Enfermeira Não Acredita Em Espíritos… Até Paciente Falar Com ALGUÉM Que NÃO ESTAVA ALI

“Não me deixa morrer, enfermeira Zilma, por favor, não me deixa.” “Calma, dona Cecília. A senhora está bem, está melhor que eu.” “Eu não vou. Eu não vou. Eu quero ficar. Me deixa ficar.” “Dona Cecília, com quem a senhora tá falando?” “Ah, eles querem me levar, enfermeira. Eles estão bem ali. Olha.” 6 da manhã, eu entro no quarto 47 para dar banho de leito na dona Cecília, uma senhora de 76 anos, fratura de fêmur, primeiro pós-operatório, tudo estável.

Ela me agarra pelo pulso com uma força que não combinava com aquele corpo frágil e fala: “Zilma, não me deixa morrer. Pelo amor de Deus, não me deixa.” Eu rio, tento acalmar. “A senhora tá ótima, dona Cecília, melhor que eu.” Ela insiste três vezes, mas na terceira vez eu percebo, ela não estava olhando para mim.

Estava olhando para a frente da cama, falando com alguém que eu não via e dizendo: “Eu não quero ir, não vou, não vou.” Meu nome é Zilma, sou enfermeira há 22 anos aqui em São Paulo e até aquele dia eu achava que hospital era só ciência, protocolo, medicação. Eu nunca acreditei em aparição, em espírito, nessas coisas que a gente ouve, mas nunca leva a sério.

Mas naquele momento, algo mudou dentro de mim. Sabe quando o corpo inteiro gela e você sente que tem algo errado no ar? Era isso. Não era medo, era certeza. A certeza de que dona Cecília estava vendo algo ou alguém que eu não consegui enxergar. O olhar dela estava fixo num ponto específico do quarto, um ponto vazio para mim, mas claramente ocupado para ela.

E a voz dela tremia, não de confusão, mas de reconhecimento, como se estivesse diante de alguém que ela conhecia muito bem, alguém que tinha vindo buscá-la. E ela, com todas as forças que ainda lhe restavam, estava dizendo não. Saí do quarto devagar, tentando processar o que tinha acabado de presenciar.

Fui até o posto de enfermagem, peguei o material pro banho de leito, bacia, toalhas limpas, sabonete neutro, luvas. Respirei fundo e tentei me convencer de que era apenas confusão mental pós-operatória. “Deve ser anestesia ainda fazendo efeito”, pensei. Desorientação comum em idosos depois de cirurgia. Mas no fundo eu sabia que não era isso.

Dona Cecília estava lúcida. Ela tinha conversado comigo normalmente durante a noite toda. Sabia meu nome, sabia onde estava, que dia era, o nome dos filhos. Orientada no tempo e no espaço, como a gente diz na enfermagem. Então, por que aquele pavor repentino? Por que aquela insistência desesperada em dizer que não queria? E, principalmente, com quem ela estava falando? Voltei pro quarto alguns minutos depois, empurrando o carrinho com todo o material. A porta estava entreaberta.

Empurrei devagar e o que eu vi naquele momento mudou minha vida para sempre. Dona Cecília estava imóvel na cama, olhos abertos, mas sem brilho, sem movimento no peito, sem respiração. Larguei tudo e corri até ela. Toquei o pescoço, procurando o pulso carotídeo. Nada. Parada cardiorrespiratória. Larguei tudo e corri até ela.

Acionei o código azul. A equipe chegou correndo. Médico, outros enfermeiros, técnicos. Começamos a RCP imediatamente. Massagem cardíaca, ventilação, adrenalina. Dois, três, cinco. Eu ouvi as costelas dela quebrando sob a pressão das compressões. Ela tinha osteoporose severa, os ossos fracos como casca de ovo. Cada compressão que eu fazia para tentar trazer ela de volta era também uma fratura a mais.

E enquanto eu pressionava aquele peito frágil, só conseguia pensar: ela sabia. Ela sabia que alguém tinha vindo buscá-la. Fizemos 10 minutos de reanimação. 15, nada de resposta. O médico olhou pro monitor, linha reta, olhou pro relógio e declarou: “Óbito às 6:47.” A equipe começou a se dispersar.

