O fazendeiro, que chicoteava viúvas com fome, Lampião, deu a ele o mesmo gosto do chicote. Um fazendeiro cruel do interior de Sergipe tinha o hábito de chicotear mulheres viúvas e famintas, que vinham implorar por comida em sua propriedade, dizendo que mulher sem marido não merecia piedade e que o sofrimento era castigo de Deus.

Mas um dia suas ações chegaram aos ouvidos de Virgulino Ferreira da Silva, o temido lampião, que decidiu fazer uma visita pessoal à fazenda para dar ao coronel que ele nunca esqueceria. Nos próximos minutos, você vai descobrir como Lampião invadiu a fazenda desse homem poderoso em plena luz do dia.
O que ele fez quando encontrou três viúvas acorrentadas em um celeiro como animais? E como a punição que Lampião aplicou ao fazendeiro se tornou lendária em todo o sertão de Sergipe, como um aviso para qualquer homem que pensasse que podia abusar de mulheres indefesas sem consequências. Esta é a história real de justiça do cangaço, brutal e direta, que aconteceu em 1926, quando o rei do cangaço mostrou que mesmo os homens mais poderosos do sertão tremiam diante de sua fúria.
No dia 28 de março de 1926, na região de Poço Redondo, no interior de Sergipe, perto da fronteira com Bahia, existia uma das maiores fazendas de gado da região. A propriedade pertencia a um homem chamado Coronel Augusto Ferreira de Melo, um dos homens mais ricos e poderosos daquela área do sertão.
tinha milhares de cabeças de gado, terras que se estendiam até onde a vista alcançava e influência política que ia até a capital. Era também um dos homens mais cruéis que já havia pisado naquela terra castigada pela seca. O coronel Augusto tinha 53 anos. Era grande e gordo, apesar da seca que deixava a maioria das pessoas magras e famintas. tinha bigode grosso, sempre usava roupas caras, mesmo no calor escaldante, e carregava um chicote de couro trançado que ele mesmo havia mandado fazer especialmente com pequenos pedaços de metal entrelaçados no couro para causar mais dor quando atingia a carne. Esse chicote não era usado em animais, era usado em pessoas,
especificamente em mulheres, que o coronel considerava estar abaixo dele, o que na sua mente incluía qualquer mulher pobre, especialmente viúvas, que não tinham marido para protegê-las. A crueldade do coronel Augusto com viúvas era conhecida em toda a região, mas ninguém tinha coragem de fazer nada a respeito.
Ele tinha jagunços armados protegendo sua propriedade, tinha a polícia local no bolso e tinha conexões políticas que o tornavam praticamente intocável. Qualquer homem que tentasse defender uma viúva da fúria do coronel, rapidamente descobria que sua própria família estava em perigo.
Então, as pessoas olhavam para o outro lado, murmuravam em voz baixa sobre as injustiças, mas não faziam nada. A razão específica do ódio do coronel Augusto por viúvas vinha de sua própria história pessoal distorcida. Sua mãe tinha ficado viúva quando ele tinha 10 anos e tinha se casado novamente rapidamente com outro homem.
O jovem Augusto havia interpretado isso como traição à memória de seu pai e desenvolveu um ódio irracional por viúvas em geral, vendo todas elas como mulheres imorais que não respeitavam seus maridos mortos. Esse ódio havia crescido e se distorcido ao longo dos anos até se tornar uma crueldade ativa e violenta. Quando viúvas famintas vinham à sua fazenda implorando por comida o trabalho, o coronel Augusto não apenas as mandava embora, ele as humilhava publicamente, fazia elas se ajoelharem no chão quente, as forçava a implorar em voz alta. E então, na frente de seus empregados e
jagunços, que riam nervosamente, ele as chicoteava. Dizia que estava lhes dando uma lição sobre dignidade, que mulher sem marido que pedia esmola era pior que cachorro e merecia ser tratada como tal. Depois de chicoteá-las, ele jogava alguns restos de comida no chão e dizia para elas comerem como os porcos que eram.
Em fevereiro de 1926, a situação tinha piorado ainda mais. Uma seca terrível havia atingido o sertão e muitas pessoas estavam literalmente morrendo de fome. Três viúvas, em particular, desesperadas para alimentar seus filhos, tinham ido à fazenda do coronel Augusto implorar por ajuda. O que aconteceu com elas foi tão brutal que até os jagunços mais endurecidos do coronel ficaram desconfortáveis.
