O Sniper Brasileiro que Assustou Soldados Nazistas – A Lenda do JAGUATIRICA

O frio cortava a pele como lâmina. Era início de 1945 e os montes gelados do norte da Itália eram mais hostis do que qualquer campo de treinamento no Brasil poderia ter simulado. colhido dentro do seu uniforme verde oliva, com o rosto camuflado e os olhos atentos atrás da mira telescópica. O soldado Geraldo Baeta da Cruz, conhecido entre seus companheiros como Jaguatirica, se tornava parte da paisagem. Imóvel, silencioso, fatal.


Do outro lado do vale, oculto entre escombros de um vilarejo tomado por tropas alemãs, o inimigo nem sonhava com sua presença, mas os corpos deixados para trás, sempre um, com um único tiro preciso no centro da testa ou entre os olhos, começaram a gerar rumores. Era o sniper fantasma, diziam os nazistas, um demônio invisível que caçava no silêncio.
Mas antes de se tornar lenda, o jovem Geraldo era apenas um soldado mineiro de poucas palavras, vindo de barbacena. Sua mira era algo que chamava atenção desde o treinamento básico em Caçapava. Enquanto outros falhavam nos testes de tiro a longa distância, ele acertava latas empilhadas a quase 400 m. Os instrutores pensaram que era sorte, mas depois de repetidas demonstrações, o exército brasileiro começou a prestar mais atenção.
E quando a FEB desembarcou em Nápolis em 1944, ele foi um dos poucos destacados para atuar como atirador de elite em operações especiais. O antagonista da história, ainda desconhecido, operava no lado inimigo. Chamavam-lo de O Pastor. Oficial da SS, Hans Kber era responsável por eliminar focos de resistência nas vilas italianas e usava a tática do terror para manter o controle.
Execuções públicas, incêndios e tortura. Seu nome causava calafrios nos italianos e agora ele estava se aproximando das rotas utilizadas pela FEB. Foi por isso que o comando brasileiro, em colaboração com os aliados, destacou o Jaguatirica para missões mais ousadas, eliminar comandantes estratégicos e enfraquecer o moral alemão.
Cada tiro que ele dava era uma mensagem: “Vocês não estão seguros”. A lenda começou a ganhar força quando, durante a operação de reconhecimento em Montesi, ele eliminou dois sentinelas e um operador de rádio alemão em menos de 5 minutos sem ser visto. Seus colegas juravam que ele desaparecia no meio da neblina.
Seu silêncio contribuía para o mito, falava apenas quando necessário e até em português seu tom era quase sussurrado. Mas com o crescimento da fama vieram também os perigos. Um informe alemão circulava entre oficiais da Vermart. Um sniper brasileiro está neutralizando posições chave. Provável franco atirador treinado pelos americanos. Atuação noturna.
codnome atribuído por interceptação de rádio Jaguatirica. O próprio Hans Kber começou a mover suas unidades com cautela e foi então que o destino de ambos começou a se entrelaçar. Numa madrugada congelante, o pelotão de Geraldo foi emboscado enquanto se preparava para atravessar um campo minado. Dos 12 soldados, apenas três sobreviveram.
Ele foi um deles, não por sorte, mas por instinto. Sua mente calculava distâncias, sombras, padrões de respiração. Ele conseguiu eliminar os dois atiradores escondidos nas árvores antes de ajudar os sobreviventes a recuar. Mas algo ficou no local do ataque. Uma medalha nazista diferente das comuns.
Era prateada com a inscrição SSAT Comando Pastor Kber, um símbolo que viria a persegui-lo nas noites seguintes como um aviso. Na mesma semana, o comando americano interceptou transmissões codificadas. O nome Jaguatirica era mencionado com urgência e Kber havia solicitado reforço para neutralizar o fantasma. A caça agora era mútua. Dois predadores, dois fantasmas em lados opostos da guerra.
A tensão escalava. Em cada missão, Geraldo se afastava mais dos companheiros. Dormia sozinho, escondido em cavernas ou celeiros abandonados. A solidão era o preço da precisão, o silêncio, sua única proteção. Ele passou a escrever cartas para si mesmo, sem remetente, apenas como forma de organizar a mente. Se me ouvirem, estarei morto. Se me virem, falhei. Se disparar, não erro.
A guerra o estava consumindo aos poucos. Mas ele sabia que do outro lado da linha, um homem cruel caçava civis. E se ele não parasse o pastor, ninguém o faria. O vento cortava como navalha ao percorrer as encostas úmidas dos aeninos. Em meio às árvores retorcidas e ao solo encharcado pela neve derretida, o soldado brasileiro Geraldo Baeta da Cruz avançava quase sem som algum. Cada passo calculado, cada respiração dosada.
