A viúva da plantação comprou o escravo mais bonito… mas logo descobriu por que ninguém o queria.

O calor de Veracruz caía como chumbo sobre a praça do mercado. Naquela manhã de julho de 1842, Dona Mercedes de Santillán ajustou a sua mantilha preta enquanto observava a fila de homens acorrentados em frente ao estrado de leilões. O ar cheirava a suor, a medo, a humanidade reduzida a mercadoria.

Havia enviuvado há apenas 8 meses e a fazenda de café que o seu falecido marido lhe deixara necessitava de braços fortes para a próxima colheita. Os administradores tinham-na aconselhado a comprar pelo menos três escravos, mas ela sabia que só podia pagar um. As dívidas de Fernando eram maiores do que tinha imaginado. Teria que escolher bem. O mercado fervilhava de atividade.

Comerciantes gritavam ofertas, mulheres regateavam por tecidos e especiarias, crianças corriam entre as pernas dos adultos. Mas no canto onde se realizava o leilão de escravos havia um silêncio incómodo, como se todos quisessem fazer o negócio, mas nenhum quisesse reconhecer a natureza do mesmo. Os seus olhos percorreram a fila até se deterem num homem no final, alto, de pele morena e feições marcadas, destacava-se não só pelo seu físico imponente, mas por algo mais difícil de definir: a forma como mantinha a cabeça erguida apesar das

correntes, a intensidade do seu olhar que não estava quebrada pela humilhação da sua situação. Quando os seus olhos se encontraram, Mercedes sentiu algo estranho no peito, uma mistura de curiosidade e algo que não se atrevia a nomear. Ele não desviou o olhar, não baixou os olhos como se esperava que fizesse um escravo.

E essa pequena rebelião silenciosa intrigou-a mais do que qualquer coisa que tivesse experimentado em anos. Se estás a gostar desta história, por favor subscreve o canal e deixa-me um comentário a dizer-me de onde nos estás a ver. O teu apoio significa muito e ajuda-me a continuar a trazer-te mais histórias como esta. O leiloeiro começou com os primeiros homens. Um após o outro foram vendidos a fazendeiros e comerciantes que licitavam com indiferença, como quem compra gado ou ferramentas. Mercedes observava o processo com crescente desconforto.

Nunca antes havia comprado um escravo pessoalmente. Fernando sempre se tinha encarregado disso. Agora, vendo estes homens a serem avaliados e vendidos, sentiu uma pontada de culpa que tentou ignorar. Necessitava de mão de obra. Era assim que o mundo funcionava. Tentou convencer-se de que não tinha outra opção, mas a sua atenção voltava constantemente para o homem no final da fila.

Notou que vários compradores olhavam para ele com interesse. Alguns até se aproximavam para o examinar, apalpando os seus braços, revendo os seus dentes como se fosse um cavalo. Mas invariavelmente, depois de trocar algumas palavras com o traficante, afastavam-se abanando a cabeça negativamente, com expressões que iam da desconfiança ao medo aberto.

Quando finalmente chegou a sua vez, o leiloeiro pigarreou incomodado, como se preferisse passar à frente. “Este é Mateo”, anunciou com voz menos entusiasta do que antes, sem o tom promocional que tinha usado com os outros. “28 anos, forte, saudável, provém de uma fazenda em Oaxaca, sabe de cultivos e…” Fez uma pausa significativa: “…de outras coisas.” A licitação inicial foi surpreendentemente baixa, quase insultante para um homem dessa constituição e idade. Mercedes franziu o sobrolho confusa.

Um homem dessa constituição na flor da sua vida deveria valer o dobro, talvez o triplo. Algo não batia certo. Mesmo assim, levantou a mão e ofereceu uma quantia modesta, mal acima da oferta inicial. Esperou que alguém a superasse. O silêncio estendeu-se. Os outros compradores olhavam para ela com algo parecido com a pena. Para sua surpresa e crescente inquietação, ninguém mais licitou.

O leiloeiro pareceu aliviado por se desfazer dele. “Por que tão barato?”, perguntou Mercedes ao traficante depois de completar a transação, assinando os papéis que convertiam esse homem na sua propriedade legal. A palavra deixou-lhe um sabor amargo na boca. O homem encolheu os ombros, evitando o seu olhar enquanto contava as notas.

“Alguns dizem que traz má sorte, senhora. Passou por três amos em dois anos. Todos o venderam e nenhum com lucros. Há quem diga que onde ele vai, as desgraças seguem. Má sorte ou mau carácter.” Mercedes não acreditava em superstições, mas o comportamento problemático era outra coisa. “Isso terá de descobrir você mesma, Dona Mercedes.

Eu só a aconselho a mantê-lo vigiado e a não lhe dar demasiada liberdade.” A forma como disse a última palavra fez com que Mercedes sentisse um calafrio. Durante a viagem de regresso à fazenda, Mateo caminhava atado à traseira da carroça sob o sol abrasador. Mercedes observava-o ocasionalmente pelo espelho da carruagem, sentindo uma mistura estranha de culpa e fascínio.

Ele nunca baixava o olhar, nunca mostrava o servilismo que ela tinha visto noutros escravos durante a sua vida. Suava sob o calor, claramente exausto, mas a sua postura permanecia direita, o seu passo firme. Isso deveria preocupá-la, mas em vez disso intrigava-a de uma maneira que não conseguia entender.

A meio do caminho, ordenou ao condutor que parasse. Desceu da carruagem com uma cantimplora de água. O condutor olhou-a surpreendido. “Senhora, não é necessário.” “Deixa-me decidir a mim o que é necessário”, respondeu com firmeza. Aproximou-se de Mateo e ofereceu-lhe a água. Ele olhou para ela durante um longo momento, como se tentasse discernir se era uma armadilha ou uma prova.

Finalmente bebeu, não com desespero, mas com dignidade, tomando apenas o necessário. “Obrigada, Senhora”, disse com voz clara e profunda. E nessas duas palavras simples, Mercedes ouviu educação, inteligência, humanidade. Não era o que esperava. A fazenda San Rafael estendia-se sobre as colinas verdes do estado de Veracruz com os seus campos de café a brilhar sob o sol da tarde.

Mercedes havia crescido nessa terra, brincando entre os cafeeiros quando era criança, aprendendo os ritmos das estações e das colheitas. Tinha-a visto prosperar sob o comando do seu pai e depois do seu marido. Agora, a obra era sua, juntamente com todas as suas responsabilidades, as suas dívidas e o peso de a manter a funcionar num mundo que não acreditava que uma mulher pudesse fazê-lo.

O capataz, Dom Rodrigo, um homem curtido de 50 anos que estava na fazenda há duas décadas, esperava-a no pátio principal. Havia sido leal ao seu pai e depois a Fernando. O seu rosto, marcado por anos de trabalho sob o sol, endureceu ao ver Mateo.

“Só um, Dona Mercedes? Disse-lhe que precisávamos de pelo menos três para a colheita. A estação aproxima-se e estamos com falta de braços.” “É o que posso pagar agora, Rodrigo. Terá que ser suficiente.” Não mencionou as dívidas que havia descoberto depois da morte de Fernando, o dinheiro mal investido, os empréstimos a juros impossíveis.

