Desculpa, você pode sair da frente? Estou compressa. Valentina nem olhou direito para o homem que bloqueava a entrada do elevador no hotel Copacabana Palace. Davi estava pesado no colo e ela já estava atrasada para a reunião de tradução. Valentina? A voz a fez congelar. Lentamente ela levantou os olhos.
Samir Alhadid estava ali parado na sua frente como um fantasma do passado, dois anos mais velho, mais elegante no terno escuro e que fiier tradicional, mas com os mesmos olhos que a assombravam desde que ele partiu. Samir, o nome saiu como um sussurro. Eles ficaram se encarando. O mundo parou ao redor deles. O barulho do lobby continuava. Executivos passando, telefones tocando, conversas em várias línguas, mas entre eles havia apenas silêncio. Foi quando Davi se mexeu no colo dela.
O bebê de 18 meses, escolheu aquele momento para levantar a cabecinha e olhar diretamente para Samir. Curiosidade infantil nos olhos escuros, exatamente iguais aos do homem à sua frente. Valentina viu o momento exato em que Samir entendeu. O rosto dele mudou completamente. surpresa, choque.
Depois uma compreensão lenta e dolorosa se espalhando pelas suas feições. “Meu Deus!”, ele sussurrou, os olhos indo de Davi para Valentina, depois de volta para Davi. “Samir, eu posso explicar quantos quantos meses ele tem?” A voz dele tremeu. Valentina fechou os olhos. 18 meses. Silêncio mortal. Quando ela abriu os olhos, Samir estava pálido, fazendo contas mentalmente. 18 meses. Ele repetiu a voz mais baixa agora.

Você estava grávida quando eu viajei? Não era uma pergunta. Davi, alheio ao drama dos adultos, sorriu para Samir e estendeu a mãozinha, fascinado pelo tecido diferente do que Fier. Ele é meu. As palavras de Samir saíram quebradas. Samir, aqui não é lugar. Responde, por favor. Valentina olhou para o filho, depois para o pai dele. Sim.
A palavra caiu entre eles como uma bomba. Samir recuou um passo, passando a mão pelos cabelos. Algumas pessoas no lobby começaram a olhar na direção deles. Uma mulher com bebê no colo e um homem árabe visivelmente abalado. Por que você não me contou? A pergunta saiu baixa, mas carregada de dor. Tentei.
Como assim tentou? Mandei e-mail três semanas depois que você viajou. As palavras de Valentina saíram rápidas agora, dizendo que precisava falar com você sobre algo urgente. A expressão de Samir se confundiu. Que e-mail? Nunca recebi. Recebi resposta automática, dizendo que você estava em período sabático e não responderia e-mails pessoais por tempo indeterminado. A mágoa na voz dela era innegável agora.
Depois tentei ligar. O número tinha sido desconectado. O rosto de Samir desabou. Eu mudei de número quando mudei de país. E o e-mail? Meu assistente configurou resposta automática para tudo que não fosse trabalho. Que conveniente, Valentina. Se eu soubesse o quê? Largaria tudo e voltaria correndo? Ela balançou a cabeça.
A gente, os dois sabe que não. Davi começou a ficar inquieto, sentindo atenção na voz da mãe. Começou a fazer pequenos ruídos de desconforto. “Ele está nervoso, Samir observou. Ele sente quando estou estressada. Posso?” Samir hesitou, olhando para o filho, como se fosse a coisa mais preciosa e aterrorizante do mundo.
“Posso tocá-lo, Samir? Por favor, só só quero saber como ele é”. Contra todos os seus instintos, Valentina se aproximou. Samir estendeu a mão devagar, tocando gentilmente o rostinho de Davi. O bebê parou de choringar e ficou olhando para ele curioso. Oi! Samir sussurrou. Oi, pequeno. Davi inclinou a cabeça, estudando o rosto do homem estranho.
Então, para choque de Valentina, segurou o dedo de Samir com sua mãozinha pequena. Ele, ele me reconhece? Samir perguntou emocionado. Não sei. Talvez sinta alguma coisa. Eles ficaram assim por um momento. Valentina segurando Davi. Davi segurando o dedo de Samir. Samir olhando para os dois como se não conseguisse acreditar que eles eram reais. Qual é o nome dele? Davi. Davi. Samir testou o nome na língua. Nome bonito. Ele gosta de música.
As palavras saíram sem ela pensar. um impulso de compartilhar algo íntimo sobre o filho, como você. Seus olhos se encontraram por um momento carregado de memórias, noites em que ele ouvia ela cantar olar enquanto trabalhava, dizendo que sua voz o acalmava. Isso foi há muito tempo. Ela desviou o olhar. Não tanto assim.
Dois anos é uma eternidade quando você tem um filho. Davi soltou o dedo de Samir e se virou no colo da mãe, começando a puxar o colar dela, sinal de que estava com fome. Ele está com fome”, Valentina disse automaticamente. “Como você sabe? Porque sou mãe dele há 18 meses. Sei de tudo sobre ele.
A frase saiu mais dura do que ela pretendia, mas teve o efeito desejado. Samir recuou, lembrando que era um estranho na vida do próprio filho. Valentina, eu sei que estraguei tudo. Você não estragou. Você simplesmente não estava aqui, mas estou agora. Por quanto tempo? A pergunta o pegou desprevenido.
Como assim? Por quanto tempo você vai ficar no Brasil desta vez? Até a próxima oportunidade de negócios irresistível. Samir ficou em silêncio. Não tinha resposta para isso. É o que eu pensei. Valentina ajeitou Davi no colo. Preciso ir. Tenho clientes esperando. Espera. Ele segurou o braço dela suavemente. Não podemos conversar de verdade? Sobre o que, Samir? Sobre como você vai entrar na vida dele quando for conveniente e sair quando não for. Não vai ser assim.
Como eu posso saber? Davi escolheu aquele momento para olhar diretamente para Samir e dar um sorriso banguela que iluminou o rostinho dele. Samir sentiu algo se mover no peito, uma mistura de amor instantâneo, orgulho e uma responsabilidade gigantesca que ele nunca tinha sentido antes. Porque agora eu sei que ele existe. Samir disse a voz carregada de emoção.
E não posso fingir que não sei. Valentina viu algo mudar no olhar dele. Era a mesma vulnerabilidade que ela tinha vislumbrado poucas vezes durante os três meses que estiveram juntos. “Samir, você não pode simplesmente decidir que quer ser pai porque descobriu que tenho um filho.
Por que não posso?” Porque ser pai não é uma decisão que você toma uma vez, é uma decisão que você toma todo dia, toda hora. Então me deixa aprender a tomar essa decisão. E se você mudar de ideia, não vou mudar. Todo mundo muda de ideia quando descobre que criança dá trabalho. Davi, cansado de ser ignorado, começou a puxar o cabelo de Valentina e balbuciar má má insistentemente.
Está bem, amor. Já vamos comer. Ela beijou a testa dele e depois olhou para Samir. Preciso mesmo ir. Onde vocês moram? A pergunta a fez hesitar. Por quê? Porque quero ver meu filho de verdade, não aqui no meio de um lobby. Samir, um encontro num lugar público, se você preferir. Só quero conhecê-lo.
Valentina olhou para Davi, que tinha voltado a observar Samir com aquela curiosidade infantil inexplicável. “Três dias”, ela disse finalmente. “me dê três dias para pensar”. “Três dias?” Ele concordou imediatamente. E Samir, não apareça na minha porta sem avisar. Se você quer fazer parte da vida dele, vai ter que aprender a respeitar nossos limites. Entendi.
Ela se virou para ir embora, mas Davi protestou, estendendo os bracinhos na direção de Samir. Não, Davi, vamos embora. Ela segurou firme. Tchau, Davi. Samir acenou gentilmente a voz embargada. Até logo. O bebê acenou de volta. Um gesto descoordenado que fez o coração de Samir quase explodir.

Valentina caminhou para o elevador sem olhar para trás, mas podia sentir os olhos de Samir queimando em suas costas. Só quando as portas se fecharam, ela permitiu que as lágrimas que estava segurando finalmente caíssem. 18 meses cuidando de Davi sozinha, 18 meses dizendo para si mesma que não precisava do pai dele. E em cinco minutos, Samir tinha conseguido abalar todas as suas certezas.
“Merda!”, ela sussurrou, limpando os olhos antes que alguém visse. Lá embaixo, no lobby, Samir continuou parado no mesmo lugar por longos minutos, olhando para o elevador que tinha levado embora a mulher e o filho que ele nem sabia que tinha. 18 meses. Ele havia perdido os primeiros 18 meses da vida do seu filho.
E pela primeira vez em muito tempo, Samir Alhadid não fazia ideia de como consertar o que tinha quebrado, mas sabia uma coisa com certeza absoluta. Não perderia nem mais um dia. Valentina quase derrubou a mamadeira que estava preparando. Olhou para Davi, que brincava no chão da cozinha com seus blocos coloridos, como se ele tivesse realmente falado.
Você nem sabe falar direito ainda, meu amor.” Ela sussurrou, mas o coração disparou. Tinha sido três dias desde o encontro no hotel. Três dias evitando olhar para o celular toda vez que ele tocava. Três dias tentando convencer a si mesma de que poderia simplesmente ignorar Samir até ele desistir e voltar para os Emirados. O interfone tocou. Valentina congelou.
Eram 8 da noite. Ela não esperava ninguém. “Quem é? Sou eu. A voz de Samir através do interfone fez seu estômago se revirar. Davi parou de brincar e olhou na direção do som como se reconhecesse. Você não pode estar aqui. Três dias se passaram. Eu disse que ia ligar, mas não ligou. Valentina encostou a testa na parede fria. Samir, vai embora.