Eu fiquei ali parada ao lado da cama, olhando pro corpo que há poucos minutos estava vivo, falando, resistindo, tentando entender o que tinha acontecido. Não tinha sido complicação cirúrgica, não tinha sido embolia, choque, nada que a medicina pudesse explicar com clareza. Ela simplesmente partiu como se tivesse perdido uma batalha invisível, como se depois de resistir três vezes, tivesse finalmente cedido ao chamado de quem veio buscá-la.

Quando a equipe saiu e eu fiquei sozinha para preparar o corpo, comecei a recolher os pertences pessoais dela para entregar à família. Abri a gaveta do criado-mudo ao lado da cama, roupas, chinelo, uma bolsinha com documentos. E no fundo uma fotografia antiga, daquelas em preto e branco com as bordas amareladas pelo tempo.

Era dona Cecília jovem, deve ter uns 30 anos na foto, ao lado de um homem bonito, de terno, sorrindo. Os dois abraçados, felizes. Virei a foto. No verso, com aquela letra trêmula de quem escreveu há muito tempo, estava escrito: “Meu amado Antônio, onde você for, eu vou. Te espero do outro lado.

Perguntei depois pra filha dela quem era Antônio. Era o marido, tinha morrido três meses antes, também de complicações pós-cirúrgicas. E naquela manhã de terça-feira às 6:47, eu tenho certeza absoluta. Antônio cumpriu a promessa. Ele veio buscá-la e depois de três negativas, ela finalmente aceitou ir com ele. Meu corpo inteiro arrepiou quando entendi isso, porque não foi a morte que levou dona Cecília, foi o amor. Aquilo me transformou completamente.

Eu percebi que a morte não é só a parada dos batimentos cardíacos, não é só o fim das funções vitais registrado num prontuário. Tem algo mais. Tem despedida, tem chamado, tem passagem. Tem um momento em que dois mundos se encontram e alguém que já partiu estende a mão para quem ainda está aqui. E a partir daquele dia, eu comecei a prestar atenção de verdade nos sinais, nos olhares perdidos dos pacientes, nas frases soltas, aparentemente sem sentido, nos momentos em que eles falam sozinhos. Ou será que não estão tão sozinhos assim? Comecei a perceber que o

hospital não é só um lugar de cura e tratamento. Ele também é um portal, um espaço fino, delicado, onde a fronteira entre a vida e a morte fica quase transparente, onde despedidas silenciosas acontecem todos os dias, onde o amor atravessa a linha invisível e se faz presente, mesmo que a gente não consiga ver. E você que está me ouvindo agora, pare e pensa.

Já reparou como algumas pessoas horas antes de partir ficam diferentes? Como se tivessem vendo algo, conversando com alguém, sorrindo para um canto vazio do quarto? Não é delírio, não é confusão, é reconhecimento, é reencontro. Sinta esse arrepio subindo agora pela sua espinha, porque o que eu vou te contar a seguir não envolve só alguém que foi buscado, envolve um homem que escolheu o momento exato de partir.

Um homem que segurou a própria vida com força, mesmo quando o corpo já não aguentava mais, só para poder olhar nos olhos da mulher que amava uma última vez e que me ensinou a lição mais linda e mais dolorosa que eu já aprendi. O amor é mais forte que qualquer cadeia, qualquer prisão, qualquer condenação, até mesmo a prisão do próprio corpo que está morrendo.

Três meses depois do caso da dona Cecília, eu ainda carregava aquela sensação estranha no peito. Sabe quando você começa a perceber coisas que sempre estiveram ali, mas você nunca tinha parado para olhar de verdade? Foi o que aconteceu comigo. Eu comecei a reparar nos pacientes terminais, na forma como eles falavam sobre despedidas, como pediam mais um dia, mais uma hora, como esperavam por alguém específico antes de partir.

E foi exatamente nessa época que eu conheci o Marcelo. Ele tinha 38 anos. Estava algemado à cama do hospital com escolta policial revezando na porta do quarto 24 horas por dia, câncer pancreático em estágio avançado. O corpo dele estava completamente amarelado pela icterícia, magro, consumido pela doença, mas os olhos ainda brilhavam e ele repetia uma frase o dia inteiro.

