários incomuns. Vizinhos relataram que pessoas chegavam à casa dos menezes durante a madrugada, sempre sozinhas e em silêncio. O peculiar era que estas visitas nunca eram vistas saindo da residência. O Sr. Francisco Mendes Barbosa, cujo quintal ficava nos fundos da propriedade dos Menezes, anotou em seu diário pessoal: “Contei 11 pessoas diferentes que entraram na casa durante este mês, mas nunca vi nenhuma sair. Quando questiono o Senr.

Joaquim sobre as visitas, ele me olha com ar confuso, como se não soubesse do que estou falando. As atividades comerciais de Joaquim começaram a declinar rapidamente durante este período. Segundo registros da Associação Comercial do Maranhão, encontrados na biblioteca pública de São Luís, vários clientes passaram a evitar a loja de tecidos dos Menezes após interações perturbadoras com Rita.

O comerciante Manuel Silveira Campos relatou que a jovem, durante uma visita à loja descreveu com precisão a morte de sua esposa ocorrida 10 anos antes, incluindo detalhes que apenas ele conhecia. Em agosto daquele ano, começaram a circular rumores na vizinhança sobre desaparecimentos ligados à casa dos Menezes. O sapateiro Antônio Pereira notificou as autoridades que sua filha Luía, de 19 anos, havia desaparecido após visitar Rita para uma consulta sobre questões pessoais.

Segundo o pai, Luía saiu de casa na tarde de terça-feira, dizendo que retornaria em algumas horas. mas nunca mais foi vista. Três dias após o desaparecimento de Luía, Rita apareceu na oficina de Antônio, usando um vestido que o sapateiro imediatamente reconheceu como pertencente à sua filha.

Quando questionada sobre a origem da peça, Rita respondeu calmamente que Luía não precisaria mais dela, pois havia encontrado uma forma mais permanente de resolver seus problemas. Antônio relatou o episódio ao delegado, mas quando as autoridades foram interrogar Rita, ela negou qualquer conhecimento sobre o paradeiro de Luía.

A busca por Luía Pereira mobilizou grande parte da vizinhança durante uma semana. Grupos de homens percorreram as ruas do centro histórico, verificaram construções abandonadas e até mesmo arrastaram parte do rio Bacanga em busca do corpo. Durante toda a procura, Rita manteve-se em sua rotina normal, mas vizinhos notaram que ela parecia mais animada do que o habitual, sorrindo frequentemente, sem motivo aparente.

O caso Luía nunca foi resolvido oficialmente, mas o desaparecimento marca o início de uma série de eventos ainda mais perturbadores, envolvendo Rita Menezes. Nas semanas seguintes, outras jovens da vizinhança começaram a relatar encontros estranhos com Rita, sempre relacionados a convites para visitas privadas ou consultas sobre questões que só ela poderia compreender.

Maria Augusta Ferreira, filha do senor Benedito Lima, relatou a sua mãe que Rita a havia abordado na rua, oferecendo ajuda para resolver o problema com o rapaz que a estava perturbando. Maria Augusta havia sido efetivamente assediada por um jovem comerciante, mas nunca havia comentado o fato com ninguém. Quando perguntou a Rita como ela sabia desta situação, a resposta foi: “As pessoas contam muitas coisas quando estão em certas circunstâncias.

O comportamento de Joaquim Menezes também começou a despertar preocupação entre os conhecidos. Segundo anotações do Dr. Pinto, o comerciante apresentava sinais de extremo esgotamento nervoso com episódios de insônia e perda de apetite. Durante uma consulta médica, Joaquim relatou que havia começado a trancar-se em seu quarto durante as noites, pois não conseguia mais tolerar os sons e vozes que vinham do andar superior da casa.

Em setembro de 1879, um segundo desaparecimento abalou a comunidade local. Joana Correa Santos, de 20 anos, filha de uma família de pequenos comerciantes, desapareceu após uma visita à casa dos Menezes. Diferentemente do caso anterior, desta vez existiam testemunhas que viram Joana entrar na residência durante a tarde, mas ninguém a viu sair.

