As Fazendas Reprodutoras do Algarve: Escravas Mais Brancas que os Próprios Donos

No ano de 178, um viajante italiano chamado Giuseppe Baretti visitou o sul de Portugal e registrou em seu diário algo que o deixou profundamente perturbado. Na região do Algarve e Alentejo, ele testemunhou propriedades onde mulheres escravizadas, muitas delas com pele tão clara quanto a de portugueses brancos, eram mantidas exclusivamente para fins de reprodução.


Seus filhos eram vendidos como mercadoria para o Brasil e outras colônias. Baret escreveu: “Vi mulheres que poderiam passar por nobres portuguesas, mas estavam acorrentadas como animais de criação. É a perversão mais completa da natureza humana que já presenciei. Esta é a história real das fazendas reprodutoras portuguesas, um capítulo sombrio e deliberadamente esquecido da história da escravidão, documentado na coleção da legislação portuguesa de 1763 a 1790, que menciona explicitamente escravas reprodutoras, algumas mais brancas do que os próprios donos no
reino do Algarve. A prática de reprodução forçada de escravos em território português teve início muito antes do período que documentaremos aqui. Desde o século XV, quando os primeiros africanos foram trazidos para Portugal, após as expedições às costas da Guiné e Senegal, a escravidão se estabeleceu profundamente na sociedade portuguesa.
Diferente do que aconteceria depois no Brasil, onde os escravos trabalhavam principalmente na agricultura em larga escala, em Portugal, os escravos eram predominantemente urbanos e domésticos. Essa proximidade com seus senhores criou uma situação particular, a missigenação forçada através de estupros sistemáticos.
O que começou como abuso sexual individual de senhores sobre suas escravas gradualmente evoluiu para algo muito mais sinistro e organizado. Por volta do início do século XVI, alguns proprietários portugueses perceberam que podiam lucrar não apenas com o trabalho dos escravos, mas com a própria reprodução deles.
Crianças nascidas de escravas eram automaticamente propriedade do dono da mãe. Essas crianças mestiças, especialmente as de pele mais clara, alcançavam preços mais altos no mercado colonial brasileiro, onde eram valorizadas para trabalho doméstico e como amas de leite. Vila Viçosa, no Alentejo, abrigava um dos casos mais notórios.
O palácio do Caldos Bragança, uma das famílias mais poderosas de Portugal, mantinha o que um visitante em 1571, o italiano Jean Batista Venturino, descreveu como um viveiro humano. Venturino registrou ter visto mais de 60 mulheres escravas, muitas visivelmente grávidas, mantidas em instalações separadas do restante da propriedade.
Essas mulheres não trabalhavam nos campos ou na casa. Sua única função era gerar filhos. O sistema funcionava com eficiência brutal. Mulheres escravas, consideradas fisicamente adequadas, eram separadas e alimentadas melhor que os outros cativos para garantir gestações saudáveis.
Eram forçadas a ter relações com escravos escolhidos pelo Senhor, ou frequentemente com o próprio Senhor e seus filhos. O objetivo era produzir crianças mestiças de pele progressivamente mais clara, que alcançariam preços superiores no mercado. Mas foi no reino do Algarve, entre 1763 e 1790, que essa prática atingiu seu ponto mais sistemático e perturbador.
região historicamente ligada ao comércio marítimo e ao tráfico de escravos desde os primeiros desembarques em lagos em 1443, desenvolveu uma economia paralela baseada na reprodução humana. Documentos da coleção da legislação portuguesa desse período fazem referências explícitas a essa prática, incluindo a frase que dá título a esta história: Escravas mais brancas do que os próprios donos.
A fazenda mais infame do Algarve ficava nos arredores de Faro, propriedade de um comerciante chamado Sebastião Rodrigues de Carvalho. Sebastião não herdou sua fortuna, construiu-a metodicamente através do comércio de escravos nascidos em sua própria propriedade. Em 1763, quando iniciou suas operações, possuía 12 escravas africanas e quatro escravos homens.