Toda vez que eu entrava para checar os sinais vitais, trocar o soro, aplicar a medicação, “Zilma, eu só quero ver minha esposa mais uma vez. Só? Mais uma vez. Só isso.” A voz dele era fraca, mas carregada de uma urgência que doía de ouvir. Marcelo era presidiário. Estava cumprindo pena por assalto à mão armada, tinha cometido erros graves no passado, estava pagando por eles, mas ali naquela cama de hospital, algemado, morrendo aos poucos, ele não era um criminoso.

Ele era apenas um homem apaixonado, querendo se despedir da mulher que amava antes de partir deste mundo. O problema é que nenhum hospital oncológico da cidade queria recebê-lo para tentar uma cirurgia paliativa por causa do histórico criminal dele, por preconceito, por medo, sei lá.

A verdade é que enquanto a burocracia travava lá fora, com transferências negadas e pedidos ignorados, ele definhava ali dentro, dia após dia, sentindo o corpo desistir aos poucos. Eu entrava no quarto dele no mínimo seis vezes por plantão. Trocava soro, checava pressão, aplicava analgésicos para a dor que só aumentava. E ele sempre puxava a conversa comigo.

“Zilma, você acha que ela vai conseguir vir me ver? Será que o juiz vai liberar a visita?” Eu mentia, sempre mentia. Dizia que sim, que logo ela conseguiria a autorização, mas por dentro eu sabia que o tempo dele estava acabando rápido demais. Ele falava da esposa com um carinho que me emocionava profundamente.

Contava como eles se conheceram ainda adolescentes no bairro onde cresceram, os planos que tinham de construir uma vida juntos, os erros que ele cometeu e que destruíram tudo. O assalto que deu errado, a prisão, os anos perdidos. “Eu só queria poder dizer para ela pessoalmente que eu sinto muito, que eu nunca deixei de amar ela nenhum dia, que ela foi a única coisa certa que eu fiz na minha vida inteira.

E os olhos dele enchiam de lágrimas que ele tentava esconder, virando o rosto pro lado. Um dia, era uma terça-feira à tarde, eu estava no posto de enfermagem, organizando prontuários quando ouvi uma voz firme e determinada na recepção do andar. “Eu vim ver meu marido. Meu nome é Ana Paula. Sou esposa do Marcelo Santos. Tenho autorização judicial aqui.” Levantei a cabeça na hora.

Era ela, a esposa que ele tanto esperava. Ela tinha cabelo comprido, preso num rabo de cavalo simples, roupa modesta, uma bolsa velha a tiracolo, mas tinha nos olhos dela uma determinação, uma força que eu raramente vi em alguém. Ela tinha movido céus e terras para conseguir aquela autorização.

Tinha ido atrás de advogado, tinha enchido o juiz de petições, não tinha desistido nem por um segundo. Fui até a recepção, peguei os documentos dela, conferi tudo, falei com a escolta policial que estava de plantão. Tudo certo. Autorizaram a visita de 15 minutos. Acompanhei ela até o quarto. Bati na porta. Abri devagar. “Marcelo, tenho uma visita para você.” O rosto dele se transformou completamente quando viu quem era.

Foi como se todas as dores tivessem sumido naquele instante, como se ele tivesse voltado no tempo e fosse novamente o garoto apaixonado que conheceu aquela menina no bairro. Ele sorriu. Ela entrou, segurou a mão dele com cuidado e ficaram ali em silêncio, apenas se olhando. Não precisava de palavras. O amor deles estava ali palpável, real, atravessando grades e algemas e julgamentos e todo o peso do mundo.

Saí do quarto para dar privacidade para eles. Fiquei do lado de fora, checando a hora. 15 minutos eram o máximo permitido. Eu ouvia a voz baixa dela falando coisas que eu não conseguia distinguir. Ouvia ele respondendo, a voz embargada. Em determinado momento, ouvi ela cantarolando baixinho uma música. Depois descobri que era a música do casamento deles, que tinha sido só no civil, simples, mas que para eles tinha sido o dia mais feliz da vida. Os 15 minutos passaram rápido demais.

A escolta bateu na porta. Acabou o tempo. Ela beijou a testa dele demoradamente. Sussurrou algo no ouvido dele que eu nunca vou saber o que foi, enxugou as lágrimas e saiu. Eu vi ela caminhando pelo corredor, chorando, mas com um sorriso no rosto, como se estivesse em paz por ter conseguido chegar a tempo.