O capataz rodeou Mateo como um predador, avaliando uma presa, examinando-o com olho crítico. “Grande. Isso é bom, forte, mas tem cara de problemático. Conheço esse tipo de olhar.” “E tu, o que achas disso?”, perguntou Mercedes diretamente a Mateo, impulsionada por algo que não conseguia explicar.

Era a primeira vez que lhe falava como a uma pessoa, não como a uma posse. Os outros trabalhadores no pátio pararam, surpreendidos. Os olhos de Mateo encontraram os dela. Por um momento, pareceu genuinamente surpreendido por ela lhe dirigir a palavra, por lhe perguntar a sua opinião como se importasse. Depois, escolhendo as suas palavras cuidadosamente, mas sem se dobrar, respondeu: “Opino que o trabalho duro não me assusta, senhora.

Trabalhei toda a minha vida e sei o que significa ganhar o sustento com o suor da testa, mas os maus-tratos injustos, a crueldade, também não os aceito calado. Se isso me torna problemático, então sim, eu sou.” O silêncio que se seguiu foi absoluto. Rodrigo deu um passo à frente, a sua mão movendo-se instintivamente para o chicote que trazia ao cinto.

“Aqui não falamos até que nos perguntem, escravo, e quando falamos, fazemo-lo com humildade.” “Basta”, ordenou Mercedes com firmeza, surpreendendo-se a si mesma. “Na minha fazenda não se castiga ninguém por responder a uma pergunta que eu fiz. Se pergunto, espero uma resposta honesta, não palavras vazias de submissão.”

Virou-se para Mateo, estudando-o. “Sabes trabalhar o café?” “Trabalhei em plantações de cana e algodão, senhora. Não conheço o café, mas aprendo rápido. Dê-me três dias e trabalharei tão bem como qualquer um dos seus homens.” “Então aprenderás. Rodrigo, mostra-lhe os barracões e atribui-lhe uma cama.

Amanhã começará nos campos e tu pessoalmente encarregar-te-ás de lhe ensinar o que precisas de saber sobre os cafeeiros.” Rodrigo apertou a mandíbula, claramente desgostoso, mas assentiu. “Como ordenar, Dona Mercedes.” Naquela noite Mercedes não conseguiu dormir. A Casa Grande parecia mais vazia do que nunca sem o seu marido, embora na verdade Fernando nunca tivesse preenchido muito esse espaço.

30 anos mais velho do que ela, tinha-a tratado com cortesia distante, cumprindo os seus deveres conjugais com eficiência mecânica, mas sem paixão. O seu casamento havia sido arranjado, como todos no seu círculo social, uma transação de propriedades e apelidos, não uma união de almas. Nunca houve amor, apenas uma cordialidade respeitosa que se desgastava mais a cada ano.

Agora, aos 27 anos, Mercedes encontrava-se sozinha, viúva, a lutar para manter à tona uma propriedade que muitos esperavam vê-la fracassar para a comprar a preço de saldo. Já tinha rejeitado três ofertas generosas de vizinhos abutres. Sabia que alguns apostavam que ela não chegaria à próxima colheita. Levantou-se antes da alvorada e saiu para a varanda envolvida no seu xale.

A fazenda despertava lentamente na penumbra do amanhecer. Viu os trabalhadores sair dos barracões, sombras a moverem-se na luz acinzentada. Reconheceu Mateo imediatamente, mesmo à distância. Mesmo na escuridão a sua presença era distintiva. Os outros caminhavam com os ombros descaídos, arrastando os pés. Ele ia ereto, os seus passos firmes e decididos.

Durante as semanas seguintes, Mercedes observou Mateo trabalhar e quanto mais o observava, mais fascinada estava. Era verdade o que tinha dito. O trabalho duro não o assustava. Aprendeu rápido o manejo dos cafeeiros, a poda delicada que exigia, a forma de identificar os grãos maduros prontos para a colheita.

Em menos de uma semana trabalhava melhor do que homens que estavam há anos na fazenda. Mas também notou outras coisas, pequenos detalhes que a comoviam de formas que não esperava. Quando Rodrigo não estava por perto, Mateo ajudava os trabalhadores mais velhos, carregando os seus sacos mais pesados sem que lhe pedissem.

Partilhava a sua ração de água com quem precisava, mesmo quando ele próprio estava exausto. E de noite, quando pensava que ninguém olhava, sentava-se debaixo de uma árvore com os meninos escravos e ensinava-os a contar, a formar letras na terra com um pau, sussurrando-lhes que o conhecimento era a única coisa que ninguém lhes podia tirar.

Mercedes observava-o da janela do seu quarto, escondida atrás das cortinas como uma espia. Via a gentileza nos seus movimentos com os meninos, a paciência infinita quando explicava algo pela terceira ou quarta vez, a forma como os seus olhos se iluminavam quando um menino finalmente entendia um conceito. Este homem, este escravo, que supostamente trazia má sorte, tinha mais humanidade no seu dedo mindinho do que muitos dos homens respeitáveis que ela conhecia.

Uma tarde, depois de quase um mês, Mercedes chamou-o à casa. Rodrigo havia protestado veementemente, advertindo que era perigoso e inapropriado permitir que um escravo entrasse na Casa Grande, especialmente um com a sua reputação problemática. Mas ela havia insistido usando o tom que não admitia discussão.

Mateo apresentou-se limpo, com a camisa remendada múltiplas vezes, mas bem posta. O cabelo húmido como se tivesse lavado no rio. Mercedes recebeu-o na biblioteca, o seu lugar favorito da casa, rodeada dos livros que havia herdado do seu pai, que acreditava que as mulheres também deviam educar-se. “Rodrigo diz-me que causas problemas”, começou ela, observando-o cuidadosamente.

“Rodrigo considera-me problemático porque questiono ordens que põem em risco a saúde dos trabalhadores”, respondeu Mateo sem rodeios, sem o servilismo que ela havia esperado. “Ontem ordenou que continuássemos sob o sol do meio-dia, sem água nem descanso. Dois homens quase desmaiaram. Um tem mais de 60 anos e o coração fraco.”

“E o que fizeste?” “Parei o trabalho até que trouxeram água. Disse-lhe que se queria que continuássemos, ele teria que vir trabalhar sob o mesmo sol. Ele recusou, claro. Então trouxeram a água.” Mercedes recostou-se na sua cadeira, estudando-o. Havia fogo neste homem, mas não era o fogo destrutivo da raiva cega.

Era o fogo da justiça, da dignidade inquebrável. “Sabes ler?” A pergunta pareceu apanhá-lo completamente de surpresa. Hesitou um momento e ela viu o cálculo nos seus olhos. Seria seguro admiti-lo? Finalmente decidiu arriscar-se com a verdade. “Sim, senhora.” “Quem te ensinou?” “A filha do amo para quem a minha mãe trabalhava quando eu era menino. Ela tinha a minha idade.

Éramos amigos, suponho, embora esse tipo de amizade fosse impossível realmente. Ensinava-me em segredo com os livros velhos que a sua família ia deitar fora ou queimar. Quando o seu pai descobriu, vendeu a minha mãe a outro amo. Nunca mais a voltei a ver.” A dor na sua voz era evidente, mas controlada. Mercedes sentiu algo apertar no seu peito, levantou-se e tirou um livro da estante, um dos seus favoritos.