27 anos depois, em 1790, sua propriedade abrigava mais de 80 pessoas escravizadas. A maioria nascida ali resultado de três gerações de reprodução forçada. O sistema que Sebastião desenvolveu era assustadoramente metódico. As escravas eram divididas em categorias baseadas na cor da pele. As escuras trabalhavam nos campos e na casa.
As mestiças de primeira geração eram designadas exclusivamente para reprodução, que as de segunda e terceira geração, aquelas de pele clara, eram as mais valiosas. Sebastião mantinha registros detalhados de cada nascimento, incluindo a cor da pele da criança, características físicas e paternidade presumida. Maria da Conceição era uma dessas escravas.
Nascida em 1765 na fazenda de Sebastião, filha de uma escrava africana chamada Zara e do próprio Sebastião. Sua pele era acobreada, cabelos ondulados, traços faciais mistos. Aos 13 anos em 1778, foi separada de sua mãe e transferida para o que Sebastião chamava de casa das mães.
Era um edifício de pedra com 10 quartos pequenos, onde as escravas designadas para reprodução eram mantidas. Maria teve seu primeiro filho aos 14 anos. O pai era Antônio, um escravo mestiço que Sebastião mantinha especificamente para esse propósito. O bebê, uma menina de pele ainda mais clara que Maria, foi registrado nos livros de Sebastião como mercadoria de primeira qualidade.
Nos 16 anos seguintes, Maria foi forçada a ter mais nove filhos. Cinco sobreviveram à infância. Todos foram vendidos antes de completarem 10 anos, enviados para o Brasil em navios que partiam do porto de Faro. A filha de Maria, batizada como Isabel, nasceu em 1779 e cresceu na mesma fazenda. Sua pele era tão clara que visitantes ocasionais presumiam que ela era a filha legítima de Sebastião.
De certa forma, era, mas legítima apenas na propriedade, não na herança. Quando Isabel completou 13 anos em 1792, Sebastião estava com 68 anos e sua saúde declinava. transferiu a administração da fazenda para seu filho legítimo, também chamado Sebastião, conhecido como Sebastião Filho. Sebastião Filho era ainda mais cruel que o pai.
Vendo Isabel tecnicamente sua meia irmã, desenvolveu uma obsessão doentia. Aos 14 anos, Isabel foi estuprada pela primeira vez por ele. Engravidou e deu à luz um menino em 1793. A criança nasceu com pele extremamente clara. cabelos castanhos claros e olhos verdes. Era, nas palavras dos registros da fazenda, indistinguível de português puro.
Esse menino, batizado como João, representava o resultado de três gerações de missigenação forçada. Sua avó era africana pura, sua mãe era mestiça de primeira geração e ele próprio era o produto de um relacionamento incestuoso entre meios e irmãos. João cresceu na fazenda sem saber sua verdadeira origem. foi tratado de forma ligeiramente melhor que outros escravos, permitido a aprender a ler e escrever, usado como exemplo do sucesso do sistema de reprodução de Sebastião.
Mas a história de João tomaria um rumo inesperado. Em 1808, quando tinha 15 anos e a família portuguesa preparava sua fuga para o Brasil, devido às invasões napoleônicas, João foi incluído entre os escravos que acompanhariam a família. Durante a viagem, uma tempestade separou os navios.
O navio que transportava João aportou no Rio de Janeiro semanas depois do previsto. Na confusão da chegada da corte portuguesa ao Brasil, João conseguiu fugir. Voltaremos a João mais tarde. Primeiro precisamos entender a amplitude do sistema de fazendas reprodutoras no Algarve. Sebastião de Carvalho não estava sozinho.
Documentos da época indicam que pelo menos outras sete propriedades na região operavam sistemas similares. Uma investigação realizada em 1785 por autoridades eclesiásticas de Faro, preocupadas com o grande número de batismos de crianças escravas, revelou a extensão da prática. O padre José Antônio de Melo, responsável pela paróquia de São Pedro em Faro, registrou em seu livro de notas: “Batizei, neste ano de 1785 63 crianças nascidas de mães escravas.
