O Engenho Canibal de Pernambuco: Como a Família Paes Barreto Desovava Corpos no Moedor de Cana

Em 1819, no Engenho São Benedito em Pernambuco, funcionários da coroa encontraram fragmentos de ossos humanos misturados ao bagaço da cana. As marcas nos ossos eram idênticas às deixadas pelas moendas, esmagados, triturados, completamente irreconhecíveis.
Pelo menos 34 escravizados haviam desaparecido dos registros oficiais nos últimos 16 anos, sem nenhum documento de venda, fuga ou morte natural. A família Pais Barreto controlava três engenhos na região e mantinha uma reputação impecável na sociedade pernambucana. Os documentos encontrados revelavam algo perturbador, anotações detalhadas sobre processamento noturno e descarte através do sistema de moagem.


Cartas queimadas parcialmente mencionavam disciplina extrema necessária e solução permanente para os insubordinados. Nenhum corpo jamais foi encontrado inteiro. Os registros paroquiais não coninham sepultamentos correspondentes. Era como se dezenas de pessoas tivessem simplesmente deixado de existir.
Se você chegou até aqui, deixe nos comentários de onde você está assistindo e que horas são agora. Esses casos esquecidos precisam ser lembrados. Inscreva-se no canal para não perder as próximas investigações. A família Pais Barreto chegou a Pernambuco no início do século XVI, quando Portugal expandia sua produção açucareira no Nordeste brasileiro.
Sebastião Pais Barreto, o patriarca que fundou o Engenho São Benedito em 1798, era considerado um dos homens mais prósperos da capitania. Seus três engenhos produziam juntos mais de 800 arrobas de açúcar por safra. A sociedade pernambucana da época via Sebastião como um cidadão exemplar.
Ele financiava reformas na igreja matriz, oferecia banquetes para autoridades coloniais e mantinha relações próximas com a Câmara Municipal de Olinda. Documentos da época descrevem suas propriedades como organizadas, produtivas e disciplinadas. O Engenho São Benedito, o principal das três propriedades, ficava a cerca de 15 km do litoral. A casa grande impressionava visitantes com sua arquitetura colonial, jardins bem cuidados e capela particular.
Os viajantes que passavam pela região registravam admiração pela eficiência da produção. Sebastião possuía aproximadamente 180 escravizados, distribuídos entre seus três engenhos. Os registros de compra mostram aquisições regulares no mercado do Recife entre 1800 e 1815. Ele pagava preços acima da média, o que sugeria preocupação com a qualidade da mercadoria humana, como era chamada nos documentos da época.
A família mantinha uma imagem de religiosidade. Missas eram celebradas todos os domingos na capela do Engenho. Sebastião exigia que todos os escravizados fossem batizados e participassem dos rituais católicos. Ele se apresentava como um senhor cristão que cumpria o dever de civilizar os africanos, conforme a ideologia escravagista da época.
Os três filhos de Sebastião, Antônio, Manuel e José, foram educados em Coimbra, Portugal. Eles retornaram ao Brasil entre 1802 e 180, assumindo gradualmente a administração dos engenhos. Antônio, o mais velho, tornou-se particularmente conhecido por sua rigidez administrativa e obsessão com produtividade.
Cartas comerciais preservadas nos arquivos de Olinda revelam que a família tinha contratos vantajosos com comerciantes portugueses. O açúcar dos pais Barreto era exportado diretamente para Lisboa, com preços fixos que garantiam lucros substanciais. A família acumulava riqueza rapidamente. A reputação de disciplina também marcava os engenhos.
Visitantes ocasionais comentavam sobre o silêncio incomum durante o trabalho. Não havia cantos, conversas ou qualquer manifestação cultural entre os escravizados. Um comerciante francês que visitou a propriedade em 1807 escreveu: “O engenho funciona como uma máquina silenciosa. Cada peça no seu lugar. Sebastião justificava sua rigidez com argumentos econômicos.
Em uma carta para um primo em Salvador, datada de 1806, ele escreveu: “A produtividade exige ordem absoluta. Qualquer desvio deve ser corrigido imediatamente, pois a tolerância leva ao caos e ao prejuízo.” Esse pensamento era compartilhado por muitos senhores de engenho da época. O sistema escravagista brasileiro do século XIX era brutal por natureza.
Castigos físicos eram legais e amplamente praticados, porém havia limites estabelecidos pelas ordenações filipinas. Punições que resultassem em morte ou mutilação grave poderiam teoricamente ser investigadas pelas autoridades coloniais. A família Pais Barreto conhecia essas leis e aparentava respeitá-las. Nunca houve denúncias formais contra eles antes de 1819.
Autoridades locais os consideravam senhores responsáveis. Um juiz de Olinda chegou a elogiar publicamente a gestão exemplar do Engenho São Benedito em 1810. Os escravizados da propriedade vinham principalmente da região de Angola e do Congo.