Não até conversarmos. Estou colocando o Davi para dormir. Então desço e espero no carro até ele dormir. Ela olhou pela janela. Um Mercedes preto estava estacionado na frente do prédio. Samir estava encostado nele, o telefone no ouvido, olhando diretamente para a janela dela. “Você me seguiu?”, perguntei para o porteiro do hotel, onde ficava a empresa de tradução que você trabalha.
Eles me deram seu endereço comercial. O resto foi fácil. Isso é invasão de privacidade. Isso é desespero. A sinceridade na voz dele a desarmou. Ela fechou os olhos. 20 minutos. Deixe eu colocar ele para dormir. Obrigado. Valentina desligou o interfone e olhou para Davi, que havia abandonado os blocos e estava tentando se levantar sozinho, apoiado no sofá.
“Papai chegou, né?”, ela murmurou, pegando-o no colo. “Nem sei porque estou chamando ele de papai. Você nem sabe o que isso significa.” Mas quando ela disse a palavra papai, Davi bateu palminhas e sorriu. 23 minutos depois, Valentina abriu a porta. Samir tinha trocado as roupas tradicionais por uma camisa social branca e calça jeans escura.
Parecia mais jovem assim, mais parecido com o homem que ela conhecera. Ele dormiu por enquanto. Ela se afastou para deixá-lo entrar. Mas se ele acordar, você vai embora. Samir entrou no apartamento pequeno, mas aconchegante. Olhos atentos captaram cada detalhe. Fotos de Davi nas paredes, brinquedos espalhados, uma pilha de livros de tradução sobre a mesa, uma vida construída sem ele.
“Você quer café?”, Valentina perguntou, mais por nervosismo do que cortesia. “Por favor”. Ela se moveu pela cozinha americana com movimentos mecânicos. Samir observou suas mãos tremerem ligeiramente enquanto ela media o pó de café. Por que você não me contou? A pergunta saiu baixa, mas ecoou no silêncio do apartamento. Você já tinha ido embora, mas eu deixei meu contato.
Você podia ter mandado uma mensagem, um e-mail. Valentina parou o que estava fazendo. Mandei o quê? Mandei um e-mail. Três semanas depois que você viajou. Ela se virou para encará-lo, dizendo que precisava falar com você sobre algo importante. Samir franziu a testa. Eu nunca recebi.
Recebi uma resposta automática, dizendo que você estava em período sabático e não responderia a e-mails pessoais por tempo indeterminado. O rosto dele desabou. Meu assistente configurou isso. Eu estava fechando negócios importantes. Não podia me distrair. Distrair? Ela repetiu a palavra com amargura. Era exatamente isso. Que eu e o bebê éramos para você. Uma distração. Não
era assim. Não. Então por que quando eu tentei te ligar? O número tinha sido desconectado. Samir passou a mão pelos cabelos. Mudei de número quando mudei de país. Protocolo de segurança. Que conveniente, Valentina. Se eu soubesse o quê? O que você teria feito? Ela cruzou os braços. Largado tudo e voltado correndo, ele ficou em silêncio por um momento longo demais. Foi o que pensei.
Ela voltou a preparar o café. Eu teria ficado. A voz dele saiu tensa. Talvez não imediatamente, mas eu teria ficado. Talvez não é suficiente quando você está grávida e sozinha. Você não estava sozinha. Sua família. Minha família me deu às costas quando engravidei de um homem casado. O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor.
Samir ficou imóvel. Do que você está falando? Valentina se virou lentamente. Não me faça de idiota, Samir. Eu não sou casado. Sua secretária ligou para mim uma semana depois que você viajou. Disse que sua esposa tinha descoberto sobre nós e que eu deveria parar de tentar contato ou haveria consequências legais. O rosto de Samir ficou lívido.
Que secretária? Loira, sutaque meio americano, disse que se chamava Patrícia. Patrícia Arir. Ele fechou os punhos, filha de um dos sócios do meu pai. Ela não era minha secretária, era uma pretendente que minha família queria que eu considerasse. Pretendente? Valentina riu sem humor. Que romanticamente medieval. Ela mentiu.
Eu nunca fui casado, nunca nem namorei ela oficialmente. Como eu posso saber se você está dizendo a verdade? Samir pegou o celular e mostrou para ela. Liga para minha mãe agora. Sua mãe fala português, inglês, e você pode perguntar diretamente se eu já fui casado. Valentina olhou para o telefone, depois para ele. São 2as da manhã nos Emirados. Ela nunca dorme cedo, liga.
Havia uma convicção na voz dele que a fez hesitar. Ou ele era um mentiroso muito convincente, ou não precisa, ela disse finalmente. Mas se você está mentindo, não estou. Do quarto veio um choro baixinho. Davi estava acordando. Merda. Valentina murmurou. Ele deve ter sentido atenção. Posso ir com você? Ela hesitou.
Então fez que sim com a cabeça. O quarto de Davi era pequeno, mas cheio de amor. Bichos de pelúcia, um móble colorido, desenhos infantis nas paredes. Davi estava em pé no berço, segurando nas grades, choramingando baixinho. Oi, meu amor. Valentina se aproximou. A mamãe está aqui. Quando Davi viu Samir atrás dela, parou de chorar. Ficou observando o homem alto com curiosidade.
Posso? Samir gesticulou na direção do berço. Valentina a sentiu nervosamente. Samir se aproximou devagar. Oi, Davi. Lembra de mim? O bebê inclinou a cabeça, estudando o rosto de Samir. Então, para a surpresa de ambos, estendeu os bracinhos. Ele quer que você pegue. Valentina sussurrou chocada. Com movimentos cuidadosos, Samir pegou o filho no colo pela primeira vez.
Davi era mais leve do que ele esperava, mais frágil. O coração dele disparou quando o bebê se aconchegou contra seu peito. “Ele é perfeito”, Samir murmurou. Valentina observou os dois juntos. A semelhança era innegável. O mesmo formato de rosto, os mesmos olhos escuros, até a maneira como Davi apoiou a cabecinha no ombro de Samir, parecia natural demais. Ele geralmente não vai com estranhos? Ela disse baixinho.

Talvez eu não seja um estranho para ele. Davi começou a cochilar novamente no colo de Samir. Este ficou imóvel com medo de acordá-lo. Você pode colocá-lo de volta no berço. Valentina sussurrou. Samir hesitou. Não queria soltar o filho. Não, ainda. Por favor. Ela estendeu os braços. Relutante, ele devolveu Davi para ela.
Valentina o colocou no berço, com movimentos experientes. O bebê se acomodou imediatamente, voltando a dormir. Eles saíram do quarto em silêncio. Ele confia em você. Valentina disse quando estavam de volta na sala. Não sei porquê. Porque sou pai dele. Biologia não faz alguém ser pai. Então o que faz? Ela olhou para ele. Estar presente. Acordar de madrugada quando ele está doente.
Trocar fraldas. Cantar para ele dormir. Ter medo toda vez que ele demora para respirar enquanto dorme. Deixa eu aprender, Samir. Deixe eu ser presente. Deixe eu acordar de madrugada. Deixe eu ter medo. A voz dele estava carregada de emoção. Deixe eu ser pai dele. Valentina sentiu as lágrimas queimarem nos olhos.
E quando seus negócios chamarem novamente, eu abro um escritório aqui e sua família, seus planos de expansão internacional, minha família vai ter que aceitar que meus planos mudaram assim do nada. Não do nada por ele, por ele parou. Por por vocês dois. O café que Valentina tinha esquecido na cozinha começou a fazer ruído. Ela foi desligar o fogo, agradecendo pela distração.
“Quanto tempo você vai ficar no Brasil?”, ela perguntou de costas para ele. “O quanto for necessário?” “Isso não é uma resposta. É a única que eu posso dar agora.” Ela se virou. “Não é suficiente, Samir. Não posso deixar Davi se apegar a você se você vai sumir de novo. E se eu prometesse não sumir? Promessas são fáceis de fazer. Então, o que você quer? Um contrato assinado.
A pergunta saiu sarcástica, mas Valentina considerou seriamente. Talvez. Samira a encarou. Você está falando sério? Proteção legal para o Davi. Garantia de que se você decidir ir embora, vai continuar cumprindo suas responsabilidades financeiras e emocionais.
Você acha que eu abandonaria meu próprio filho? Eu achava que você não era casado, mas sua pretendente me convenceu do contrário por dois anos. O ponto era válido. Samir não tinha resposta para isso. Está bem, ele disse finalmente. Um acordo legal, com todas as garantias que você quiser. Valentina não esperava que ele concordasse tão facilmente. Sério? Sério.
Mas em troca quero tempo regular com ele. Não só visita e supervisionadas. Como assim? Quero buscá-lo para passear. Quero que ele passe um final de semana inteiro comigo. Quero. Ele parou como se estivesse pedindo demais. O quê? Quero que ele me conheça de verdade, que saiba quem sou, de onde venho, qual é minha cultura. Ele é metade árabe, Valentina.
Ela não havia pensado nisso. Nos Emirados, Davi teria primos, avós, uma família inteira que nem sabia de sua existência. Sua família sabe sobre ele? Samir balançou a cabeça. Ainda não. Por quê? Porque primeiro preciso ter certeza de que você vai me deixar fazer parte da vida dele. Do quarto veio um ruído baixinho. Davi se mexendo no sono.