A primeira viúva se chamava Rosa. Tinha 32 anos e três filhos pequenos. Seu marido tinha morrido um ano antes de febre. Ela tinha caminhado 15 km sob o sol escaldante até a fazenda do coronel, porque tinha ouvido que ele estava contratando pessoas para trabalhar na colheita.
Quando chegou à porteira da fazenda, pediu para falar com o coronel sobre trabalho. Os jagunços riram e a deixaram entrar, sabendo o que ia acontecer. O coronel Augusto saiu da casa grande, olhou Rosa de cima a baixo com desprezo e perguntou se ela era viúva. Quando Rosa confirmou que sim, ele cuspiu no chão e disse que não empregava mulheres sem marido, porque eram todas [ __ ] e preguiçosas.
Rosa, desesperada, caiu de joelhos e implorou. Disse que seus filhos não comiam há três dias, que ela faria qualquer trabalho, qualquer coisa. Só precisava de um pouco de comida. O coronel riu cruelmente e disse que se ela queria comida, tinha que pagar o preço. Ele mandou seus jagunços amarrar em rosa a um poste no meio do terreiro da fazenda.
Então, na frente de dezenas de empregados e vaqueiros, ele usou o chicote nela. Deu 10 chicotadas nas costas de Rosa, cada uma deixando marcas sangrentas na blusa fina que ela usava. Rosa gritou de dor, mas não chorou. não daria a ele essa satisfação. Quando terminou, o coronel jogou dois pedaços de pão seco no chão, cheio de lama, e disse que era o pagamento dela pelo entretenimento que tinha proporcionado.
Rosa pegou o pão com mãos trêmulas, agradeceu através dos dentes cerrados e saiu cambaleando da fazenda. A segunda viúva era Maria, tinha 40 anos e cinco filhos. Ela tinha ouvido o que aconteceu com Rosa, mas estava tão desesperada que decidiu tentar mesmo assim. Pensou que talvez, se implorasse o suficiente, se humilhasse completamente, o coronel teria piedade. Estava errada.
O coronel Augusto não apenas a chicoteou, ele a forçou a rastejar no chão como um cachorro antes de chicoteá-la. Fez ela latir como cachorro enquanto seus jagunços riam. Então deu 12 chicotadas nela, duas a mais que em rosa. Por ele disse, ela era mais velha e deveria saber melhor do que vir incomodá-lo. A terceira viúva foi a que quebrou o limite.
Seu nome era Ana e ela tinha apenas 24 anos. Tinha ficado viúva há apenas 3 meses, quando seu marido foi morto por jagunços de outro fazendeiro em uma disputa de terra. Ana estava grávida de se meses e tinha um filho de 2 anos que estava doente de fome e desidratação.
Ela veio à fazenda não pedindo trabalho, mas implorando apenas por um pouco de água e comida para seu filho, que estava morrendo. O que o coronel Augusto fez com Ana foi tão cruel que até alguns de seus próprios jagunços ficaram enojados. Ele a chicoteou, mesmo estando visivelmente grávida, visando as costas e as pernas, mas sem cuidado algum. Ana caiu no chão depois da quinta chicotada, protegendo a barriga com os braços, implorando que ele parasse pensando no bebê.
O coronel riu e disse que estava fazendo um favor ao mundo, que filhos de viúvas [ __ ] eram melhor mortos antes de nascer. deu mais cinco chicotadas enquanto ela estava no chão, mas o coronel não parou aí. Ele ordenou que Ana fosse trancada em um celeiro nos fundos da propriedade.
Disse que ela ficaria lá por três dias, sem comida nem água, como exemplo para qualquer outra viúva que pensasse em vir incomodar ele. Quando um de seus empregados mais antigos, um homem chamado Severino, que tinha trabalhado na fazenda por 20 anos, protestou timidamente, dizendo que a mulher estava grávida e podia morrer, o coronel deu um tapa na cara dele e disse que severino tinha tanta pena das [ __ ] talvez ele deveria juntar-se a ela no celeiro. Foi Severino quem mudou o curso dos eventos.
Naquela noite, depois que o coronel tinha ido dormir bêbado, como sempre, Severino fez algo que ele sabia que podia custar sua vida. Ele selou um cavalo e cavalgou durante toda a noite até uma área que ele sabia, através de rumores e sussurros, onde o bando de Lampião estava acampado temporariamente.