Os registros de compra indicam preferência por homens jovens entre 15 e 25 anos, considerados mais produtivos para o trabalho pesado. Mulheres representavam cerca de 30% da população escravizada, normalmente destinadas ao trabalho doméstico e à cozinha. A estrutura física do engenho seguia o padrão colonial: casa grande, cenzala, capela, casa de purgar e, claro, amoenda.
A moenda era movida por bois e funcionava quase ininterruptamente durante a safra. O barulho das engrenagens esmagando a cana podia ser ouvido a quilômetros de distância. Antônio Pais Barreto, o filho mais velho, tinha uma personalidade diferente do pai. Enquanto Sebastião mantinha uma postura pública cordial, Antônio era descrito como frio, calculista e brutalmente eficiente.
Um ex-feitor que trabalhou brevemente na propriedade relatou anos depois. O Senr. Antônio media tudo, controlava tudo. Nada escapava ao seu olhar. A família também investia em inovações tecnológicas. Em 1808 importaram equipamentos mais modernos de Portugal, incluindo novas engrenagens para amenda.
Um engenheiro contratado para a instalação comentou sobre a insistência de Antônio em testar pessoalmente cada componente da máquina. Os livros de registro da fazenda mostravam uma contabilidade meticulosa. Cada araba de açúcar, cada barril de cachaça, cada real gasto ou ganho era anotado com precisão.
Essa organização impressionava os poucos que tinham acesso aos documentos internos. Porém, uma categoria de registro era notavelmente confusa. Os movimentos da população escravizada, enquanto as finanças eram cristalinas, os registros sobre compras, vendas, mortes e fugas de escravizados apresentavam lacunas e inconsistências. Números não batiam, datas eram omitidas.
Alguns nomes simplesmente desapareciam dos livros sem explicação. Na época, isso não chamava atenção. A vida de escravizados raramente era documentada com cuidado. A Casa Grande possuía uma biblioteca considerável para os padrões da época. Sebastião colecionava livros sobre administração agrícola, teologia católica e história romana.
Curiosamente, havia também manuais técnicos sobre maquinário industrial, mecânica e processos de moagem. Antônio passava horas estudando esses volumes. A capela do engenho era dedicada a São Benedito, santo negro muito venerado no Brasil colonial. A ironia não passou despercebida por alguns observadores críticos da época.
Um padre visitante anotou em seu diário: “Rezam para o Santo Negro enquanto açoitam seus irmãos de pele. A hipocrisia é uma peste.” Em resumo, a família Pais Barreto representava o ideal do senhor de Engenho bem-sucedido do início do século XIX. rica, religiosa, bem relacionada politicamente e produtiva. Sua reputação parecia sólida e seu futuro promissor, nada comportamento público, sugeria os horrores que ocorriam nos limites de suas propriedades.
Os primeiros sinais de que algo estava errado no Engenho São Benedito começaram a aparecer já em 1803, apenas um ano após Antônio Pais Barreto assumir maior controle das operações. escravizados de engenhos vizinhos começaram a comentar sobre desaparecimentos estranhos. Essas conversas aconteciam nos raros momentos de folga aos domingos ou durante festas religiosas.
Um liberto chamado Joaquim da Costa, que trabalhava como carpinteiro em Olinda, registrou em uma petição de 1815 que seu irmão Tomé havia sumido do engenho São Benedito em 1804. Joaquim tentou visitá-lo diversas vezes, mas sempre recebia a mesma resposta. Tomé havia sido vendido para outra província. O problema era que nenhum documento de venda existia. Joaquim procurou a Câmara Municipal pedindo informações sobre o paradeiro do irmão.
A resposta oficial foi que os registros internos de um engenho eram assunto privado e que ele deveria procurar diretamente os pais Barreto. Quando o fez, foi expulso da propriedade sob ameaças. Casos similares acumulavam-se silenciosamente. Uma mulher alforreada chamada Maria Joaquina procurou um vigário em 1807 perguntando sobre sua filha Rosa, de 16 anos, escravizada no Engenho São Benedito.
A resposta foi a mesma: vendida para o sul. Maria nunca mais teve notícias e morreu em 1812 sem saber o destino da filha. Os desaparecimentos tinham um padrão. Eram sempre pessoas consideradas problemáticas, aquelas que questionavam ordens, que tentavam fugir, que se envolviam em pequenos conflitos ou que simplesmente eram vistas como improdutivas.
Um feitor chamado Lúcio, que trabalhou no engenho entre 1805 e 180, relatou anos depois que Antônio tinha uma lista. Lúcio descreveu essa lista como um caderno de couro preto, onde Antônio anotava nomes de escravizados que ele classificava como elementos de correção necessária.
O feitor não deu importância na época, pensando que se tratava apenas de um sistema de punição mais organizado. Ele foi demitido abruptamente após se meses. Os escravizados do engenho viviam em constante medo. Documentos orais coletados décadas depois por abolicionistas revelam que havia uma crença compartilhada. Quem entrava na moenda à noite não voltava.