Ele não se movia como um homem, movia-se como um animal selvagem em caçada. Foi por isso que entre seus companheiros da FEB ganhou um apelido que atravessou trincheiras, vales e até rádios inimigos. Jaguatirica. Não era apenas sua mira, era a maneira como desaparecia e surgia quilômetros adiante.
Sua capacidade de se misturar ao ambiente, a forma como observava antes de agir. Um sniper não precisa ser rápido, precisa ser inevitável. E Geraldo dominava essa arte com precisão assustadora. O cenário ao redor era devastador. A campanha da Itália, já entrando em seus momentos finais em 1945, era um emaranhado de pequenas vilas destruídas, estradas barrentas e montanhas que pareciam observar a guerra com frieza.
Para os pracinhas brasileiros, aquilo era um mundo distante, hostil e imprevisível. Mas para Geraldo era o campo perfeito, silencioso, amplo, cheio de pontos elevados e escuridões estratégicas. O jovem mineiro de Barbacena não tinha o comportamento típico de um herói de guerra. Pouco falava, praticamente não sorria, não confiava na sorte.
Para ele, tudo era resultado de cálculo, respiração e paciência. Seu passado simples, filho de agricultores, acostumado a caçar para complementar a comida, explicava parte de suas habilidades. Mas havia algo além, um tipo de harmonia estranha com a solidão, como se o silêncio das montanhas italianas ressoasse dentro dele. Se Geraldo era o predador silencioso dos aliados, o antagonista da história era a sombra que avançava entre as fileiras alemãs.
Hans Claber, oficial da SS, conhecido como o pastor, tinha fama de brutalidade e inteligência tática. Seu apelido vinha do hábito de guiar prisioneiros italianos, como quem conduz rebanho, para interrogatório, para trabalho forçado ou para execuções sumárias. Ele acreditava na guerra total e na ideia de que medo era uma arma tão eficiente quanto balas.
Quando rumores começaram a se espalhar entre soldados alemães sobre um atirador brasileiro capaz de eliminar sentinelas a mais de 700 m, sem que ninguém percebesse o disparo, Kber não acreditou. Achou exagero, fantasia latina. Mas conforme seus melhores batedores eram encontrados mortos com tiros limpos, sempre entre os olhos ou na parte superior do crânio, ele passou a prestar atenção.
Os disparos tinham assinatura: frio, preciso, cirúrgico. E foi então que o pastor decidiu caçá-lo. A construção dessa rivalidade começou de maneira sutil. Numa operação noturna, em uma encosta próxima a Castel Novo, Geraldo eliminou três oficiais alemães que organizavam o reposicionamento de artilharia.
O ataque brasileiro foi facilitado por sua precisão, mas um detalhe chamou atenção. Um dos oficiais mortos carregava um pequeno caderno com anotações sobre movimentos da população local. seguidas de ordens diretas de Kiber. Nos dias seguintes, o comando brasileiro recebeu relatos de aldeões italianos que viviam escondidos, aterrorizados pelas varreduras do pastor.
Geraldo ouviu as histórias em silêncio. Não comentava, mas algo mudava na forma como ele manuseava o rifle. Sua calma parecia mais tensa, seus olhos mais estreitos, suas noites mais curtas. Não era apenas guerra, agora era pessoal. Durante uma manhã enevoada, seu pelotão sofreu uma emboscada enquanto avançava para reconhecer uma área próxima ao monte Belvedere.
As balas alemãs vieram de todos os lados. A confusão durou poucos minutos, mas para quem estava lá pareceu uma eternidade. Geraldo reagiu primeiro. Derrubou o atirador inimigo escondido no topo de um celeiro, depois outro em meio às sombras de um olival. Mesmo assim, dos 14 soldados brasileiros, apenas cinco sobreviveram.
Quando o combate cessou, o silêncio foi mais pesado que o eco dos tiros. Enquanto os outros tentavam se recompor, Geraldo vasculhou meticulosamente o terreno. Foi então que encontrou um símbolo metálico preso ao uniforme de um dos nazistas caídos, uma insígnia prateada com o emblema da SS e a inscrição Comando Grou, pastor Kber. Ali, no meio da lama, do sangue e do frio, nasceu o ponto de convergência inevitável entre predador e predador.
Nos dias seguintes, um sentimento estranho pairava no ar. Os soldados da FEB comentam que o Jaguatirica estava mais silencioso do que nunca e isso dizia muito. Alguns juravam que ele passava noites inteiras acordado, observando as montanhas. Outros diziam ter visto marcas no chão indicando que ele treinava mira no escuro.
Enquanto isso, transmissões interceptadas pelos aliados confirmavam algo preocupante. Ber também o estava procurando. E o alemão não caçava para capturar, caçava para eliminar. No frio das montanhas italianas, dois homens se aproximavam um do outro sem sequer se verem. Dois fantasmas, duas forças opostas, duas lendas em construção, um deles guiado pelo dever, o outro guiado pelo terror, e a Itália seria o campo onde seus destinos iriam colidir.
