Conheça a história do rapaz que foi morto por leoa após invadir jaula de zoológico em João Pessoa

Anos atrás, um menino de aproximadamente 10 anos de idade foi encontrado vagando sozinho às margens de uma rodovia em João Pessoa, na Paraíba. Recolhido pela Polícia Rodoviária Federal, o garoto foi encaminhado ao Conselho Tutelar, entrando assim no radar do poder público, de onde não saiu mais. Começava ali, então, a história conhecida de Gerson de Melo Machado, o jovem de 19 anos que morreu no dia 30 de novembro de 2025 no zoológico do Parque Zoo-Botânico Arruda Câmara.

Uma história de transtornos mentais e abandono familiar com inúmeras passagens pelos órgãos públicos e que terminou de maneira trágica com o ataque mortal de uma leoa, fato que aconteceu diante das câmeras dos celulares de muitos visitantes do zoológico e que rodou o mundo todo em questão de minutos, se tornando viral. O jornalista Marcos Campos apresenta a história nos detalhes, que começa muito antes do ataque que viralizou nas redes.

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Vamos aos fatos. As imagens falam por si mesmas. Na tarde do dia 30 de novembro de 2025, um intruso invadiu a área restrita da Leoa, um animal de 18 anos que nasceu em 2007 no Parque Zoo-Botânico Arruda Câmara (Bica), que fica em João Pessoa, na Paraíba. A Leoa, que é da espécie Panthera leo, possui 130 kg e vivia tranquilamente no seu recinto, que atende rigorosamente às normas técnicas, e possui muros com 6 m de altura e uma borda negativa de 1,5 m.

Na verdade, segundo Thiago Neri, o médico veterinário do zoológico, o local ultrapassa as medidas de segurança exigidas em mais de 2 m, ou seja, planejado para o conforto do animal e segurança dos funcionários e visitantes. Uma estrutura que impediria praticamente qualquer acidente. Mas a tragédia que aconteceu com Gerson Machado, também conhecido como Vaqueirinho, não foi um acidente. Não.

Define-se que acidente é um acontecimento provocado por uma ação inesperada ou involuntária, como choque entre veículos que resulta em lesão corporal ou dano material para os envolvidos, ou a queda de um raio. Por exemplo, o Vaqueirinho, voluntariamente ou não, vencendo os obstáculos construídos para a segurança do animal e do público, se colocou em situação de risco de morte iminente.

Vale saber que o ataque, pelo que se viu em algumas imagens, aconteceu mesmo antes de o rapaz colocar os pés no chão. A Leoa se aproximou da vítima quando o rapaz estava descendo pela árvore que facilitou sua entrada. O animal já tinha visto, aparentemente, o rapaz descendo pela árvore, porque a Leoa estava perto de uma área onde os visitantes a observavam, quando ela saiu visivelmente às pressas em direção à árvore de onde descia o Vaqueirinho.

A Leoa o matou com um golpe e não comeu o corpo, supostamente porque já havia sido alimentada naquele dia. Ela apenas reagiu ao estranho que entrava no território dela. De acordo com um profissional do parque, a Leoa é um animal condicionado e passa por treinamentos regulares. Assim, mesmo estressada e em choque com os gritos e ações dos funcionários para afastá-la do corpo de Gerson, ela obedeceu às instruções da equipe e retornou ao seu ambiente sem a necessidade de uso de tranquilizante ou arma de fogo.

Só acrescentando aqui que a Leoa não será punida, nem sacrificada, pela ação que ela fez. Nesse momento de absoluto terror, uma cena realmente de filme, com crianças nas proximidades do local, muitos viram a morte do rapaz. Imediatamente as pessoas foram retiradas do zoológico e as portas foram fechadas, com ação da polícia, IML e demais órgãos competentes.

Foi emitida uma nota pela prefeitura, onde ela declara que se solidariza com a família da vítima e esclarece que, apesar de toda a segurança existente que atende às normas técnicas, Gerson de Melo Machado insistiu na invasão, colocando a sua vida em risco e possibilitando a tragédia. Então, é preciso mencionar algumas informações para entender, talvez minimamente, eu diria, os porquês, como os elos dessa corrente foram se fechando.