Esperei uns 2 minutos e voltei pro quarto para checar como Marcelo tava. Imaginei que estivesse emocionado, talvez chorando também. Entrei. Ele estava deitado, de olhos fechados, com um sorriso leve e sereno no rosto. Aquele sorriso de quem finalmente está em paz. Achei que estivesse dormindo. Me aproximei da cama, toquei o pulso dele para checar. Nada.

Não tinha mais batimento. O coração tinha parado. Chamei a equipe imediatamente, mas no fundo eu já sabia que não adiantaria. O médico veio, confirmou com o estetoscópio, checou pupilas, olhou pro relógio. Óbito às 15:12. Marcelo tinha partido poucos minutos depois que ela saiu do quarto, como se ele tivesse segurado a vida com as próprias mãos, com força de vontade pura, só para poder vê-la uma última vez, para poder olhar nos olhos dela, para poder sentir o toque dela, para poder ouvir a voz dela e a música que eles dançaram no dia do casamento. E

quando ele teve essa despedida, quando ele soube que ela não tinha esquecido dele, que ela ainda o amava, apesar de tudo, ele simplesmente se permitiu e deixou o corpo descansar, deixou a dor acabar, foi embora em paz. Sabe o que mais me emocionou nessa história toda? Quando eu estava preparando o corpo dele para ser levado pro IML, encontrei uma carta dobrada embaixo do travesseiro.

Ele tinha escrito naquela manhã mesmo antes de saber que ela conseguiria vir. A letra estava trêmula, difícil de ler, mas dizia: “Ana, obrigado por não ter me abandonado. Obrigado por ter me amado mesmo quando eu não merecia. Agora eu posso ir em paz. Te amo para sempre. Me espera lá que eu vou te esperar também.

Como ele sabia que aquele era o último dia? Como ele sabia que ela conseguiria chegar? Naquela noite, quando eu voltei para casa depois do plantão, eu sentei no sofá e chorei. Chorei de emoção, de tristeza, de gratidão por ter presenciado aquilo, porque eu entendi algo muito profundo naquele dia.

A gente não morre quando o corpo para de funcionar. A gente morre quando não há mais nada nem ninguém para nos segurar aqui. O Marcelo tinha crimes no passado, tinha erros, tinha uma ficha criminal, tinha decepcionado pessoas, mas ele também tinha amor, amor verdadeiro, daqueles que não desiste, que não abandona, que atravessa muros de prisão e portões de hospital.

E foi exatamente esse amor que segurou ele vivo até o último segundo possível, até que ele pudesse olhar nos olhos dela e dizer sem precisar falar: “Está tudo bem agora. Eu vi você, eu senti você. Posso ir?” E você que tá me ouvindo agora, já reparou como tantas pessoas que estão morrendo partem logo depois de receber uma despedida? Como se estivessem literalmente esperando por uma permissão emocional para poder seguir em frente? Eu aprendi ali que o corpo obedece a alma e que quando a alma decide que já cumpriu sua missão aqui, que já se despediu de quem precisava, que já disse o que tinha que dizer, ela simplesmente

vai, com ou sem a permissão da medicina. Respire fundo agora e sinta, porque o que vem a seguir vai te mostrar que os espíritos não apenas vêm buscar quem amam, às vezes eles também vêm avisar, vêm alertar, vêm trazer uma mensagem urgente que pode mudar completamente o rumo da vida de quem ficou.

E essa próxima história envolve uma médica, um elevador vazio e uma conversa que jamais deveria ter acontecido. A Dra. Helena ficou paralisada ali no corredor, olhando pro elevador vazio, tentando processar o que tinha acabado de acontecer. Ela tinha certeza absoluta de que tinha visto aquela mulher, tinha ouvido a voz dela, tinha conversado com ela. Não era alucinação, não era cansaço.

Foi real, ou pelo menos pareceu completamente real. As portas do elevador se fecharam e ele desceu. Ela ficou ali parada, coração acelerado, suor frio na testa. Aquela sensação de que algo muito além da compreensão dela tinha acabado de acontecer, pegou o celular, desceu pro pronto-socorro, foi direto pro posto de enfermagem e perguntou: “Vocês conhecem uma enfermeira chamada Camila, que trabalha aqui?” A técnica de enfermagem respondeu: “Conheço.