Ele vai acordar de novo daqui a pouco. Valentina disse automaticamente. Sempre acorda duas vezes durante a noite. Posso ficar e ajudar? A pergunta apegou desprevenida. O quê? Posso ficar essa noite? dormir no sofá para quando ele acordar eu estar aqui. Samir, isso é muito rápido. Não é sobre nós. Ele se apressou em esclarecer. É sobre ele.
Quero estar aqui quando meu filho precisar de mim. Valentina olhou para o sofá pequeno, depois para Samir, que era alto demais para caber nele confortavelmente. Uma noite, ela disse finalmente, só para ver como ele reage você. Uma noite? Ele concordou, mas ambos sabiam que uma noite poderia mudar tudo. Eram 3:15 da manhã quando o choro começou.
Valentina acordou automaticamente, mas antes que pudesse se levantar, houveu passos no corredor. Samir já estava de pé. Posso tentar? A voz dele chegou baixa através da porta entreaberta do quarto. Ela se levantou e foi até a porta. Samir estava parado ao lado do berço, ainda vestindo a camisa social amarrotada de ontem. Os cabelos desalinhados.
Ele provavelmente está com fome”, ela sussurrou. “Deixa eu tentar primeiro.” Davi estava em pé no berço, as mãozinhas agarradas nas grades, choramingando. Quando viu Samir, parou por um momento, como se estivesse decidindo se podia confiar naquele homem estranho no meio da madrugada. “Oi, campeão.” Samir estendeu as mãos.
“O que foi? Não consegue dormir?” Para surpresa de Valentina, Davi estendeu os bracinhos. Samir o pegou no colo com mais confiança. Desta vez ele está molhado. Samir disse sentindo a fralda. Tem fraldas ali na cômoda. Valentina observou fascinada enquanto Samir tentava trocar a fralda.
Suas mãos grandes e masculinas lutavam com as fitas adesivas, mas ele era cuidadoso, gentil. Assim ele mostrou o resultado. A fralda estava ligeiramente torta, mas funcional. Não está perfeita, mas serve. Davi, agora seco e mais confortável, se aconchegou contra o peito de Samir. Não chorava mais, apenas observava o rosto do pai com curiosidade. Acho que ele gosta de você, Valentina murmurou surpresa.
Ou está muito cansado para protestar. Não, ele é muito seletivo com pessoas estranhas. Com a babá anterior, demorou semanas para ele parar de chorar toda vez que ela chegava. Samir começou a balançar levemente, instintivamente. Você tinha babá? Tinha até o mês passado. Agora trabalho em casa a maior parte do tempo.
Por causa dele, por causa do dinheiro. Ela foi honesta. Babá é caro. Tradução freelancer nem sempre paga bem. Samir ficou em silêncio, mas ela viu a expressão dele mudar. Culpa, raiva de si mesmo. Valentina, eu não. Ela o interrompeu. Não quero sua pena ou seu dinheiro por pena. Não é pena, é responsabilidade.
Davi começou a cochilar novamente no colo de Samir. Este continuou balançando com medo de parar e acordá-lo. “Você pode colocá-lo de volta agora.” Valentina sussurrou. Mas Samir não se moveu. Ficou ali observando o filho dormir como se estivesse memorizando cada detalhe. Ele sonha? Perguntou baixinho. Acho que sim. Às vezes ele ri dormindo.
Com o que será que ele sonha? Cores, talvez rostos. Você a última palavra saiu sem ela pensar. Samira olhou. Você acha? Ele reagiu a você desde o primeiro momento. Talvez reconheça algo. Finalmente, Samir colocou Davi de volta no berço. O bebê se acomodou sem acordar. Eles saíram do quarto e ficaram na sala escura, apenas iluminada pela luz da rua que entrava pela janela. “Como foi a primeira vez que você o segurou?”, Samir perguntou.
Valentina se sentou no sofá, assustadora. Ele era tão pequeno, tão frágil. Eu tinha medo de quebrá-lo e agora? Agora ainda tenho medo de tudo. De não ser boa o suficiente, de não saber o que fazer, de algo acontecer com ele. Samir se sentou na poltrona, observando-a no escuro. Você é uma mãe incrível.
Como você pode saber? Me viu com ele por algumas horas. Eu vejo como ele te olha, como ele confia em você completamente. Eles ficaram em silêncio por um momento. Ele parece com você quando dorme, Samir disse. Todo mundo diz que ele é sua cara, talvez fisicamente, mas tem alguma coisa sua nele também. A maneira como ele inclina a cabeça quando está pensando. Valentina sorriu no escuro.
Você reparou nisso? Reparo em tudo sobre ele. Samir, ela hesitou. Não posso prometer que vai ser fácil. Eu sei. E se você mudar de ideia? Se decidir que ter um filho é muito complicado, não vou mudar de ideia. Todo mundo diz isso no começo. Valentina, você quer que eu vá embora? A pergunta a pegou desprevenida. Não quer dizer. Não sei. Seja honesta.
Estou com medo. Ela admitiu. Davi já se apegou a você. Se você sumir, não vou sumir. Promete? Prometo. Mesmo que sua família não aprove, Samir ficou em silêncio por tempo demais. É o que eu pensei. Ela se levantou. Você deveria ir. Espera. Ele se levantou também. Minha família vai ter que entender.
Davi é meu filho. E se eles te obrigarem a escolher entre meu filho e os negócios da família? Sim. Não é nenhuma escolha, Valentina. É óbvio qual seria a minha decisão. Para você, talvez. Para eles, pode não ser. Do quarto veio um ruído baixinho, Davi se mexendo novamente. Ele vai acordar de novo? Samir perguntou.
Provavelmente, geralmente acorda mais uma vez antes do amanhecer. Posso ficar até ele acordar? Valentina olhou para ele. Samir parecia genuinamente preocupado, como se não quisesse deixar o filho sozinho. Está bem. Eles voltaram a se sentar. Valentina puxou uma manta e se encolheu no sofá. Samir ficou na poltrona.
Os olhos fixos na porta do quarto. Você sempre quis ter filhos? Ela perguntou baixinho. Nunca pensei sobre isso. Era algo para o futuro distante. E agora? Agora não consigo imaginar não ter ele na minha vida, mesmo que isso complique tudo. Especialmente por isso. Valentina riu baixinho. Você é masoquista? Sou árabe. Gostamos de complicações. Foi a primeira vez que ele fez uma piada desde que se reencontraram. Ela sorriu no escuro.
“Conte uma coisa sobre sua família.” Ela disse: “O que você quer saber? Eles são muito tradicionais? Minha mãe é meu pai é homem de negócios primeiro, árabe segundo. E o que eles vão achar do Davi? Minha mãe vai ficar estasiada. Sempre pergunta quando vou lhe dar netos e do fato de eu não ser árabe. Samia Hesit. E isso pode ser mais complicado.
Mais complicado como eles vão querer que a gente se case? O silêncio que se seguiu foi denso. E você, o que quer? Valentina perguntou finalmente. Quero conhecer meu filho. O resto veremos. Não era a resposta que ela esperava, mas também não sabia que resposta queria ouvir. Às 5:30 da manhã, Davi acordou novamente.
Desta vez estava com fome. Valentina foi esquentar uma mamadeira enquanto Samir ficou com ele no colo. Ele sempre acorda nesse horário? Samir perguntou, balançando Davi, que choramingava baixinho. Religiosamente, é como um relógio. E você dorme bem? Durmo quando posso. Ela voltou com a mamadeira. Quer dar? Samir resitou. Posso? Claro.
Ela lhe ensinou como segurar a mamadeira no ângulo certo. Tavi agarrou o bico com fome, os olhinhos fixos no rosto de Samir enquanto mamava. Ele não para de me olhar. Samir sussurrou fascinado. Está te conhecendo. Eu também estou conhecendo ele. Quando Davi terminou de mamar, Samir o colocou no ombro para arrotar, como tinha visto Valentina fazer. Davi soltou um arroto sonoro que os fez rir. Esse.
Aí vai ser um homem de verdade. Samir brincou. Por favor, não comece com estereótipos machistas tão cedo. Desculpa. Força do hábito. Vai ter que perder esses hábitos se quiser estar na vida dele. Vai me ajudar com isso? A pergunta pegou ela desprevenida. Ajudar como me a ensinar sobre ele, sobre como ser pai, sobre vocês dois.
Valentina observou Samir segurando Davi, que agora brincava com os botões da camisa do pai. Havia algo tão natural na cena que fez seu coração apertar. Uma coisa de cada vez. Ela disse: “Finalmente, por onde começamos?” “Pela manhã. Davi acorda cedo, toma café, brinca um pouco e depois dorme de novo até tarde.
Posso ficar para a rotina da manhã, Samir? Por favor, quero aprender a rotina dele.” Ela olhou para o relógio. Eram quase 6 da manhã. Daqui a pouco Davi estaria completamente acordado. Bim, uma manhã. Ela cedeu só uma. Obrigado. Mas quando Davi deu um sorriso banguela para Samir e bateu palminhas, Valentina soube que uma manhã não seria suficiente para nenhum dos dois.
O telefone de Samir tocou no meio da tarde, interrompendo o momento em que ele tentava ensinar Davi a empilhar blocos coloridos. O bebê estava mais interessado em jogar os blocos no chão e ver Samir pegá-los de volta. Alô, mama. Samir atendeu em árabe, depois mudou para inglês quando viu Valentina olhá-lo curiosa. Sim, estou no Brasil. Valentina fingiu não estar prestando atenção, mas captou fragmentos da conversa.