Mas essas eram apenas suspeitas, boatos que não chegavam aos ouvidos de autoridades ou que quando chegavam eram ignorados. Em 1808, um episódio chamou atenção temporariamente. Um escravo fugido chamado Bernardo foi capturado nas matas próximas ao engenho. Testemunhas de outro engenho viram quando ele foi levado de volta pelos capitães do mato.
Bernardo gritava que não queria voltar, que moíam gente lá dentro. As pessoas riram pensando que era desespero ou loucura. Bernardo nunca mais foi visto. Quando questionado, Antônio Pais Barreto apresentou um documento de venda datado de três dias depois da recaptura, alegando que havia vendido o escravo para um fazendeiro do interior da Paraíba. Ninguém investigou se esse fazendeiro realmente existia.


A igreja, que poderia fiscalizar também falhou. O padre responsável pela região, padre Inácio de Menezes, visitava o engenho São Benedito regularmente para celebrar missas. Ele era pago diretamente pela família Pais Barreto e tinha interesse em manter boas relações.
Em seus registros paroquiais, anotava batismos e casamentos, mas raramente registrava óbitos de escravizados. Um comerciante chamado Pedro Álvares, que fornecia ferramentas para diversos engenhos da região, percebeu algo estranho. Em suas anotações pessoais de 1810, ele escreveu: “Os pais Barreto compram muito mais correntes e ferros que seus vizinhos, que a moenda funciona em horários incomuns.
Vi fumaça e ouvi o moinho trabalhando às 3 da madrugada.” Pedro comentou essas observações com outros comerciantes, mas ninguém deu importância. Engênios eram conhecidos por trabalhar em ritmos intensos durante a safra. Fumaça e barulho noturnos poderiam ter diversas explicações. Além disso, os pais Barreto pagavam bem e em dia.
Ninguém queria perder um bom cliente por suspeitas vagas. Em 1812, uma situação mais grave ocorreu. Um grupo de cinco escravizados tentou uma fuga coletiva do engenho São Benedito. Eles foram capturados antes de chegarem ao quilombo que procuravam. Vizinhos contaram cinco pessoas sendo trazidas de volta. Semanas depois, a família Pais Barreto não mencionava o episódio e nenhum dos cinco era visto trabalhando nos canaviais.
Um lavrador livre que morava nas proximidades perguntou discretamente a um feitor sobre os fugitivos. A resposta foi: “Foram castigados e vendidos.” Quando o lavrador insistiu, o feitor ficou visivelmente desconfortável e disse para ele não fazer mais perguntas. O lavrador entendeu o recado e nunca mais tocou no assunto. Os próprios feitores tinham alta rotatividade no Engenho São Benedito.
Diferente de outras propriedades, onde feitores permaneciam por anos, ali a média era de menos de um ano. Alguns saíam por vontade própria, alegando que o ambiente era pesado demais. Outros eram dispensados sem explicação clara. Um desses feitores chamado Domingos contou a familiares em 1813 que havia visto algo estranho.
Certa noite, foi instruído a levar três escravizados acorrentados até a área da moenda. Quando chegaram, Antônio Pais Barreto estava lá pessoalmente, o que era incomum. Domingos recebeu ordem de se retirar imediatamente. Ele obedeceu. No dia seguinte, os três escravizados não estavam na cenzala. Domingos perguntou onde eles estavam. A resposta foi seca. Já foram tratados.
Domingos notou que a moenda tinha sido limpa com intensidade incomum. Toda a área ao redor estava lavada e havia um cheiro forte de cal. Ele foi demitido duas semanas depois. As autoridades coloniais raramente visitavam engenhos sem motivo específico. A propriedade privada era praticamente inviolável.
E a palavra do senhor de engenho valia como lei dentro de seus domínios. Mesmo se houvesse denúncias, o sistema judiciário da época favorecia completamente os proprietários de terra. A Câmara Municipal de Olinda recebia pequenas queixas esporádicas, mas nunca deu seguimento. Em uma ata de 1814, há registro de uma questão levantada por um vereador sobre supostas irregularidades em engenhos da região.
A proposta de investigação foi rejeitada por oito votos contra dois. Um dos vereadores argumentou: “Não podemos interferir na administração privada baseados em rumores de escravos”. Durante esses anos, a produção do engenho São Benedito permaneceu alta e constante. Os números apresentados pela família Pais Barreto aos comerciantes e à coroa eram sempre satisfatórios.
Não havia razão econômica aparente para suspeitar de irregularidades. Um engenho produtivo era um engenho bem administrado, segundo a lógica da época. Enquanto isso, a população escravizada da propriedade mostrava sinais de terror profundo. Abolicionistas, que conseguiram conversar anos depois com sobreviventes relataram que ninguém ousava perguntar sobre os desaparecidos.
Falar sobre os que sumiam era considerado perigoso. O silêncio era a única forma de tentar sobreviver. Um detalhe perturbador apareceu em documentos posteriores. A família Pais Barreto comprava escravizados com frequência incomum. Entre 1803 e 1818, há registros de pelo menos 45 aquisições novas no mercado do Recife.