Demorou quase 8 horas para encontrá-los, mas quando encontrou, pediu para falar com o próprio Lampião. Virgulino Ferreira da Silva, conhecido em todo o Nordeste como Lampião, o rei do cangaço, estava com 36 anos naquela época. Era um homem de estatura média, magro, mas extremamente forte, com olhos penetrantes que pareciam ver através das pessoas.
Usava seu característico chapéu de couro enfeitado, roupas de cangaceiro cheias de adornos e carregava várias armas. Era temido em todo o sertão como bandido violento, mas também tinha reputação de ter seu próprio código de honra, especialmente quando se tratava de punir homens poderosos que abusavam de pessoas indefesas.
Quando Severino contou a Lampião sobre o que o coronel Augusto estava fazendo com as viúvas, especialmente sobre Ana grávida trancada no celeiro, algo mudou na expressão de Lampião. Seus olhos ficaram frios e duros. Ele perguntou detalhes específicos sobre a fazenda, quantos jagunços o coronel tinha, o layout da propriedade, onde o coronel dormia.
Severino respondeu todas as perguntas, tremendo porque não sabia se Lampião ia ajudar ou simplesmente matá-lo por saber demais sobre a localização do bando. Mas Lampião não matou Severino. Em vez disso, disse que ia fazer uma visita ao coronel Augusto e dar a ele uma lição sobre respeito.
disse a Severino para voltar à fazenda e agir como se nada tivesse acontecido e que em dois dias o bando de Lampião estaria lá. Severino cavalgou de volta, chegando à fazenda pouco antes do amanhecer, exausto, mas com uma esperança terrível e ansiosa no coração.
Durante os próximos dois dias, o coronel Augusto continuou sua vida normal, sem saber da tempestade que estava vindo em sua direção. Ana permaneceu trancada no celeiro, recebendo apenas água suficiente para não morrer, mas nenhuma comida. Rosa e Maria tinham voltado para suas casas, feridas e humilhadas, contando a outras mulheres para nunca procurarem ajuda na fazenda do coronel Augusto.
Na manhã do terceiro dia, 30 de março, o coronel Augusto estava sentado na varanda de sua casa grande tomando café, quando ouviu gritos vindos da porteira da fazenda. Seus jagunços estavam gritando alarmes. O coronel se levantou pesadamente, irritado pela interrupção de seu café, e olhou para ver o que estava acontecendo.
O que viu fez seu sangue gelar. Vindo pela estrada poeirenta, em direção à fazenda, estava um grupo de cerca de 20 homens a cavalo. Todos vestiam as roupas inconfundíveis dos cangaceiros, chapéus de couro adornados, rifles e cartucheiras cruzadas no peito, facas e punhais em cintos.
E na frente, montado em um cavalo branco, estava o próprio lampião. Não havia como não reconhecê-lo. Mesmo de longe, sua figura era icônica e temida em todo o Nordeste. Os jagunços do coronel Augusto, que eram valentões quando se tratava de intimidar mulheres indefesas e camponeses desarmados, de repente não pareciam tão corajosos.
Alguns começaram a recuar em direção à casa, outros ficaram paralisados pela indecisão. Um ou dois dos mais covardes simplesmente largaram suas armas e fugiram. O coronel Augusto, percebendo que seus homens não iam defendê-lo contra o bando de Lampião, sentiu pela primeira vez em décadas algo que não estava acostumado a sentir. Medo genuíno.
Lampião e seu bando entraram na fazenda sem resistência. Os jagunços do coronel baixaram suas armas sem nem sequer tentar lutar. Lampião desmontou de seu cavalo com movimentos graciosos e deliberados, como um predador que sabe que sua presa não tem para onde fugir. Caminhou em direção à varanda, onde o coronel Augusto estava parado, agora tremendo visivelmente.
Conte para mim nos comentários se você acha que a justiça do cangaço, mesmo sendo violenta e fora da lei, era justificável em uma sociedade onde as autoridades legais eram corruptas e protegiam os poderosos, ou se violência nunca é a resposta, mesmo quando é contra pessoas que cometem atrocidades? É uma questão moral complicada.
E eu quero saber o que você pensa sobre isso. Escreve aí embaixo. Lampião parou na base da escada da varanda e olhou para o coronel Augusto com uma expressão que não mostrava raiva óbvia, mas algo muito mais perigoso, uma calma fria e calculada. Ele disse com voz clara que carregava através do terreiro silencioso da fazenda, que tinha ouvido histórias interessantes sobre como o coronel tratava viúvas que vinham à sua propriedade pedindo ajuda.