“Lê isto”, ordenou, entregando-lhe um volume de poesia de Sor Juana Inés de la Cruz. Mateo abriu o livro com mãos cuidadosas, quase reverentes, como se segurasse algo sagrado. Começou a ler com voz clara e pausada, sem tropeçar nas palavras complicadas, com a entoação apropriada que mostrava compreensão profunda do significado. Mercedes sentiu algo a mexer-se no seu interior, algo perigoso e emocionante.

Não era só que soubesse ler, era a forma como o fazia, com compreensão genuína, com sentimento, com alma. “Por que os teus anteriores amos te venderam?”, perguntou quando ele terminou o poema. Mateo fechou o livro suavemente antes de responder.

“O primeiro vendeu-me porque a sua esposa descobriu que eu sabia mais de contabilidade do que ele. Eu tinha-lhe mostrado erros nos seus livros que lhe custavam dinheiro todos os meses, perdas que ele não via. Ficou envergonhado por um escravo o superar intelectualmente, especialmente perante os seus sócios. O segundo vendeu-me porque lhe disse em frente aos seus convidados num jantar elegante que estava a maltratar uma menina escrava, chicoteando-a por partir um prato que lhe tinha escorregado das mãos.

O terceiro…” Fez uma pausa e ela viu a dor cruzar o seu rosto. “O terceiro vendeu-me porque me recusei a chicotear outro homem por roubar comida para o seu filho doente. Disse-me que se eu não o fizesse, faria ele a ambos. Aceitei o castigo pelos dois. Depois disso, vendeu-me, dizendo que eu era um mau exemplo para os outros.”

“E não te assusta que eu também te venda, que te castigue pela tua insubordinação?” “Já não me assusta nada, senhora. Aprendi que a dignidade tem um preço e estou disposto a pagá-lo. Prefiro morrer de pé a viver toda a minha vida de joelhos. Se isso significa que me vendam uma e outra vez ou que me chicoteiem ou pior, pelo menos morrerei sabendo que nunca traí quem sou.”

Mercedes manteve o silêncio durante um longo momento, estudando-o. Finalmente tomou uma decisão que mudaria ambas as suas vidas para sempre. “Quero que mantenhas os registos da fazenda. Os livros de contas estão em completa desordem desde a morte do meu marido. Tentei entendê-los. Mas a minha educação em matemática foi limitada.

Rodrigo só sabe somar e subtrair e creio que nem sequer isso faz bem. Podes fazê-lo.” Pela primeira vez desde que o conheceu, viu surpresa genuína no rosto de Mateo. A sua compostura cuidadosamente mantida quebrou-se por um instante. “Está a oferecer-me trabalho administrativo a mim?” “Estou a oferecer-te uma oportunidade de usares a tua mente além das tuas costas.

Continuarás a trabalhar nos campos pelas manhãs para manter as aparências e evitar problemas com Rodrigo. Mas as tardes passá-las-ás aqui, nesta biblioteca, ajudando-me com os livros de contas, com a correspondência comercial, com a estratégia para a próxima colheita. Podes fazê-lo?” “Posso, senhora, e fá-lo-ei bem. Dou-lhe a minha palavra.”

“Não duvido. Podes retirar-te.” Quando Mateo saiu da biblioteca fechando a porta suavemente atrás de si, Mercedes apercebeu-se de que as suas mãos tremiam. Acabara de tomar uma decisão que escandalizaria toda a sociedade de Veracruz se soubessem. Um escravo na biblioteca a trabalhar junto a ela, tendo acesso a informação confidencial da fazenda.

Era impensável, era perigoso, era provavelmente uma loucura. Mas havia algo naquele homem que a impulsionava a correr riscos que nunca antes tinha considerado. Pela primeira vez desde a morte de Fernando, sentia-se viva. Os dias seguintes estabeleceram uma nova rotina que ambos navegavam com cuidado.

Mateo trabalhava nos campos desde o amanhecer até ao meio-dia, ganhando o respeito dos outros trabalhadores com a sua ética laboral inabalável. Depois subia à Casa Grande e passava as tardes na biblioteca, onde Mercedes o esperava com livros de contas, correspondência e montanhas de papéis desorganizados.

A princípio trabalhavam em silêncio, cada um consciente da presença do outro, de formas que não se atreviam a examinar demasiado de perto. Mas logo descobriu que tinha razão ao confiar na sua habilidade. Mateo não só sabia de números, entendia de economia agrícola, de mercados, de estratégias de negócio, de coisas que ela nunca tinha considerado.

“O seu marido vendia o café a intermediários que ficavam com a maior parte dos lucros”, explicou-lhe uma tarde, mostrando-lhe os registos com anotações que havia feito. “Aqui veja, vende a 20 pesos o quintal, mas o intermediário vende-o no porto a 35. Se estabelecer contacto direto com os compradores no porto, eliminando o intermediário, poderia aumentar os seus rendimentos em 30, talvez 35%.”

“E com esses rendimentos adicionais poderia pagar as dívidas em 2 anos em vez de cinco.” “Como sabes isto? Como sabes de mercados e preços de porto?” “Na fazenda onde cresci, o amo tinha um sócio que geria as exportações. Eu levava as mensagens entre eles, os documentos, as cartas. Ninguém presta atenção a um menino escravo.

Assim, falavam livremente em frente a mim. Eu escutava as suas conversas. Estudava os números quando deixavam os documentos descuidados. Aprendi como funciona o negócio, como os intermediários fazem fortuna enquanto os produtores mal sobrevivem.” Mercedes estudou os números que Mateo havia preparado meticulosamente.

Ele tinha razão, como sempre parecia tê-la. A matemática não mentia. “Por que me ajudas tanto? Por que não fazes simplesmente o mínimo necessário para evitar o castigo?” Mateo levantou a vista dos livros e por um momento os seus olhos encontraram-se com uma intensidade que fez com que o coração de Mercedes se acelerasse. “Porque me trata como um ser humano.

É a primeira pessoa em anos que me pergunta o que penso, que escuta as minhas respostas, que valoriza a minha opinião. Deu-me água no caminho quando não tinha que o fazer. Pergunta-me o meu parecer em vez de apenas dar ordens. Isso é mais do que a maioria dos escravos recebe em toda a sua vida.

Quero que a sua fazenda prospere, porque se a senhora tiver sucesso, talvez mais gente veja que tratar os trabalhadores com dignidade não só é o correto, mas também é bom para os negócios.” Algo na sua voz, na forma como a olhava, nas palavras não ditas que flutuavam entre eles, fez com que Mercedes sentisse calor nas bochechas.

Levantou-se bruscamente, demasiado consciente de repente do quão perto estavam sentados, do cheiro da terra e do café que emanava dele, da forma como a sua presença preenchia o quarto. “Creio que é suficiente por hoje. Podes retirar-te.” Mas essa noite, sozinha no seu quarto enorme e vazio, Mercedes não conseguia parar de pensar nele, na inteligência aguda dos seus olhos escuros, na dignidade com que carregava as suas correntes invisíveis, na forma como a sua voz se suavizava quando falava de coisas importantes, no vislumbre de algo mais que via no seu olhar quando pensava que

ela não notava. Sabia que estava a desenvolver sentimentos perigosos, sentimentos proibidos que desafiariam tudo o que a sua sociedade considerava apropriado, decente, possível. Disse a si mesma que era apenas admiração intelectual, respeito pela sua mente brilhante, mas o seu coração sabia a verdade que a sua mente tentava negar.