Para uma propriedade do tamanho do engenho São Benedito, isso representava uma taxa de reposição anormalmente alta. A explicação oficial era sempre a mesma: vendas para outras províncias, fugas bem-sucedidas ou mortes naturais, mas os documentos paroquiais não correspondiam. Os registros de óbitos eram insuficientes para justificar tantas reposições e não havia documentação de vendas que comprovasse as alegações da família.
Em 1816, um evento quase expôs tudo. Um fiscal da coroa visitou o engenho para verificar impostos sobre a produção de cachaça. Durante a vistoria, ele pediu para ver a área da moenda. Antônio Pais Barreto acompanhou-o pessoalmente e não o deixou circular sozinho. O fiscal não viu nada suspeito e concluiu sua visita sem problemas.
Porém, um ajudante do fiscal, um homem livre chamado Francisco, andou brevemente pelos fundos da propriedade. Ele notou uma área isolada, onde a terra parecia revolvida recentemente e havia marcas de cal espalhado. Francisco mencionou isso ao fiscal, que respondeu: “Provavelmente tratamento de solo não é da nossa conta”. O episódio foi esquecido.
A verdade continuava enterrada, misturada ao bagaço, dissolvida pelo tempo e pelo medo. Os sinais estavam lá, mas ninguém com poder para agir queria ver. A sociedade escravagista brasileira tinha mecanismos perfeitos para ignorar o sofrimento. Era o sistema funcionando exatamente como foi projetado para funcionar.
A descoberta que finalmente expôs os crimes da família Pais Barreto aconteceu por acidente em março de 1819. Um engenheiro chamado Augusto Ferreira da Silva foi contratado para fazer reparos na moenda do engenho São Benedito. O equipamento apresentava problemas mecânicos e precisava ser desmontado parcialmente para manutenção.
Augusto era um profissional meticuloso contratado de Olinda especificamente para esse trabalho. Ele tinha experiência com maquinário de engenhos e reputação de competência. Quando começou a desmontar as engrenagens, encontrou algo que o fez recuar. Fragmentos de ossos presos entre os cilindros de ferro.
Inicialmente, Augusto pensou que poderia ser algum animal que caiu acidentalmente na moeda, mas a quantidade era grande demais e os ossos tinham características claramente humanas. Ele chamou seu assistente, um homem livre chamado José, que confirmou: “Aquilo eram restos de pessoas”. Augusto procurou imediatamente Antônio Pais Barreto. A reação foi gélida. Antônio disse que provavelmente eram ossos de animais misturados ao lixo e que Augusto deveria continuar seu trabalho sem fazer alarme desnecessário. Augusto sentiu o tom de ameaça e decidiu trabalhar em silêncio, mas guardou alguns fragmentos
como prova. Após concluir o reparo, Augusto foi diretamente às autoridades de Olinda. Ele apresentou os fragmentos ósseos ao ouvidor da comarca, o desembargador Joaquim Antônio de Melo. A princípio, houve resistência. A família Pais Barreto era influente demais.
Mas Augusto insistiu e a natureza humana dos ossos era innegável. O desembargador ordenou uma inspeção oficial no Engenho São Benedito. Em 18 de março de 1819. Uma comitiva composta por autoridades judiciais, um cirurgião e soldados, chegou à propriedade. Antônio Pais Barreto tentou impedir a entrada, alegando que sua propriedade privada não podia ser invadida sem acusação formal. O desembargador apresentou um mandado.
A inspeção começou pela moenda. Quando desmontaram completamente o equipamento, encontraram mais fragmentos ósseos, pedaços de tecido humano em decomposição e cabelos presos nas engrenagens. O cirurgião confirmou. Eram restos de múltiplas pessoas, provavelmente moídas nos últimos meses. A busca se expandiu.
No depósito de bagaço usado como adubo, encontraram mais ossos misturados ao resíduo da cana. Na área próxima à fornalha havia marcas de fogueiras intensas, onde ossos maiores teriam sido queimados. A terra ao redor da moenda estava impregnada com cal, usada para acelerar a decomposição e eliminar odores. O mais perturbador foi encontrado na Casagrande.
No escritório pessoal de Antônio, dentro de uma gaveta trancada, havia o caderno de couro preto mencionado pelo ex-feitor Lúcio anos antes. Dentro dele uma lista meticulosa, 34 nomes com datas ao lado. A última entrada era de fevereiro de 1819. Apenas um mês antes da descoberta, os nomes correspondiam a escravizados que haviam desaparecido dos registros oficiais do engenho.
Ao lado de cada nome, anotações frias. Correção final, solução permanente, processado. As datas indicavam quando cada pessoa havia sido morta. A lista cobria o período entre 1803 e 1819, exatamente 16 anos de assassinatos sistemáticos. Durante a inspeção, cinco escravizados foram interrogados separadamente das autoridades.