Gerson acumulava um histórico de 16 passagens pela polícia, segundo o que foi divulgado, sendo 10 delas registradas quando ele ainda era menor de idade. Seus crimes ou infrações envolviam dano ao patrimônio, furtos e outros crimes menores. Mas vale destacar que ele chegou a gerar episódios perigosos, como, por exemplo, quando ele teria entrado na pista de pouso de um avião.

Desde o episódio de ele estar vagando às margens da rodovia, aquele que o jornalista comentou na abertura, isso aconteceu lá por volta de 2016. Sabe-se, então, que Gerson cresceu sem o apoio familiar desde então. Quem parecia mais próximo e preocupado com ele, na verdade, eram os profissionais do Conselho Tutelar. Por exemplo, a conselheira tutelar Verônica Oliveira, que declarou que durante 8 anos acompanhou o caso do rapaz, lutando e se empenhando para garantir os direitos de Gerson. Ela e a conselheira Patrícia Falcão foram as pessoas que o receberam, ainda menino, das mãos da Polícia Rodoviária Federal. Em função desse acolhimento inicial, a rede de proteção do estado da Paraíba procurava Verônica sempre que algo acontecia com Gerson.

Foi ela que explicou que a mãe do rapaz perdeu o chamado poder familiar em relação ao garoto por ser ela mesma portadora de transtornos mentais, especificamente esquizofrenia, segundo foi divulgado. Em resumo, para as profissionais da área, Gerson ficou rotulado no sistema como um menino que apresentava problemas comportamentais, apesar de apresentar evidentes sinais de transtornos mais graves ou patológicos.

A conselheira menciona o histórico de vida do rapaz: ele cresceu em pobreza extrema, era filho de uma mãe com esquizofrenia e de avós também com comprometimentos de saúde mental, pessoas incapazes de oferecer a ele o tratamento de que precisava. Por isso, desde muito cedo, ele viveu entre abrigos, instituições, rua e, depois, cadeia.

Todas as vezes que ele fugia dos abrigos, ele procurava a casa materna. Não se sabe o tamanho da família, mas menciona-se que seus irmãos foram acolhidos por famílias adotivas. Sorte que ele não teve. A conselheira até analisa o fato de que a sociedade quer adotar crianças “perfeitas”. Contudo, essas que mais precisam de família — as crianças que estão no sistema institucional, os chamados abrigos — não são meninos e meninas perfeitas. Crianças e adolescentes que vivem em abrigos, que muitas vezes passam à adoção, foram retiradas de suas famílias em cumprimento de medidas protetivas por determinação judicial, em decorrência de violação de direitos, abandono, negligência, violência, etc. Ou pela impossibilidade de cuidado e proteção por suas famílias. Crianças que possuem marcas emocionais e psicológicas, além das físicas.

Nesse universo de idas e vindas e instituições, Gerson, ou Vaqueirinho, sobreviveu e chegou aos 19 anos de idade. Em uma entrevista, após uma detenção que ele passou ali por danificar um veículo, o rapaz fala para as câmeras que vai voltar a cometer delitos porque está desempregado. Uma fala desconexa e ilógica, onde ele não consegue ser levado a refletir sobre o seu erro: “Quebrar toda a viatura. Vai quebrar as viaturas de novo. Quebrar toda a viatura. Por que tu vai quebrar de novo, ‘hom’? Eu vou quebrar. Quanto tempo tu já foste preso, foste solto, solto de novo. Não, e dessa vez tu de novo, quando eu for liberado vou quebrar a viatura de novo, porque eu tô desempregado.”

E como se verá no decorrer dos acontecimentos, essa questão evidencia a incapacidade desse raciocínio de compreensão. E essa é só mais uma camada entre muitas que levaram ao resultado que se viu na tarde de domingo, 30 de novembro. Encontrou-se também o depoimento do policial penal Ed Alves, que mencionou que Gerson, ao sair da cadeia, foi encaminhado ao CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), mas que ele fugiu do local.