Ela tá de folga hoje, mas amanhã ela pega um plantão extra à noite. Por quê?” A Dra. Helena não soube o que dizer. Inventou uma desculpa qualquer e saiu. Ficou a noite inteira sem dormir, pensando se deveria ou não dar aquele recado. “Vou parecer louca”, pensou. “Vou dizer que conversei como um fantasma no elevador”.

Mas alguma coisa dentro dela, uma intuição forte, dizia que aquilo era importante, que ela precisava passar o recado. No dia seguinte, ela procurou a Camila, encontrou ela na troca de plantão. “Camila, eu sei que isso vai parecer muito estranho, mas eu preciso te contar uma coisa.” A Dra. Helena contou tudo. O elevador, a senhora, o recado.

Enquanto ela falava, o rosto da Camila foi ficando pálido. Quando ela terminou, a Camila puxou o celular do bolso, abriu a galeria de fotos e mostrou uma imagem pra Dra. Helena. Era foto de uma senhora de cabelo grisalho curto, roupa simples, sorrindo, a mesma mulher do elevador. “Essa é minha mãe“, a Camila disse, a voz tremendo. “Ela morreu há três meses.

“Câncer de pulmão, morreu aqui neste hospital.” “Camila, eu juro para você que eu conversei com essa mulher ontem no elevador. Ela pediu para eu te dizer para não pegar o plantão extra hoje à noite. Disse que era importante.” A Camila ficou em silêncio por um longo tempo, então respirou fundo e disse: “Eu vou cancelar o plantão.

“Eu não sei porquê, mas se minha mãe mandou esse recado, é porque tem um motivo.” E foi exatamente isso que ela fez. Ligou para a coordenação, inventou uma desculpa e cancelou o plantão extra que ia fazer naquela noite. No dia seguinte, a notícia correu o hospital inteiro. A enfermeira, que pegou o plantão no lugar da Camila, tinha sofrido um acidente gravíssimo na volta para casa.

Um caminhão desgovernado invadiu a pista, bateu de frente no carro dela. A moça sobreviveu por milagre, mas ficou meses internada. O acidente aconteceu exatamente no horário e no trajeto que a Camila faria se tivesse pego aquele plantão. Quando a Dra. Helena soube disso, ela entrou em choque. Ela tinha sido usada como mensageira.

A mãe da Camila, mesmo depois de morta, tinha encontrado um jeito de avisar a filha, tinha aparecido num elevador para uma médica cética, racional, que nunca acreditou em nada disso, justamente porque sabia que uma mensagem vinda de alguém assim teria mais peso, seria levada a sério. E foi, a Dr. Helena me contou isso com lágrimas nos olhos. “Zilma, eu passei a vida inteira achando que morte era o fim, que depois que o coração para não tem mais nada.”

“Mas agora eu sei que eu estava errada. Existe algo mais. Existe continuidade, existe amor que atravessa a morte e continua protegendo quem ficou.” Eu segurei a mão dela e disse: “Doutora, a senhora foi escolhida para ser a ponte. A mãe da Camila sabia que a senhora era a pessoa certa para levar o recado e a senhora salvou a vida da filha dela.”

Nós duas ficamos ali na copa vazia do hospital às 3:30 da manhã chorando juntas. Porque entendemos algo que a medicina não ensina. O amor não acaba quando o corpo morre. Ele continua, ele age, ele protege, ele avisa, ele atravessa dimensões para cuidar de quem ainda está aqui. E você que está me ouvindo agora, quantas vezes você já teve uma intuição forte para não fazer alguma coisa, para não pegar aquele caminho, para não entrar naquele carro? E obedeceu sem entender porquê.

Talvez não tenha sido só intuição. Talvez tenha sido alguém que te ama do outro lado sussurrando no seu ouvido. “Não vai não. Hoje. Hoje não.” A gente costuma chamar isso de sexto sentido, de pressentimento, de sorte, mas eu aprendi que muitas vezes é amor, é proteção, é alguém que já partiu, mas continua te guardando de longe.