Com garantias de proteção, eles começaram a falar. Uma mulher chamada Francisca, que trabalhava na cozinha da Casagrande, revelou que era obrigada a preparar refeições para Antônio e os feitores durante as sessões noturnas. Ela ouvia gritos vindos da moenda. Um homem chamado Paulo contou que viu pelo menos três pessoas sendo levadas acorrentadas para a área da moenda durante a noite. Ele foi obrigado a ajudar a limpar o local na manhã seguinte.
Havia sangue, pedaços de carne e ossos. Paulo foi ameaçado de morte se contasse algo. Ele viveu 15 anos em silêncio absoluto. Outro escravizado chamado Miguel trabalhou diretamente na moenda por anos. Ele descreveu como Antônio supervisionava pessoalmente quando traziam as vítimas. Miguel era forçado a operar a moenda enquanto corpos eram introduzidos nos cilindros.
Ele viu 12 pessoas serem mortas dessa forma. As cenas o perseguiam todas as noites. As vítimas eram primeiro espancadas até a inconsciência ou morte. Depois, os corpos eram colocados na moenda em funcionamento. Os cilindros de ferro projetados para esmagar cana trituravam ossos, carne e órgãos. O resultado saía misturado ao bagaço, que era usado como adubo ou queimado. Era um método de eliminação quase perfeito.
Miguel relatou que Antônio havia testado o método pela primeira vez em 180, após um escravo tentar agredi-lo. O teste funcionou. O corpo desapareceu completamente. A partir daí, tornou-se o método de correção extrema, usado sempre que Antônio considerava necessário eliminar alguém permanentemente.
Os irmãos de Antônio, Manuel e José sabiam dos crimes. Os depoimentos divergiam. Alguns escravizados afirmavam que Manuel participou de pelo menos uma execução. José, o mais novo, teria ficado horrorizado ao descobrir e passado a evitar o engenho, morando mais frequentemente no Recife. O pai Sebastião, já idoso e doente desde 1815, alegou desconhecer tudo.
Cartas encontradas na Casagrande sugeriam que Sebastião tinha ao menos suspeitas. Em uma correspondência para Antônio de 1814, ele escreveu: “Tua severidade deve ter limites, filho. Há coisas que nem a lei dos homens, nem a de Deus perdoam”. A carta estava guardada sem resposta.


O cirurgião que acompanhou a inspeção estimou que os fragmentos encontrados pertenciam a pelo menos 15 indivíduos diferentes. Considerando que muitos restos haviam sido queimados, compostados ou simplesmente desintegrados ao longo dos anos, o número total de vítimas era provavelmente próximo ou igual aos 34 nomes no caderno. As motivações de Antônio variavam segundo os depoimentos.
Alguns assassinatos foram claramente punitivos. Pessoas que tentaram fugir, que se recusaram a trabalhar ou que confrontaram feitores. Outros pareciam baseados em paranoia, escravizados que Antônio acreditava estarem planejando rebeliões ou conspirando contra ele. Havia também casos de eliminação por improdutividade.
Pessoas doentes ou feridas que não conseguiam mais trabalhar eram vistas como prejuízo. Antônio as considerava perdas inevitáveis que deveriam ser descartadas para abrir espaço para ativos mais rentáveis. Sua linguagem registrada no caderno era puramente contábil. Um detalhe especialmente chocante. Algumas vítimas eram mães com filhos pequenos.
Quando uma mãe era processada, os filhos eram separados e vendidos rapidamente para evitar perguntas. Os registros mostram várias crianças de 3 a 7 anos. vendidas isoladamente nos meses seguintes a desaparecimentos de mulheres da mesma cenzala. A frieza de Antônio impressionava até os investigadores. Durante o interrogatório inicial, ele não negou os fatos quando confrontado com evidências.
Sua defesa foi pragmática. alegou que estava dentro de seus direitos como proprietário de exercer disciplina sobre sua propriedade. Na visão dele, os escravizados não eram pessoas, mas bens que ele podia administrar como quisesse. Essa lógica, por mais monstruosa que pareça hoje, tinha respaldo parcial na legislação da época. Senhores de engenho tinham poder quase absoluto sobre escravizados.
Castigos físicos eram legais. O problema era que assassinatos, mesmo de escravizados, tecnicamente constituíam crime: destruição de propriedade alheia, se o escravo pertencia a outro, ou excesso de poder que ultrapassava os limites legais. A sociedade pernambucana reagiu com choque, mas também com divisão.
Parte da elite defendia que os pais Barreto haviam exagerado, mas que o princípio de autoridade do senhor deveria ser mantido. Outros viam os crimes como uma mancha na reputação da classe proprietária e exigiam punição para restaurar a ordem moral. Sebastião Pais Barreto morreu três semanas após a descoberta em abril de 1819. oficialmente de causas naturais relacionadas à idade.
Muitos acreditaram que foi o horror e a vergonha que o mataram. Ele deixou uma fortuna dividida entre os três filhos, mas a reputação da família estava destruída. Os escravizados do engenho São Benedito foram redistribuídos. Alguns foram vendidos, outros transferidos para engenhos vizinhos.
