ferida ainda queimava quando ela acordou no chão de terra batida. Maria tentou abrir os olhos, mas só encontrou escuridão, uma escuridão absoluta, permanente, que nunca mais a abandonaria. As mãos trêmulas tocaram o próprio rosto e sentiram a pele deformada, os tecidos destruídos onde antes havia olhos.

O cheiro acre de carne queimada ainda impregnava o ar sufocante daquela cenzala em Manaus. Ela não conseguia lembrar direito como tinha chegado até ali. A memória era fragmentada, a fúria no rosto do Senr. Rodrigo Tavares, o grito dele ecoando pela casa grande, depois suas mãos brutais segurando sua cabeça.
Então o ferro em brasa, o mesmo ferro que ele usava para marcar o gado, agora pressionado contra seus olhos, um de cada vez, enquanto outros escravos eram forçados a segurar seus braços. O motivo? Maria tinha olhado diretamente para a esposa dele durante o jantar. Apenas isso. Um olhar que durou segundos. Talvez nem isso, mas para Rodrigo Tavares, senhor de terras e de vidas na Manaus de 1819, aquilo foi uma afronta intolerável.
Escrava não olha nos olhos de gente branca. Ele havia gritado antes de ordenar que aquecessem o ferro. Maria não sabia ainda, naquele amanhecer de dor insuportável, que sua tragédia se transformaria na ruína de Rodrigo Tavares. Ela não podia imaginar que os mesmos olhos que ele destruiu voltariam para assombrá-lo de uma forma que nenhuma vingança humana poderia conceber.
Porque em Manaus, naqueles tempos, existiam forças antigas, forças que os colonizadores portugueses fingiam não ver, mas que jamais deixaram de observar. E algumas injustiças eram grandes demais para serem esquecidas, mesmo pelo mundo invisível. Esta é a história de como um homem tentou apagar a luz dos olhos de uma mulher e acabou mergulhado em trevas eternas.
Manaus em 1819 era ainda uma vila modesta às margens do rio negro, bem diferente da metrópole que conhecemos hoje. As construções eram simples, as ruas de terra desapareciam na lama durante as chuvas e a floresta amazônica pressionava contra os limites da civilização como uma força viva e vigilante.
Ali a escravidão funcionava com a brutalidade característica do período colonial. longe dos olhos da coroa portuguesa e das poucas leis que, ao menos no papel, tentavam limitar os excessos dos senhores. Rodrigo Tavares era um desses senhores, português de nascimento. Ele havia chegado ao Brasil na virada do século com ambições de enriquecimento rápido.
O comércio de especiarias da floresta, castanhas, óhos, resinas e o cultivo de pequenas lavouras lhe renderam fortuna suficiente para comprar terras e pessoas. Sua fazenda, localizada nos arredores da vila abrigava cerca de 30 pessoas escravizadas, a maioria indígenas capturados em expedições rio acima e alguns africanos trazidos de Belém. Maria era uma dessas almas. Tinha por volta de 20 anos.
Havia sido comprada de um traficante que operava no Pará. Trabalhava na Casagre, responsável pela limpeza e pelo auxílio na cozinha, pelos relatos que chegariam mais tarde ao ouvidor da capitania. Ela era descrita como silenciosa, obediente, alguém que jamais havia causado problemas.
Mas antes de mergulharmos nessa história que mistura horror humano e justiça sobrenatural, me conta aqui nos comentários de que cidade ou estado você está assistindo esse vídeo. Quero saber até onde essas histórias esquecidas do Brasil estão chegando. E pode deixar também se você já conhecia alguma coisa sobre Manaus no período colonial. Agora sim, vamos à história completa.
Tudo começou numa noite abafada de março. A família Tavares recebia visitas. Um comerciante de Belém e sua esposa, pessoas importantes que Rodrigo fazia questão de impressionar. A mesa estava posta com o que havia de melhor: peixes do rio, farofa temperada, frutas tropicais e vinho português que custava uma fortuna naquelas paragens.
Maria servia a mesa junto com outra escrava. Ela ia e voltava da cozinha, sempre de cabeça baixa, como lhe haviam ensinado desde o primeiro dia. Mas em determinado momento, quando colocava uma travessa diante de dona Beatriz, esposa de Rodrigo, aconteceu o impensável. Dona Beatriz fez um comentário qualquer.
Ninguém lembra exatamente o que, talvez uma reclamação sobre a temperatura da comida. E Maria instintivamente ergueu o rosto. Seus olhos encontraram os olhos da senhora por uma fração de segundo. Não havia desafio ali, não havia insolência. Era apenas o gesto humano e automático de olhar para quem está falando. Mas Rodrigo viu.
O silêncio que se instalou foi brutal. Os convidados notaram a mudança imediata na expressão do anfitrião. Seu rosto, já avermelhado pelo vinho, ficou roxo. As veias do pescoço saltaram. Ele levantou-se da cadeira com tanta força que ela tombou para trás, batendo no chão de madeira com um estrondo. “Como ousa!”, ele gritou, apontando para Maria.