O avanço da FEB pelo norte da Itália não era apenas uma operação militar, era um choque de mundos. Os brasileiros, com seus sotaques variados, improvisos e resiliência calorosa, atravessavam vilas onde o inverno parecia congelar até o som. O contraste era evidente. Enquanto muitos europeus caminhavam cabis baixos marcados por anos de ocupação nazista, os pracinhas carregavam consigo uma energia peculiar, uma mistura de medo e esperança que confundia até soldados americanos veteranos.
Geraldo, porém, era diferente da maioria do seu batalhão. Enquanto seus companheiros buscavam interação, ele se distanciava, preferindo observar o terreno, memorizar rotas e avaliar posições defensivas. Os italianos o olhavam com curiosidade, não pela farda verde oliva, mas pela postura de animal em alerta permanente. As crianças tentavam puxar conversa, mas ele raramente respondia.
Era como se estivesse sempre ouvindo algo que ninguém mais percebia. Seu principal ponto de apoio era o sargento Mendes, homem experiente, que servia como uma espécie de ponte entre o sniper e o resto do pelotão. Mendes entendia que a precisão de Geraldo não era talento natural apenas, era carga, era fardo. O sargento frequentemente o chamava para missões específicas, respeitando seus limites e isolamentos, e isso criava entre eles uma confiança silenciosa.
Enquanto isso, do lado alemão, Hans Kber se consolidava como uma figura quase mitológica entre os italianos, mas por razões opostas. Sua chegada a qualquer vila era precedida por portas fechando, janelas se apagando e famílias escondendo seus poucos pertences. Ele escolhia alojar suas tropas em igrejas abandonadas, algo que provocava temor e revolta entre moradores locais, como se o pastor tomasse para si até a fé alheia.
A caçada entre ele e o Jaguatirica se tornava parte dos boatos que circulavam pelos civis. sussurravam sobre o brasileiro que enxergava no escuro e o alemão que caminhava sem sombra. Cada lado alimentava o mito do outro e silenciosamente a Itália inteira parecia prender a respiração à espera do encontro inevitável entre os dois. A noite caiu pesada sobre as colinas próximas à Montese.
As nuvens baixas pareciam esmagar o terreno e a lua mal atravessava o céu encoberto. O silêncio, porém, não trazia paz. Era o tipo de silêncio que precede algo ruim. Geraldo estava deitado de bruços sobre uma escarpa, o corpo colado à terra fria, o rifle apoiado em um saco de areia improvisado.


Ao lado, o sargento Mendes observava com binóculos, tremendo mais de tensão do que de frio. Coluna alemã, três caminhões, mais dois atrás, murmurou Mendes. Parece rota de retirada. Geraldo não respondeu. Já tinha visto. Contou mentalmente cada capacete, cada arma, cada insígnia. O terceiro caminhão trazia algo diferente. Guardas extras, postura rígida, protegiam alguém importante.
O pastor não estaria exposto, pensou. Mas alguém próximo a ele sim. A ordem era clara. Desorganizar, não aniquilar. Um tiro certeiro no oficial de comando, o suficiente para espalhar caos e atrasar o deslocamento nazista. Geraldo respirou fundo, regulou a mira, ajustou milimetricamente o ajuste para compensar o vento lateral.
O dedo tocou o gatilho com a intimidade de quem conhecia o peso de cada disparo que fazia. Um único tiro cortou a noite. O oficial caiu imediatamente, como se alguém tivesse desligado seu corpo. O comboio parou. Gritos em alemão ecoaram. Soldados corriam apontando armas para o vazio. Geraldo já tinha recuado 2 m, mudando de posição, os movimentos calculados, quase coreografados. Acertou.
Mendes falou: “Mais constatando do que elogiando, não fiquem parados”, respondeu Geraldo Baixo. Eles vão responder. A resposta veio rápido demais. Minutos depois, o som seco de artilharia de pequeno calibre ecoou do vale oposto. Não era tiro perdido, era correção. Alguém do outro lado calculava possíveis posições de sniper e atirava contra elas. Rajadas atingiram árvores, pedras, o chão ao redor.
Geraldo e Mendes se arrastaram para trás, protegendo o rosto, enquanto pedaços de terra explodiam. Do lado alemão, Hans Kber desceu do último caminhão com a calma de quem sabia exatamente o que fazia. Pegou um binóculo, analisou o relevo e apontou com o dedo para uma região mais alta. Ali, disse em tom frio. O brasileiro deve estar naquela faixa.