Nenhum foi libertado como compensação pelo trauma. O sistema escravagista continuou funcionando normalmente, apenas com novos proprietários. As vítimas não receberam sepulturas, memoriais ou qualquer forma de reconhecimento. A igreja tentou se distanciar do caso. O padre Inácio de Menezes foi transferido discretamente para outra paróquia.
Um novo padre assumiu com ordens de restaurar a paz espiritual da região. Nenhuma missa pelos mortos foi celebrada. Era como se as 34 vítimas nunca tivessem existido para a instituição religiosa. A moenda foi desmontada completamente e suas peças foram enterradas em uma vala nos fundos da propriedade. O novo proprietário mandou construir outra em local diferente. Ninguém queria trabalhar perto do equipamento manchado de sangue.
Escravizados de outras propriedades referiam-se ao local como o moedor do diabo. Os depoimentos dos sobreviventes revelaram algo ainda mais perturbador. Todos sabiam. Todos na cenzala sabiam que pessoas estavam sendo mortas na moenda. Mas o terror era tamanho que ninguém ousava falar, nem mesmo entre si. O medo criou um pacto de silêncio forçado que durou 16 anos.
Francisca, a cozinheira que testemunhou, disse algo que resume o horror. A gente sabia quando era noite de moenda. O silêncio ficava diferente. Ninguém dormia, mas todo mundo fingia dormir. De manhã, limpávamos o sangue e seguíamos trabalhando, porque se a gente parasse, podia ser a próxima.
Os fragmentos ósseos coletados durante a inspeção foram colocados em uma caixa de madeira e enterrados no cemitério de escravizados da região. Não havia identificação, não havia lápides, era apenas uma cova comum para restos não identificados. O cirurgião registrou 34 almas reduzidas a pós, sem nome, sem justiça, sem paz.
O processo judicial contra Antônio Pais Barreto começou em maio de 1819, dois meses após a descoberta dos crimes. A acusação formal incluía assassinato de propriedade humana, destruição de evidências e abuso extremo de poder senhorial. O caso deveria ser exemplar, segundo o desembargador Joaquim Antônio de Melo. Mas as engrenagens da justiça colonial funcionavam de forma muito diferente quando envolvia membros da elite.
Antônio contratou os melhores advogados do Recife. Sua defesa baseava-se em três argumentos principais. Primeiro que os escravizados eram sua propriedade legal e ele tinha direito de administrá-los conforme julgasse necessário. Segundo, que as mortes eram resultado de disciplina extrema, não de malícia.
Terceiro, que os depoimentos dos escravizados não podiam ser considerados totalmente confiáveis perante a lei. A legislação portuguesa da época, baseada nas ordenações filipinas, era ambígua. Castigos físicos severos eram permitidos aos senhores. Assassinatos não eram explicitamente legais, mas raramente eram punidos quando envolviam escravizados.
A morte de pessoas escravizadas era frequentemente classificada como acidente ou excesso disciplinar, com penalidades mínimas. O julgamento se arrastou por meses. Durante esse período, pressões políticas começaram a aparecer. Diversas famílias influentes de Pernambuco temiam que uma condenação severa de Antônio criasse precedente perigoso.
Se um senhor de engenho pudesse ser condenado por matar seus próprios escravizados, onde estava o limite do poder senhorial? A elite escravagista via o caso como ameaça ao sistema. Cartas preservadas nos arquivos judiciais mostram correspondências entre fazendeiros da região. Um senhor de engenho chamado Tomás Cavalcante escreveu para outro em junho de 1819: “Se pais Barreto cair, amanhã qualquer escravo poderá acusar qualquer senhor.
É preciso conter isso antes que se alastre”. O medo de uma rebelião institucional era real. O desembargador Joaquim Antônio de Melo sofreu pressões diretas. Ele recebeu ameaças veladas e ofertas de suborno. Sua família foi intimidada. Em uma carta para um colega em Salvador, datada de julho de 1819, ele escreveu: “Tento fazer justiça, mas as forças contra mim são grandes demais.
Temo pelo resultado deste processo e pelo meu próprio futuro. Em agosto de 1819, aconteceu algo que mudou completamente o rumo do caso. Um incêndio misterioso destruiu parte do cartório de Olinda, onde os documentos principais da acusação estavam guardados. O caderno de couro preto com os 34 nomes, diversas cartas comprometedoras e registros contábeis foram consumidos pelo fogo.
Restaram apenas cópias parciais e testemunhos orais. A investigação do incêndio foi superficial. Oficialmente foi classificado como acidente causado por uma vela. Mas testemunhas viram homens desconhecidos próximos ao prédio horas antes do fogo começar. Ninguém foi responsabilizado. A destruição das provas enfraqueceu dramaticamente a acusação contra Antônio.