A voz da mulher do outro lado da linha era aguda, insistente. Não, não fechei o negócio com os brasileiros ainda. Sim, eu sei que é importante. Samir passou a mão pelos cabelos, claramente irritado. Mama, preciso desligar agora. Mas a mulher continuou falando. Samir se levantou e foi para a varanda, fechando a porta atrás de si. Davi, sentindo a ausência do pai, começou a choramingar.
Ele voltou, amor. Valentina o pegou no colo. Papai só foi falar no telefone. A palavra papai saiu naturalmente e ela se assustou com a própria facilidade em aceitá-lo nesse papel. Pela porta de vidro, ela podia ver Samir gesticulando, claramente, em uma discussão acalorada. A conversa durou 20 minutos. Quando ele voltou, parecia exausto.
Problemas? Valentina perguntou. Minha mãe quer que eu volte para Dubai amanhã. Tem uma reunião importante com investidores coreanos. O estômago de Valentina se contraiu. E você vai? Samir olhou para Davi, que imediatamente estendeu os bracinhos na direção dele. Não sei. Como assim não sabe? Ele pegou o filho no colo. É complicado.
Ou você vai ou não vai. Não é complicado, Valentina. Você não entende. Essa reunião pode definir nossa expansão para o mercado asiático. E e representa bilhões em investimento. Então vá. A resposta dele veio rápida demais. Não quero ir. Mas vai. Não disse isso. Não precisa. Está escrito na sua cara.
Davi, sentindo atenção entre os pais, começou a ficar inquieto. Não vou abandonar meu filho por causa de uma reunião, mas vai abandoná-lo por causa de 10 reuniões, ou 100 ou 1000. Sempre vai haver algo mais importante. Isso não é justo. A vida não é justa, Samir, principalmente para crianças que ficam esperando pais que nunca aparecem. O telefone dele tocou novamente.
Desta vez, o nome que apareceu na tela fez Samir hesitar. Baba, papai, preciso atender. Claro que precisa. Desta vez ele não saiu para a varanda. Atendeu ali mesmo falando em árabe. A voz do homem do outro lado era grave, autoritária. Mesmo não entendendo as palavras, Valentina captou o tom. Era uma ordem, não um pedido. A conversa foi breve.
Quando Samir desligou, estava visivelmente abalado. Meu pai quer que eu volte hoje à noite. Então vá, Valentina. Sério? Vá, não posso ficar esperando você decidir se ser pai cabe na sua agenda. Samir colocou Davi no chão e se aproximou dela. Você está sendo injusta. Estou sendo realista. Me dê mais tempo.
Quanto tempo? Um dia, uma semana, até a próxima ligação urgente da sua família do chão. Davi começou a chorar. A discussão dos pais estava assustando-o. Olha só. Valentina pegou o filho no colo. Você já está assustando ele. Não é sobre ele que estamos brigando. É sobre tudo. Sobre você não conseguir escolher entre sua vida antiga e sua vida nova.
Preciso da vida antiga para sustentar a vida nova. Ele não precisa do seu dinheiro. Samir precisa do seu tempo. O telefone tocou mais uma vez. Desta vez era um número diferente. Não atende, Valentina disse, mas ele já estava olhando a tela. É meu sócio. Claro que é. Samir atendeu.
A conversa foi em inglês, mas cheia de termos técnicos sobre investimentos e contratos. Durou 10 minutos. Preciso viajar. Ele disse quando desligou. Mas volto em uma semana. Não precisa voltar por nossa causa. Preciso voltar porque quero. Quer mesmo? Ou é só culpa? Davi havia parado de chorar, mas estava inquieto no colo de Valentina, como se sentisse a energia pesada no ambiente.
“Deixa eu colocar ele para dormir”, ela disse. “Quando eu voltar, você pode ir embora. Valentina não termina assim.” “Não estou terminando nada. Estou sendo prática.” Ela levou Davi para o quarto. O bebê estava confuso, olhando para trás em direção a Samir, com uma expressão que parecia questionadora.
“Papai vai viajar, amor?” Ela sussurrou, colocando-o no berço, mas ele volta. Pelo menos ela esperava que voltasse. Quando ela saiu do quarto, Samir estava parado na sala, visivelmente em conflito. “Uma semana?” Ele repetiu. Prometo. Não faça promessas que não pode cumprir.
Posso cumprir essa? E se houver outra reunião urgente, outro negócio imperdível? Não haverá. Samir, você nem conseguiu ficar um dia inteiro sem receber três ligações de trabalho. Ele não tinha resposta para isso. Vá, ela disse mais gentil agora. Resolva suas coisas. Quando decidir o que realmente quer, me liga. Eu sei o que quero. Não, não sabe. Se soubesse, não estaria em dúvida.
Samir se aproximou da porta do quarto e olhou para Davi, que estava tentando dormir. Posso dar tchau para ele? Pode, mas não o acorde. Ele entrou no quarto silenciosamente. Davi não estava dormindo, apenas descansando, os olhinhos ainda abertos. Quando viu Samir, sorriu. Oi, campeão. Samir sussurrou. Papai vai viajar, mas volta logo. Davi babou em resposta, estendendo a mãozinha na direção do pai.
Cuida da mamãe para mim. Samir tocou gentilmente os dedinhos do filho e cresce devagar. Não quero perder nada. Do corredor. Valentina observou a cena com o coração apertado. Havia algo genuíno na voz de Samir, uma vulnerabilidade que ela raramente via. Quando ele saiu do quarto, ela estava encostada na parede. “Ele vai sentir sua falta”, ela disse.
“E você?” A pergunta a pegou desprevenida. “Samir, vai sentir minha falta?” “Não sei. Era mentira e ambos sabiam. Posso te ligar todos os dias para falar com ele? Com vocês duas. Duas? Você e ele. Valentina não corrigiu o engano. Por um momento, quase pareceu natural ser incluída como uma unidade com Davi. Uma ligação por dia. Ela concordou. Mas se você começar a faltar, não vou faltar. Veremos.
Ele pegou a jaqueta que havia deixado na poltrona na noite anterior. No bolso, o telefone tocou mais uma vez. Não vai atender? Ela perguntou com ironia. Não. Ele desligou o telefone completamente. Já causei confusão suficiente por hoje. Na porta, ele hesitou. Valentina, sobre ontem à noite. Obrigado por me deixar ficar, por me deixar cuidar dele.
Você não precisa agradecer por cuidar do seu próprio filho. Preciso agradecer por você ter me dado essa chance. Eles ficaram se olhando por um momento. Vá logo antes que eles mandem um jato particular te buscar. Ela tentou tornar o momento mais leve. Como você sabe que eles não fariam isso, Fariam? Provavelmente.
Valentina balançou a cabeça. Seu mundo é muito diferente do meu. Não precisa ser. Precisa sim. Eu não encaixo na sua vida, Samir. Você nem tentou encaixar. E não vou tentar. Não vou mudar quem sou para agradar sua família. Ninguém pediu para você mudar. Ainda não. Do quarto veio um ruído. Davi se mexendo no berço.
Vai logo ela sussurrou. Antes que ele acorde e não entenda por você não está aqui. Samir hesitou na porta como se quisesse dizer algo mais. Uma semana, ele repetiu. Uma semana. Quando a porta se fechou, Valentina encostou nela e fechou os olhos. Do quarto, Davi começou a chorar baixinho.
Não um choro de fome ou desconforto, mas um choro confuso, como se estivesse procurando por alguém. “Eu sei, amor”, ela murmurou, indo buscá-lo. “Eu também não entendi porque ele foi embora, mas uma parte dela entendia, e essa era a parte que mais a assustava. Baba, baba, baba.” Davi batia a colherzinha na mesa do cadeirão, repetindo a única palavra que tinha aprendido recentemente.
Era a quarta vez no dia que ele fazia aquele som e cada vez o coração de Valentina se contraía um pouco mais. Não é babá e amor, é mama. Ela tentou corrigir, oferecendo uma colherada de papinha, mas Davi empurrou a comida para longe e continuou. Baba, baba. O telefone tocou. Era Samir, pontual como nos últimos três dias. Oi? A voz dele chegou cansada através da linha. Oi. Como foi a reunião? Longa, complicada.
Meu pai quer expandir para três países asiáticos ao mesmo tempo. Valentina colocou o telefone no viva voz e continuou tentando alimentar Davi. E você quer? Eu quero voltar para casa. A palavra casa pairou no ar. Eles não tinham definido onde era a casa para Samir. Agora Davi está falando baba. Ela mudou de assunto.
Sério? A voz de Samir mudou completamente. Ficou mais animada. Posso ouvir? Davi fala baba. Davi olhou para o telefone e riu, mas não repetiu a palavra. Típico. Samir riu também. Quando a gente quer que eles performem, eles ficam tímidos. Você fala como se fosse pai há anos. Estou lendo sobre desenvolvimento infantil. Isso a surpreendeu.
Está? Comprei três livros e baixei uns aplicativos. Sabia que aos 18 meses ele deveria ter um vocabulário de pelo menos 50 palavras? Samir, você não precisa? Preciso sim. Perdi os primeiros 18 meses. Não vou perder mais nada por ignorância. Valentina ficou em silêncio, tocada pela dedicação dele. Como estão as coisas aí? Ela perguntou tensas.
Minha mãe quer saber por estou tão distraído nas reuniões. E você vai contar? Ainda não sei como. Samir, você tem 35 anos, não precisa da aprovação da sua mãe para ter um filho. Você não conhece minha mãe. Do fundo da linha, ela ouviu uma voz feminina chamando o nome dele em árabe. Preciso ir, ele disse rapidamente. Ligo amanhã no mesmo horário. Claro, Valentina.