Varredura completa, sem economia de munição. Ele não tinha visto o disparo, mas conhecia o padrão. O sniper não atirava duas vezes do mesmo lugar. Precisão, recuo rápido, reaparição em outro ponto. Predador metódico. Nos dias seguintes, o conflito deixou de ser apenas tático, tornou-se psicológico. Os soldados da FEB começaram a notar mudanças no comportamento dos alemães.
Sentinelas mais distantes, deslocamentos em horários irregulares, uso constante de fumaça para atrapalhar linhas de visão. O pastor adaptava o campo de batalha para neutralizar o Jaguatirica. Em resposta, Geraldo forçava-se além da exaustão. Passava horas imóvel, esperando um erro, um descuido, um capacete que brilhasse demais sob a luz, um binóculo levantado na hora errada.
Eliminou batedores, operadores de rádio, um mensageiro com documentos importantes. Cada baixa alemã aumentava a cautela do pastor e a raiva. Foi numa tarde chuvosa que o jogo mudou de tom. Uma pequena vila italiana que servia de passagem para suprimentos da FEB foi atacada por uma unidade sob comando direto de Kiber. Não era uma ofensiva estratégica, era recado.
Casas queimadas, homens reunidos na praça, mulheres empurradas a pontapés. O pastor sabia que civis eram protegidos pelos aliados e explorar isso era parte de sua crueldade. O chamado chegou ao comando brasileiro com urgência. Mendes entrou na tenda, atirou o relatório sobre a mesa e olhou para Geraldo.
É o pastor, disse a voz carregada. Ele quer você irritado, quer você compressa. Geraldo leu o relato sem alterar a expressão, mas seus dedos apertaram o papel com força. Eu vou, falou, já pegando o rifle. Isso não é missão solo, advertiu Mendes. Ele sabe que você vem, vai preparar isso como armadilha. Geraldo ergueu os olhos firmes, cansados. Se eu não for, ele volta lá amanhã.
O conflito agora não era apenas entre exércitos, era entre dois homens que aprendiam a cada movimento a linguagem silenciosa da caça. E pela primeira vez, o Jaguatirica aceitava entrar num terreno, sabendo que o outro predador o esperava. A chuva fina transformava as trilhas em lama espessa, enquanto o pelotão brasileiro avançava em direção à vila atacada.
O cheiro de fumaça ainda pairava no ar, misturado ao aroma amargo de madeira queimada. Para muitos soldados da FEB, aquela era mais uma operação de resgate. Para Geraldo, era o anúncio de algo mais profundo, uma guerra pessoal travada nos intervalos silenciosos da guerra oficial.
Quando chegaram, encontraram apenas resquícios do terror causado pela tropa de Cliber. Casas destruídas, portas arrombadas, móveis espalhados, civis escondidos nos porões, ainda tremendo. Entre eles, uma jovem italiana chamada Lucia, que correra para ajudar os pracinhas, guiando-os até um celeiro, onde encontraram um grupo de idosos feridos.
Mendes assumiu a coordenação imediata, mas foi Lucia quem explicou em italiano rápido e aflito tudo o que testemunha. O pastor interrogará famílias à procura de informantes aliados, usando violência como método. A presença dela, apesar do caos, trouxe uma camada inesperada ao ambiente tenso. Lucia reconheceu Geraldo de relatos anteriores, o sniper brasileiro que fazia o inimigo sumir.
Ela o observava com uma mistura de temor e gratidão, como se visse nele algo sobrenatural. Esse olhar o incomodava, mas também o lembrava das vidas comuns que tentava proteger. Enquanto isso, Mendes reunia documentos e objetos deixados pelos nazistas durante o ataque. Entre eles encontraram um mapa com marcações incompletas e uma lista de nomes italianos.
Era evidente, o pastor planejava novas incursões e aquela vila tinha sido apenas um teste. A subtrama se desenhava, os civis não eram danos colaterais, eram peças de pressão. A pressão também aumentava dentro do próprio pelotão. Alguns soldados, abalados pelas baixas recentes, questionavam se era prudente acompanhar Geraldo em operações que claramente estavam se tornando armadilhas preparadas para ele.
Outros, inspirados pela coragem dele, queriam seguir até o fim. As tensões internas formavam rachaduras na unidade. Foi durante a análise do mapa que Mendes percebeu algo maior. Kber não estava apenas caçando Geraldo, estava estudando seus padrões, prevendo possíveis posições, bloqueando rotas de retirada.
O pastor estava transformando o campo de batalha num tabuleiro matemático. E ainda assim, Geraldo insistia: “Ele não vai parar. Eu também não. Enquanto a água da chuva escorria pelos escombros da vila, dois mundos colidiam, o dos civis desesperados por proteção, e o dos soldados tentando manter a sanidade. No centro disso tudo, o Jaguatirica caminhava cada vez mais fundo na armadilha emocional que o pastor preparava com crueldade metódica.