E isso não é assustador, isso é lindo. Isso é a prova de que a morte não separa ninguém de verdade. Ela só muda o jeito como a gente se comunica, só muda o endereço. Mas o amor, o amor fica sempre. Sinta esse calor no peito agora, porque o que vem a seguir é o gran finale.

A história que vai te mostrar que todas essas experiências me transformaram completamente e que me fizeram entender o verdadeiro propósito do meu trabalho. Não é só cuidar de corpos, é também honrar almas. É ser testemunha de despedidas sagradas. É ser a ponte entre dois mundos quando ninguém mais consegue enxergar essa ponte.

Depois de todas essas experiências, eu não sou mais a mesma pessoa que entrou naquele quarto da dona Cecília há anos atrás. Eu mudei, minha forma de cuidar mudou. Minha forma de olhar pra morte mudou completamente. Eu aprendi que o hospital não é só um lugar de diagnóstico, cirurgias e tratamentos. Ele é também um espaço sagrado, onde despedidas acontecem, onde reencontros impossíveis se tornam reais, onde o amor prova que é mais forte que qualquer fronteira, até mesmo a fronteira entre a vida e a morte.

E hoje, quando eu entro no quarto de um paciente terminal, eu não vejo apenas um corpo que está falhando, eu vejo uma alma que está se preparando para uma viagem. E o meu papel, eu descobri, não é só medicar, não é só aliviar a dor física, é também acolher, é também escutar, é também permitir que aquele momento final seja o mais digno, o mais amoroso, o mais completo possível.

Sabe quantas vezes depois do caso da dona Cecília e do Marcelo e da história da Dra. Helena, eu presenciei pacientes conversando com pessoas invisíveis, sorrindo para cantos vazios, chamando nomes de familiares que já morreram há anos. Antes, eu chamaria isso de confusão mental, delírio pré-morte, hipóxia cerebral.

Hoje eu chamo de visita, porque é exatamente isso que acontece. Eles vêm, os que já partiram, vêm buscar quem está prestes a partir. E isso não é triste, é reconfortante, é lindo. Teve uma vez, faz uns seis meses, que eu estava cuidando de um senhor de 82 anos chamado seu Osvaldo. Ele estava em cuidados paliativos, câncer de próstata com metástase óssea generalizada, sem mais possibilidade de tratamento curativo. A família já sabia que era questão de dias. Ele estava consciente, mas muito fraco.

Quase não falava mais. Eu entrava de hora em hora para checar ele, ajustar a morfina, trocar a posição para evitar escaras. E numa dessas vezes, quando entrei no quarto, ele estava sorrindo, olhando pro canto esquerdo do quarto, perto da janela, sorrindo como uma criança. “Seu Osvaldo, tá tudo bem?“, perguntei.

Ele olhou para mim e disse com a voz fraquinha: “Tá, Zilma, meu pai veio me ver.” Eu senti aquele arrepio conhecido subir pela espinha. “Seu pai tá aqui?”, perguntei, sem tirar sarro, sem duvidar. Ele acenou que sim com a cabeça. “Tá ali. Disse que veio me buscar, mas que só vamos quando eu estiver pronto.” Eu me aproximei da cama, segurei a mão dele e perguntei: “E o senhor tá pronto?” Ele pensou um pouco e disse: “Quase. Só quero esperar meu filho chegar.

“Ele mora longe. Vem amanhã.” Eu sorri e disse: “Então o senhor espera ele chegar, tá bom? Eu ajudo o senhor a esperar.” E foi exatamente o que aconteceu. Seu Osvaldo segurou a vida por mais um dia inteiro. O filho chegou na manhã seguinte vindo de Curitiba. Ficou duas horas com ele.

Conversaram, choraram, riram, de memórias antigas, fizeram as pazes de mágoas antigas. E quando o filho saiu do quarto para tomar um café, o seu Osvaldo me chamou. Eu me aproximei, ele olhou pro canto do quarto de novo e disse: “Zilma, agora eu tô pronto. Pode avisar meu pai.” E fechou os olhos. Dois minutos depois, ele partiu em paz, completo, com tudo resolvido. Com tudo resolvido.