Sim, me manda uma foto do Davi hoje. Qualquer coisa. Ele brincando, comendo, dormindo. Mando. Obrigado. A ligação terminou e Valentina ficou olhando para o telefone três dias de conversas diárias e ela estava começando a esperar por elas tanto quanto Davi parecia esperar pelo som da voz do pai. “Baba?” Davi perguntou, olhando para o telefone silencioso. Papai teve que trabalhar, amor.
Naquela noite, depois de colocar Davi para dormir, Valentina estava organizando as fotos no celular quando recebeu uma mensagem de Samir. Obrigado pelas fotos. Ele está maior do que há três dias ou é impressão minha? Ela sorriu e digitou de volta. Impressão sua. Você está com saudade muita de vocês dois. A mensagem a fez pausar. Vocês dois novamente.
Samir, você não precisa me incluir só por educação. Não é educação. Então o que é? A resposta demorou 5 minutos para chegar. Não sei definir ainda, mas sei que sinto sua falta também. Valentina ficou olhando para a mensagem por um longo tempo antes de responder. Isso complica as coisas.
Por quê? Porque quando você voltar para sua vida real, vai ser mais difícil. E se eu não quiser voltar para minha vida real? Todo mundo quer voltar para sua vida real. É por isso que se chama vida real. Talvez minha vida real mudou. Valentina desligou o telefone sem responder. Era fácil falar em mudanças à distância, no meio da madrugada por mensagens.
Mais difícil seria quando ele estivesse de volta aos Emirados, cercado pela família, pelos negócios, por um mundo que não tinha espaço para ela e Davi. No quinto dia, a ligação veio mais tarde. Desculpa o atraso, Samir disse quando ela atendeu. Tivemos uma crise com os investidores coreanos. Tudo bem? Ela percebeu que perguntou com sincera preocupação.
Vai ficar, mas talvez eu precise ficar mais alguns dias. O estômago dela se contraiu. Quanto tempo? Não sei. Uma semana, talvez duas. Samir, eu sei, eu sei o que você vai dizer, mas não é escolha minha, é sempre escolha sua. Não quando são bilhões em investimento. E quanto vale seu filho. O silêncio se estendeu por tanto tempo que ela achou que a ligação tinha caído.
Valentina, não é justo. Você está certo. Não é justo com Davi. Você sabe que não é isso que eu quero. Sei o que você diz que quer. Não sei o que você realmente quer. Quero estar aí com vocês, mas está aí porque preciso estar sempre. Vai precisar estar em algum lugar por causa dos negócios. Não sempre. Quando vai parar, Samir? Quando vai ser suficiente? Ele ficou em silêncio novamente.
Davi disse: “Mama hoje”. Ela mudou de assunto, cansada da discussão. “Sério?” A voz dele se iluminou. Como foi? Ele estava brincando no chão e de repente olhou para mim e disse: “Mama, bem clarinho, mandou foto?” “Não consegui.” Foi muito rápido. Da próxima vez, Samir, pode não haver próxima vez. Crianças não repetem performances para câmeras.
Eu sei. É só que queria ter visto. A tristeza na voz dele era genuína. Valentina sentiu o coração amolecer. Quando você voltar, ele vai falar um monte de coisas novas para você. Se eu voltar. Como assim? Se meu pai está falando em me mandar direto para seu. Depois dessa reunião para ficar lá por três meses supervisionando a implementação.
Valentina sentiu o mundo girar. Três meses. Valentina, eu não quero ir. Mas vai. Não sei. Samir, você tem que decidir. Não pode ficar em cima do muro para sempre. E se eu decidir ficar, vou perder tudo que construir. E se você decidir ir, vai perder tudo que poderia ter. Do quarto Davi começou a chorar, um choro diferente e assustado.
Preciso ir ver o Davi. Está tudo bem? Não sei. Ele raramente chora dessa forma. Ela correu para o quarto. Davi estava de pé no berço. O rostinho vermelho de tanto chorar. O que foi, amor? Ela o pegou no colo. Ele estava quente. Samir, ele está com febre. Febre? Quanto? Valentina pegou o termômetro. 38,5.
Não é muito alta, mas para ele é. Você precisa levá-lo ao médico. É madrugada. Vou dar antitérmico e ver como ele fica. Valentina leva ele ao hospital. Samir, relax. É provavelmente só um resfriado. E se não for, então eu cuido. Como sempre cuidei. O comentário saiu mais ácido do que ela pretendia.
Eu queria estar aí. A voz dele saiu baixa. Eu sei. Davi continuou chorando mesmo no colo de Valentina. Era um choro inconsolável que ela nunca tinha ouvido antes. Samir, preciso desligar. Vou cuidar dele. Me liga se piorar. Não importa a hora. Está bem. Promete? Prometo, Valentina, Sim, eu te amo.
As palavras saíram rápidas, desesperadas, como se ele não pudesse controlá-las. Valentina ficou em choque. Davi continuava chorando em seus braços. Samir, não precisa responder, só precisava falar. A ligação terminou deixando Valentina com um bebê febril nos braços e um coração completamente confuso. Eram 3 da manhã quando Valentina chegou ao pronto socorro pediátrico com Davi no colo.
A febre tinha subido para 39,2 e ele estava inconsolável. “Quanto tempo ele está assim?”, A pediatra perguntou, examinando Davi com cuidado. Umas duas horas. Começou de repente. Ele teve contato com outras crianças recentemente. Alguma mudança na rotina? Valentina resitou. O pai voltou pra vida dele há uma semana. Davi ficou meio confuso. A médica assentiu.
Estresse emocional pode baixar a imunidade em bebês, mas vamos descartar outras causas primeiro. Enquanto esperava os resultados dos exames, Valentina mandou uma mensagem para Samir no hospital. Exames para descartar infecção. Ele está estável. A resposta veio em menos de um minuto. Estou pegando o primeiro voo. Não precisa, é só precaução.
Preciso sim. Não consigo ficar aqui sabendo que ele está mal. Samir, você tem suas reuniões importantes. Elas podem esperar. Por um momento, ela quase acreditou. Então veio a segunda mensagem checando voos. Pode ser que eu só consiga sair amanhã à noite. Claro, mesmo emergência, os negócios tinham prioridade. Duas horas depois, o diagnóstico.
Virose simples, Davi estava melhor. A febre havia baixado com o antitérmico. “Pode levar para casa”, a médica disse. Muito líquido, repouso e paracetamol se a febre voltar. Quando chegaram em casa, eram quase 6 da manhã. Davi adormeceu no colo de Valentina exausto. Ela o colocou no berço e caiu na cama, completamente esgotada. O telefone tocou às 9. Como ele está? A voz de Samir estava carregada de preocupação. Melhor, virus e simples.
Graças a Deus não consegui dormir. Imagino. Valentina sobre o que eu disse ontem. Esquece. Não posso esquecer. Samir, você disse porque estava com medo. Pessoas dizem coisas quando estão com medo. Não é isso. É sim. Está tudo bem. Não está tudo bem. Eu quis dizer. Valentina suspirou. Samir, por favor, estou exausta. Desculpa. Descanse, conversamos depois.
Mas depois não chegou. Quando Samir ligou à tarde, a conversa foi interrompida três vezes por outras ligações. Quando ligou à noite, estava claramente no meio de um jantar de negócios. Ela podia ouvir vozes e música de fundo. “Não consegui o voo”, ele disse rapidamente.
“Reunião de emergência amanhã cedo, mas depois eu pego um voo direto.” “Claro.” Valentina não faz esse tom. “Que tom?” “Ese tom de eu já esperava isso. Porque eu já esperava? Não é justo, Samir. Preciso ir. Davi está acordando. Mas Davi não estava acordando. Ela só não aguentava mais a conversa. No dia seguinte, não houve ligação.
Valentina esperou o dia todo, checando o telefone constantemente. À noite mandou uma mensagem. Davi está bem. Caso esteja preocupado. Não houve resposta. No segundo dia, uma mensagem seca. Desculpa. Reuniões consecutivas. Como ele está? Bem. Posso ligar hoje à noite? Se conseguir. Ele não conseguiu. No terceiro dia, Valentina estava dando banho em Davi quando o interfone tocou. Ela não esperava ninguém.
Quem é dona Valentina? Sou Amira Alhadid, mãe de Samir. Valentina quase derrubou Davi na banheira. O quê? Posso subir? Preciso conversar com a senhora. Eu? Um momento. Valentina tirou da vida água rapidamente, o vestiu e checou o apartamento. Estava uma bagunça. Brinquedos espalhados, louça na pia, roupas no varal.
“Merda, merda, merda”, ela murmurou, tentando arrumar tudo ao mesmo tempo. O interfone tocou novamente. “Pode subir”, ela disse resignada. 2 minutos depois, uma batida educada na porta. Valentina abriu Davi no colo. A Miral Alhadid era uma mulher elegante de cerca de 60 anos, usando um rijab azul marinho discreto e roupas obviamente caras. Seus olhos foram direto para Davi.
Subhanal, ela murmurou em árabe e então mudou para um português perfeitamente pronunciado. Sevá Sev. Ele é idêntico ao Samir quando bebê. Senora Alhadid, Amira, por favor. Ela entrou sem ser convidada, os olhos ainda fixos em Davi. E este é meu neto? Não era uma pergunta.