A madrugada estava tão silenciosa que parecia vazia. O tipo de quietude que antecede algo irreversível. Geraldo Mendes e um pequeno grupo avançado da FEB moviam-se por uma antiga estrada romana coberta de folhas encharcadas. A missão era clara: interceptar uma patrulha alemã que transportava documentos e, possivelmente, pistas sobre os próximos ataques planejados por Cliber. Mas havia algo de errado no terreno.
Geraldo sentia, não pensava, sentia. As aves não cantavam, nem o vento parecia tocar os galhos mais altos. Era uma pausa artificial construída. Quando chegaram a um ponto elevado, avistaram a patrulha alemã, atravessando um campo aberto. Cinco soldados caminhando de forma quase impecável. Impecável demais.
Estranho! murmurou Mendes. Estão expostos. Não são batedores, respondeu Geraldo. São isca. Assim que ele disse isso, um clarão cortou o ar. Não era disparo comum, era munição traçante alemã, vindo de três direções diferentes. Eles estavam cercados. A resposta foi instantânea. O grupo brasileiro se jogou ao chão, procurando cobertura entre rochas e troncos caídos.
A troca de tiros ecoou pela encosta, iluminando brevemente o caos. Geraldo tentava localizar o atirador principal, aquele que coordenava os disparos. A assinatura era clara, disparos curtos, calculados, alguém que queria forçá-lo a mudar de posição. Era ele. O pastor estava ali. Jaguatirica, recue pela direita! gritou Mendes, tentando romper a linha de fogo.
Mas era tarde. Uma explosão soltou estilhaços que atingiram Mendes no ombro, o jogando contra o chão. O sargento gritou de dor e o som cortou Geraldo como lâmina. Pela primeira vez, o sniper sentiu um impulso emocional interferir em seu raciocínio frio. Geraldo rastejou até ele, puxando-o para trás de uma pedra maior.
“Aguenta”, disse enquanto amarrava um pano ao redor do ferimento. “Ele quer você”, murmurou Mendes com dificuldade. “Não dê isso a ele. A posição brasileira estava deteriorando. Balas rasgavam o solo, levantando poeira e estilhaços. A patrulha alemã recuava. Não estavam ali para lutar. Estavam ali para testar a reação de Geraldo, medir seu estilo de movimentação, confirmar padrões. O pastor estava aprendendo.
De repente, uma voz ecoou ao longe, em alemão forte, projetada por um megafone improvisado. Não precisava ser fluente para entender o tom. K falava diretamente com ele. O sniper brasileiro, sei que está aí. Hoje você não escapa. Geraldo sentiu o sangue gelar, não pelo medo, mas pela certeza de que o pastor estava a menos de 300 m, observando-o como o caçador observa a presa ferida. Foi então que o verdadeiro ponto de virada ocorreu.
Enquanto ajudava Mendes a se erguer, um pequeno objeto metálico rolou até seus pés. Uma granada alemã. Geraldo não pensou, empurrou Mendes para longe, chutou a granada e se jogou ao chão. A explosão incendiou o ar. Por instantes, ele não ouviu nada, apenas o próprio coração batendo como martelo, mas estava vivo.
E ao se arrastar para trás, viu algo na colina oposta, um homem alto, de sobretudo escuro, observando-o com binóculos. Silhueta perfeita, postura imóvel, sombra sem hesitação. O pastor finalmente se mostrara e naquele instante Geraldo entendeu. A guerra deixara de ser estratégica. Agora era pessoal, inevitável e mortal. Apenas um dos dois sairia vivo do próximo encontro.
A fumaça da explosão ainda pairava no ar quando o grupo brasileiro conseguiu se reagrupar na vegetação densa. O impacto deixara todos atordoados, mas o pior estava claro. O pastor vira o Jaguatirica e isso mudava tudo. Mendes, mesmo ferido, insistia em caminhar com o resto do grupo.
O sangue escorria pela bandagem improvisada, mas sua expressão era firme, quase desafiadora. Eu tô bem”, insistiu. “Já passamos por coisa pior.” Geraldo sabia que não era verdade, mas não discutiu. A prioridade agora era escapar da armadilha. Os alemães não avançaram. Recuaram de propósito, como quem dá espaço para a presa correr apenas para observá-la melhor.
A estratégia estava cada vez mais evidente. Ao retornar ao ponto de apoio brasileiro, a tensão aumentou ainda mais. O comando superior estava alarmado. A tropa inimiga não apenas conhecia o apelido Jaguatirica, como também começara a traçar operações especificamente para capturá-lo ou eliminá-lo. Era um raro reconhecimento indireto e uma ameaça mortal.