Os irmãos de Antônio, Manuel e José, não foram formalmente acusados. Manuel alegou que vivia em outro engenho da família e raramente visitava São Benedito. José, que morava no Recife, apresentou testemunhas que confirmaram sua ausência frequente da propriedade.
Ambos se distanciaram publicamente de Antônio, chamando-o de desequilibrado e manchador do nome da família. O julgamento finalmente terminou em novembro de 1819. meses após a descoberta, Antônio Pais Barreto foi considerado culpado de excesso no exercício do poder disciplinar e condenado a 5 anos de prisão, além de pagar multa de R$ 800.000 réis aos cofres da coroa. Não houve condenação por assassinato.
As 34 vítimas foram juridicamente reduzidas, a propriedade danificada por má administração. A sentença causou indignação em pequenos círculos abolicionistas que começavam a se formar no Brasil, mas a maior parte da sociedade aceitou o resultado como razoável. Um editorial do jornal O Patriota de dezembro de 1819 escreveu: “A lei foi aplicada, o excesso foi punido sem destruir os fundamentos da ordem social.
É o equilíbrio necessário. Antônio cumpriu apenas 2 anos e meio da sentença. Em abril de 1822, durante as agitações pela independência do Brasil, houve uma anistia geral para crimes considerados não políticos. Antônio foi incluído e libertado. Ele deixou Pernambuco imediatamente e mudou-se para o Rio de Janeiro, onde viveu com identidade discreta.
Os registros sobre o destino final de Antônio são escassos e contraditórios. Alguns documentos sugerem que ele morreu em 1827, no Rio de Janeiro, de causas naturais. Outros relatos não confirmados afirmam que ele teria sido assassinado por um ex-escravizado que o reconheceu na rua. Nenhuma dessas versões foi oficialmente comprovada. Antônio simplesmente desapareceu da história.
Manuel Pais Barreto assumiu o controle do engenho São Benedito e dos outros engenhos da família. Ele mudou o nome da propriedade principal para Engenho Santa Teresa em 1820, tentando apagar a memória dos crimes. A manobra funcionou parcialmente.
Em poucos anos, as pessoas da região referiam-se à propriedade pelo novo nome. José Pais Barreto vendeu sua parte da herança e investiu em comércio no Recife. Ele evitava falar sobre o caso e proibia que o nome de Antônio fosse mencionado em sua presença. José morreu em 1845, deixando descendentes que mantiveram o sobrenome, mas nunca mencionaram a conexão com os crimes de 1819.
O engenho permaneceu produtivo até a abolição da escravatura em 1888. Passou por diversos proprietários ao longo das décadas. Nenhum deles enfrentou problemas similares aos de 1819, ou pelo menos nenhum foi descoberto. A propriedade foi gradualmente dividida e vendida.
Hoje a área onde ficava a moenda é um terreno vazio coberto por mato. Os sobreviventes que testemunharam contra Antônio viveram com medo constante de retaliação. Francisca, a cozinheira, foi vendida para um engenho distante em 1820. Ela viveu até 1852 e, segundo relatos, nunca conseguiu dormir uma noite inteira sem pesadelos. Paulo, que limpou sangue por anos, enlouqueceu na década de 1830 e morreu em condições miseráveis.
Miguel, o homem forçado a operar amenda durante os assassinatos, conseguiu comprar sua liberdade em 1835. Ele mudou-se para Salvador e tentou reconstruir sua vida. Décadas depois, já idoso, Miguel falou sobre os horrores que viveu para um grupo de abolicionistas. Seu depoimento foi registrado em 1863 e é uma das poucas fontes diretas sobre os detalhes dos crimes.
No relato de 1863, Miguel disse: “Eu ainda ouço os gritos. Passaram 44 anos e ainda ouço. Toda vez que vejo uma moenda, meu corpo trava. Nunca toquei em açúcar desde que saí daquele inferno. Para mim, açúcar tem gosto de sangue. Açúcar é morte moída. Os descendentes das vítimas nunca receberam compensação, reconhecimento ou sequer informação sobre o que aconteceu com seus familiares.
Mães procuraram filhos por anos, sem saber que eles haviam sido assassinados. Irmãos procuraram irmãs, filhos procuraram pais. O Estado brasileiro nunca forneceu respostas. O silêncio institucional foi absoluto. A Igreja Católica nunca realizou cerimônias pelos mortos. Não houve missas de corpo presente, não houve orações oficiais.
Não houve reconhecimento espiritual das vítimas. O padre que substituiu Inácio de Menezes evitou o assunto completamente. Em seus registros paroquiais, os eventos de 1819 simplesmente não existem. A historiografia brasileira ignorou o caso por décadas.
Os primeiros registros acadêmicos sobre os crimes do engenho São Benedito só apareceram no final do século XIX em estudos abolicionistas que usavam o caso como exemplo da brutalidade do sistema escravagista. Mesmo assim, o caso nunca ganhou a atenção que merecia. No século XX, o episódio foi praticamente esquecido. Livros de história de Pernambuco mencionam brevemente um caso de violência extrema em 1819, mas sem detalhes, sem nomes, sem contextualização adequada.