Destas, 42 são visivelmente mestiças, filhas de seus próprios senhores ou filhos dos senhores. É uma abominação que clama aos céus, mas quando questionam os senhores, alegam que é seu direito de propriedade fazer o que querem com seus escravos. Temo que Deus nos castigue por permitir tais pecados. O padre Melo tentou levar suas preocupações às autoridades civis e religiosas superiores, mas foi silenciado.


A economia do Algarve dependia demais desse comércio. Os impostos sobre a venda de escravos nascidos em Portugal eram uma fonte significativa de receita para a coroa. Estima-se que entre 1763 e 1790, mais de 2.000 escravos nascidos em fazendas reprodutoras do Algarve foram vendidos para o Brasil, gerando lucros equivalentes a milhões de euros atuais.
As condições nas fazendas reprodutoras eram simultaneamente melhores e piores que em outras propriedades escravistas. melhores no sentido de que as escravas designadas para a reprodução recebiam alimentação adequada, não trabalhavam em serviços pesados e tinham acomodações relativamente decentes, piores porque eram reduzidas literalmente a animais de criação, suas funções reprodutivas exploradas sem nenhuma consideração por sua humanidade.
Catarina era outra escrava na fazenda de Sebastião. Nascida em 1770, filha de mãe mestiça e pai branco, sua pele era tão clara que poderia facilmente passar por portuguesa. Tinha cabelos castanhos ondulados e olhos castanhos claros. Foi mantida na casa das mães dos 15 aos 35 anos. Durante esses 20 anos, teve 14 gestações, das quais resultaram nove crianças que sobreviveram à infância.
Todas foram vendidas. Em 1805, aos 35 anos, Catarina já não era considerada adequada para reprodução. Sebastião Filho a transferiu para trabalho doméstico na casa principal. Foi então que ela teve acesso a algo que mudaria sua vida, papel e tinta. Catarina havia aprendido a escrever observando as lições dos filhos legítimos de Sebastião.
Nas noites, quando todos dormiam, começou a escrever sua história. O manuscrito de Catarina, descoberto apenas em 1954 nos arquivos da família Carvalho, é um dos poucos testemunhos diretos de uma escrava de fazenda reprodutora. Suas palavras são simples, mas devastadoras. Fui mãe de nove filhos. Não conheço nenhum deles.
Foram tirados de mim antes de completar em três anos. Não sei se estão vivos ou mortos. Não sei seus nomes, pois foram rebatizados quando vendidos. Tudo que tenho são nove buracos em meu coração que nunca vão fechar. Foi usada como uma égua de criação, mas éguas pelo menos podem ficar com seus potros. O sistema de fazendas reprodutoras começou a entrar em colapso no final do século XVI por várias razões.
Primeiro, pressões internacionais crescentes contra a escravidão. A Revolução Francesa de 1789 trouxe ideias de liberdade e igualdade que começaram a influenciar o pensamento europeu. Segundo mudanças econômicas, o Brasil estava desenvolvendo sua própria população escrava através de reprodução natural, reduzindo a demanda por novos escravos de Portugal.
Mas o golpe mais significativo veio de uma fonte inesperada, a própria Igreja Católica. Em 1790, o bispo de Faro, Dom Francisco Gomes de Avelar, recém-nomeado e reformista, decidiu enfrentar a questão. Publicou uma carta pastoral, condenando explicitamente a prática de manter escravas como animais de criação. Embora não pudesse abolir a escravidão, que era legal, podia questionar as práticas específicas.
A carta pastoral causou controvérsia imensa. Proprietários de fazendas reprodutoras, incluindo Sebastião Filho, protestaram vigorosamente. Argumentaram que o bispo estava interferindo em assuntos econômicos que não eram de competência da igreja. Mas Dom Francisco manteve sua posição. Ordenou que todos os padres de sua diocese recusassem os sacramentos a proprietários que mantivessem fazendas reprodutoras.