Mãe de Joana, senora Francisca Santos, procurou Rita no dia seguinte para perguntar sobre o paradeiro da filha. Segundo seu relato ao delegado, Rita recebeu-a com extrema cortesia, ofereceu chá e doces e conversou sobre vários assuntos triviais. Quando, finalmente questionada sobre Joana, Rita respondeu que a jovem havia decidido partir para resolver questões pessoais pendentes e que não voltaria tão cedo.

O que mais perturbou Francisca Santos foi a forma como Rita descreveu a decisão de Joana, usando detalhes específicos sobre conflitos familiares que apenas alguém muito próximo da jovem poderia conhecer. Rita mencionou discussões entre Joana e seus pais sobre um possível casamento arranjado, reproduziu quase textualmente conversas privadas ocorridas na Casa dos Santos e demonstrou conhecer preocupações íntimas de Joana que ela nunca havia compartilhado publicamente.

Duas semanas após o desaparecimento de Joana, um evento macabro chamou a atenção das autoridades para a casa dos Menezes. O escravo José Maria, que trabalhava como carregador no mercado central, relatou ter visto Rita descartando no rio objetos pessoais que pareciam roupas femininas.

Quando questionado sobre a certeza da identificação, José Maria afirmou ter reconhecido Rita pela forma peculiar como ela caminhava, sempre com passos medidos e pausas regulares, como se estivesse seguindo um ritmo específico. A investigação informal, conduzida pelo delegado Francisco Alves Pereira esbarrou em uma peculiaridade legal da época.

Como filha única de família respeitável, Rita gozava de certas proteções sociais que dificultavam interrogatórios diretos. Além disso, a ausência de evidências físicas dos crimes tornava qualquer acusação formal praticamente impossível de ser sustentada perante as autoridades provinciais. Durante este período, Joaquim Menezes apresentou sinais de deterioração mental progressiva.

Segundo anotações encontradas no diário de Antônio Pereira, o comerciante havia sido visto vagando pelas ruas durante a madrugada, murmurando frases incompreensíveis e parando em frente a casas aleatórias para conversar com pessoas que não estavam lá. Em uma ocasião, foi encontrado ajoelhado em frente à igreja do desterro.

repetindo continuamente: “Perdoe-me, padre, mas não sei mais o que é real. O isolamento progressivo da família Menezes tornou-se evidente quando os poucos amigos restantes de Joaquim começaram a evitar qualquer contato social. O Sr. Manuel Oliveira, antigo parceiro comercial, anotou em correspondência enviada a parentes em São Paulo. A Casa dos Menezes tornou-se um lugar que provoca malestar em qualquer visitante.

Há algo no ar daquela residência que faz com que mesmo conversas banais assumam um tom sinistro. Rita, aparentemente alheia ao crescente isolamento social, continuou sua rotina de observação pela janela e recepção de visitas noturnas. Vizinhos relataram que as luzes da casa permaneciam acesas durante toda a madrugada e frequentemente eram ouvidos sons de móveis sendo arrastados ou reorganizados.

O mais perturbador era que estes sons vinham sempre de cômodos que deveriam estar vazios, pois a família havia vendido a maior parte dos móveis para cobrir dívidas comerciais. Em outubro daquele ano, um terceiro desaparecimento consolidou os temores da vizinhança. Isabel Mendes Correia, de 21 anos, desapareceu nas mesmas circunstâncias das jovens anteriores.

Desta vez, entretanto, sua irmã mais nova havia seguido Isabel à distância e observou-a entrar na casa dos Menezes. Segundo o relato da menina, Isabel permaneceu na residência por várias horas e durante este tempo foram ouvidas vozes de várias pessoas conversando animadamente. O aspecto mais inquietante do testemunho da irmã de Isabel foi sua descrição dos sons vindos da casa.

Segundo a criança, as vozes pareciam vir de pessoas diferentes, mas todas falavam simultaneamente, criando um murmúrio constante pontuado por risadas ocasionais. A menina esperou na rua até o anoitecer, mas Isabel nunca saiu da casa, apesar de as luzes se apagarem e os sons cessarem completamente por volta das 10 horas da noite.

