Era uma noite fria quando Luísa se encontrava na cozinha, olhando pela janela, fazendo de conta que estava regando as plantas. Na verdade, suas mãos tremiam tanto que a água vazava, formando manchas escuras no parapeito da janela. A tensão que se acumulava dentro dela estava quase insuportável, mas o motivo não era apenas o frio.
Na véspera, o eletricista havia finalmente terminado o trabalho que ela procrastinara tanto. Ele instalou as câmeras de segurança, um pedido antigo de seu marido. Ele sempre estava em viagem a trabalho e queria garantir que ela estivesse segura. Mas Luísa nunca havia gostado da ideia. As câmeras pareciam invasivas, uma vigilância constante, mas agora estavam ligadas e, com isso, a casa foi tomada por uma sensação desconfortável de controle.
Ela observou os pequenos pontos vermelhos piscando nas câmeras. Agora, cada palavra e movimento seriam registrados, imortalizados para sempre. Como se a casa, de repente, se transformasse em um tribunal onde ela fosse a ré. Mas o pior estava por vir.
Foi quando a porta da frente se abriu. Sem aviso, sua sogra entrou como se fosse dona da casa. Luísa respirou fundo, tentando esconder o desconforto. Ela sabia que isso era apenas o começo da noite. A sogra, sempre tão incisiva, foi direto para a cozinha e começou a “inspecionar” tudo. Cada item, cada garrafa, cada panela. Era um rito, quase uma batalha, onde ela era constantemente a perdedora.
— Como sempre, as coisas estão fora de lugar. E esse jantar? Não é saudável, Luísa. Como você espera que o meu filho viva com isso?
Luísa, já acostumada com esses ataques disfarçados de preocupação, permaneceu em silêncio, mas dessa vez algo era diferente. Ela sabia que tudo o que sua sogra dizia seria gravado. Finalmente, a verdade estava prestes a ser revelada, não apenas com palavras, mas com provas irrefutáveis. Ela sentiu uma estranha sensação de poder.
Sua sogra continuou a criticar, até mesmo ao mexer nas roupas no guarda-roupa. Cada movimento dela era agora registrado, como se o controle tivesse mudado de lugar. Luísa sabia que mais cedo ou mais tarde, seu marido veria essas imagens. Ela, que sempre foi a vilã em suas discussões com a mãe dele, agora teria uma chance de mostrar a verdade.
Enquanto sua sogra continuava com seus comentários desprezíveis, Luísa se afastou para a sala de estar e, ao passar pelo espelho, viu o brilho nos seus olhos. Pela primeira vez, ela se sentiu forte. As câmeras, que antes a incomodavam, agora eram suas aliadas.
À noite, enquanto sua sogra relaxava no sofá, Luísa preparava o chá que lhe fora ordenado. A tensão estava no ar, mas Luísa manteve a calma. Sua sogra falava sem parar, criticando-a, como sempre. Luísa nem se deu ao trabalho de responder, mas, por dentro, sabia que agora ela tinha algo de valor, algo que poderia mudar tudo.
Quando o marido finalmente chegasse em casa, as imagens falariam por si mesmas. Ele veria tudo: as críticas incessantes, os julgamentos, e, talvez, pela primeira vez, perceberia o que sua mãe realmente pensava dela. Luísa sabia que isso mudaria tudo. Ela se sentia como se finalmente estivesse tendo sua voz ouvida, não mais através de palavras, mas de provas.
Ela foi até a cozinha, olhou para a câmera escondida e sussurrou: “Obrigado.” Pela primeira vez em muito tempo, ela não sentia que estava perdendo. A noite era longa, mas o amanhã traria um novo começo.
O marido, ao ver as imagens no dia seguinte, ficaria sem palavras. E talvez, só talvez, ele começasse a ver as coisas de uma nova maneira. Luísa, sentada sozinha na sala, sabia que sua vida estava prestes a mudar. Ela estava farta de ser a vítima. Agora, ela era a observadora, a detentora da verdade.
A manhã seguinte chegou com uma tensão palpável. O que aconteceria quando ele visse tudo? Mas uma coisa era certa: Luísa nunca mais seria a mesma.