“Como ousa olhar para minha esposa, sua peste!” Abaixou a cabeça imediatamente, o corpo inteiro tremendo. Ela sabia o que significava despertar a ira do Senhor. Já tinha visto outros escravos sendo punidos por menos. balbuciou um pedido de perdão, mas Rodrigo já não ouvia mais nada.
Ele deu a volta na mesa, agarrou Maria pelos cabelos e a arrastou para fora da sala de jantar. Os convidados ficaram em silêncio constrangido. Dona Beatriz baixou os olhos para o prato, as mãos tremendo levemente. Ela conhecia o temperamento do marido. Sabia que tentar intervir só pioraria as coisas. Do lado de fora, Rodrigo gritava ordens.
Outros escravos foram acordados, arrancados de suas esteiras. Acendam o fogo. Quero o ferro em brasa. Agora o que aconteceu nas horas seguintes foi testemunhado por pelo menos uma dúzia de pessoas, todas escravizadas, todas aterrorizadas demais para fazer qualquer coisa além de obedecer.
Joaquim, um escravizado que trabalhava na lavoura, foi forçado a manter o ferro no fogo até que ficasse incandescente. O mesmo ferro que usavam para marcar o gado, um círculo de metal grosso preso a um cabo de madeira. Dois homens foram obrigados a segurar Maria no chão, cada um prendendo um de seus braços. Ela implorava, chorava, gritava por misericórdia. Rodrigo se ajoelhou ao lado dela, segurando sua cabeça com força.
Você quer olhar onde não deve? Então não vai olhar mais para nada. O primeiro toque do ferro incandescente no olho direito de Maria produziu um som que nenhuma das testemunhas jamais conseguiria esquecer. Um chiado agudo como carne no fogo, misturado com um grito que parecia vir de algum lugar além do humano. O cheiro era insuportável. cabelo chamuscado, carne queimada, algo químico e nauseiante.
Maria se debatia com força sobre humana, mas os homens que asseguravam eram mais fortes. Rodrigo manteve o ferro pressionado por segundos que pareceram eternos. Quando finalmente afastou, o globo ocular direito de Maria era uma massa disforme, destruída. Ela ainda estava gritando quando ele fez o mesmo com o olho esquerdo.
Depois, Rodrigo simplesmente se levantou, jogou o ferro no chão e voltou para dentro da casa grande. Lavou as mãos numa bacia, ajeitou as roupas e retornou à sala de jantar, como se nada tivesse acontecido. Os convidados estavam prontos para partir. A noite havia sido arruinada. Desculpem o distúrbio”, disse Rodrigo tentando sorrir. “Às vezes é preciso lembrar essa gente do lugar deles.
” Do lado de fora, Maria havia desmaiado de dor. Outros escravos a carregaram de volta para a cenzá-la, sem saber o que fazer, sem recursos para ajudar. Não havia médico que atendesse escravos. Não havia remédio além de panos encharcados em água do rio e orações sussurradas em línguas africanas e indígenas. Maria sobreviveu aquela noite, mas seus olhos nunca mais veriam luz alguma.
A dor física eventualmente diminuiu, transformando-se numa dor surda e permanente, mas a escuridão aquela permaneceu absoluta. Nos dias seguintes, Maria ficou numa espécie de estupor. Não comia, não falava. Os outros escravos cuidavam dela como podiam, levando comida, limpando suas feridas com o pouco que tinham.
Uma mulher idosa chamada Rosa, que conhecia rezas e ervas da floresta, tentou amenizar o sofrimento, mas havia pouco que pudesse fazer. Foi Rosa quem percebeu primeiro a mudança. Três noites após o crime, ela acordou e viu Maria sentada na entrada da senzala, o rosto voltado para o céu.
As órbitas vazias e deformadas pareciam fixar algo invisível. E Maria estava sussurrando palavras numa língua que Rosa não reconhecia. Não era português, não era nenhuma língua africana ou indígena que ela conhecesse. Era algo mais antigo, algo que vinha da própria terra.

Rodrigo Tavares acordou na quarta noite após o incidente com uma sensação estranha. O quarto estava na temperatura usual, mas ele sentia frio. Um frio que parecia vir de dentro dos ossos. Dona Beatriz dormia ao seu lado, a respiração suave e irregular. Tudo parecia normal, exceto pela sombra no canto do quarto. No início, Rodrigo pensou que fosse um jogo de luz da lamparina que mantinham acesa no corredor, mas quando piscou e olhou melhor, a sombra continuava ali, mais densa que deveria ser, com um contorno quase humano. Ele sentou-se na cama, o coração acelerando. Quem está
aí? Silêncio. A sombra não se moveu, mas também não desapareceu. Rodrigo levantou-se, tentando controlar o tremor nas mãos, e acendeu a lamparina ao lado da cama. A luz aumentou no quarto, mas a sombra permaneceu no mesmo lugar, como se a iluminação não a afetasse. Isso era impossível.