A família Correa organizou uma busca imediata, mas quando procuraram Rita para questioná-la sobre Isabel, encontraram a casa aparentemente vazia. Joaquim havia desaparecido e Rita não respondia às batidas na porta. Vizinhos relataram que não viam movimento na residência há três dias, apesar de ocasionalmente ouvirem passos e vozes vindas do interior.

O delegado Pereira, pressionado pelos familiares das jovens desaparecidas, organizou uma busca oficial na Casa dos Menezes. A operação conduzida na manhã de 28 de outubro revelou uma cena que permaneceu gravada na memória de todos os participantes. A casa estava completamente vazia de móveis, mas as paredes apresentavam marcas estranhas, arranhões profundos na madeira e manchas escuras que pareciam ter sido feitas com algum líquido.

No quarto que havia pertencido a Rita, os investigadores encontraram três vestidos femininos cuidadosamente dobrados sobre o açoalho. Peças foram imediatamente reconhecidas pelos familiares como pertencentes às jovens desaparecidas. Junto aos vestidos havia um caderno de capa preta contendo anotações em caligrafia feminina, mas em um idioma ou código que nenhum dos presentes conseguiu decifrar. O porão da casa revelou a descoberta mais perturbadora.

Escavações superficiais no chão de terra batida revelaram fragmentos de ossos humanos, mas em tal estado de decomposição que foi impossível determinar sua origem ou antiguidade. O médico legista improvisado da época, Dr. Pinto estimou que os restos mortais poderiam ter décadas de idade, sugerindo que a situação na casa dos Menezes poderia ter raízes muito mais antigas do que se imaginava.

Durante a busca, foi descoberto um compartimento oculto atrás de uma parede falsa no segundo andar. O espaço de aproximadamente 2 m² continha uma coleção de objetos pessoais pertencentes a várias pessoas diferentes, pentes, joias, pedaços de tecido, mechas de cabelo de cores variadas e dezenas de cartas pessoais. A análise posterior revelou que alguns destes itens pertenciam não apenas às jovens recentemente desaparecidas, mas também a pessoas que haviam morrido anos antes na cidade. Entre os documentos encontrados no compartimento secreto estava uma série de cartas

endereçadas a Rita, aparentemente escritas por pessoas diferentes ao longo de vários anos. O conteúdo das missivas variava desde pedidos de ajuda com problemas pessoais até agradecimentos por serviços prestados. Uma carta em particular, datada de 1875 chamou a atenção dos investigadores por seu tom de gratidão excessiva e referências à libertação definitiva de sofrimentos.

A descoberta mais inquietante foi um diário pessoal de Rita, iniciado aparentemente quando ela ainda era criança. As primeiras entradas escritas em caligrafia infantil descreviam conversas com amigos especiais que visitavam seu quarto durante a noite. Com o passar dos anos, as anotações tornaram-se progressivamente mais detalhadas e perturbadoras, incluindo descrições precisas sobre a vida íntima de vizinhos e previsões sobre eventos futuros que posteriormente se concretizaram.

Uma entrada do diário, datada de dezembro de 1878, três meses antes da morte de Antônia Francisca, continha uma descrição detalhada de como a mãe morreria, incluindo a data exata e as circunstâncias. Outra anotação de julho de 1879 listava os nomes das três jovens que posteriormente desapareceram, acompanhados de comentários. sobre suas necessidades específicas e contribuições potenciais.

O paradeiro de Rita Menezes permaneceu um mistério completo. Nenhuma testemunha relatou tê-la visto deixar a casa ou a cidade. Suas roupas pessoais permaneceram no quarto, assim como seus objetos de uso diário. Era como se ela simplesmente tivesse cessado de existir no mesmo momento em que as autoridades decidiram investigar formalmente suas atividades.

Joaquim Menezes foi encontrado três dias depois da busca na casa, vagando pelas ruas do subúrbio de São Luís, em estado de completa demência. Segundo anotações médicas, ele não conseguia formar frases coerentes e parecia não reconhecer nem mesmo sua própria identidade. Repetia constantemente fragmentos de frases como: “Ela sabia de tudo e as vozes não param nunca.