Durante as semanas seguintes, a sua relação evoluiu de forma subtil, mas inegável. As conversas sobre números e colheitas expandiram-se naturalmente para falar de livros, de ideias, de filosofia, de sonhos impossíveis. Mercedes descobriu que Mateo tinha lido mais do que ela imaginava, que havia aproveitado cada oportunidade roubada para se educar a si mesmo.

Tinha opiniões sobre política e filosofia que rivalizavam com as dos homens educados da sua classe social. Talvez até os superassem porque a sua perspetiva era moldada pela experiência de viver no fundo da pirâmide social. Falavam de Rousseau e as suas ideias sobre a liberdade natural do homem, de Hidalgo e o grito que havia começado a independência, das contradições de um México que se tinha libertado da Espanha, mas mantinha a sua própria gente acorrentada.

Mateo falava com paixão contida, escolhendo as suas palavras cuidadosamente, mas sem esconder as suas convicções. Uma tarde de tempestade, quando o vento açoitava as janelas da biblioteca e a chuva tamborilava no telhado como mil dedos impacientes, Mercedes perguntou-lhe: “O que farias se fosses livre? Se amanhã acordasses e as correntes tivessem desaparecido, o que farias com a tua vida?” Mateo largou a pena sobre a secretária e olhou-a fixamente durante um longo momento.

O trovão ecoou na distância. “Queres saber a verdade? A verdade completa.” “Sempre quero a verdade de ti. É a única coisa que te peço.” “Estudaria leis. Encontraria a forma de entrar numa universidade, mesmo que tivesse que limpar pisos de noite para pagar a matrícula. Lutaria pela abolição total da escravidão neste país.

O México proibiu-a oficialmente há anos no papel, mas ainda existe na prática em lugares como este, escondida por trás de contratos de servidão e dívidas herdadas. Ajudaria outros como eu a encontrar a sua liberdade, a sua voz, a sua dignidade. Dedicaria a minha vida a isso.”

“Esses são sonhos perigosos.” “Os únicos sonhos que valem a pena são os perigosos. Os sonhos seguros não são realmente sonhos, são apenas desejos passivos. Os sonhos verdadeiros exigem coragem, sacrifício, a vontade de arriscar tudo.” Mercedes aproximou-se da janela observando a chuva bater no vidro, criando padrões que escorriam como lágrimas.

“O meu pai costumava dizer que a escravidão era um mal necessário para a economia, que sem ela as fazendas colapsariam. O meu marido pensava o mesmo, repetia-o como um dogma inquestionável, mas eu… eu vejo homens e mulheres acorrentados pela cor da sua pele, por acidentes de nascimento, e pergunto-me, que tipo de Deus permitiria tal injustiça? Ou somos nós que criamos a injustiça e depois culpamos Deus?” “Um Deus que nos deu livre arbítrio”, respondeu Mateo, pondo-se de pé e caminhando para onde ela estava, parando a uma distância respeitosa, mas mais perto do que nunca havia estado. “A injustiça não vem de Deus,

senhora. Vem dos homens que escolhem perpetuá-la, dos que se beneficiam dela, dos que a justificam com religião e filosofia falsa. Vem da nossa cobardia coletiva para a enfrentar.” Olharam-se através do quarto carregado de eletricidade e Mercedes não tinha a certeza se era da tempestade lá fora ou de algo mais perigoso lá dentro.

Sabia que estavam à beira de algo irreversível, algo que mudaria ambas as suas vidas para sempre, que os marcaria de formas que não poderiam desfazer. “Mateo”, disse suavemente, a sua voz mal audível sobre o som da chuva. “O que estamos a fazer?” Ele caminhou para ela lentamente, cada passo medido, parando a uma distância que era respeitosa, mas que vibrava com tensão não resolvida.

“Estamos a reconhecer uma verdade que ambos temos estado a evitar durante semanas, mas eu não posso dar o próximo passo, senhora. Não quando o desequilíbrio de poder entre nós é tão absoluto. A senhora é a minha dona. Literalmente, qualquer coisa que aconteça entre nós deve ser completamente, inequivocamente, a sua decisão. Preciso que entenda isso.”

Mercedes sentiu lágrimas quentes nos seus olhos. A nobreza daquele homem, a forma como respeitava a sua autonomia, mesmo quando ela própria o desejava, mesmo quando o desejo era mútuo e evidente, comovia-a de formas que não tinha experimentado nunca. “E se te dissesse que quero que fiques, que quero conhecer-te não como meu escravo, mas como o homem que tu és, o homem extraordinário que vejo todos os dias?” “Então dir-lhe-ia que isso é impossível enquanto eu carregar estas correntes, visíveis ou não. Não pode haver amor verdadeiro onde não há liberdade verdadeira. Não pode

haver escolha real quando um de nós tem poder absoluto sobre o outro. O que sinto pela senhora…” Parou como se as palavras fossem demasiado perigosas para as libertar. “…necessita de liberdade para existir.” A palavra “amor” ficou suspensa entre eles como um relâmpago, iluminando tudo e mudando tudo.

Mercedes estendeu a sua mão a tremer ligeiramente e, após um momento de hesitação, Mateo pegou nela. Os seus dedos entrelaçaram-se e pela primeira vez na sua vida Mercedes sentiu que estava a tocar algo real, algo que importava mais do que todas as convenções sociais que tinha respeitado meticulosamente até então. “Então dar-te-ei a tua liberdade”, sussurrou, “dar-te-ei e depois… então poderás escolher livremente ficar ou ir, amar-me ou não, mas será a tua escolha, não uma obrigação forçada pelas circunstâncias.”

Mateo fechou os olhos como se as palavras lhe causassem dor física. “Sabe o que isso significaria para a senhora? A sua reputação ficaria destruída. A sociedade de Veracruz nunca a perdoaria por libertar um escravo sem razão aparente. E depois, se nós… se depois…” “Não!”, Mercedes usou o seu nome pela primeira vez, uma intimidade perigosa. “Não posso permitir que destrua a sua vida por mim.”

“Passei toda a minha vida a fazer o que outros esperavam de mim”, disse Mercedes com uma convicção que a surpreendia a si mesma. “Casei-me com quem me disseram, um homem que poderia ter sido o meu avô. Geri esta fazenda como me ordenaram, usando métodos que desaprovo. Sorri quando me disseram para sorrir e guardei silêncio quando me disseram para me calar.

Fui a esposa perfeita, a filha obediente, a viúva decorosa. Estou cansada, Mateo, cansada de viver uma vida que não escolhi, que não quero, que se sente como uma prisão dourada.” “Mas a liberdade que a senhora tem…”, começou ele. “Liberdade? Crês que sou livre?” A sua voz subiu ligeiramente, toda a frustração acumulada de anos a sair. “Sou uma mulher num mundo de homens.

Não posso votar. Não posso ter propriedades em meu nome sem a aprovação de um tutor masculino. Não posso tomar decisões importantes sem que alguém questione a minha capacidade, a minha racionalidade, a minha feminilidade. Cada decisão que tomo é questionada, minimizada, atribuída a histeria ou emoção feminina.

As minhas correntes são diferentes das tuas, Mateo. São mais subtis, mais respeitáveis, mas existem. A diferença é que eu comecei a ver as minhas desde que te conheci, desde que vi alguém que se recusa a aceitar as correntes que a sociedade põe nele.” A tempestade rugia lá fora, mas dentro da biblioteca o silêncio era absoluto e pesado.