Ele caminhou até o canto, a lamparina estendida à frente, mas quanto mais se aproximava, mais a sombra parecia recuar, sempre mantendo a mesma distância. E então, por um instante brevíssimo, Rodrigo teve a certeza absoluta de que a sombra tinha olhos, dois pontos de escuridão ainda mais profunda que o resto, fixos nele, olhos que ele havia destruído. Um grito engasgou em sua garganta.
Ele tropeçou para trás, derrubando uma cadeira. Dona Beatriz acordou assustada. O que foi, Rodrigo? Tem. Tinha algo ali”, ele disse, apontando para o canto. Mas agora não havia mais nada, apenas a parede, o baú de roupas, nada fora do lugar. “Você teve um pesadelo”, disse Beatriz, já se virando para voltar a dormir.
“Volte para a cama”. Mas Rodrigo não conseguiu dormir pelo resto da noite. Ficou sentado, as costas contra a cabeceira, observando todos os cantos do quarto até que a luz do amanhecer entrasse pelas janelas. Nos dias seguintes, os fenômenos se intensificaram. A sombra começou a aparecer em outros lugares, no escritório durante o dia, na varanda ao entardecer, sempre na periferia da visão de Rodrigo.
Quando ele virava a cabeça para olhar diretamente, ela já estava em outro lugar ou simplesmente sumia. Seus empregados e escravos começaram a notar mudanças nele. Rodrigo ficava sobressaltado com facilidade, gritava sem motivo aparente. Passava horas olhando para o nada. Seu apetite diminuiu. Círculos escuros apareceram sob seus olhos. Ele mal dormia. “O senhor não está bem”, arriscou Manuel, seu capataz, “Um livre que administrava a fazenda.
Talvez devesse ver um médico. Não preciso de médico. Rodrigo explodiu. Estou perfeitamente bem, mas não estava. Uma semana após o aparecimento da primeira sombra, algo pior aconteceu. Rodrigo estava na casa grande, sozinho no escritório, revisando livros de contabilidade à luz de velas. Era noite e Beatriz havia ido dormir cedo.
De repente, todas as velas se apagaram simultaneamente. Não houve vento, não houve corrente de ar, apenas escuridão instantânea. “Quem está aí?”, Rodrigo gritou, levantando-se tão rápido que derrubou a cadeira, e então ouviu um sussurro tão baixo que parecia vir das próprias paredes. “Você me tirou a luz.” O sangue de Rodrigo gelou.
Ele reconheceu a voz, ou pelo menos o tom, a cadência era Maria. Agora você vai conhecer a escuridão. As velas reacas sozinhas, uma após a outra, num círculo ao redor de Rodrigo. E em cada chama, refletida numa dança impossível de sombras nas paredes, ele viu o rosto de Maria, não como ela era antes, mas como estava agora.
As órbitas vazias, a carne deformada, a expressão de dor congelada para sempre. Rodrigo correu do escritório gritando, bateu na parede do corredor, tropeçou nas próprias botas, caiu de cara no chão. Quando Beatriz saiu do quarto, ele estava encolhido no corredor, soluçando. Ela está aqui. Ela está me perseguindo. Quem? perguntou Beatriz, genuinamente confusa e assustada com o estado do marido. A escrava, a que eu a Maria Beatriz ficou pálida.
Ela sabia do que o marido havia feito. Era impossível não saber. A história se espalhara pela fazenda e, embora ela nunca questionasse as ações de Rodrigo, algo naquele episódio a perturbara profundamente. Havia sido cruel demais, até para os padrões brutais daquele tempo e lugar. “Ela na senzala, Rodrigo, não pode fazer nada. Não é ela”, ele gritou.
“É, é algo pior. É a sombra dela. Está me perseguindo.” Beatriz o que dizer. ajudou o marido a se levantar e o levou de volta para o quarto. Mas ela mesma estava assustada agora, não por acreditar em sombras perseguidoras, mas porque estava claro que algo estava muito errado com Rodrigo. Ela tinha visto homens enlouquecerem antes.

O clima, a solidão, a violência da vida colonial podiam quebrar até os mais fortes. Czala naquela mesma noite. Rosa observava Maria com crescente preocupação. A mulher cega continuava naquele estado estranho, sentada, imóvel, mas de alguma forma intensamente presente. Sua respiração era profunda e ritmada, quase como se estivesse cantando sem emitir sons.
E ao redor dela as sombras dançavam de forma que Rosa sabia não ser natural. Ela havia crescido ouvindo histórias sobre os antigos poderes da floresta, sobre espíritos que habitavam as árvores e os rios, sobre justiças que transcendiam o mundo dos vivos. Sua avó, também escravizada, lhe contara sobre divindades africanas que atravessaram o oceano junto com seu povo.
Deuses que não esqueciam nem perdoavam. Maria estava sendo usada como canal. ou talvez ela mesma tivesse se tornado algo mais. a dor, a injustiça, a escuridão forçada sobre ela. Tudo isso havia aberto uma porta para forças que normalmente permaneciam além do véu. Rosa fez o sinal da cruz, mas também murmurou uma proteção mais antiga numa língua que ela mesma mal compreendia, porque ela sabia, com a certeza instintiva de quem cresceu entre dois mundos, que o que estava acontecendo ali não terminaria bem.