” foi internado na Santa Casa de Misericórdia, onde permaneceu até sua morte em 1882. Nos meses seguintes ao desaparecimento de Rita, várias pessoas relataram avistamentos em diferentes partes da cidade. Uma costureira jurou tê-la visto comprando tecidos no mercado central. Um pescador afirmou ter conversado com ela no cais do porto. Um padre relatou que ela havia comparecido à missa dominical na igreja do Rosário.

Entretanto, quando investigados, todos estes relatos apresentavam inconsistências ou eram contraditos por outras testemunhas presentes nos mesmos locais e horários. A casa dos Menezes permaneceu vazia até 1883, quando foi vendida pela administração municipal para quitar dívidas.

O novo proprietário, um comerciante português recém-chegado ao Maranhão, relatou episódios estranhos desde os primeiros dias de ocupação. Segundo suas anotações pessoais, sons de conversas vindas dos andares superiores eram frequentes, especialmente durante as madrugadas, mesmo quando ele era o único ocupante do imóvel. Em 1885, a residência foi novamente colocada à venda após o proprietário português retornar precipitadamente à sua terra natal.

Em carta endereçada a um parente em Lisboa, ele escreveu: “Esta casa carrega consigo uma atmosfera que contamina qualquer pessoa que nela permaneça por tempo prolongado.” Comecei a ter sonhos perturbadores, onde conversava com pessoas que eu sabia estarem mortas e durante o dia ouvia constantemente passos vindos de cômodos vazios.

O caso Rita Menezes foi oficialmente arquivado em 1886, quando o delegado Pereira foi transferido para outra comarca. Seu sucessor, capitão Antônio Silva Campos, decidiu considerar os desaparecimentos como casos de fuga voluntária, alegando falta de evidências conclusivas de crime. Os familiares das jovens desaparecidas continuaram pressionando por investigações, mas a ausência de novos desenvolvimentos e a pressão de autoridades superiores acabaram encerrando definitivamente qualquer ação oficial.

Durante a década de 1890, surgiram ocasionalmente rumores sobre o paradeiro de Rita Menezes. Alguns alegavam que ela havia se mudado para o interior da província, onde continuaria suas atividades misteriosas em comunidades rurais isoladas. Outros acreditavam que havia partido para outras províncias, possivelmente assumindo uma nova identidade.

Houve até mesmo quem sugerisse que ela havia embarcado em um navio com destino à Europa, aproveitando a confusão social do final do período imperial. O que permaneceu incontestável foi o impacto duradouro que sua presença causou na comunidade de São Luís. Famílias inteiras mudaram-se para outros bairros, alegando que não conseguiam mais viver tranquilamente nas proximidades da antiga residência dos Menezes.

comércio local sofreu uma depressão significativa, pois muitos evitavam circular pelas ruas do centro histórico, especialmente durante o período noturno. A Igreja do desterro registrou um aumento substancial na procura por confissões e missas de sufrágio durante os anos que se seguiram ao desaparecimento de Rita.

O padre Antônio Ribeiro anotou que frequentemente recebia fiéis, relatando pesadelos recorrentes, sensações de serem observados e episódios de ansiedade inexplicável. Muitos destes casos estavam relacionados a pessoas que haviam tido algum contato, mesmo casual com Rita Menezes. Em 1892, durante reformas no cemitério público de São Luís, foram descobertos três túmulos não registrados nos livros oficiais.

As sepulturas conham restos mortais de jovens mulheres estimadas entre 18 e 25 anos de idade. Análises posteriores revelaram que os corpos haviam sido enterrados aproximadamente 15 anos antes, coincidindo com o período dos desaparecimentos relacionados a Rita Menezes. O aspecto mais perturbador da descoberta foi que os corpos estavam em estado de preservação incomum.

para o clima tropical da região. Segundo anotações do médico legista, era como se algum processo ou substância tivesse [ __ ] significativamente a decomposição natural. Junto aos restos mortais, foram encontrados objetos pessoais que foram posteriormente identificados pelos familiares sobreviventes como pertencentes a jovens desaparecidas.