Como a senhora me encontrou? Quando Samir não retornou nossas ligações por três dias, investigamos. A Mira se aproximou. Posso segurá-lo? Valentina hesitou. Depois passou Davi para ela. O bebê ficou curioso com a mulher diferente, tocando o tecido do rijab. Mas a Mira sorriu pela primeira vez. Que lindo. Qual o nome dele? Davi. Davi. Ela testou o nome. Em árabe seria Daú. Nome de profeta. Eu sei.
A Mira a olhou com interesse. Sabe, árabe? Estudei um pouco na faculdade. Que faculdade? SP. Letrás com especialização em línguas orientais. A expressão de Amira mudou ligeiramente, surpresa misturada com algo que parecia aprovação. “Sente-se, por favor.” Valentina indicou o sofá, sentindo-se estranha por ser educada na própria casa.
A Mira se sentou, ainda segurando Davi, que parecia fascinado por ela. “Samir me contou sobre vocês.” Ela disse: “Finalmente, contou ontem.” Depois de três dias sem falar conosco, ele ligou e explicou por estava tão distraído. E a senhora veio aqui por quê? para conhecer meu neto e para conversar com a mãe dele. Davi começou a ficar inquieto.
A Mira o devolveu para Valentina naturalmente. Ele tem fome, Amira observou. Como sabe? Tive quatro filhos. A gente aprende os sinais. Valentina se levantou para preparar uma mamadeira. Quer café, por favor? Enquanto se movia pela cozinha, Valentina podia sentir os olhos de Amira avaliando tudo. O apartamento, a maneira como ela cuidava de Davi, cada detalhe. Apartamento pequeno, Amira comentou.
Mas é nosso. Não quis dizer como crítica. É aconchegante. Valentina voltou com a mamadeira e o café. Ara observou ela alimentar Davi com atenção. Ele come bem. Come. Samir era difícil para comer quando bebê. Eu tinha que inventar brincadeiras. Davi também é às vezes.
Elas ficaram em silêncio por um momento, observando Davi mamar. Por que não contou para Samir que estava grávida? A Mira perguntou subitamente. Tentei. Ele já havia viajado. Poderia ter insistido. Poderia. Não insisti. Por quê? Valentina olhou para a mulher mais velha. Porque não queria forçar ninguém a ser pai. E agora? Agora ele decidiu que quer ser pai quando não estiver ocupado demais com negócios. A Mira sorriu levemente.
Você não gosta muito da nossa família. Não conheço sua família, mas tenho uma opinião formada. Tenho uma experiência com seu filho. Samir é um bom homem. Tenho certeza que é quando tem tempo. Os homens da nossa família sempre trabalharam muito. É da natureza deles. E as mulheres da sua família sempre aceitaram isso. A Mira a estudou com interesse. Você é diferente do que eu esperava.
O que esperava? Alguém mais submissa, mais necessitada. Lamento desapontá-la. Não me desapontou. me surpreendeu. Davi terminou de mamar e começou a cochilar no colo de Valentina. Ele sempre dorme depois de comer? A Mira perguntou. Sempre. Posso colocá-lo no berço? Valentina hesitou, depois assentiu. A Mira pegou Davi com cuidado e foi para o quarto. Voltou alguns minutos depois. Quarto bonito, cheio de amor.
Obrigada, Valentina. Posso ser direta? Claro, Samir está apaixonado por você. A declaração apegou completamente desprevenida. Ele o quê? Está apaixonado. Talvez ele mesmo não saiba ainda, mas uma mãe percebe essas coisas. Senhora Amira. Amira. Amira Samir e eu não temos esse tipo de relacionamento. Que tipo de relacionamento tem? Somos coparentes. Coparentes que se amam.
Ninguém falou em amor, não precisam falar. Está escrito na cara de vocês dois. Valentina ficou sem resposta. O que você sente por ele? A Mira perguntou gentilmente. Isso é muito pessoal. É, mas está afetando meu filho e meu neto. Valentina suspirou. Não sei o que sinto. Está tudo muito confuso.
Por que confuso? Porque vivemos em mundos diferentes. Porque ele tem responsabilidades que não incluem a gente. Porque não sei se posso confiar que ele vai ficar. E se ele ficasse? Se escolhesse vocês. Não pode escolher. Tem família, negócios, uma vida inteira construída longe daqui. E se pudesse reconstruir a vida aqui? Antes que Valentina pudesse responder, o telefone tocou. Era Samir. Alô.
Ela atendeu hesitante. Valentina, minha mãe desapareceu de Dubai. Ninguém sabe onde ela está. A voz dele estava em pânico. Você não viu nenhuma mulher árabe estranha por aí, viu? Valentina olhou para Amira, que sorria divertida. Na verdade, Samir, sua mãe está aqui na minha sala tomando café e conhecendo o neto.
O silêncio do outro lado da linha foi ensurdecedor. Minha mãe está aí há quanto tempo? A voz de Samir estava tensa. Valentina olhou para a Mira, que gesticulou indicando duas horas, umas duas horas. E vocês conversaram sobre o quê? Sobre Davi, sobre você, sobre a vida. Valentina me passa minha mãe. Samir, agora ela estendeu o telefone para a Mira, que o pegou com uma expressão divertida. Meu filho. Ela falou em árabe, depois mudou para português. Sim, estou bem.
Não, não fui sequestrada. Vim conhecer meu neto. Valentina podia ouvir a voz alterada de Samir do outro lado da linha, mas não conseguia entender as palavras. Você precisa se acalmar. Amira disse pacientemente: “Estou conversando com Valentina sobre o futuro de vocês. Mais gritos em árabe.
Samir Alhadid, você está falando comigo como se eu fosse uma criança. Tenho 62 anos e posso viajar para onde quiser.” A voz dela ficou firme. Agora, se você quer conversar como adulto civilizado, ótimo. Se quer gritar, desligo. O tom do outro lado mudou imediatamente. Melhor. A Mira sorriu para Valentina. Seu neto é lindo, inteligente e muito parecido com você. Pausa. Sim, ela é linda também e muito mais forte do que você me fez acreditar.
Valentina corou, fingindo não ouvir. Quando você volta? A Mira perguntou. Longa pausa. Entendo. O tom de Amira mudou, ficou mais sério e ela sabe disso. Valentina franziu a testa. Saber o quê? Acho que você precisa contar para ela pessoalmente. A Mira olhou diretamente para Valentina. Não, não vou contar por você. É sua responsabilidade.
Mais alguns minutos de conversa em árabe e depois Amira desligou. O que que eu preciso saber? Valentina perguntou imediatamente. A Mira suspirou. Samir vai ficar mais tempo nos emirados do que planejava. Quanto tempo? Dois meses, talvez três. O estômago de Valentina despencou. Por quê? Os negócios na Coreia do Sul deram errado. Houve problemas com os contratos, questões legais.
Ele precisa resolver pessoalmente. Claro que precisa, Valentina. Ele não quer ir, mas vai. Ele não tem escolha. Todo mundo tem escolha. A Mira se levantou e se aproximou dela. Posso lhe contar uma história? Valentina a sentiu relutantemente. Quando Samir tinha 5 anos, o pai dele perdeu tudo em um investimento ruim. Ficamos sem nada.
Passamos dois anos morando com parentes, dependendo da caridade de outros. A Mira se sentou ao lado de Valentina. Samir viu o pai chorar, viu a humilhação, o desespero. Por isso ele trabalha tanto, por isso ele tem tanto medo de falhar. Para ele não é só dinheiro, é segurança, é dignidade, é nunca mais passar por aquilo. E o que isso tem a ver comigo e com Davi? Tudo.
Ele quer garantir que vocês nunca passem necessidade, que Davi tenha tudo que ele não teve. Davi não precisa de tudo, precisa do Pai. Eu sei disso. Você sabe disso, mas Samir ainda está aprendendo. Do quarto veio o ruído de Davi acordando. Vou buscá-lo. Valentina se levantou. Quando voltou com Davi no colo, Amira estava olhando as fotos na parede, todas de Davi em diferentes fases dos seus primeiros 18 meses.
Ele perdeu muita coisa, Amira disse suavemente, por escolha própria. Por ignorância, ele não sabia. E agora sabe, mas ainda escolhe ficar longe. A Mira se virou para encará-la. Se ele ficasse, você daria uma chance para vocês dois? Como assim? Como casal? Como família de verdade. Valentina hesitou. Não sei por que não. Porque não quero ser um projeto de caridade.
Não quero que ele fique por obrigação. E se ele ficasse por amor? Amor não é suficiente. O que é suficiente? Comprometimento real. presença. Alguém que escolhe estar aqui mesmo quando é difícil. Ele pode aprender isso. Pode. Mas enquanto isso, Davi cresce sem pai.
Davi, como se entendesse que falavam dele, olhou para a Mira e sorriu. Ele tem um sorriso lindo. A Mira disse. Tem. Posso visitá-lo de vez em quando? A pergunta surpreendeu Valentina. Você quer? Claro que quero. É meu neto. E se Samir não gostar? Samir vai ter que se acostumar. Família não é só sobre homens e negócios. Elas ficaram brincando com Davi por mais uma hora.
A Mira mostrou algumas palavras em árabe. Cantou uma música de Ninar que fez Davi rir. Contou histórias da infância de Samir. Ele sempre foi teimoso. Ela disse quando Davi conseguiu empilhar três blocos. Quando decidia alguma coisa, não mudava de ideia por nada. Isso é bom ou ruim, depende do que ele decide.