Para Rodrigo Tavares, a escuridão estava apenas começando. Duas semanas após as primeiras aparições, Rodrigo Tavares estava irreconhecível. O homem robusto e autoritário havia se transformado numa criatura acuada, sobressaltada, que via ameaças em cada canto. Parou de sair da Casagre, parou de fiscalizar a fazenda.
Manuel, o capataz assumiu a administração completamente enquanto Rodrigo definhava em seus aposentos. Mas não eram apenas as sombras que o atormentavam agora. Outros fenômenos haviam começado. As lamparinas apagavam sozinhas, sempre que ele entrava num cômodo. Velas recusavam-se a permanecer acesas em sua presença. Era como se a própria luz o rejeitasse Rodrigo passou a carregar múltiplas fontes de iluminação, desesperado, mas uma a uma elas falhavam.
Às vezes sentia mãos invisíveis tocando seu rosto, dedos gelados que procuravam seus olhos como se quisessem arrancá-los. Certa manhã, ao se olhar no espelho, Rodrigo soltou um grito que ecoou por toda a casa. Seu reflexo mostrava algo impossível. Suas próprias órbitas oculares estavam vazias e queimadas, exatamente como as de Maria.
Ele levou as mãos ao rosto em pânico, sentindo seus olhos ainda no lugar intactos. Mas quando olhou novamente para o espelho, a imagem horrível persistia. Beatriz mandou quebrar o espelho. É sua mente pregando peças, ela dizia, mas sua voz tremia. Ela mesma estava começando a testemunhar coisas estranhas, ruídos inexplicáveis à noite, sombras que não deveriam estar onde estavam.
E mais perturbador ainda, a temperatura da casa parecia ter caído permanentemente, como se o calor amazônico não conseguisse mais penetrar os muros. Foi quando Rodrigo decidiu que precisava se livrar de Maria. “Venda ela”, ordenou Amanuel. “Mande para Belém para qualquer lugar. Só tire ela daqui.” Manuel hesitou. “Senhor, ninguém vai comprar uma escrava cega.
Ela não tem mais serventia. Então liberte ela, dê carta de alforria. Só tire essa maldita da minha propriedade. Mas Maria não podia mais andar sozinha. As feridas haviam finalmente cicatrizado, deixando apenas tecido de cicatriz deformado, onde antes havia olhos.
Mas ela estava fraca, desnutrida, em estado de choque permanente. Mandá-la embora seria uma sentença de morte. E mesmo Manuel, homem endurecido por anos de violência colonial, hesitava em cruzar essa linha. “Traga o padre”, Rodrigo disse então, agarrando Manuel pelos ombros com força desesperada. “Traga, padre Anselmo. Precisa ser exorcismo. Tem algo demoníaco aqui.
Padre Anselmo era um franciscano idoso que atendia a pequena capela de Manaus. Quando chegou à fazenda, três dias depois, ficou chocado com o que encontrou. Rodrigo estava esquelético, os olhos fundos e selvagens, as roupas sujas. A casa grande, antes impecável, estava em desordem. Móveis virados, vidros quebrados, velas derretidas por toda parte.
“Meu filho, o que aconteceu aqui?”, perguntou o padre, fazendo o sinal da cruz. Rodrigo contou tudo, as sombras, os sussurros, as luzes que se apagavam, o reflexo no espelho. O padre ouvia em silêncio crescente o rosário apertado entre os dedos. Quando Rodrigo terminou, Anselmo fez a pergunta inevitável: “E a escrava? O que você fez com ela?” Rodrigo hesitou, então contou. O padre empalideceu.
Você cegou uma criatura de Deus por ela ter olhado para sua esposa. Ela precisava aprender seu lugar. O padre levantou-se, o rosto sério. Rodrigo, o que te atormenta não é demônio, é consciência e talvez justiça divina. Então faça alguma coisa, benza a casa, exorcize o que quer que seja. Padre Anselmo relutantemente concordou em realizar uma bênção.
Passou pelas dependências da Casa Grande, aspergindo água benta, recitando orações em latim. Quando terminou, parecia exausto e profundamente perturbado. “Há há algo aqui”, admitiu, “Algo que não compreendo completamente. Não tenho cheiro de demônio, mas também não é natural. É como se como se a própria terra estivesse julgando. Mas antes de partir, o padre insistiu em visitar a Senzala.
Queria ver Maria oferecer algum conforto espiritual. Rodrigo tentou impedi-lo, mas Anselmo foi firme. Na senzala, o padre encontrou Maria sentada no mesmo lugar onde passava dias e noites. As outras pessoas escravizadas se afastaram respeitosamente quando ele entrou. Rosa, a mulher idosa, ficou ao lado de Maria como uma guardiã silenciosa.