Os familiares das vítimas exigiram a reabertura oficial do caso, mas as autoridades republicanas recém instaladas demonstraram pouco interesse em investigar eventos ocorridos durante o período imperial. O argumento oficial era que os responsáveis pelos crimes provavelmente já estavam mortos e que recursos públicos não deveriam ser desperdiçados, com casos antigos, sem perspectiva de solução.

Durante os primeiros anos do século XX, a história de Rita Menezes foi gradualmente assumindo características de lenda urbana, versões romantizadas ou dramaticamente exageradas. começaram a circular entre as camadas populares, muitas vezes incorporando elementos sobrenaturais ou explicações mágicas para os eventos.

Esta transformação folclórica acabou por obscurecer ainda mais os fatos reais relacionados ao caso. Pesquisadores independentes que tentaram estudar o caso Rita Menezes durante as décadas seguintes enfrentaram dificuldades significativas. Muitos dos documentos oficiais relacionados ao período haviam desaparecido dos arquivos municipais, alegadamente durante reorganizações administrativas ou devido à deterioração natural causada pelo clima tropical.

Testemunhas sobreviventes mostravam-se relutantes em compartilhar informações, frequentemente alegando que certas histórias era melhor deixar enterradas no passado. O prédio que havia abrigado a residência dos Menezes mudou de proprietário várias vezes durante o século XX. Nenhum ocupante permaneceu por mais de 5 anos consecutivos, sempre alegando motivos profissionais ou familiares para a mudança.

Uma constante relatada por todos os ocupantes temporários era a sensação de presença constante no imóvel, como se alguém estivesse sempre observando ou acompanhando as atividades domésticas. Em 1923, o escritor maranhense Raimundo Correa publicou um romance inspirado vagamente na história de Rita Menezes. A obra, intitulada As vozes da Rua Grande apresentava uma versão ficcionalizada dos eventos, mas incorporava diversos detalhes que não haviam sido tornados públicos através dos documentos oficiais disponíveis. Quando questionado sobre

suas fontes de informação, Correia limitou-se a dizer que algumas histórias são contadas pelos próprios lugares onde aconteceram. Durante a Segunda Guerra Mundial, quando São Luís serviu como base para operações militares aliadas, soldados americanos estacionados na cidade relataram episódios estranhos relacionados ao centro histórico.

Vários relatórios militares mencionam patrulhas noturnas que ouviam vozes vindas de edifícios sabidamente vazios, incluindo o antigo sobrado dos menezes. Um oficial americano anotou que seus soldados frequentemente se recusavam a patrulhar sozinhos certas ruas do centro histórico, alegando sensações inexplicáveis de medo e desconforto. Em 1952, uma equipe de antropólogos da Universidade de São Paulo conduziu um estudo sobre tradições orais maranhenses.

Durante suas entrevistas com moradores antigos de São Luís, registraram dezenas de versões diferentes da história de Rita Menezes. O aspecto mais intrigante era que, apesar das variações nos detalhes, todos os entrevistados concordavam sobre elementos específicos. a capacidade de Rita de prever eventos futuros, seu conhecimento aparentemente impossível sobre a vida íntima de outras pessoas e o desaparecimento misterioso de jovens mulheres.

O relatório final da equipe de antropólogos arquivado na biblioteca da USP contém uma observação peculiar. Os pesquisadores notaram que todos os entrevistados demonstravam sinais de desconforto extremo ao discutir o assunto, com vários interrompendo abruptamente as sessões e se recusando a continuar. Uma entrevistada idosa chegou a declarar: “Existem nomes que não devem ser pronunciados depois do pôr do sol”.

Em 1958, durante escavações para a instalação de nova rede de esgoto no centro histórico, operários descobriram uma câmara subterrânea sob o que havia sido o quintal da casa dos Menezes. O espaço, de aproximadamente 3 m², continha os restos mortais de pelo menos sete pessoas diferentes, todas aparentemente jovens mulheres.