Geraldo lavou o sangue seco das mãos em uma bacia de água fria. Seus olhos fixos no nada. O peso da explosão, do ataque calculado, do pastor observando-o com tranquilidade. Tudo isso pulsava em sua mente. Pela primeira vez, sentiu que não estava apenas cumprindo missões, estava sendo conduzido a elas.
Lúcia, a jovem italiana resgatada, havia sido levada ao acampamento para segurança. Quando viu Geraldo sentado sozinho, aproximou-se devagar. Lu ti está cercando disse em voz baixa. Ele está caçando você. Geraldo não respondeu. Não precisava. O medo nos olhos dela refletia perfeitamente o que ele não admitia em voz alta. O pastor não recuaria. Na tenda de comando, Mendes defendeu que Geraldo fosse poupado das próximas missões de risco.
O capitão contestou: “Precisamos dele”. E Kber está pressionando civis. Se recuarmos, ele vence. O olhar de Mendes endureceu. Se continuarmos assim, perdemos o melhor que temos. O debate encerrou quando o rádio transmitiu um novo informe. Outra vila ao norte fora atacada, rastros de tropas nazistas, e deixado no centro da praça, pendurado num poste, um aviso escrito em alemão: “Venha me buscar, Jaguatirica”. O impacto foi imediato. A sala silenciou.
A guerra psicológica atingira seu ápice. Geraldo ficou imóvel por longos segundos. Depois pegou o rifle, checou a mira, apertou o zíper do casaco e falou apenas: “Então, a gente vai”. Não era bravura, era inevitabilidade. E todos entenderam que a próxima operação não seria apenas militar, seria o início do acerto final entre dois predadores.
A travessia até a vila atacada por Cber foi diferente de todas as anteriores. Não havia pressa, mas havia um peso, um silêncio que não vinha do terreno, e sim dos próprios soldados. Cada passo parecia mais carregado do que o anterior. O grupo seguia a informação reduzida para evitar chamar atenção, mas todos sabiam que, no fundo, a missão girava em torno de apenas um homem, Geraldo.
Ele caminhava alguns metros à frente, atento, como sempre, mas com algo diferente na postura. Antes, seus movimentos eram puramente calculados. Agora havia intensidade. Não era raiva, pois raiva torna a mira instável. Era determinação, fria, afiada, concentrada. Mendes, mesmo com o ombro ainda dolorido, insistiu em acompanhá-lo.
A proximidade entre eles se tornara algo mais profundo nas últimas semanas. Não era amizade comum, era a sobrevivência compartilhada, construída tiro a tiro. “Você sabe que ele quer te puxar para um terreno só dele”, disse Mendes enquanto caminhavam em direção a uma área florestada.
Ele vai usar cada sombra para te forçar a errar, então não vou errar, respondeu Geraldo, sem desviar os olhos do horizonte. A jornada até a vila exigiu mais do que habilidade física. exigiu controle emocional. Cada casa destruída, cada marca deixada pelo pastor funcionava como provocação direta. Geraldo observava tudo, absorvendo sem permitir que o impulso tomasse o lugar da lógica.
Era ali que ele começava a crescer, transformando dor em foco, medo em cálculo, pressão em estratégia. Chegando à vila, encontraram rastros recentes de tropas alemãs, pegadas, embalagens de rações, bitucas de cigarro. Mas o mais importante estava na igreja, uma marca de giz no chão indicando direção, uma trilha deixada de propósito. Isso é convite, disse Mendes. Ele está confiando que você vai seguir.
Ele não quer que eu siga, corrigiu Geraldo. Ele sabe que eu vou seguir. A campanha italiana havia ensinado o Jaguatirica que cada decisão tem peso. A diferença agora era que ele não reagia mais ao queer fazia. Ele começava a antecipar. O aprendizado vinha do conflito constante, da observação de padrões que poucos perceberiam.
Geraldo começou a identificar detalhes que revelavam falhas. Guardas posicionados longe demais das coberturas, passos apressados em terrenos onde deveriam ser lentos, trilhas deixadas com excesso de pressa. O pastor era metódico, mas estava ficando confiante demais. Essa percepção abriu espaço para a evolução de Geraldo como caçador.
Ele sabia que para derrotar alguém tão calculista precisaria abandonar parte de sua previsibilidade, tornar-se menos técnico e mais instintivo, como nos dias em que caçava nos campos de Barbacena. Foi então que decidiu mudar o jogo. Não vamos seguir a trilha, anunciou, surpreendendo o grupo. Mendes piscou confuso. É a única pista. É a que ele quer que a gente use.
Ele espera que eu venha pela esquerda para ficar na linha de tiro dele. Eu vou pela direita sozinho. O pelotão protestou. Mendes foi o primeiro. Você está louco. Ele te mata antes de você chegar a 50 m. Geraldo ajustou o coudre. colocou a bandoleira do rifle no ombro e respondeu com calma: “Ele estudou o Jaguatirica. Agora vai conhecer o Geraldo.