Essa medida teve efeito prático limitado, mas importante efeito simbólico. Pela primeira vez, a autoridade religiosa estabelecida estava condenando publicamente uma prática escravista específica. A carta pastoral foi reproduzida e circulou por Portugal, eventualmente chegando ao Brasil. Abolicionistas brasileiros a usaram como munição em seus argumentos.
Enquanto isso, João, o escravo, que havia fugido no Rio de Janeiro em 1808, estava construindo uma vida extraordinária. Sua pele clara permitiu que se passasse por português livre. Conseguiu trabalho como escriba, depois como tutor de crianças de família rica. eventualmente estabeleceu sua própria escola pequena.
Em 1825, já com 32 anos, João casou-se com uma mulher livre de cor, teve filhos e viveu como homem livre. Mas João nunca esqueceu suas origens. Em 1835, publicou um panfleto sob pseudônimo intitulado Confissões de um escravo branco. O texto descrevia em detalhes sua vida na fazenda reprodutora do Algarve.
a prática sistemática de reprodução forçada e como ele próprio era produto de três gerações de missigenação planejada. O panfleto causou sensação no Brasil e em Portugal. “Eu sou”, escreveu João. O resultado de um experimento. Minha avó era africana. Minha mãe era produto de estupro de um senhor branco. Eu sou produto de incesto entre meios irmãos.
Três gerações de violação sistemática criaram alguém que poderia passar por branco puro. Mas minha alma carrega o peso de três gerações de sofrimento. Cada gota de sangue branco em minhas veias foi colocada lá através de violência. O panfleto de João ajudou a expor um aspecto da escravidão que muitos preferiam ignorar, a exploração sexual sistemática e a produção deliberada de crianças mestiças para lucro.
Enquanto a maioria das discussões sobre escravidão focava no trabalho forçado, João forçou a sociedade a confrontar a dimensão reprodutiva da exploração. De volta ao Algarve, Sebastião Filho morreu em 1811, deixando uma propriedade endividada e em declínio. Seu filho, Sebastião Neto, não tinha o interesse ou a crueldade necessários para manter o sistema de reprodução.
gradualmente libertou ou vendeu os escravos restantes. Em 1820, a fazenda, que havia sido centro de reprodução forçada por quase 60 anos, foi vendida e convertida em produção de vinho. Maria da Conceição, a escrava que havia tido nove filhos, viveu até 1824. Morreu aos 59 anos, tendo passado os últimos anos de sua vida trabalhando como lavadeira.
nunca soube o que aconteceu com nenhum de seus filhos. Catarina, a escrava que escreveu suas memórias, foi libertada em 1815, quando Sebastião Neto decidiu reduzir o número de escravos na propriedade. Viveu seus últimos anos como lavadeira em Faro, morrendo em 1832, aos 62 anos. Isabel, a mãe de João, teve destino diferente.
Quando João publicou seu panfleto em 1835, ele incluiu informações suficientes sobre sua mãe, que um abolicionista português conseguiu localizá-la. Isabel ainda era escrava em 1835 com 56 anos, trabalhando para um descendente da família Carvalho. O abolicionista comprou sua liberdade e a ajudou a se estabelecer em Lisboa. Mãe e filho se reencontraram em 1837, quando João viajou a Portugal especificamente para isso.
Foi o primeiro contato em 29 anos. O reencontro foi descrito por João em cartas. Quando vi minha mãe após quase três décadas, mal a reconheci. Ela estava velha, curvada pelo trabalho e sofrimento. Mas quando nossos olhos se encontraram, algo profundo passou entre nós. Ela me tocou o rosto com mãos trêmulas e disse: “Eu sabia que você estava vivo. Uma mãe sempre sabe.
Passamos três meses juntos antes de eu ter que voltar ao Brasil. Foram os três meses mais preciosos de minha vida. A prática de fazendas reprodutoras no Algarve nunca foi oficialmente abolida porque nunca foi oficialmente reconhecida, simplesmente desapareceu gradualmente à medida que a escravidão se tornou menos economicamente viável e socialmente aceitável em Portugal.