O estado de preservação dos corpos era tão incomum as autoridades solicitaram análise especializada do Instituto Médico Legal do Rio de Janeiro. O laudo técnico, classificado como confidencial na época concluiu que os corpos apresentavam evidências de morte não natural, mas os métodos utilizados não puderam ser determinados devido ao tempo transcorrido.

inquietante foi a descoberta de que todos os esqueletos apresentavam fraturas idênticas na base do crânio, sugerindo um padrão específico de violência. O relatório oficial classificou as mortes como homicídios, mas devido à impossibilidade de identificar responsáveis vivos, o caso foi novamente arquivado. A descoberta da Câmara subterrânea reavivou o interesse público pelo caso Rita Menezes.

Jornais locais publicaram matérias especiais sobre os eventos do século anterior, mas a cobertura foi interrompida abruptamente quando três jornalistas que investigavam a história sofreram acidentes inexplicáveis em um período de duas semanas. As autoridades atribuíram os incidentes a coincidências, mas a imprensa local desenvolveu uma relutância não declarada em abordar qualquer assunto relacionado à família Menezes.

Durante os anos 60, o centro histórico de São Luís passou por um processo de revitalização que incluiu a demolição de várias construções coloniais em estado precário. O sobrado dos Menezes deveria ter sido incluído no programa, mas permaneceu intacto devido a uma série de complicações burocráticas e acidentes que atrasaram indefinidamente os trabalhos. Operários relataram que equipamentos funcionavam mal, especificamente naquele local.

Materiais desapareciam misteriosamente e vários trabalhadores se recusavam a permanecer no prédio durante os turnos noturnos. Em 1963, uma equipe de pesquisadores do Instituto do Patrimônio Histórico iniciou um levantamento arquitetônico completo do sobrado. Durante os trabalhos, foram descobertos novos compartimentos ocultos e um sistema de passagens secretas que conectava diferentes andares do edifício.

Perturbador foi a descoberta de que algumas destas passagens se estendiam além dos limites da propriedade, criando uma rede subterrânea que alcançava outras construções da vizinhança. O projeto de catalogação foi suspenso em 1964, quando o coordenador da equipe, arquiteto Carlos Mendonça Filho, desapareceu durante uma inspeção noturna do edifício.

Seus colegas relataram que ele havia entrado no sobrado por volta das 20 horas para verificar medições, mas nunca mais foi visto. Suas ferramentas de trabalho foram encontradas organizadamente, dispostas no segundo andar, como se ele tivesse interrompido voluntariamente suas atividades. Uma busca intensiva pelo arquiteto mobilizou autoridades estaduais e federais durante três semanas.

Cães farejadores perdiam o rastro invariavelmente ao chegar às proximidades do sobrado dos menezes. Especialistas em espeleologia exploraram toda a rede de túneis descoberta, mas não encontraram qualquer vestígio de Mendonça Filho. O caso permanece oficialmente em aberto até hoje. Em 1966, as atividades de pesquisa relacionadas ao sobrado foram definitivamente suspensas por determinação federal.

O edifício foi lacrado e declarado patrimônio histórico intocável, sob a alegação de preservação arquitetônica. Entretanto, documentos desclassificados décadas mais tarde revelaram que a decisão foi motivada por preocupações de segurança pública após uma série de relatórios sobre atividades anômalas na região. Durante os anos 70 e 80, o centro histórico de São Luís consolidou-se como importante destino turístico, mas o sobrado dos Menezes permaneceu consistentemente excluído de todas as rotas oficiais.

Guias turísticos locais desenvolveram o hábito não escrito de conduzir grupos por caminhos alternativos que evitavam passar em frente ao edifício. Quando questionados sobre esta prática, limitavam-se a explicar que aquela rua tem problemas estruturais que podem ser perigosos para visitantes. Moradores antigos da região relataram que, mesmo décadas após os eventos originais, certas características inquietantes persistiam.