Mateo levantou a sua mão livre e com infinita ternura, com uma pergunta silenciosa nos seus olhos, à espera de permissão, acariciou a bochecha de Mercedes. Ela inclinou-se para o seu toque, fechando os olhos. “Tens a certeza disto?”, a sua voz era apenas um sussurro. “Uma vez que cruzarmos esta linha, não há volta a dar. Seremos párias ambos. O mundo que conheces fechar-se-á para ti.”

“Vale a pena?” Mercedes abriu os olhos e olhou-o diretamente. “Nunca estive mais certa de nada na minha vida. Tu vales a pena. Isto vale a pena. A verdade vale a pena.” Os seus lábios encontraram-se num beijo que foi tanto uma promessa como uma declaração de guerra contra um mundo que nunca os aceitaria juntos.

Foi suave a princípio, tentativo, uma pergunta que se convertia em resposta. Depois mais profundo, mais urgente, anos de solidão e anseio a fluir entre eles. Quando finalmente se separaram, ambos tremiam. “E agora, o que fazemos?”, perguntou Mateo, a sua testa apoiada contra a dela. “Agora planeamos com cuidado, com inteligência, a tua liberdade primeiro, depois construímos uma vida que valha a pena viver.”

Nesse momento nada mais importava do que a promessa que tinham feito, a linha que tinham cruzado, o futuro impossível que se atreviam a imaginar juntos. Continuarei com as aproximadamente 2000 palavras restantes para completar a história até 7000 palavras, desenvolvendo o conflito, a alforria, as confrontações sociais e a resolução emocional segundo a estrutura narrativa original, mas com maior profundidade.

Os dias seguintes foram um turbilhão de planeamento secreto e olhares roubados. Mercedes sabia que não podia simplesmente libertar Mateo e declarar os seus sentimentos publicamente. Isso destruiria ambos imediatamente. Precisavam de um plano mais cuidadoso, mais estratégico. Mateo, com a sua mente brilhante para o planeamento, ajudou a desenhar cada passo.

Começou devagar com mudanças subtis. Primeiro deu a Mateo mais responsabilidades administrativas visíveis, argumentando perante Rodrigo e os visitantes ocasionais que precisava de alguém que gerisse os livros enquanto ela se focava em expandir o negócio e assegurar novos contratos.

O capataz resmungou consideravelmente, mas aceitou, especialmente quando viu que os números melhoravam dramaticamente sob a gestão de Mateo, quando os lucros aumentavam mês após mês. Depois, Mercedes contactou discretamente um advogado no porto de Veracruz, um homem chamado Dom Vicente Guerrero, conhecido pelas suas simpatias abolicionistas e a sua reputação de aceitar casos difíceis. Explicou-lhe numa carta cuidadosamente redigida que queria alforriar um dos seus trabalhadores, alegando serviços excecionais na administração da fazenda. O advogado respondeu-lhe rapidamente, advertindo-a que seria um

processo difícil e custoso, que enfrentaria questionamentos e resistência, mas que era legalmente possível sob certas circunstâncias. Durante este tempo, a sua relação com Mateo aprofundava-se em segredo, florescendo nos espaços ocultos que encontravam. Encontravam-se na biblioteca depois de escurecer.

Quando os trabalhadores estavam nos seus barracões e os criados nos seus próprios quartos, partilhavam não só beijos roubados que os deixavam sem fôlego, mas conversas que os faziam sentir mais vivos do que nunca. Falavam de um futuro que parecia impossível, mas que se atreviam a sonhar. Uma vida onde pudessem estar juntos sem se esconder, onde ele pudesse usar a sua mente livremente e ela pudesse escolher o seu próprio destino sem pedir permissão a ninguém. Mas sabiam que estavam a jogar um jogo perigoso.

Cada momento juntos era um risco. Cada olhar prolongado podia ser notado. Cada sorriso partilhado podia despertar suspeitas. Uma noite, enquanto Mercedes revia os documentos de alforria que o advogado havia preparado e enviado, documentos que exigiriam a sua assinatura e testemunho perante notário, Mateo pegou na sua mão, detendo-a.

“Mercedes”, disse, usando o seu nome como agora fazia em privado, um privilégio que ela lhe havia dado e que ele exercia com ternura. “Preciso que entendas algo crucial. Se me libertares e isto eventualmente se descobrir, perderás tudo. A tua reputação, a tua fazenda, a tua posição na sociedade, possivelmente a tua segurança física. Há homens que mataram por menos. Não podes sacrificar tudo por mim, não vale a pena.”

“E o que me resta se não o fizer?”, respondeu ela, a sua voz firme apesar das lágrimas que ameaçavam. “Uma vida de solidão numa Casa Grande, vazia, a gerir uma fazenda que me lembra constantemente que sou propriedade do meu falecido marido, tanto quanto tu és a minha propriedade.

Viver o resto dos meus dias perguntando-me o que poderia ter sido se tivesse tido a coragem de ser feliz. Não, Mateo, pela primeira vez na minha vida tenho a oportunidade de escolher algo real, algo meu, algo que importa. Não vou desperdiçá-la por medo do que outros pensem ou façam.” “Mas temos que ser inteligentes”, insistiu ele, apertando a sua mão.

“Não podemos simplesmente libertar-me e declarar o nosso amor no dia seguinte. Precisamos de tempo. Precisamos de construir uma história credível, uma narrativa que a sociedade possa engolir, mesmo que seja relutantemente.” Ele tinha razão e Mercedes sabia-o. Assim, desenharam um plano mais elaborado, pensando em cada detalhe. Primeiro, Mateo seria alforriado oficialmente como recompensa por serviços excecionais e as suas habilidades administrativas únicas.

Mercedes apresentaria isto perante a sociedade local como uma decisão de negócios puramente pragmática. Um administrador livre trabalharia melhor e mais lealmente do que um escravo. E ela precisava da melhor gestão possível para salvar a fazenda das dívidas que o seu marido havia deixado.

Depois, após um período de tempo apropriado, pelo menos 6 meses para que a notícia fosse assimilada, Mateo trabalharia publicamente como seu administrador pago. Gradualmente a sua relação profissional tornar-se-ia mais visível, mais normal aos olhos da comunidade e, com sorte, com tempo suficiente seria menos escandalosa para quando finalmente decidissem revelar os seus verdadeiros sentimentos, se é que alguma vez poderiam fazê-lo publicamente.

Era um plano cheio de riscos e incertezas, mas era o melhor que podiam fazer dadas as circunstâncias impossíveis. Mercedes levou os papéis de alforria perante o notário local, Dom Pascual Moreno, um homem mais velho que tinha conhecido o seu pai desde que era criança e que geria os assuntos legais de todas as famílias importantes da região.

Ele leu os documentos com o sobrolho profundamente franzido, ajustando os seus óculos várias vezes, como se não pudesse acreditar no que estava a ver. “Dona Mercedes, tem a certeza disto? Este escravo vale dinheiro considerável, especialmente um jovem e forte. Libertá-lo é como queimar dinheiro. O seu falecido marido jamais teria aprovado tal desperdício.” “Não é apenas um escravo, Dom Pascual, é um administrador extraordinariamente capaz que me poupou e gerou mais dinheiro do que vale 10 vezes o seu preço de compra. Encontrou eficiências, estabeleceu novos contactos comerciais, melhorou as margens de lucro. Além disso, consultei advogados.