Uma das fontes apresentou funcionários do Presídio do Roger, onde o Vaqueirinho ficou detido. Tanto o diretor da instituição como o chefe de disciplina do presídio mencionam que eles sabiam que lá não era o lugar do rapaz e que ele necessitava de cuidados médicos e não penais. Na opinião desses profissionais experientes, o comportamento do rapaz era como o de uma criança.

“O assunto de tudo é a morte trágica de Gerson, né, do Vaqueirinho. Na semana passada, a gente falou tanto no Vaqueirinho. Eu fiz um vídeo inclusive falando da situação da cabeça dele, do que a gente tinha passado no presídio e que ele era uma pessoa que precisava de ajuda, precisava de tratamento. O local dele também não era o presídio e a justiça decidiu encaminhá-lo para o CAPS. O CAPS não o segura, ele fugiu. Para a gente do Roger e para todo mundo, Vaqueirinho tinha 16 passagens, a T.M.A. diz: eram 10 no presídio de menor e seis no presídio de maior. Ele não conheceu outra vida senão a prisão direta. Então, a gente chama de preso institucionalizado. Agora, eu digo sempre: a justiça fez a sua parte dentro do possível e o sistema penitenciário fez a sua parte. Estou aqui com Ivos, que a gente recebeu a notícia no caminho, Chefe de Disciplina do Presídio do Roger, que tratou diretamente com Vaqueirinho. A nossa luta foi muito grande, né? Foi grande. Foi grande. E a gente sabia que era uma tragédia anunciada, né? Vaqueirinho sem um devido tratamento, sem um acompanhamento na rua. Então, está aí o resultado. A gente via que o raciocínio dele era o de uma criança de 5 anos, não processava tanto. Tudo era condicionado à troca, a uns ‘bombões’ (balas), algo do tipo, para ele não se rebelar, né? Então, era fácil de lidar com ele nesse sentido. Precisava de uma atenção maior, comprometimento, sei lá, de quem quer que seja. Mas os pais, a estrutura familiar não existia. Então, a sociedade, no caso, teria que acolher, mas infelizmente foi o que foi.”

“O que Ivos diz, gente: a gente foi levar Vaqueirinho para a família. A avó disse: ‘Eu não tenho condições de ficar’. Ninguém da família queria. Então, era um preso que a sociedade não queria, a avó não queria, o pai não queria, ninguém queria. E olha, eu mando um recado aqui para a turma que está colocando muitas coisas nas redes sociais, dizendo: ‘Ah, que bom que mataram esse desgraça’. Teve até comentário dizendo: ‘O leão não comeu tudo porque a carne não prestava’, né? Esse tipo de comentário, está certo? Eu não estou romantizando o preso aqui, não, viu? A maioria dos crimes de Vaqueirinho foi por dano, né? E pequenos furtos, né? Que ele fazia. Eu não estou aqui romantizando, não. É só para a gente refletir, que era um cara que tinha problemas mentais e a gente alertou. Agora eu posso dizer uma coisa a vocês, com certeza: a nossa parte no sistema penitenciário, nós fizemos. A internação hospitalar só é indicada quando esgotadas todas as possibilidades terapêuticas disponíveis no CAPS. Ou seja, existem vagas de acolhimento integral nas quais os usuários podem permanecer para tratamento durante os estados mais agudos da doença, por até 15 ou 30 dias. Mas sabe como é, né? Na teoria tudo funciona, tudo é lindo. Na prática, nem sempre. Porém, uma vez na rua, a gente já sabe que muitos pacientes abandonam os tratamentos, descontinuam o uso dos medicamentos e apresentam novos surtos psiquiátricos. Aparentemente, foi justamente isso que ocorreu com Gerson, diagnosticado tardiamente como portador de transtornos mentais e sem cuidados intensivos. Ele estava desconectado da realidade. E aqui dá para religar, reconectar com aquele ponto que o jornalista falou da falta de compreensão dos atos que ele fazia quando infringia as leis, bem longe de qualquer estratégia de defesa que tente fazer da pessoa um indivíduo com transtorno. Era evidente.”