A própria escravidão foi abolida em Portugal metropolitano em 1761 pelo marquês de Pombal, mas a lei tinha brechas que permitiram que a prática continuasse em áreas rurais por décadas. Os registros das fazendas reprodutoras foram em grande parte destruídos. Famílias que haviam lucrado com o sistema queimaram documentos para esconder seu passado.
Autoridades locais, envergonhadas perderam registros paroquiais. Foi apenas no século XX que historiadores começaram a descobrir evidências fragmentadas dessa prática. O documento mais importante é a já mencionada coleção da legislação portuguesa de 17631790. onde a frase sobre escravas reprodutoras, algumas mais brancas do que os próprios donos, aparecem uma nota de rodapé relacionada a questões tributárias sobre venda de escravos nascidos em território português.
A frase foi incluída quase casualmente, como se fosse conhecimento comum, o que sugere que a prática era amplamente conhecida e aceita na época. Os descendentes das famílias que mantiveram fazendas reprodutoras raramente falam sobre esse passado. A família Carvalho, por exemplo, que construiu fortuna significativa através do sistema, hoje nega veementemente qualquer envolvimento, apesar dos documentos que provam o contrário.
É um passado que Portugal, como nação prefere esquecer, mas as consequências genéticas e sociais permaneceram. Estudos de DNA realizados no século XX em populações do Algarve revelam níveis surpreendentemente altos de ancestralidade africana, muitas vezes em pessoas que se identificam como brancas e não têm conhecimento de qualquer ancestral africano.
Essa herança genética é resultado direto da missigenação forçada que aconteceu nas fazendas reprodutoras. João morreu em 1867, no Rio de Janeiro, aos 74 anos. deixou uma família grande e numerosos descendentes, muitos dos quais se tornaram figuras importantes na sociedade brasileira. Em seu testamento, deixou instruções específicas.
Que minha história nunca seja esquecida. Que meus descendentes saibam de onde viemos e o preço que foi pago. Que usem essa memória não para ódio, mas para garantir que tais práticas nunca se repitam. A história das fazendas reprodutoras do Algarve nos força a confrontar um dos aspectos mais perturbadores da escravidão, a exploração reprodutiva sistemática.
Não foi apenas trabalho que foi roubado dos escravos, mas suas próprias capacidades de criar famílias, de ter filhos que permanecessem seus, de exercer a maternidade e paternidade mais básicas. As mulheres como Maria, Catarina e Isabel foram reduzidas a funções reprodutivas. Seus corpos usados para produzir mercadoria humana.
Os homens como Antônio foram usados como reprodutores. As crianças como João foram arrancadas de suas mães e vendidas. E tudo isso foi feito metodicamente, registrado em livros contábeis, tributado pelo Estado, batizado pela igreja. O fato de que essa prática produziu escravos mais brancos do que os próprios donos adiciona uma camada adicional de perturbação, expõe a natureza arbitrária e construída da raça como categoria.
Revela que a escravidão não era realmente sobre cor de pele, mas sobre poder e lucro. Um homem como João, indistinguível visualmente de portugueses brancos, ainda era propriedade porque nascera de mãe escrava. Hoje, mais de dois séculos depois, poucos portugueses conhecem essa história. Não é ensinada nas escolas, não é discutida publicamente.
Os locais onde as fazendas reprodutoras existiram não têm placas ou memoriais. É como se a nação tivesse decidido coletivamente esquecer. Mas a história permanece nos documentos que sobreviveram, nas cartas de padres escandalizados, nos panfletos de abolicionistas, no manuscrito precioso de Catarina, nas palavras publicadas de João e permanece no DNA de milhares de portugueses e brasileiros que carregam sem saber a herança genética daquelas fazendas.
A história das fazendas reprodutoras do Algarve é um lembrete de que a escravidão não foi apenas uma instituição econômica distante e abstrata, foi um sistema de violência íntima e prolongada que destruiu famílias, desumanizou pessoas e deixou cicatrizes que atravessam gerações. E aconteceu não apenas nas colônias distantes, mas no coração da Europa, na metrópole portuguesa, sob os olhos de todos que escolheram não ver.

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