Disse que tinha ouvido que o coronel gostava de usar um chicote nessas mulheres. Mulheres que não podiam se defender, mulheres cujos maridos estavam mortos e que não tinham ninguém para protegê-las. O coronel Augusto tentou recuperar alguma autoridade. Com voz que tentava ser firme, mas tremia levemente, disse que o que ele fazia em sua propriedade era assunto dele, que ele era um coronel respeitado com conexões políticas e que Lampião ia se arrepender de vir à sua fazenda.
Lampião riu, um som baixo e sem humor, e disse que o coronel estava confundido sobre quem deveria estar com medo nesta situação. Lampião fez um gesto e dois de seus cangaceiros subiram na varanda, agarraram o coronel Augusto pelos braços e o arrastaram escada abaixo. O coronel gritou e protestou, sua dignidade e autoridade evaporando rapidamente diante da realidade de sua situação.
Lampião ordenou que seus homens procurassem na propriedade pelas viúvas que o coronel tinha maltratado. Eles encontraram Ana ainda trancada no celeiro, desidratada, faminta e em condição terrível, depois de três dias sem comida adequada. Quando trouxeram Ana e Lampião, viu o estado dela. Viu que estava grávida e ferida. Seu rosto endureceu ainda mais.
Ele olhou para o coronel Augusto e disse que ia dar a ele a chance de sentir exatamente o que essas mulheres tinham sentido. Ordenou que seus homens amarrassem o coronel ao mesmo poste onde ele tinha amarrado rosa dias antes. O coronel implorou, chorou, ofereceu dinheiro, ofereceu gado, ofereceu qualquer coisa.
Mas Lampião não estava interessado em negociação. Um dos cangaceiros de Lampião trouxe o chicote do próprio coronel, aquele com pedaços de metal entrelaçados no couro, feito especialmente para causar dor máxima. Lampião pegou o chicote e o testou no ar, ouvindo o som sinistro que fazia. Ele disse ao coronel que ia receber exatamente o mesmo número de chicotadas que ele tinha dado às três viúvas somadas.
Rosa tinha recebido 10, Maria tinha recebido 12 e Ana tinha recebido 10. Isso fazia 32 chicotadas no total. O que Lampião fez a seguir se tornou lenda em todo o sertão. Ele não simplesmente chicoteou o coronel e foi embora. Primeiro ele fez o coronel confessar publicamente na frente de todos os seus empregados e jagunços que tinham testemunhado suas crueldades o que tinha feito com aquelas mulheres.
Fez o coronel admitir cada chicotada, cada humilhação, cada palavra cruel. Então, metodicamente, Lampião deu ao coronel Augusto exatamente o que ele tinha dado às viúvas. As primeiras chicotadas fizeram o coronel gritar de dor. Ele não tinha a resistência ou a coragem das mulheres que tinha torturado.
Depois de cinco chicotadas, ele estava implorando por misericórdia. Depois de 10, estava chorando como uma criança. Mas Lampião não parou. Ele continuou contando cada chicotada em voz alta, lembrando o coronel de qual viúva tinha recebido aquela chicotada específica. Este é pela Rosa. Este é pela Maria.
Este é pela Ana grávida que você deixou morrer de fome em um celeiro. Quando Lampião chegou à 20ª chicotada, o coronel Augusto tinha desmaiado de dor. Lampião ordenou que seus homens jogassem água nele para acordá-lo. Quando o coronel recuperou a consciência, Lampião continuou. Ele completou todas as 32 chicotadas, cada uma deixando marcas sangrentas nas costas e nas pernas do coronel, cada uma um testemunho da dor que ele tinha causado a mulheres inocentes.
Quando terminou, Lampião jogou o chicote no chão aos pés do coronel e disse que aquele chicote nunca seria usado novamente, que se ele ouvisse que o coronel Augusto tinha tocado em mais uma viúva, em mais uma mulher indefesa, ele voltaria e desta vez não seria tão misericordioso. disse que da próxima vez não seria chicote, seria bala e o coronel seria enterrado em uma cova rasa em algum lugar no sertão, onde ninguém nunca encontraria seu corpo.