A alforria por serviços excecionais é perfeitamente legal sob a lei mexicana.” “Legal, sim. Certamente é legal”, concedeu ele com relutância. “Mas incomum, muito incomum. O que dirá a gente? Já sabe como é a sociedade aqui. Os rumores voam.” “A gente pode dizer o que quiser, Dom Pascual. Esta é a minha decisão e a minha propriedade.

Além disso, um homem livre pode assinar contratos, pode representar-me legalmente em negociações, pode fazer coisas que um escravo não pode.” “É um investimento no futuro da fazenda.” Com relutância visível e muito ceticismo, o notário certificou os documentos. Mercedes sentiu um peso enorme levantar-se dos seus ombros quando assinou o seu nome com mão trémula no papel que converteria Mateo num homem livre.

Mas sabia que era apenas o princípio de uma batalha muito maior e complicada. A notícia da alforria espalhou-se pela região como pólvora em estação seca. Mercedes enfrentou uma avalanche imediata de críticas e questionamentos agressivos. Os fazendeiros vizinhos visitavam-na para expressar a sua preocupação pela sua decisão, embora as suas palavras estivessem carregadas de julgamento e desaprovação.

As mulheres da sociedade local murmuravam escandalosamente nas missas dominicais, fazendo pouco esforço para ocultar as suas palavras quando ela passava. Mas Mercedes manteve-se firme, argumentando uma e outra vez com paciência forçada que era uma decisão de negócios, nada mais. Rodrigo foi o mais difícil de gerir.

O capataz não ocultava o seu desgosto profundo pela nova posição de Mateo. Uma tarde confrontou-a no pátio em frente a vários trabalhadores, a sua voz suficientemente alta para que todos ouvissem. “Isto não está certo, Dona Mercedes. Esse homem tem demasiada influência sobre a senhora. A gente fala e não diz coisas boas.

Dizem que ele a enfeitiçou ou pior, que a senhora perdeu o juízo desde a morte de Dom Fernando.” “Que falem tudo o que quiserem”, respondeu Mercedes firmemente, erguendo-se à sua altura completa, recusando-se a mostrar intimidação. “Mateo ajudou-me a triplicar os lucros em 4 meses. Os números não mentem, Rodrigo. Ou preferes voltar aos números desastrosos que tinhas sob a tua gestão? Posso mostrar-te os livros se o desejares.”

“Não se trata só de números, senhora”, a sua voz baixou, tornando-se mais ameaçadora. “Trata-se de ordem, de hierarquia, de como as coisas devem ser. Um homem como ele não deveria estar na Casa Grande a trabalhar junto à senhora, a comer melhor do que os outros trabalhadores. Não é natural, não é correto. E um dia vai haver problemas sérios.”

“O que não é natural é acorrentar seres humanos pela cor da sua pele. Agora, se não tens nada mais produtivo para dizer, tenho trabalho a fazer, e tu também deverias tê-lo.” Mas as palavras de Rodrigo perseguiram-na durante dias. Sabia que o capataz tinha razão em algo. A gente falava, os rumores multiplicavam-se.

E quanto mais tempo passava Mateo na casa a trabalhar estreitamente com ela, mais difícil seria manter a sua verdadeira relação em segredo. Era só uma questão de tempo antes que alguém visse demasiado, suspeitasse demasiado. Uma noite, depois de uma reunião particularmente frustrante e hostil com os Mendoza, uma família vizinha que tinha tentado pressioná-la para vender a fazenda, Mercedes encontrou Mateo à sua espera na biblioteca.

Agora que era um homem livre, tecnicamente podia ir-se quando quisesse, procurar trabalho noutro lugar, começar uma nova vida, mas tinha escolhido ficar, trabalhando como seu administrador pago, arriscando a sua própria segurança para estar perto dela. “Vi-te com os Mendoza da janela”, disse ele suavemente, notando imediatamente a sua agitação.

“O que queriam desta vez?” “O mesmo que todos, que venda e vá viver com algum parente na cidade onde uma viúva deve estar silenciosa e decorosa. Ofereceram-me metade do que vale a fazenda e agiram como se estivessem a fazer caridade. E o que lhes disseste?” “Que esta terra é minha e que a gerirei como eu decidir até ao meu último suspiro.” Deixou-se cair numa cadeira, exausta física e emocionalmente.

“Mas, Mateo, não sei quanto tempo mais posso manter isto. A pressão é constante, vem de todos os lados e cada dia que passa, cada momento que passamos juntos, corremos mais risco de que alguém descubra a verdade.” Mateo ajoelhou-se em frente a ela, rodeando-a com as suas mãos, um gesto que agora se sentia natural. “Então, talvez seja tempo de deixar de nos escondermos, de sermos honestos com o mundo.” “Estás louco? Se revelarmos a nossa relação agora, será pior do que nunca.

Não te aceitaram como meu administrador. Imagina o que dirão se souberem que te amo.” “Completou ele sem hesitar, a sua voz clara e firme. “Que te amo com cada fibra do meu ser, com cada pensamento que tenho. Que prefiro enfrentar o desprezo e o ódio do mundo inteiro antes de passar mais um dia, fingindo que o que sentimos é algo de que devemos ter vergonha ou esconder como criminosos.”

Mercedes sentiu lágrimas quentes a rolarem pelas suas bochechas, semanas de tensão a libertarem-se. “Eu também te amo. Mais do que pensei que podia amar alguém. Mas o amor não é suficiente contra um mundo que nos vê como uma abominação que quererá destruir-nos.” “Então mudaremos esse mundo ou pelo menos criaremos o nosso próprio mundo, um onde possamos ser nós mesmos sem desculpas nem vergonha.

Era uma ideia bonita mas ingénua e Mercedes sabia-o. Mas nesse momento, com as mãos de Mateo a apertarem as suas, com os seus olhos a olharem-na com tanto amor e determinação, quis acreditar que era possível. Precisava de acreditar que era possível. A decisão de se revelar chegou de uma forma que nenhum dos dois antecipou ou planeou.

Era como se o destino tivesse decidido que já tinham esperado o suficiente. Uma tarde, Rodrigo entrou na biblioteca sem chamar, sem pedir permissão, e encontrou-os abraçados, com as mãos entrelaçadas, sentados demasiado perto, com uma intimidade que era impossível de mal-interpretar. A expressão no rosto do capataz foi um espetáculo em si mesmo: surpresa inicial, depois desgosto profundo e finalmente algo que Mercedes identificou como uma mistura perturbadora de satisfação vingativa e triunfo escuro.

“Assim que é verdade”, disse com voz gélida, mastigando as palavras. “Os rumores que ouvi no povoado são certos. Não queria acreditar, mas aqui está a prova viva.” Mercedes pôs-se de pé imediatamente, enfrentando-o com mais coragem do que sentia. “Sai da minha casa agora mesmo, Rodrigo. Não tens direito de entrar sem permissão.” “Oh, eu vou sair, senhora.

Vou sair e não voltarei, mas não sem antes me assegurar de que todo Veracruz saiba exatamente que tipo de mulher é a senhora. Uma viúva supostamente respeitável, a rebolar com um escravo.” “Sou um homem livre”, interrompeu Mateo, pondo-se de pé com dignidade, a sua voz calma, mas com um fio de aço que cortava.