Minha filha, disse o padre suavemente, ajoelhando-se na frente dela. Sou o padre Anselmo. Vim oferecer conforto. Maria não respondeu. Seu rosto estava voltado para cima, as órbitas vazias, fixas, em algo que só ela podia perceber. Mas quando o padre estendeu a mão para tocar a dela em gesto de conforto, algo extraordinário aconteceu. A temperatura caiu tão drasticamente que o padre viu sua própria respiração condensar no ar.
As sombras ao redor de Maria pareceram pulsar, tornando-se mais densas. E então ela falou, mas não com sua própria voz. Era um couro de vozes, homens, mulheres, crianças, todas as vozes daqueles que haviam sofrido injustiças naquela terra. Ele tirou a luz. A luz será tirada. O padre recuou apavorado, fez o sinal da cruz múltiplas vezes, murmurando orações, mas as palavras pareciam não ter efeito algum.
Maria voltou ao silêncio, imóvel como uma estátua. Quando o padre Anselmo retornou à casa grande, estava pálido e trêmulo. Disse a Rodrigo apenas: “Reze, peça perdão, é tudo que posso lhe dizer. O que está acontecendo aqui está além da minha compreensão ou dos meus poderes. Naquela noite aconteceu o pior ainda.
Rodrigo estava em seu quarto todas as lamparinas acesas que conseguira encontrar quando sentiu uma pressão nos olhos, como se mãos invisíveis estivessem pressionando contra eles, tentando empurrá-los para dentro do crânio. Ele gritou, levou as próprias mãos ao rosto, mas não havia nada ali, apenas a pressão aumentando, aumentando.
E então, por um momento terrível e eterno, Rodrigo ficou cego. A escuridão caiu sobre ele como uma cortina física, absoluta, total, sem uma fração de luz. Ele girou em pânico, desorientado, gritando o nome de Beatriz. tropeçou, caiu, arrastou-se pelo chão. Então, tão repentinamente quanto começou, sua visão voltou.
Ele estava no meio do quarto, soluçando, ainda sentindo os fantasmas daquela pressão impossível sobre os olhos. Rodrigo finalmente entendeu. Isso não ia parar e ia piorar. Na manhã seguinte, Rodrigo tomou uma decisão desesperada. mandou chamar o ouvidor de Manaus, o representante oficial da justiça colonial na região.
Se as forças sobrenaturais não podiam ser detidas, talvez a justiça humana pudesse fazer algo, oferecer alguma redenção, alguma forma de apaziguar o que quer que estivesse o punindo. O ouvidor Francisco Mendes de Albuquerque era um funcionário colonial experiente que já tinha visto muita coisa estranha na fronteira da civilização.
Quando chegou à fazenda de Rodrigo, ficou imediatamente desconfiado. A propriedade estava em visível deterioração. Campos sem cuidado, animais sem supervisão adequada, a própria casa grande com aparência abandonada. Rodrigo o recebeu num estado lamentável. Não se barbeava à semanas. As roupas estavam mal ajambradas, os olhos tinham aquele brilho febril de quem não dorme a dias.
Mas antes que pudesse explicar qualquer coisa, o ouvidor levantou a mão. Antes de qualquer conversa, Tavares, há uma denúncia contra você que preciso investigar. Rodrigo empalideceu. Denúncia. Padre Anselmo esteve em minha residência. Contou-me sobre uma escrava cegada por você, brutalmente mutilada como punição por uma ofensa menor.
Se isso for verdade, é uma violação grave das ordenações filipinas. Era irônico. As leis coloniais portuguesas, embora permitissem a escravidão e até certos castigos físicos, tecnicamente proibiam mutilações extremas de pessoas escravizadas. Não por humanidade, simplesmente porque escravos representavam propriedade valiosa e destruir sua capacidade de trabalho era desperdício econômico.
Mas essas leis raramente eram aplicadas na prática, especialmente em lugares remotos como Manaus. Rodrigo tentou explicar, justificar, mas suas palavras saíam atropeladas e sem sentido. O ouvidor o interrompeu. Quero ver essa mulher. Foram até a cenzala. Pelo caminho, o ouvidor observou tudo. O estado de descuido da propriedade, o silêncio pesado que pairava sobre o lugar, as expressões tensas dos escravos que cruzavam seu caminho.
Algo definitivamente estava errado ali. Maria estava onde sempre estava, sentada na entrada da cenzala. À luz do dia, o horror do que havia sido feito a ela era ainda mais evidente. O ouvidor, homem acostumado a violência e crueldade, sentiu o estômago revirar. “Santo Deus”, murmurou. Ele ajoelhou-se ao lado de Maria. “Moça, pode me ouvir?” Maria virou o rosto na direção da voz.
Pela primeira vez em semanas, ela falou com sua própria voz, fraca, mas claramente audível. Posso ouvir? Seu nome é Maria? Sim, senhor. Pode me contar o que aconteceu com você? E Maria contou. Sua voz era monótona, sem emoção aparente, mas os detalhes eram devastadores.