Mas Lampião não terminou aí. Ele ordenou que seus homens abrissem os celeiros e armazéns da fazenda. Dentro encontraram enormes quantidades de comida armazenada, grãos, farinha, carne seca, feijão suficiente para alimentar centenas de pessoas por meses. Enquanto o sertão passava fome ao redor, o coronel Augusto tinha estado guardando comida, recusando compartilhar com qualquer um que precisasse, deixando pessoas morrerem de fome enquanto seus celeiros transbordavam. Lampião ordenou uma distribuição. Mandou mensageiros
para todas as vilas e aldeias ao redor, dizendo que havia comida na fazenda do coronel Augusto e que as pessoas deveriam vir buscá-la. Durante as próximas horas, centenas de pessoas vieram famintas, desesperadas, mal acreditando em sua sorte. Os cangaceiros de Lampião distribuíram a comida de forma organizada, certificando-se de que cada família recebia uma porção justa.
Rosa, Maria e Ana, as três viúvas que tinham sido chicoteadas, receberam porções extras. Lampião pessoalmente entregou sacas de grãos para cada uma delas e disse que se algum dia precisassem de ajuda novamente e não tivessem para onde ir, deveriam mandar mensagem para ele através dos contatos que ele lhes deu.
Disse que no sertão de Deus as leis dos homens poderosos muitas vezes não protegiam os fracos, mas que ele, Lampião, protegeria. Ana, a viúva grávida que tinha sido mantida prisioneira, chorou de gratidão. Ela segurou as mãos de Lampião e disse que ele tinha salvado sua vida e a vida de seu bebê. Lampião, desconfortável com demonstrações emocionais, apenas a sentiu e disse que ela deveria ir para casa cuidar de si mesma e de sua criança.
Mais tarde, quando Ana deu à luz um menino saudável três meses depois, ela o nomeou Virgulino, em homenagem ao homem que a tinha salvo. Antes de deixar a fazenda, Lampião fez mais uma coisa. Ele reuniu todos os empregados e jagunços do coronel Augusto e lhes deu uma mensagem.
Disse que qualquer um que tivesse participado ou ido das crueldades do coronel contra as viúvas era covarde e não era melhor que ele. Mas disse que entendia que homens pobres às vezes fazem coisas ruins porque tem medo de perder seu emprego ou sua vida. Disse que estava lhes dando uma segunda chance. Mas se ouvisse que algum deles tinha voltado a maltratar mulheres indefesas, viria atrás de cada um deles pessoalmente.
Quanto ao próprio coronel Augusto, Lampião o deixou vivo, mas completamente humilhado. O coronel ficou amarrado ao poste por horas depois que Lampião e seu bando partiram, até que finalmente alguns de seus empregados tiveram coragem suficiente para cortá-lo solto.
Ele foi carregado para dentro de sua casa, sangrando em choque e completamente quebrado em espírito. A notícia do que Lampião tinha feito se espalhou pelo sertão como fogo em capim seco. A história foi contada e recontada, ganhando detalhes épicos com cada repetição. Lampião, que já era uma figura lendária, tornou-se ainda mais mítico.
Para os pobres e oprimidos do sertão, ele era um herói, um vingador que punia os ricos e poderosos que abusavam de sua posição. Para os coronéis e fazendeiros, que governavam o sertão, através de intimidação e violência, Lampião tornou-se uma ameaça ainda mais terrível, porque agora sabiam que nem mesmo sua riqueza e conexões políticas podiam protegê-los se cometessem atrocidades óbvias demais.
O coronel Augusto nunca se recuperou completamente do que aconteceu. Fisicamente, as feridas do chicote cicatrizaram eventualmente, embora deixando cicatrizes permanentes. Mas psicologicamente ele estava destruído. O homem, que tinha sido um tirano temido, tornou-se uma figura patética e retraída.
Ele nunca mais chicoteou ninguém, nunca mais maltratou viúvas publicamente. De fato, ele raramente saía de sua casa, consumido por medo de que Lampião voltasse para terminar o trabalho. Sua influência política e social evaporou rapidamente. Outros fazendeiros e coronéis da região se distanciaram dele, não querendo ser associados com alguém que tinha sido humilhado tão completamente por Lampião.
Seus jagunços gradualmente o abandonaram, percebendo que um homem que tinha sido quebrado tão facilmente não era alguém que poderia protegê-los ou pagar bem. Dentro de dois anos, a grande fazenda, que tinha sido o centro de seu poder, estava em declínio, mal gerenciada e perdendo valor. Para as três viúvas, cujo sofrimento havia desencadeado toda essa sequência de eventos, a vida melhorou significativamente.