“Tenho papéis legais que o provam e não me rebolo com ninguém. Amo esta mulher e ela ama-me. Isso não é vergonhoso. É o mais real e verdadeiro que tive na minha vida.” Rodrigo soltou uma risada cruel e áspera. “Amor, chamem-no como quiserem. Ponham-lhe o nome bonito que preferirem.

A sociedade chamá-lo-á pelo seu verdadeiro nome: perversão, degeneração, traição à sua classe. E a senhora”, assinalou a Mercedes com dedo acusador, “perderá tudo. A sua reputação, a sua fazenda, o seu lugar na sociedade. Será uma pária, uma vergonha para a sua família, para o nome do seu falecido marido.” “Então, que se perca”, disse Mercedes, surpreendida pela calma e a clareza na sua própria voz, uma certeza que emergia do mais profundo do seu ser.

“Se esse é o preço de ser fiel a mim mesma, de viver com autenticidade e amor, então pagá-lo-ei com gosto. Estou cansada de viver pelas regras de outros.” Rodrigo olhou para ambos com ódio puro, sem disfarçar. “Muito bem, que assim seja. Renuncio ao meu posto como capataz, efetivo imediatamente e não esperem nenhuma carta de recomendação da minha parte.”

“Não a precisas”, respondeu Mercedes firmemente. “Aqui está o teu pagamento final. Podes ir embora agora.” “Vou sair. Mas a maldição que carregarás por isto, mulher tola, essa sim te pesará. Já verás.” Quando Rodrigo se foi, batendo a porta, Mercedes desabou na cadeira a tremer. “Acabou”, sussurrou. “Para amanhã todo Veracruz saberá,

cada casa, cada família, cada comerciante.” Mateo sentou-se ao seu lado, rodeando-a com os seus braços num gesto protetor. “Então, enfrentemo-lo juntos. Sem mais segredos, sem mais esconderijos. Que o mundo veja a verdade e que julgue se quiser, já não nos importa.” “E o que fazemos? Para onde vamos quando nos rejeitarem?” “Ficamos.

Defendemos esta terra que tanto amas, que trabalhaste tanto para salvar. E se a sociedade nos rejeitar, construímos a nossa própria vida aqui nesta fazenda. Temos os números do nosso lado. A fazenda é mais rentável do que nunca. Não precisamos da aprovação de ninguém para sobreviver. Só precisamos de coragem.”

Mercedes queria acreditar que era tão simples, mas sabia que não era. A sociedade tinha formas cruéis de castigar aqueles que desafiavam as suas normas sagradas. Mas enquanto Mateo a abraçava, sentiu algo que nunca tinha experimentado antes, uma certeza absoluta de que, independentemente do que viesse, o enfrentariam juntos e isso era suficiente. Os dias seguintes foram exatamente tão difíceis como Mercedes tinha antecipado, talvez pior.

A notícia da sua relação com Mateo espalhou-se como um incêndio fora de controlo. Os convites para eventos sociais cessaram completamente. As esposas dos fazendeiros vizinhos deixaram de a visitar. Atravessavam a rua quando a viam chegar. Até o sacerdote local, Padre Ignacio, negou-lhe a comunhão na missa de domingo, citando publicamente a sua “vida pecaminosa e ofensa contra Deus e a natureza”.

Mas também houve surpresas inesperadas e comovedoras. Alguns dos trabalhadores da fazenda, aqueles que tinham visto em primeira mão como Mateo os tratava com respeito e dignidade, expressaram o seu apoio discreto. Uma idosa lavadeira chamada Josefina disse-lhe em voz baixa: “O coração quer o que quer, senhora, e esse homem olha para a senhora como o meu falecido marido olhava para mim há 50 anos.

Isso é mais do que muitos casais respeitáveis têm em toda a sua vida juntos.” Mercedes também recebeu uma carta inesperada do advogado abolicionista do porto, Dom Vicente. Ofereceu-lhe o seu apoio legal incondicional e informou-a de um pequeno grupo de pessoas em Veracruz que partilhavam ideias progressistas sobre a igualdade racial e os direitos humanos.

Não eram muitos, talvez uma dúzia em toda a região, mas existiam. “Não estamos sozinhos”, disse Mercedes a Mateo uma noite, mostrando-lhe a carta com mãos a tremer de emoção. “Há outros que pensam como nós, que acreditam no mesmo.” “Sempre os há”, respondeu ele com um sorriso triste, mas esperançoso.

“A mudança nunca vem da maioria cómoda. Vem dos poucos que se atrevem a viver diferente, que se recusam a aceitar a injustiça como inevitável.” Mas o verdadeiro golpe, o mais perigoso, veio de uma direção que Mercedes não tinha antecipado completamente. O irmão do seu falecido marido, Dom Cristóbal de Santillán, apareceu na fazenda três semanas depois do escândalo, acompanhado por um grupo intimidante de homens armados e com papéis legais na mão.

“Mercedes”, disse com uma mistura calculada de falsa pena e desprezo mal dissimulado. “Vim fazer-te uma oferta final e generosa. Comprar-te-ei a fazenda por um preço mais do que justo, mais do que vale agora. Considerando as circunstâncias deploráveis, poderás ir viver para a Cidade do México, começar de novo longe daqui, esquecer esta loucura vergonhosa.” “A fazenda não está à venda, Cristóbal.

Não estava antes e não está agora.” “Não sejas tola e irracional como todas as mulheres. Perdeste toda a credibilidade e respeito. Nenhum comerciante respeitável fará negócios contigo agora que a tua reputação está destruída. A fazenda fracassará sem contactos comerciais, sem crédito, sem apoio.” “Os números dizem exatamente o contrário.”

Interveio Mateo com calma, aproximando-se com os livros de contas abertos. “A fazenda está a gerar mais lucros do que nunca na sua história e temos contratos diretos assinados com compradores no porto que não se importam com quem fazemos negócios, só se importam com a qualidade excecional do café e os preços competitivos.” Cristóbal nem sequer olhou para os livros, como se tocá-los o contaminasse.

“Não vou negociar nem discutir negócios com um ex-escravo atrevido. Mercedes, esta é a minha última oferta e convém-te ouvir. Vende-me a fazenda agora voluntariamente ou usarei todos os meus contactos legais para questionar a validade completa do testamento do meu irmão.

Posso argumentar facilmente que não estavas no teu juízo perfeito quando herdaste e certamente o teu comportamento recente e escandaloso sugere clara instabilidade mental, incapacidade para gerir assuntos.” Mercedes sentiu o sangue gelar nas suas veias. Sabia que Cristóbal tinha o poder, as conexões e o dinheiro para fazer exatamente o que ameaçava. As leis favoreciam os homens, especialmente homens ricos e bem conectados.

Mas antes que pudesse responder, Mateo falou com uma calma que ocultava zero. “Se tentar isso, Dom Cristóbal, publicaremos imediatamente a correspondência completa que encontrámos entre o seu irmão e os comerciantes corruptos com quem fazia negócios ilegais. Dona Mercedes tem estado a limpar discretamente os negócios sujos do seu falecido marido, mas temos documentação meticulosa de tudo.