Parece que houve, talvez — é complicado de analisar —, um acompanhamento mais efetivo, evitando o que aconteceu e o que poderia ter acontecido com terceiros, de repente. Mas falando especificamente do que ocorreu na tarde lá no zoológico, que chocou todo mundo, o interesse de Gerson pelos grandes felinos e pelas histórias da África foram muito provavelmente as motivações que o levaram a entrar no recinto da Leoa.

Uma grande discussão seria possível, começando pela família dele, pelo histórico de transtorno mental e pelas passagens pela polícia. Quantos erros se têm aqui? Alguns dizem que o Estado foi omisso. Nesse caso, as pessoas acreditam que a internação involuntária e permanente em instituições de saúde mental seria a melhor opção para casos como o de Gerson. Outra parcela da sociedade, no entanto, trava uma luta contra a exclusão e isolamento social, que são as marcas dos lugares popularmente chamados de manicômios. Há também a discussão de que o Estado não consegue, por incrível que pareça, ter eficiência nessas funções. Certamente todos os dias deve ter alguém se perdendo na “boca de um leão”, não é? Mesmo que não seja um animal real, o problema é complexo e profundo demais.

O que choca, além da morte nessas circunstâncias bizarras e assustadoras, é que esse fim trágico era anunciado, era o esperado para a vida desse rapaz. As invasões domiciliares, depredações públicas, os furtos e demais ações criminais, ainda que consideradas pequenas, o colocavam em rota de colisão com a violência, com o risco de vida. E isso, pessoal, não tem nada a ver com uma espécie de julgamento ou de frieza na análise dos fatos. É puramente estatística. Dentre as centenas de casos de True Crime, inclusive presentes aqui no canal, uma parte deles envolve pessoas com transtornos mentais, sem os devidos cuidados e tratamentos.

Eu não estou falando aqui das manobras, reforço, que querem fazer parecer que o criminoso tem um transtorno. Estou falando daqueles que realmente têm. Um episódio super recente aqui no canal e muito triste, inclusive, é o de Damian Hurst, um jovem americano de 19 anos que matou o padrasto e colocou partes do corpo dele em um liquidificador. Damian, ao completar a maioridade, passou a ser tratado pelos psiquiatras sem a supervisão da mãe dele, assim como determina a lei dos Estados Unidos. O resultado foi essa tragédia, muito embora, durante muito tempo de convivência, o padrasto de Damian o tratasse como um filho. O relacionamento era bom, ninguém enxergava ali um perigo. Mas a partir do momento em que se proibiu o acompanhamento da mãe, que ele passou a frequentar as consultas sozinho e a tomar os remédios sozinho (o que evidentemente não fazia), mudou-se inclusive a medicação. Enfim, esse caso está todo detalhado aqui no canal, e teve esse resultado trágico. Talvez, no caso de Damian Hurst, esse crime pudesse não ter acontecido se a mãe tivesse tido o direito de continuar acompanhando, supervisionando o tratamento dele. Mas e no caso brasileiro de Vaqueirinho, o que poderia ter acontecido para que ele não terminasse dessa forma tão trágica? Infelizmente, as respostas são infinitas, não é? Poderia-se até citar família, Estado, etc., mas os desdobramentos e enraizamentos em cada um desses dois tópicos, por exemplo, seriam imensos.

Mas eu te convido, se se sentir confortável, a deixar sua opinião aqui no espaço dos comentários. Uma história trágica que começou na infância e terminou dessa maneira que chocou todo mundo na tarde de ontem, em tempos de internet, de vídeos virais, não é? A coisa é tão extraordinária que nem parece real, não é? Que tal bater um papo sobre tudo isso nos comentários?

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