O jantar, o olhar acidental, a fúria de Rodrigo, o ferro em brasa. Ela descreveu tudo com uma clareza que tornava impossível duvidar. Ovidor ouviu tudo, o rosto cada vez mais fechado. Quando Maria terminou, ele levantou-se e encarou Rodrigo. Isso é revoltante mesmo para os padrões dessa terra bárbara. Ela olhou para minha esposa, desrespeitou.
Silêncio. Trovejou o ouvidor. Ela olhou, apenas olhou e você a mutilou permanentemente. Destruiu uma propriedade que custou dinheiro e, pior ainda, violou as leis que garantem tratamento minimamente humano mesmo para escravos. Rodrigo tentou argumentar sobre seus direitos como senhor, sobre a necessidade de manter disciplina, mas o ouvidor não estava interessado. O que ele tinha visto era indefensável até pelas leis brutais daquela época.
“Há mais uma coisa que precisa saber”, disse Rosa, a mulher idosa saindo das sombras. Ela havia permanecido silenciosa até então, mas agora dava um passo à frente. Desde que isso aconteceu, coisas estranhas têm ocorrido. Sombras que não deveriam existir, luzes que se apagam sozinhas. E o Senr.
Rodrigo, ele está sendo atormentado. O ouvidor olhou para Rodrigo, notando pela primeira vez o pavor genuíno em seus olhos. Atormentado. Como Rosa descreveu o que havia testemunhado e ouvido dos outros escravos. O ouvidor era um homem racional, educado na Europa, cético sobre superstições, mas havia passado anos no Brasil e aprendera que algumas coisas não podiam ser explicadas facilmente pela razão.
“Talvez seja a consciência pesada”, disse ele finalmente. “Ou talvez seja algo mais”. De qualquer forma, Tavares, você será processado por este crime. O que se seguiu foi extraordinário para a época. O ouvidor iniciou um processo formal contra Rodrigo Tavares. Testemunhas foram ouvidas. Outros escravos, que raramente tinham voz em questões legais, foram chamados a testemunhar.
Manuel O Capataz confirmou os fatos. Até mesmo Beatriz foi questionada e, tremendo, admitiu o que o marido havia feito. O caso gerou discussões acaloradas entre as poucas autoridades de Manaus. Alguns argumentavam que um senhor tinha direitos absolutos sobre sua propriedade.
Outros, incluindo o ouvidor, insistiam que havia limites até para isso. Padre Anselmo foi firme em seu testemunho, descrevendo não apenas o crime, mas também os fenômenos sobrenaturais que testemunha. Três semanas após o início do processo, o ouvidor emitiu sua sentença. Rodrigo Tavares foi considerado culpado de mutilação injustificada e destruição de propriedade. A punição foi surpreendente.
Ele deveria pagar uma multa pesada, libertar Maria com carta de alforria formal e garantir seu sustento pelo resto de sua vida. Além disso, deveria fazer penitência pública na capela. Mas a verdadeira sentença não veio das autoridades coloniais, veio de outro lugar. Na noite em que a decisão foi anunciada, Rodrigo acordou com a sensação de que algo fundamental havia mudado. O quarto estava na mais absoluta escuridão.
Até mesmo a lamparina, que ficava sempre acesa no corredor, havia se apagado. Ele tentou acender a que ficava ao lado da cama. Suas mãos encontraram os fósforos, riscou um e a pequena chama iluminou brevemente o quarto. Então viu Maria estava de pé. Ao lado de sua cama, não uma sombra, não uma aparição distante.
Ela estava ali sólida e real, as órbitas vazias fixas nele. Rodrigo tentou gritar, mas nenhum som saiu. Tentou se mover, mas estava paralisado. Maria estendeu a mão. Seus dedos, gelados como gelo, tocaram o rosto de Rodrigo. Ele sentiu uma queimadura onde ela tocava, não de calor, mas de frio tão intenso que doía como fogo.
“Você me tirou a luz”, ela disse, “Dessa vez era definitivamente sua própria voz”. Agora você vai conhecer a escuridão que me deu, não por um dia ou uma semana, para sempre. Os dedos dela pressionaram contra os olhos de Rodrigo. Ele sentiu a mesma pressão que havia experimentado antes, mas multiplicada mil vezes.
Era como se ganchos invisíveis estivessem puxando seus olhos para dentro do crânio, desfazendo-os, dissolvendo-os. E então, escuridão. Quando Beatriz acendeu velas e entrou no quarto na manhã seguinte, atraída pelos gritos do marido, encontrou Rodrigo encolhido num canto, as mãos cobrindo o rosto, soluçando incontrolavelmente.
Não consigo ver, ele gemia. Não consigo ver nada. Ela puxou suas mãos do rosto. Os olhos de Rodrigo estavam fisicamente intactos. Não havia queimaduras, não havia deformações, mas quando ela passou a mão na frente deles, ele não reagiu. Quando ela acendeu uma lamparina e a moveu de um lado para outro, nenhuma resposta. Rodrigo Tavares estava cego.