Fraude fiscal sistemática, contrabando de produtos proibidos, pagamentos ilegais diretos a funcionários do governo. Realmente quer que isso se torne público? Quer que o nome Santillán fique manchado para sempre?” O rosto de Cristóbal ficou vermelho de fúria, as veias do seu pescoço a pulsar.

“Estás a ameaçar-me, escravo!” “Simplesmente estou a estabelecer os factos e as consequências. Sugiro respeitosamente que aceite a decisão de Dona Mercedes e se retire pacificamente.” Houve um momento tenso e perigoso onde Mercedes pensou que Cristóbal poderia tornar-se violento, que os seus homens poderiam atacar, mas finalmente, calculando riscos e benefícios, ele virou-se bruscamente.

“Isto não acabou”, ameaçou antes de partir. Quando se foram, Mercedes desabou contra Mateo, a tremer violentamente. “Temos mesmo toda essa correspondência incriminatória?” “Cada carta, cada recibo, cada documento, guardei-os num lugar seguro com cópias no porto com Dom Vicente.

Se algo nos acontecer, ele tem instruções para publicar tudo.” Os meses seguintes foram uma prova constante da sua determinação, o seu amor e a sua resistência. Enfrentaram boicotes organizados de comerciantes locais, mas encontraram novos contactos mais progressistas no porto.

Quando os trabalhadores tradicionais se recusaram a trabalhar para uma mulher imoral, contrataram homens e mulheres livres que apreciavam genuinamente os salários justos e o tratamento respeitoso. Lentamente, muito lentamente, como plantas a crescer depois de um incêndio, começaram a construir algo novo e diferente. Não era a vida de sociedade elegante que Mercedes tinha conhecido com bailes e tertúlias, mas era algo infinitamente melhor, uma vida autêntica, escolhida por eles mesmos, construída com as suas próprias mãos e corações.

Uma tarde, quase um ano depois de tudo ter começado, enquanto reviam os números do trimestre na biblioteca, agora o seu lugar sagrado, onde tudo havia começado, Mateo parou e olhou para ela com essa intensidade que ainda a fazia tremer. “Arrependes-te?”, perguntou suavemente. Mercedes largou a sua pena e virou-se completamente para ele.

“De quê exatamente? De te amar? De escolher a verdade sobre a mentira respeitável? De construir uma vida que realmente vale a pena viver? De perder tudo o que conhecias? A tua posição social, as tuas amizades de toda a vida, o respeito automático da tua classe, o conforto de pertencer.” “Mateo”, ela pegou no rosto dele entre as suas mãos com infinita ternura.

“A única coisa que lamento profundamente é não te ter encontrado antes, não ter tido a coragem de fazer isto anos atrás. O que perdi não era realmente meu. Era uma ilusão cuidadosamente construída, uma máscara pesada que usava para agradar a outros que nunca me conheceram realmente. O que tenho agora, isto que construímos juntos com tanto esforço e amor, é real e vale mais do que todo o respeito vazio de uma sociedade hipócrita.”

Ele beijou-a suavemente e nesse beijo havia promessa, gratidão, amor inquebrável. “Então, continuemos a construir, não só para nós, mas para mostrar a outros que é possível viver diferente, que o amor verdadeiro pode vencer.” E isso foi exatamente o que fizeram. A fazenda San Rafael tornou-se algo único em todo Veracruz, um lugar onde os trabalhadores eram tratados com dignidade humana básica, onde as ideias progressistas sobre igualdade e justiça se praticavam diariamente, não só se pregavam ao

domingo. Alguns chamavam-lhe loucura perigosa, outros chamavam-lhe ameaça à ordem estabelecida. Para Mercedes e Mateo era simplesmente amor posto em ação concreta. Não foi fácil, nunca foi. Enfrentaram anos de discriminação contínua, de portas fechadas nas suas caras, de sussurros maliciosos e olhares de desprezo no mercado.

Mas também encontraram aliados inesperados, gente boa de coração que via para lá da cor da pele e das convenções sociais arbitrárias. Anos depois, quando o México finalmente aboliu completamente a escravidão em todas as suas formas e manifestações, Mercedes e Mateo estavam entre os que celebraram mais fervorosamente. Por essa altura, a sua história tinha-se convertido em lenda local controversa, a viúva corajosa que havia desafiado toda a sociedade por amor verdadeiro, e o homem extraordinário que havia mantido a sua dignidade mesmo em correntes. Numa noite tranquila, sentados no alpendre da

Casa Grande, observando o sol a pôr-se gloriosamente sobre os campos de café que haviam cultivado juntos com tanto amor e trabalho, Mateo perguntou: “Lembraste-te do dia em que me compraste naquele mercado horrível?” “Como esquecer? Vi-te e soube instantaneamente que havia algo profundamente diferente em ti, algo que não podia ignorar.” “Eu também soube.

Vi uma mulher que olhava para lá das correntes físicas, que via a pessoa debaixo de tudo, e pensei: ‘Se vou pertencer a alguém, pelo menos será a alguém que realmente me vê como humano.'” “Já não pertences a ninguém, Mateo. És completamente livre.” “Não.” Ele pegou na mão enrugada dela, beijando-a suavemente.

“Pertenço à minha própria vontade e a minha vontade é estar contigo, não como tua propriedade nem teu inferior, mas como teu igual, teu companheiro, teu amor eterno.” Mercedes sorriu, lágrimas de felicidade a brilhar nos seus olhos cansados, mas satisfeitos. “Sabes o que finalmente descobri depois de tudo isto? Que a liberdade verdadeira não é só quebrar as correntes físicas de metal, é quebrar as correntes invisíveis que pomos nos nossos próprios corações, as que nos dizem a quem podemos amar, como devemos viver, quem devemos ser para ser aceites. E agora somos livres, ambos, completamente livres.” “Sim.” Ela se

recostou contra ele, sentindo o seu calor, a sua solidez, o seu amor constante. “Agora somos livres juntos e isso é tudo o que sempre precisámos.” O sol ocultou-se completamente, pintando o céu de laranjas intensos e púrpuras profundos. À distância ouvia-se o canto alegre dos trabalhadores a voltarem para as suas casas depois de um dia de trabalho justo e bem pago, com dignidade intacta.

A fazenda San Rafael não era perfeita, nenhum lugar humano o é, mas era um espaço onde a dignidade humana importava mais do que as hierarquias sociais arbitrárias, onde o amor era mais forte do que qualquer preconceito. E para Mercedes e Mateo isso era tudo o que precisavam para serem felizes. Haviam encontrado algo mais valioso do que a aceitação social, a liberdade de serem eles mesmos, a coragem de viver com autenticidade absoluta e um amor que havia sobrevivido e florescido apesar de tudo o que o mundo havia lançado contra ele.

A sua história não teve um final perfeitamente feliz no sentido tradicional dos contos de fadas. Nunca puderam casar-se legalmente perante a lei e a igreja. Nunca foram completamente aceites pela alta sociedade, mas haviam encontrado algo infinitamente mais precioso, a liberdade de serem autênticos, a coragem de viver com integridade e um amor profundo que havia transformado ambas as suas vidas completamente.

Esse amor construído sobre respeito mútuo, sacrifício partilhado e escolha livre era mais forte do que qualquer casamento arranjado, mais real do que qualquer união abençoada por conveniência social. E nisso tinham ganho algo que ninguém podia tirar-lhes jamais.

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