O brilho nos olhos dele não era impulsividade, era transformação. Pela primeira vez, ele não estava apenas sobrevivendo à caça do pastor, estava assumindo controle sobre ela e isso mudaria tudo. A decisão de Geraldo de seguir sozinho pelo flanco direito mudou imediatamente a dinâmica da operação.
O terreno naquela região era mais acidentado, repleto de rochas úmidas e raízes expostas que se enrolavam como serpente sob a vegetação, mas também oferecia algo que o pastor não controlava, imprevisibilidade. Enquanto o pelotão seguia pela rota original, mantendo a ilusão de que o Jaguatirica estava entre eles, Geraldo avançava silencioso pela mata escura.
Cada passo era estudado, cada folha calculada para não produzir som. Era como se ele estivesse voltando à infância quando caçava tatto e pacas no interior de Minas, aprendendo a ler trilhas e a se tornar parte do ambiente. A distância para o grupo aumentou rapidamente.
A respiração fria da montanha produzia pequenas nuvens diante do rosto de Geraldo, mas seu corpo permanecia relaxado, controlado. Ele não buscava apenas evitar a armadilha de Kber, buscava virar a armadilha contra ele. No centro de comando improvisado mais atrás, Mendes observava o mapa com tensão crescente.
Ele conhecia o talento do Jaguatirica, mas também sabia que Kber era um estrategista perigoso. Ele está indo para o ponto cego da emboscada, murmurou Mendes para si mesmo. O Kiber calculou isso também? ou vai ser a primeira vez que alguém surpreende aquele demônio? Enquanto isso, no outro lado da linha inimiga, o pastor coordenava seus homens com calma assustadora.
Ele posicionara atiradores nas encostas, criara corredores de tiro e dividira sua tropa em três pequenos grupos que avançavam como garras, fechando sobre a trilha principal. Seus planos presumia que o brasileiro seguiria o padrão habitual. O que ele não sabia era que o Jaguatirica já não seguia padrões. Geraldo avistou a cerca de 200 m um ponto de observação alemão.
Dois soldados mal escondidos vigiavam a trilha que o pelotão brasileiro usava. Era uma armadilha simples, mas apenas a ponta do que o pastor havia preparado. Ele se deitou lentamente, apoiou o rifle e esperou. Os soldados conversavam confiantes. Não imaginavam que do outro lado o predador mudara de pele.
Quando um deles ergueu a cabeça para torcir, a visão ficou exposta por uma fração de segundo. Suficiente. Pf! Quase sem som, o soldado caiu. O segundo virou o rosto confuso antes de ser atingido. Também duas baixas, dois tiros limpos. Geraldo cobriu o corpo com vegetal solto e apagou vestígios da briga, nada que denunciasse sua presença.
Naquele instante, ele sabia, estava se aproximando de Kber. E o pastor, pela primeira vez se aproximava do desconhecido. O tabuleiro estava quase montado, o clima carregado, a montanha silenciosa como testemunha de algo inevitável. O encontro que decidiria tudo estava prestes a começar. A neblina começou a subir pela encosta como um véu vivo, engolindo árvores, pedras e sombras.
Era o cenário perfeito para um confronto entre dois homens acostumados a enxergar além do visível. Geraldo avançava devagar, controlando o ritmo da respiração, os músculos rígidos, os sentidos aguçados, o silêncio pesado anunciava que Kber estava perto. Não era sensação, era certeza. À frente, a trilha se dividia em dois caminhos estreitos.
O da esquerda levava a um mirante natural, onde qualquer sniper teria vantagem. O da direita seguia por uma mata densa, cheia de troncos caídos, que poderiam servir como cobertura ou como armadilhas. Clber conhecia ambos os caminhos, mas Geraldo já havia antecipado isso. O pastor estaria num ponto de vantagem inesperado, fora das rotas óbvias.
De repente, um estalo seco ecoou entre as árvores. Não era disparo, era galho quebrando. Geraldo se jogou ao solo por instinto. Um tiro passou onde teria estado sua cabeça milésimos de segundo antes. O impacto atingiu uma pedra, espalhando estilhaços. Ele está acima de mim, pensou, deslizando para trás, ocultando o brilho da mira.
Outro disparo, dessa vez vindo do flanco. O pastor tinha dois atiradores cobrindo ângulos enquanto ele observava de um terceiro ponto aguardando o erro fatal. Era a assinatura tática de Kiber, sufocar para obrigar a sair. Mas Geraldo não saiu. Ele desapareceu.
Movendo-se como animal silvestre, arrastou-se por entre raízes, desviou do campo de visão alemão e subiu lentamente à encosta lateral. Cada centímetro era conquistado com silêncio absoluto. O coração batia forte, mas o controle era total. Ele sentia o calor do próprio sangue pulsar no ouvido, filtrando tudo que não fosse essencial.