Quando a Mira se preparou para sair, ela abraçou Valentina. Um gesto surpreendente e caloroso. Obrigada por cuidar tão bem do meu neto. Ele é meu filho, não precisa agradecer. Preciso sim. E Valentina? Sim. Não desista do Samir ainda. Ele está aprendendo a ser homem de família. E se ele não conseguir aprender, então pelo menos você saberá que tentou.
Depois que Amira saiu, Valentina ficou confusa e emocionalmente exausta. A mãe de Samir não era nada do que ela esperava, nem controladora, nem fria, nem preconceituosa. Era apenas uma avó que queria conhecer o neto e uma mãe preocupada com a felicidade do filho. Naquela noite, Samir ligou cedo. Como foi com minha mãe, é boa. Ela é diferente do que eu imaginava.
Ela gostou de vocês? Acho que sim. E você gostou dela? Gostei. Pausa desconfortável. Valentina sobre eu ficar mais tempo aqui. Sua mãe me explicou e você entende? Entendo que você não tem escolha. Não tenho mesmo. Samir, posso te perguntar uma coisa? Claro.
Quando vai parar? Quando você vai ter dinheiro suficiente, segurança suficiente, sucesso suficiente? Não sei. Essa é uma resposta honesta. é a única que tenho. Então, talvez seja melhor pararmos de fingir. Fingir o quê? Que isso vai funcionar? Que você vai conseguir ser pai à distância? Valentina, não faça isso. Fazer o quê? Ser realista? Desistir. Não estou desistindo. Estou aceitando a realidade.
A realidade é que eu te amo e amo meu filho. A realidade é que amor não basta quando você está a 12.000 km de distância. resolvendo problemas que nunca vão acabar. Vão acabar sim. Quando Samir, quando Davi tiver 5 anos, 10, 18, silêncio. Eu vou esperar você voltar. Ela disse finalmente.
Mas quando você voltar, vamos conversar sobre como isso vai funcionar de verdade, sem promessas vazias, sem talvez, sem quando as coisas se resolverem. E se eu não conseguir te dar as garantias que você quer, então vamos ser apenas coparentes civilizadamente. E nós o que a gente tem? Não sei se temos alguma coisa, Samir. Não sei se tivemos algum dia. A ligação terminou em silêncio pesado.
Valentina colocou o telefone na mesinha e foi checar Davi, que dormia tranquilamente. Papai está longe de novo? Ela sussurrou. Mas a gente vai ficar bem, né, amor? A gente sempre fica bem sozinhos, mas pela primeira vez desde que Davi nasceu, ela não tinha certeza se isso era verdade.
Três semanas depois, Valentina estava no parque com Davi quando seu telefone tocou. Era um número desconhecido. Alô, dona Valentina. Aqui é Fernando do aeroporto de Guarulhos. Tem um senhor aqui que diz ser pai do seu filho. Ele está pedindo para eu ligar porque o celular dele morreu. O coração de Valentina disparou. que senhor Samirá alguma coisa árabe chegou agora num voo de Dubai ele não deveria estar aqui ainda.
Bom, ele está e pediu para eu dizer que vem direto daí, mas queria avisar para a senhora não sair de casa. Valentina desligou confusa. Samir não tinha ligado há cinco dias. A última conversa tinha sido tensa. Ela cobrando definições, ele pedindo mais tempo. Davi, vamos para casa. Ela pegou o menino no colo. Não brincar mais. Davi protestou em seu português enrolado. Vamos brincar em casa. Talvez tenha uma surpresa esperando.
Uma hora depois, o interfone tocou. Sou eu. A voz de Samir estava diferente, mais grave, cansada, mais determinada. Sobe. Quando ela abriu a porta, levou um susto. Samir estava mais magro, com olheiras profundas, a barba por fazer. carregava uma mala pequena e parecia ter dormido com a roupa do corpo. “Oi”, ele disse simplesmente. “Você parece péssimo.
Obrigado. Também senti sua falta”. Davi, que estava brincando no chão, olhou para cima e levou alguns segundos para reconhecer o pai. Quando reconheceu, levantou os bracinhos. “Baba!” Samir deixou a mala cair e pegou o filho, que havia crescido visivelmente nas três semanas de ausência. Oi, campeão.
Nossa, como você cresceu. Davi começou a tagarelar animado, mostrando um brinquedo novo para o pai. Ele fala mais. Samir observou. Muito mais. Aprendeu água, mais e não, que é a palavra favorita dele agora. Não. Davi repetiu como se quisesse demonstrar. Samir riu. O primeiro som genuinamente alegre que fez em semanas.
Por que você voltou mais cedo? Valentina perguntou. Porque resolvi tudo. Como assim resolveu tudo? Vendi minha parte da empresa para meus irmãos. Valentina ficou em choque. Você fez o quê? Vendi por um preço justo, mas vendi. Samir, você ficou louco? Provavelmente. Ele se sentou no chão com Davi. Mas também fiquei livre.
Livre para quê? Para recomeçar aqui. Para construir alguma coisa nova. Samir, deixa eu terminar. Ele olhou para ela enquanto Davi brincava com os botões da sua camisa. Passei as últimas três semanas em reuniões intermináveis, tentando salvar negócios que não me importavam mais. E sabe quando percebi que não importavam? Quando quando Davi ficou doente e eu não estava aqui.
Quando minha mãe teve que vir conhecer o neto porque eu não sabia quando voltaria. Quando você me disse que amor não bastava se eu estivesse sempre longe? Valentina se sentou na poltrona. processando. E o que você vai fazer aqui? Não tem negócios, não conhece o mercado brasileiro. Vou aprender. Tenho contatos, capital para investir e tenho uma motivação que nunca tive antes.
Que motivação? Vocês dois. Davi, entediado com a conversa séria dos adultos, se levantou e foi buscar um livro de figuras. Samir, você não pode fazer uma mudança dessas por impulso. Não foi impulso. Foram três semanas pensando, planejando, pesquisando oportunidades e sua família. O que eles acharam? Meu pai ficou furioso.
Disse que eu estava jogando fora a vida inteira por causa de uma mulher. e sua mãe. Minha mãe disse que estava orgulhosa de mim por finalmente entender o que era realmente importante. Davi voltou com o livro e subiu no colo de Samir, pedindo para ele ler. Que livro é esse? Samir perguntou de animais. Ele adora. Samir abriu o livro. Olha Davi, um leão.
Leão? Davi repetiu animado. E esse aqui é um cavalo? Davi gritou antes que Samir terminasse. Ele sabe todos os animais, Valentina disse. E conta até cinco. Mostra pro papai Davi. Davi levantou a mãozinha e começou. 1 2 3 4 5. Muito bem. Samiro o aplaudiu. Observando os dois juntos. Valentina sentiu algo se mover no peito.
Havia uma naturalidade ali que não existia três semanas atrás. Samir, mesmo que você fique no Brasil, isso não resolve nossos problemas. Que problemas? Nós, o que somos, o que queremos ser. Samir olhou para ela por cima da cabeça de Davi. Eu sei o que eu quero. O quê? Uma família de verdade com você, comigo e com ele. Samir, eu te amo, Valentina.
Não como impulso, não por causa do Davi, mas porque você é exatamente o que eu não sabia que estava procurando. E como você sabe que não vai mudar de ideia daqui a seis meses? Porque passei três semanas tentando me convencer de que podia viver sem vocês e não consegui. Davi, cansado de ser ignorado, bateu no braço de Samir.
Brincar? Quer brincar comigo? Samir perguntou. Quer? Então vamos brincar. Valentina observou Samir sentar no chão e empilhar blocos com Davi. 20 minutos de atenção total, sem celular, sem pressa, sem ansiedade. Ele mudou. Ela pensou. Baba, olha, Davi mostrou uma torre de cinco blocos. Uau, você fez sozinho. Sozinho? A torre caiu.
E, em vez de ficar chateado, Davi riu e começou a construir outra. Ele está maior, Samir comentou. Três semanas fazem diferença. Muita diferença. Não quero perder mais nada. Esses seus negócios aqui não derem certo, vão dar. E se não derem, eu tento outra coisa. Assim simples. Assim simples. Davi começou a bocejar. Hora do cochilo da tarde. Vou colocá-lo para dormir. Valentina se levantou.
Posso ir junto? Pode. No quarto, Davi se aconchegou no berço facilmente. Estava acostumado com a rotina. Ele sempre dorme bem? Samir perguntou baixo. Sempre. É uma criança tranquila, como a mãe. Eu não sou tranquila. É sim. Mesmo quando está brava, você fica tranquila por fora. Eles saíram do quarto e ficaram na sala. Valentina, posso te pedir uma coisa? O quê? Uma chance real, não só como pais do Davi, mas como nós, Samir, se meses.
Me dê seis meses para provar que mudei, que posso ser o homem que vocês merecem. E se não der certo, aí você me manda embora e eu aceito. Mas continuo sendo pai do Davi. Valentina ficou em silêncio por um longo tempo. Seis meses, ela disse finalmente, mas com condições. Quais? Primeiro, nada de pressa. Não vamos morar juntos.
Não vamos fingir que somos uma família perfeita só porque você voltou. Concordo. Segundo, você constrói sua vida aqui independente de mim. Não quero ser responsável por suas escolhas profissionais. Concordo. Terceiro, se em algum momento você sentir saudade da sua vida antiga, me fala: “Não som, não fica sofrendo em silêncio.” Concordo.