Animais domésticos evitavam passar próximo ao sobrado. Pássaros não pousavam em sua estrutura. Durante tempestades, raios frequentemente atingiam para raios de edifícios vizinhos, mas nunca o próprio sobrado, como se uma força invisível os desviasse. Em 1992, por ocasião do centenário da descoberta dos primeiros corpos no cemitério público, o jornal Estado do Maranhão publicou um artigo retrospectivo sobre o caso Rita Menezes.

A matéria incluía depoimentos de descendentes das famílias envolvidas e reproduzia trechos dos documentos históricos ainda disponíveis. 24 horas após a publicação, a redação do jornal recebeu dezenas de ligações anônimas, exigindo que o assunto não fosse mais abordado. O editor responsável pela matéria Antônio Machado Santos, relatou posteriormente que durante as semanas seguintes a publicação recebeu cartas manuscritas contendo ameaças veladas e referências específicas a detalhes de sua vida pessoal que supostamente não eram de conhecimento público. Uma carta em

particular escrita em caligrafia feminina antiquada, simplesmente dizia: “Algumas histórias devem permanecer enterradas”. Rita Menezes ainda observa aqueles que falam demais sobre ela. A entrada do século XX trouxe novas tecnologias de investigação que poderiam teoricamente esclarecer aspectos do caso Rita Menezes, mas tentativas de aplicar métodos modernos esbarraram em obstáculos burocráticos e técnicos.

Equipamentos de análise forense apresentavam mau funcionamento, especificamente quando utilizados em materiais relacionados ao caso. Sistemas de computador sofriam falhas inexplicáveis ao processar documentos digitalizados dos arquivos históricos. Durante a primeira década dos anos 2000, pesquisadores independentes, utilizando recursos da internet, tentaram compilar informações abrangentes sobre o caso.

Websites dedicados ao assunto eram frequentemente removidos do ar por violações de termos de uso que nunca eram especificadas claramente. Fóruns de discussão sobre o tema desenvolviam problemas técnicos recorrentes e usuários relatavam dificuldades para acessar ou compartilhar informações relacionadas a Rita Menezes.

Hoje, mais de um século após os eventos originais, o caso Rita Menezes permanece como um dos mistérios não resolvidos mais inquietantes da história de São Luís. O sobrado que abrigou sua família ainda se ergue no centro histórico da cidade, oficialmente preservado como patrimônio arquitetônico, mas efetivamente evitado por moradores e visitantes que intuem sua natureza perturbadora.

Estudiosos de fenômenos históricos anômalos classificam o caso como um exemplo clássico de trauma coletivo persistente, onde eventos traumáticos deixam marcas duradouras não apenas na memória social, mas aparentemente na própria estrutura física dos locais onde ocorreram. A incapacidade de resolver completamente os mistérios envolvendo Rita Menezes pode ter contribuído para a perpetuação de uma atmosfera de inquietação que transcende gerações.

Até hoje, moradores de São Luís ocasionalmente relatam avistamentos de uma jovem mulher caminhando pelas ruas do centro histórico durante as primeiras horas da madrugada. As descrições são consistentemente similares. Uma figura feminina de aproximadamente 18 anos, vestindo roupas do século XIX, caminhando com passos medidos e pausas regulares, sempre sozinha e aparentemente alheia ao mundo ao seu redor.

Estes relatos nunca foram investigados oficialmente, sendo geralmente atribuídos à sugestão psicológica ou ao conhecimento cultural da história local. Entretanto, a persistência e consistência das descrições, mesmo entre pessoas que alegam desconhecer os detalhes do caso Rita Menezes, continua intrigando aqueles que se interessam por fenômenos históricos inexplicáveis.

E assim nas ruas de pedra portuguesa de São Luís, onde o tempo parece mover-se mais lentamente entre as fachadas coloniais e os azulejos desbotados, a lembrança de Rita Menezes permanece como um sussurro constante, uma história que se recusa a ser completamente contada ou definitivamente esquecida, ecoando através das décadas como um lembrete de que alguns mistérios humanos Talvez sejam profundos demais para serem completamente compreendidos ou resolvidos.

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