Não porque Lampião tinha resolvido todos os seus problemas, mas porque a história de sua vingança tinha mudado algo fundamental na dinâmica de poder da região. Outros fazendeiros e homens poderosos, temendo que pudessem atrair a atenção de Lampião, se maltratassem mulheres muito visivelmente, tornaram-se mais cautelosos.
Não era que tinham desenvolvido compaixão ou moralidade repentinamente, mas tinham desenvolvido medo. E às vezes medo é suficiente para moderar comportamento cruel. Rosa conseguiu encontrar trabalho em uma fazenda vizinha, onde o dono, nervoso com a história de Lampião, tratou ela e outros trabalhadores com muito mais respeito do que tinha mostrado anteriormente.
Maria recebeu ajuda da comunidade local para plantar uma pequena horta e criar algumas galinhas suficiente para alimentar seus cinco filhos. E Ana, como mencionado, deu à luz um filho saudável. e viveu para ver ele crescer, sempre contando a história de como Lampião tinha salvado sua vida e a dele.
Severino, o empregado corajoso que tinha cavalgado durante a noite para encontrar Lampião, também teve sua vida mudada. Ele deixou a fazenda do coronel Augusto logo depois do incidente e encontrou trabalho em outro lugar. Mas mais importante, ele ganhou respeito em toda a região como o homem que tinha tido coragem de buscar justiça quando todos os outros tinham medo demais.
Pessoas vinham a ele quando tinham problemas que as autoridades locais não resolveriam. E ele frequentemente servia como intermediário, ameaçando levar questões a Lampião, se não fossem resolvidas de forma justa. A história do coronel Augusto e das viúvas tornou-se parte do folclore do cangaço.
Foi incorporada em canções de cordel, contada em feiras e mercados, passada de geração em geração. Como muitas histórias de Lampião, tinha elementos de verdade e elementos de mito misturados juntos, tornando difícil separar fato de ficção. Mas o núcleo da história que Lampião havia punido um homem poderoso por maltratar mulheres indefesas, ressoou profundamente com as pessoas do sertão, que viviam sob o jugo de coronéis tirânicos.
Críticos de Lampião, incluindo autoridades policiais e políticos, apontaram que essa história, mesmo que verdadeira, não fazia dele um herói. Argumentavam que ele era um criminoso, um bandido que matava, roubava e espalhava medo onde quer que fosse. Argumentavam que uma boa ação não apagava centenas de más ações e que glorificar Lampião incentivava o banditismo e a desobediência à lei. E eles não estavam completamente errados.
Lampião não era um santo ou um herói puro. Ele cometeu atrocidades, matou pessoas inocentes, saqueou vilas e causou imenso sofrimento. Mas na mente das pessoas pobres do sertão, que viviam em uma sociedade onde as leis frequentemente protegiam apenas os ricos e poderosos, onde a polícia servia aos coronéis em vez de servir à justiça, onde mulheres como Rosa, Maria e Ana não tinham nenhum recurso legal quando eram abusadas.
Lampião representava uma forma alternativa de justiça. Era justiça brutal, violenta e fora da lei, mas era justiça mesmo assim. A em questão mais profunda que a história levanta e que ecoou através das décadas desde então é o que acontece em uma sociedade quando os sistemas oficiais de justiça falham completamente em proteger os vulneráveis.
Quando a polícia é corrupta, quando os juízes estão no bolso dos poderosos, quando as leis são escritas para proteger os ricos e oprimir os pobres, o que resta às pessoas comuns? Elas aceitam seu sofrimento como inevitável ou procuram formas alternativas de justiça, mesmo que essas formas sejam violentas e ilegais.
O Brasil do início do século XX, especialmente o sertão nordestino, era um lugar onde essas questões não eram abstratas ou filosóficas, eram realidades vividas diariamente. O sistema de coronelismo, onde fazendeiros ricos controlavam vastas áreas de terra e exerciam poder quase feudal sobre as pessoas que viviam nessas terras, criavam um ambiente onde abusos eram comuns e justiça formal era rara para os pobres.
Nesse contexto, figuras como Lampião ocupavam um espaço complexo e moralmente ambíguo. Eles eram simultaneamente criminosos e símbolos de resistência, bandidos e heróis populares, fontes de terror e fontes de esperança. A dualidade não era contraditória para as pessoas que viviam essa realidade. simplesmente um reflexo da complexidade de viver em uma sociedade profundamente injusta.