E quarto Davi vem primeiro. Sempre. Sempre. Eles se olharam. Então, temos um acordo. Samir estendeu a mão. Temos um acordo. Ela apertou a mão dele, mas em vez de soltar, Samir puxou ela para mais perto. “Posso te beijar, Samir? como parte do acordo de dar uma chance para nós. Isso não estava nas condições. Deveria estar. Ela riu apesar de si mesma. Um beijo.
Só um. Só um. O beijo foi suave, hesitante no começo, depois mais firme. Quando se separaram, ambos estavam respirando diferente. “Iso foi mais do que um beijo”, Valentina murmurou. Foi um beijo de seis meses. Do quarto veio um ruído baixinho, Davi se mexendo no sono. Ele vai acordar daqui a pouco. Valentina disse.
Posso ficar para quando ele acordar? Pode, mas você vai dormir onde? Hotel. Samir, você acabou de vender sua empresa. Não precisa gastar dinheiro à toa. Pode ficar no sofá. Tem certeza? Por hoje. Amanhã você procura um apartamento por aqui perto. Por aqui perto? perto do seu filho. Samir sorriu. É da mãe do meu filho e da mãe do seu filho. Naquela noite, depois que Davi acordou do cochilo, os três jantaram juntos pela primeira vez.
Davi estava eufórico com a presença do pai, mostrando todos os seus brinquedos, suas palavras novas, suas habilidades. Baba, olha, ele conseguiu comer uma colherada sozinho sem derrubar. Que máximo? Você é um menino grande. Grande. Na hora do banho, Samir ajudou. Na hora de dormir, ele leu uma história em árabe e português. Ele entende árabe? Valentina perguntou. Ainda não. Mas vai entender.
Quero que ele conheça as duas culturas. Vai ser confuso para ele. Vai ser rico para ele. Quando Davi finalmente dormiu, eles se sentaram na sala. Como foi sua mãe comigo? Valentina perguntou. Ela te adorou, disse que você é perfeita para mim e você acreditou. Eu já sabia, Samir, você nem me conhece direito.
Conheço o suficiente para saber que quero conhecer tudo. E se você não gostar do que descobrir? Impossível. Nada é impossível. Isso é, eles conversaram até tarde sobre planos, medos e expectativas, sobre como seria dividir a criação de Davi, sobre tipo de negócio Samir poderia montar no Brasil, sobre se eles realmente tinham uma chance juntos.
“Posso te perguntar uma coisa?” Samir disse quando já passava da meia-noite. “Pode.” “Você consegue me imaginar ficando aqui por anos, mesmo quando a novidade passar?” A pergunta pegou Valentina desprevenida pela honestidade. Não sei ela admitiu, mas posso te imaginar tentando. É suficiente por enquanto. Dui. Quarto. Veio um choro baixinho.
Davi estava com pesadelo. Vou lá. Valentina se levantou. Vamos juntos. Eles foram até o quarto. Davi estava acordado, confuso e assustado. Oi, amor. Foi só um sonho ruim. Valentina o pegou no colo. Babá. Davi procurou pelo pai no escuro. Estou aqui, campeão. Samir se aproximou. Davi estendeu um braço para cada um dos pais, querendo os dois ao mesmo tempo. Ele quer que a gente fique junto.
Samir observou. Junto, Valentina corrigiu. Junto, Davi repetiu satisfeito. Os três ficaram ali no quarto escuro. Davi no meio, segurando um dos pais com cada mão. Acho que ele já decidiu o que quer. Samir sussurrou. Crianças sempre sabem antes dos adultos. Quando conseguiram soltar as mãozinhas de Davi e colocá-lo de volta no berço, eles voltaram para a sala. Samir, eu ainda estou com medo.
Eu também. A admissão dele a surpreendeu. Do quê? De não conseguir. De descobrir que sou bom em ganhar dinheiro, mas péssimo em ser pai no dia a dia. De perceber que merece alguém melhor. E se a gente falhar, aí a gente tenta de novo. E se falhar de novo, aí pelo menos falhamos juntos. Valentina riu, apesar dos medos. Essa é sua estratégia.
Falhar juntos é melhor do que ter medo sozinho. Ele se aproximou dela no sofá. Valentina, eu não posso te prometer que vai ser perfeito. Posso prometer que vou tentar todos os dias e eu posso prometer que vou tentar confiar todos os dias. Isso é suficiente para começar. É suficiente para começar. Eles se beijaram.
Não o beijo de filme romântico, mas o beijo de duas pessoas que decidem enfrentar a incerteza. juntas. E agora? Ela perguntou quando se separaram. Agora dormimos. Amanhã você me mostra onde tem apartamentos para alugar por aqui. E depois de amanhã. Depois de amanhã, vemos no que deu ontem. Um dia de cada vez.
Um dia de cada vez. Do quarto veio um ruído baixinho. Davi rindo no sono. Pelo menos um de nós está tranquilo com o futuro. Valentina comentou. Ele sabe que vai ficar tudo bem. Como você pode ter certeza? Porque ele tem dois pais que o amam e que estão aprendendo a se amar. Estamos mesmo? Estamos devagar com medo, tropeçando às vezes, mas estamos. Samir se levantou e pegou um travesseiro e cobertor do armário.
Sofá confortável? Ele perguntou testando as almofadas. Não muito. Você vai reclamar de dor nas costas amanhã. Reclamações fazem parte do pacote de ser família? Definitivamente. Então, estou pronto. Ela riu. Boa noite, Samir. Boa noite, Valentina. E Samir? Sim. Obrigada por voltar. Obrigado por me deixar tentar. Quando Valentina foi para o quarto, parou na porta e olhou para trás.
Samir estava se acomodando no sofá pequeno demais, claramente desconfortável, mas sorrindo. Talvez não fosse o final de conto de fadas. Talvez fosse apenas o começo de algo real, complicado e incerto, mas pela primeira vez isso parecia suficiente. Seis meses depois, o apartamento de Samir ficava a três quadras do de Valentina. Não era longe, mas também não era próximo demais.
A distância certa para dois pessoas aprendendo a ser família, sem pressa, Baba atrasou de novo. Davi observou, olhando pela janela. Eram 6:15 da tarde. Samir sempre chegava às 6 para o jantar. Deve estar preso no trânsito. Valentina disse, mas checou o celular pela terceira vez. Aos 6:20 ela ligou. Oi. Desculpa.
A voz de Samir estava estressada. Reunião que se estendeu. Problemas com um cliente. Chego em 20 minutos. Tudo bem. Vai ficar. É só ir complicado. Quer que eu esquente a comida depois? Por favor. Quando ele chegou, parecia cansado. “Dia difícil?”, Valentina perguntou: “Difícil, mas nada que uma cerveja e um abraço do meu filho não resolvam.” Baba Davi correu para ele. Oi, campeão.
Como foi seu dia? Enquanto Davi contava sobre as aventuras no parquinho, Valentina observou Samir, seis meses no Brasil e ele ainda estava se adaptando. Alguns dias eram mais difíceis que outros. “Você está bem?”, Ela perguntou quando Davi foi brincar. Estou só. Às vezes sinto falta da eficiência de Dubai. Aqui tudo demora mais.
Arrependido? Não, definitivamente não. Só ajustando expectativas. Durante o jantar, o celular de Samir tocou três vezes. Na terceira vez, Valentina fez cara feia. Desculpa, é o cliente problema. Atende? Não, estou jantando com minha família. A palavra família ainda soava nova, mas menos estranha a cada dia. Depois que Davi dormiu, eles se sentaram na varanda pequena do apartamento dela.
“Como estão os negócios?”, ela perguntou: “Crescendo devagar, mas crescendo. E como você está lidando com crescer devagar?” Ele riu mal, mais aprendendo. “Samir, você sabe que não precisa provar nada para mim, né? Preciso provar para mim mesmo.” O quê? que posso ser bem-sucedido sem sacrificar vocês. E se não conseguir, aí escolho vocês.
E se isso te deixar infeliz? Valentina, não me deixar infeliz seria perder vocês. Ela pegou a mão dele. Estamos bem. Não perfeitos, mas bem. Eu sei. É só que algumas noites fico acordado pensando se não cometi o maior erro da minha vida. E outras noites, outras noites fico acordado pensando se não tomei a melhor decisão da minha vida.
E hoje, que tipo de noite é hoje? Samir olhou pela janela, onde podia ver o quarto de Davi iluminado pelo abajur. Hoje é uma noite de decisão certa. Tem certeza? Pergunta para mim amanhã de manhã. Ela riu. Um dia de cada vez. Um dia de cada vez. Do quarto veio um ruído baixinho, Davi falando, dormindo, palavras em português misturadas com árabe, criando sua própria língua de criança brasileira árabe. Ele está ficando bilíngue.
Samir observou. Está ficando nosso. Nosso, seu, meu, nosso. Gosto de nosso. Eu também, Valentina. Hum. Você está feliz na maioria dos dias. E nos outros dias. Nos outros dias eu lembro que a felicidade não é um estado permanente, é uma escolha diária. E hoje você escolheu ser feliz, hoje eu escolhi ficar. É
a mesma coisa para mim. É. Samir beijou a testa dela. Obrigado por escolher ficar. Obrigado por me dar motivos para escolher. Do quarto de Davi, silêncio completo. O tipo de silêncio que significa criança dormindo profundamente, sonhando com coisas boas. Ele está bem, Valentina murmurou. Nós estamos bem, Samir concordou. Por enquanto, por enquanto é suficiente.
E naquela noite, pela primeira vez em muito tempo, foi mesmo. Suas interações são muito importantes para nós. Deixe seu nome nos comentários e podemos incluí-lo em uma de nossas histórias com uma saudação feita especialmente para você. M.