O médico, que foi chamado de Belém, semanas depois não conseguiu encontrar explicação. Os olhos estavam perfeitos, as pupilas reagiam à luz. Todas as estruturas físicas estavam intactas, mas Rodrigo não via absolutamente nada. É como se o cérebro dele simplesmente não estivesse mais recebendo as informações.
O médico disse perplexo: “Nunca vi nada assim. Não há lesão, não há doença detectável. É impossível, mas não era impossível. Era justiça. A vida de Rodrigo Tavares depois daquele dia foi uma descida constante para o abismo. A cegueira era absoluta e permanente, mas era apenas o começo de seus tormentos.
Ao contrário de Maria, que havia sido jogada numa cenzala com suas feridas e deixada para sobreviver sozinha, Rodrigo tinha recursos, médicos, cuidados, mas nada disso importava. A escuridão que o havia tomado não era apenas física, era uma escuridão povoada.
Ele via coisas na escuridão, ou pelo menos seu cérebro acreditava ver. Rostos com órbitas vazias e queimadas, mãos que alcançavam, sombras mais escuras que a escuridão ao redor e constantemente sussurros. Não era apenas a voz de Maria, mas dezenas, centenas de vozes, todas as vítimas de todas as injustiças cometidas naquela terra, todos os que haviam sofrido sob o julgo da escravidão.
Rodrigo não tinha paz, nem de dia, nem de noite. Gritava com visões que só ele podia perceber. Recuava de toques que ninguém mais sentia. Sua mente privada de entrada visual real criava seu próprio inferno, ou talvez apenas estivesse sintonizada em algo que sempre esteve ali oculto do mundo dos videntes.
Beatriz tentou cuidar dele por algumas semanas, mas era impossível. Rodrigo estava violento, paranoico, completamente perdido em seu próprio mundo de terror. Ela acabou retornando para a família em Belém, deixando o marido aos cuidados de empregados pagos. A fazenda entrou em colapso completo, sem Rodrigo para administrar e com Manuel deixando o posto por não suportar mais aquele lugar amaldiçoado, a propriedade foi se deteriorando.
Os escravos foram gradualmente vendidos ou fugiram para a floresta. Em menos de 6 meses, o que antes era uma fazenda próspera estava praticamente abandonada. E Maria, Maria havia sido libertada conforme a sentença do ouvidor. Recebeu carta de alforria e uma pequena quantia em dinheiro, embora nada disso significasse muito para alguém em seu estado. Mas algo extraordinário aconteceu.
Rosa e outros escravos, que haviam sido libertados ou fugiram, formaram uma pequena comunidade nos arredores de Manaus. Eles acolheram Maria, construíram para ela uma pequena cabana, ensinaram-la a se mover, a viver na escuridão que agora era seu mundo permanente. Mas Maria não era mais apenas uma mulher cega. Algo havia mudado nela fundamentalmente durante aquelas semanas após sua mutilação.
As pessoas começaram a procurá-la. Primeiro apenas outros libertos e escravos fugidos, depois pessoas indígenas das tribos próximas, eventualmente até alguns colonos mais pobres, porque Maria tinha desenvolvido algo. Alguns chamavam de visão, outros de sensibilidade.
Ela conseguia ver coisas que outros não viam, conseguia sentir doenças, diagnosticar problemas que médicos europeus não identificavam. Suas mãos, que antes só haviam conhecido o trabalho forçado, agora curavam. Suas palavras, pronunciadas naquela voz calma e distante traziam conforto. Ela se tornou uma curandeira, uma conselheira.
As pessoas diziam que ela havia sido tocada pelas forças antigas da floresta, que sua escuridão forçada a havia conectado com algo profundo e poderoso. Alguns a chamavam de benzedeira, outros de mãe de santo, outros ainda de chamã. Ela era todas essas coisas e nenhuma delas. Rosa permaneceu ao seu lado, ajudando-a, traduzindo quando necessário. E em noites quietas, quando estavam sozinhas, Rosa às vezes perguntava sobre o que havia acontecido realmente, sobre as sombras, sobre a justiça que havia caído sobre Rodrigo Tavares. Não fui eu, Maria dizia sempre, foram os que vieram antes,
os que sofreram antes de mim. Eu apenas abri a porta. Eles fizeram o resto. E o Senr. Rodrigo, ele vive na escuridão que me deu. Vê com os olhos que destruiu. É justo. Enquanto isso, na casa grande, quase vazia, Rodrigo Tavares definhava. Ele recusava comida na maioria dos dias.
não dormia mais que algumas horas por noite. Os empregados que ainda restavam o ouviam conversando com pessoas que não existiam, gritando com ameaças que ninguém mais via. Um ano após ter cegado Maria, Rodrigo foi encontrado morto em seu quarto. Não havia marcas de violência, não havia sinais de doença, ele simplesmente havia parado de viver.