Anos depois, quando Lampião foi finalmente morto pela polícia em 1938, encontrado e executado junto com Maria Bonita e outros membros de seu bando, a notícia foi recebida com reações mistas no sertão. Autoridades e fazendeiros ricos celebraram o fim do mais famoso cangaceiro. Mas muitas pessoas comuns lamentaram, sentindo que uma forma de proteção, por mais imperfeita e violenta que fosse, tinha sido removida.
A história do coronel Augusto e as viúvas continuou sendo contada décadas após a morte de Lampião. Quando os filhos e netos daquelas três viúvas contavam a história de seus antepassados, sempre incluíam o detalhe de como Lampião tinha vindo para salvá-los, como ele tinha dado ao coronel cruel o mesmo tratamento que o coronel havia dado às mulheres indefesas.
A história servia como lembrança de que mesmo nos tempos mais sombrios, mesmo quando parecia que os poderosos podiam fazer o que quisessem sem consequências, às vezes havia uma reviravolta, às vezes havia justiça, mesmo que viesse de fontes inesperadas. Para historiadores modernos que estudam o período do cangaço, a história do coronel Augusto representa um exemplo perfeito de por Lampião e outros cangaceiros mantinham um apoio popular, apesar de suas atividades criminosas. Não era que as pessoas do sertão aprovassem tudo que os cangaceiros
faziam, mas em um sistema onde as alternativas eram aceitar abuso dos poderosos ou buscar vingança através de canais ilegais. Muitos escolhiam apoiar aqueles que, pelo menos ocasionalmente, defendiam os indefesos, mesmo que de maneiras violentas. A fazenda do coronel Augusto eventualmente foi vendida depois de sua morte, alguns anos depois do incidente com Lampião.
Novos donos tentaram apagar a história do lugar, mas os locais sempre lembravam. O poste onde viúvas foram chicoteadas e onde o coronel recebeu sua própria punição, permaneceu na propriedade por décadas, tornando-se uma espécie de marco não oficial. Pessoas apontavam para ele e contavam a história para visitantes, mantendo a memória viva.
Rosa, Maria e Ana viveram vidas longas o suficiente para ver o Brasil mudar significativamente. Viram o fim do coronelismo? Viram melhorias graduais nos direitos das mulheres. Viram um sistema de justiça que, embora ainda imperfeito, era menos completamente dominado pelos ricos e poderosos. E quando contavam suas histórias para netos, sempre incluíam o detalhe de que uma vez, quando estavam no ponto mais baixo de suas vidas, quando ninguém mais se importava se viviam ou morriam, um bandido notório tinha se importado o suficiente para arriscar confronto com um homem poderoso
apenas para puni-lo por sua crueldade. Alegado da história é complexo. por um lado, romantiza um criminoso e violência vigilante. Por outro lado, documenta uma realidade histórica, onde sistemas oficiais de justiça falhavam tão completamente que figuras criminosas tornavam-se fontes de justiça alternativa.
A lição talvez não seja que violência vigilante é boa ou desejável, mas que sociedades que permitem que sistemas oficiais de justiça sejam tão corruptos e seletivos que deixam os vulneráveis completamente desprotegidos, inevitavelmente criam as condições onde formas alternativas e violentas de justiça se tornam atraentes. No final, a história de como Lampião deu ao fazendeiro, que chicoteava viúvas famintas, um gosto de seu próprio chicote, não é realmente sobre celebrar violência ou glorificar criminosos.
É sobre reconhecer a humanidade daquelas três mulheres que foram tratadas como menos que humanas, sobre lembrar que seu sofrimento importava mesmo quando as autoridades legais não se importavam. E sobre reconhecer que às vezes em sociedades profundamente quebradas, justiça vem de lugares inesperados e assume formas imperfeitas. E enquanto o sol se põe sobre o sertão de Sergipe, onde esta história aconteceu há quase um século, os descendentes daquelas três viúvas ainda vivem trabalhando a terra, criando famílias e carregando consigo a memória de seus antepassados, que
sofreram, mas sobreviveram, que foram humilhados, mas recuperaram sua dignidade, e que no momento mais sombrio, encontraram um defensor improvável. na forma de um bandido lendário, que decidiu que desta vez, apenas desta vez, usaria sua violência não para aterrorizar os fracos, mas para punir os poderosos que abusavam deles.
Yes.