É como se a sociedade brasileira tivesse decidido coletivamente que era melhor não lembrar. Os arquivos judiciais do caso foram parcialmente preservados no Instituto Histórico de Pernambuco. Eles estão disponíveis para pesquisa, mas poucas pessoas sabem de sua existência. Os documentos estão amarelados, frágeis, alguns ilegíveis. A caixa que os guarda tem uma etiqueta simples.
Caso Pais Barreto, 1819. Nada indica a magnitude do horror que contém. Tentativas de localizar descendentes das vítimas. foram malsucedidas. A maioria dos escravizados do engenho São Benedito não tinha sobrenomes registrados. Os registros de compra indicam apenas nomes de batismo e procedência africana.
Não há como rastrear famílias, não há como encontrar herdeiros, não há como reparar o irreparável. Um historiador pernambucano chamado José Roberto Santos pesquisou o caso nos anos 1980. Ele encontrou evidências que sugeriam que os 34 nomes no caderno de Antônio eram apenas os casos oficiais. Depoimentos não oficiais mencionavam outros desaparecimentos não documentados. O número real de vítimas pode ter sido maior, talvez muito maior.
Santos também descobriu algo perturbador. O método usado por Antônio não era único. Ele encontrou referências vagas a casos similares em outros engenhos do Brasil durante o período colonial e imperial. A diferença é que nunca foram descobertos ou investigados. A moenda como instrumento de execução pode ter sido mais comum do que a história oficial admite.
Perguntas fundamentais permanecem sem resposta. Quantas pessoas realmente morreram no engenho São Benedito? Outros engenhos usaram métodos similares, quantos crimes similares ocorreram e nunca foram descobertos? O sistema escravagista brasileiro tinha conhecimento dessas práticas e as tolerava silenciosamente? Não há respostas definitivas, só silêncio. O local onde ficava a moenda nunca foi marcado com memorial.
Não há placa, não há monumento, não há reconhecimento oficial das 34 vítimas confirmadas. O terreno é particular e está abandonado. Moradores locais evitam passar pelo lugar à noite. Dizem que é mal assombrado. Talvez seja apenas superstição, ou talvez seja a memória não sepultada de um horror que a sociedade preferiu esquecer.
A família Pais Barreto teve descendentes que prosperaram no Brasil. Alguns se tornaram políticos, empresários, profissionais liberais. O sobrenome foi mantido. Poucos sabem da conexão com os eventos de 1819. É uma história familiar enterrada tão profundamente quanto os ossos das vítimas.
O açúcar produzido no Engenho São Benedito entre 1803 e 1819 foi exportado para Portugal, consumido no Brasil e vendido nos mercados coloniais. Pessoas adoçaram seu café, fizeram bolos, prepararam doces. Nenhum consumidor sabia que aquela produção era mantida através de terror absoluto e assassinatos sistemáticos. O açúcar não trazia marcas de sangue visíveis. Essa é a natureza do horror institucionalizado.
Ele se esconde na normalidade, nos produtos consumidos, nos lucros contabilizados, na sociedade que funciona, ignorando os gritos que sustentam sua existência. O engenho São Benedito não foi uma aberração, foi o sistema escravagista levado à sua conclusão lógica e brutal. As 34 vítimas confirmadas, cujos nomes estavam no caderno de Antônio, nunca foram completamente identificadas.
Os registros contêm apenas primeiros nomes. João, Maria, José, Ana, Tomé, Rosa, Francisco, Benedita. Pessoas completas reduzidas a entradas em uma lista. Vidas inteiras apagadas, sem deixar rastro, sem história, sem memória preservada. O Brasil aboliu a escravatura em 1888, 69 anos após a descoberta dos crimes.
A lei Áurea não mencionou reparações, não abordou o legado do trauma, não reconheceu as vítimas de violências extremas como as do Engenho São Benedito. A abolição veio sem justiça retroativa, sem prestação de contas, sem reconciliação nacional. Hoje, mais de 200 anos depois, o caso do Engenho São Benedito permanece como um exemplo do que a sociedade brasileira escolheu esquecer.
É um lembrete de que silêncio não é neutralidade, é cumplicidade. Cada geração que escolhe não lembrar é uma geração que permite que a injustiça se perpetue na forma de esquecimento. As perguntas permanecem: onde estão as vítimas? Quem eram elas antes de serem escravizadas? Que sonhos tinham? Que famílias deixaram na África? Que futuro lhes foi roubado? Não há respostas. Há apenas o silêncio. Pesado, cúmplice, ensurdecedor.
Um silêncio que em si mesmo é uma forma de violência continuada. Se esta história te impactou, se você ficou até o final, é porque sente que essas verdades ocultas também precisam ser expostas. Então, deixe sua avaliação nos comentários. De zer a 10. Como você avaliaria esta história? E aproveite para se inscrever no canal.
Há muitos outros casos que o mundo tentou esquecer, mas nós insistimos em lembrar.

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