Seu rosto estava congelado numa expressão de terror absoluto, os olhos ainda fisicamente perfeitos, arregalados, como se estivessem vendo algo horrível demais para compreender. O médico que examinou o corpo não soube explicar a causa da morte. Talvez o coração, ele disse sem muita convicção. Ou talvez, talvez ele simplesmente tenha desistido. Mas as pessoas que viviam ao redor da antiga fazenda de Tavares tinham outra explicação.
Diziam que Rodrigo havia morrido de medo, que as sombras que o atormentavam finalmente o haviam consumido completamente. Diziam que nas últimas noites, antes de sua morte, luzes estranhas eram vistas na casa grande e gritos ecoavam pela floresta. A propriedade foi eventualmente vendida para pagar dívidas.
A Casa Grande foi demolida anos depois. Mas mesmo quando construíram novas estruturas no mesmo terreno, os moradores relatavam fenômenos estranhos, sombras que não correspondiam aos objetos, luzes que se apagavam sem razão, sussurros no vento. Maria viveu mais 20 anos após a morte de Rodrigo. Sua fama, como curandeira se espalhou pela região.
Quando morreu, foi velada por centenas de pessoas, ex-escravos, indígenas, até alguns colonos pobres que ela havia ajudado. Dizem que foi enterrada num lugar secreto na floresta, marcado apenas por aqueles que sabiam. E dizem também que às vezes em noites quietas perto de onde ficava a antiga fazenda de Tavares, é possível ver uma figura caminhando na escuridão, uma mulher que não precisa de olhos para enxergar, que carrega consigo a justiça de todos os que foram esquecidos, de todos os que sofreram sem voz.
Alguns têm medo dessa aparição, outros a veem como proteção, mas todos concordam em uma coisa: algumas injustiças são grandes demais para serem enterradas. Algumas escuridões nunca se dissipam completamente e algumas dívidas são pagas não nesta vida, mas na própria eternidade. A história de Maria e Rodrigo Tavares não é apenas sobre vingança sobrenatural ou justiça poética.
É um lembrete sombrio de um período da nossa história que preferíamos esquecer, mas que não podemos. A escravidão no Brasil durou mais de três séculos. E suas cicatrizes ainda marcam nossa sociedade de formas que muitas vezes nem reconhecemos. Rodrigo Tavares não era uma exceção ou um monstro único. Ele era produto de um sistema que desumanizava pessoas, que reduzia seres humanos à propriedade, que permitia e até encorajava crueldades inimagináveis.
Quantas Marias existiram? Quantas histórias de tortura, mutilação e morte nunca foram contadas, porque suas vítimas não tinham voz, não tinham nomes registrados, não tinham quem as defendesse. O elemento sobrenatural nesta história, as sombras, a cegueira inexplicável de Rodrigo, talvez seja apenas uma metáfora para algo mais profundo.
A consciência que corroi, a culpa que cega, a justiça que mesmo quando tarda no mundo dos vivos, eventualmente encontra seu caminho. Maria perdeu seus olhos físicos, mas ganhou uma visão diferente. Ela se tornou símbolo de resiliência, de transformação da dor em poder, da vítima em curandeira.
Sua cegueira forçada a conectou com dimensões da existência que os videntes nunca acessam. Ela aprendeu a enxergar sem olhos. a navegar tanto o mundo físico quanto o espiritual. Rodrigo, por outro lado, manteve seus olhos, mas perdeu completamente a capacidade de ver. Sua cegueira era a escuridão interior finalmente manifestada externamente.
Ele viveu o resto de seus dias no mesmo isolamento, na mesma escuridão que havia imposto a Maria, mas sem a transformação, sem o crescimento, apenas terror e remorço. Essa história nos faz questionar que outras injustiças ainda ecoam em nossa sociedade, que outras escuridões ainda precisam ser iluminadas.
E quando olhamos para os olhos de outro ser humano, conseguimos ver verdadeiramente a pessoa ali ou apenas nossos próprios preconceitos e privilégios? Manaus hoje é uma metrópole, capital do Amazonas, distante daquela vila colonial de 1819. Mas a Terra tem memória, as histórias permanecem. E talvez em algum canto esquecido da cidade moderna, em alguma sombra que não deveria estar onde está, ainda existam e daqueles tempos, lembretes de que nenhuma injustiça é esquecida completamente.
Nenhuma vítima deixa de existir apenas porque foi silenciada. Se você chegou até aqui, se acompanhou toda essa jornada pela história sombria de Maria e Rodrigo Tavares, peço que faça duas coisas. Primeira, se inscreva no canal e ative as notificações. Histórias como essa, histórias esquecidas e enterradas do Brasil merecem ser contadas e lembradas. Segunda, deixe um comentário contando o que achou dessa história.
Você já conhecia casos semelhantes na história da sua região? Acredita que os fenômenos sobrenaturais que atormentaram Rodrigo eram reais ou apenas manifestações de culpa? E mais importante, o que essa história nos ensina sobre justiça, humanidade e as cicatrizes que o passado deixa no presente? Nos vemos no próximo vídeo com mais uma história que o Brasil tentou esquecer, mas que se recusa a permanecer no escuro.