No alto da colina, escondido entre rochas úmidas, o pastor ajustava seu binóculo, olhos frios, sorriso discreto. Ele acreditava que o jaguatirica estava acuado. Seus atiradores continuavam varrendo a área, mas o que ele ainda não percebera era a mudança de dinâmica. Pela primeira vez, ele perdera o rastro e foi aí que a vantagem mudou de mãos.
Geraldo emergiu atrás de um tronco, cerca de 80 m acima da posição inimiga. Viu uma silhueta mover-se com calma precisa, o sobretudo escuro, a postura rígida, o pastor. O brasileiro deitou, ajustou o rifle com mãos firmes. A mira se alinhou exatamente ao centro da figura. Era a chance perfeita, mas algo o deteve. Não era hesitação, era leitura tática.
O homem que via era alto demais, ombros largos demais. Não é ele, é Isca. Geraldo virou a mira alguns centímetros para a esquerda. Entre duas rochas, quase imperceptível, estava Kiber, imóvel com o rifle apoiado, os olhos buscando o menor movimento na mata, respiração, alinhamento, pressão no gatilho. O disparo cortou o ar como sentença. O pastor levou a mão ao peito, surpreso.
Por um instante, o olhar dele encontrou-o de Geraldo, um reconhecimento silencioso de derrota. Depois tombou como uma sombra finalmente desfeita. Os demais alemães tentaram reagir, mas o caos se instalou sem liderança, o grupo se desorganizou, recuando colina abaixo. Mendes e o pelotão, ouvindo o disparo ecoar, avançaram rápido para assegurar a área.
Geraldo permaneceu onde estava por alguns segundos, observando o corpo do inimigo cair entre as pedras. Não havia triunfo em seus olhos, apenas o peso da conclusão inevitável. A caçada terminara, o predador derrotara o predador, mas o silêncio que seguiu parecia mais profundo do que nunca. A fumaça fina que pairava sobre a encosta foi lentamente se dissipando com o vento frio da tarde.
O tiroteio cessara por completo e o eco distante da fuga alemã se perdeu pelas montanhas. O silêncio que se instalou não era o mesmo silêncio tenso da aproximação, era um silêncio final, quase solene. Mendes subiu à colina mancando, apoiando-se no fuzil como bengala improvisada.
encontrou Geraldo sentado sobre uma pedra, olhando fixamente para o ponto onde o corpo de Kiber havia tombado momentos antes. O sargento respirou fundo. “Aou”, disse com voz baixa. Geraldo não respondeu de imediato, não por dúvida, mas porque sua mente estava reorganizando tudo o que havia acontecido. dias, semanas, meses de perseguição silenciosa, emboscadas, mortes, sinais deixados de propósito, provocações calculadas.
O pastor não era apenas um inimigo, era a sombra que o acompanhara por toda a campanha. “Foi rápido”, comentou Geraldo por fim. “No fim, foi rápido demais. Mendes assentiu. Quem vive aterrorizando acaba acreditando que sempre terá o controle, mas você tirou isso dele. O pelotão fez a segurança da área, recolhendo documentos e materiais deixados para trás.
Em meio aos objetos, encontraram o caderno pessoal de Kiber, anotações obsessivas, mapas, cálculos e várias páginas dedicadas ao sniper brasileiro. Ali ficava claro que no fim o pastor já havia transformado o Jaguatirica em sua própria obsessão. De volta à vila, os civis receberam a notícia com uma mistura de alívio e incredulidade. Para eles, o pastor era um monstro quase mitológico.
Saber que alguém o havia derrotado e um brasileiro espalhou esperança por toda a região. Geraldo caminhou até a pequena praça, onde dias antes havia sido deixado o aviso alemão. Parou diante do poste vazio e respirou fundo. “Agora sim, acabou”, murmurou. E naquele instante não era o Jaguatirica quem falava, era o homem por trás da lenda.
Meses depois do fim da campanha, a neve começava a derreter nas montanhas italianas quando Geraldo recebeu a notícia de que retornaria ao Brasil. A guerra ficava para trás, mas as marcas, silenciosas e profundas viajariam com ele. Lucia e os habitantes da vila se reuniram para agradecer uma última vez. O jaguirica para eles não era lenda, era o homem que devolvera paz ao lugar.
Ao embarcar, Geraldo lançou um último olhar para as montanhas onde enfrentara o pastor. Não sentiu orgulho, tampouco tristeza, apenas um entendimento maduro. Algumas batalhas definem quem somos. Se essa história te prendeu até aqui, então você faz parte daqueles que valorizam fatos históricos contados com emoção e intensidade. Agora é a sua vez de agir.
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