Eu chorei naquele dia, mas não chorei de tristeza, chorei de gratidão. Gratidão por ter sido escolhida para testemunhar aquilo, por ter sido a pessoa que segurou a mão dele e permitiu que ele esperasse o tempo que precisava. Porque é isso que os espíritos fazem quando vêm buscar alguém.

Eles não arrancam a pessoa à força, eles esperam, eles respeitam, eles dão tempo para despedida. E quando a alma finalmente está pronta, quando não há mais nada prendendo ela aqui, aí sim acontece a passagem tranquila, suave, amorosa. Isso me fez entender uma coisa muito importante.

A morte só é violenta e sofrida quando a gente resiste demais, quando a gente se agarra desesperadamente a este mundo, com medo do que vem depois. Mas quando a gente confia, quando a gente sabe que tem alguém esperando do outro lado, quando a gente já se despediu de quem precisava, a morte vira apenas uma passagem, uma porta que se abre, uma mudança de endereço.

E tem sempre alguém do outro lado dessa porta de braços abertos, sorrindo, dizendo: “Vem, eu tô aqui, você não tá sozinho“. E isso muda tudo. Muda a forma como a gente vive, muda a forma como a gente ama, muda a forma como a gente se despede. Hoje, quando eu vejo um paciente terminal conversando com o vazio, eu me aproximo devagar e pergunto: “Quem veio te visitar?” E a maioria responde: “Fala o nome, descreve a pessoa”. E eu sempre, sempre valido.

Eu digo: “Que bom que ele veio, você não tá sozinho.” Porque eu aprendi que uma das piores coisas que a gente pode fazer com quem está morrendo é negar a experiência espiritual que eles estão tendo, chamar de delírio, chamar de alucinação, ignorar. Isso deixa a pessoa se sentindo louca, sozinha, incompreendida, no momento mais importante e delicado da vida dela.

Mas quando a gente valida, quando a gente acolhe, quando a gente diz, “Eu acredito em você“, a pessoa relaxa. A pessoa se permite viver aquele momento plenamente, se permite fazer a transição com leveza. E isso é cuidado, isso é amor, isso é enfermagem de verdade. Não é só técnica, não é só protocolo, é presença humana genuína no momento mais sagrado da existência de alguém.

Eu me tornei uma ponte entre os médicos e os pacientes, entre as famílias e os pacientes e sim, entre os dois mundos, o visível e o invisível. Eu não tenho medo mais. Eu não duvido mais. Eu simplesmente aceito que existe muito mais entre o céu e a terra do que a ciência consegue explicar. E que tudo bem não entender tudo, tudo bem ser só a testemunha, tudo bem ser só o instrumento.

Sabe o que eu ganhei com tudo isso? Eu ganhei paz. Eu não tenho mais medo da morte, nem da minha, nem da de ninguém, porque eu sei, não acredito, eu sei que a morte não é o fim, é só uma passagem. E que quem a gente ama nunca deixa a gente de verdade.

Eles continuam por perto, protegendo, guiando, avisando quando tem perigo, vindo buscar quando chega a hora e deixando sinais pelo caminho pra gente saber que eles estão bem, que eles continuam existindo, que o amor não acabou. Minha mãe morreu há 2 anos, câncer de mama. Ela morreu aqui no hospital onde eu trabalho e eu cuidei dela nos últimos dias. E sabe o que ela me disse um dia antes de partir? “Zilma, sua avó veio me visitar hoje.

“Ela tá linda, toda de branco. Disse que vai me levar num lugar muito bonito.” Eu segurei a mão da minha mãe, olhei nos olhos dela e disse: “Então vai tranquila, mãe. A vó tá te esperando e quando chegar a minha hora, a senhora me espera também?” Ela sorriu e disse: “Eu vou estar lá, pode ter certeza.

E no dia seguinte ela partiu exatamente como a dona Cecília, como o Marcelo, como o seu Osvaldo, no momento certo, quando tudo estava resolvido, quando o amor tinha sido dito, quando a despedida tinha sido feita. Eu não chorei de desespero, eu chorei de gratidão, porque eu sabia que ela não tinha ido sozinha e que eu vou reencontrá-la um dia. Se você chegou até aqui, obrigada por me ouvir.

Obrigada por me deixar compartilhar essas histórias com você. Eu sei que algumas pessoas vão dizer que é sugestão, que é cansaço, que é falta de oxigênio no cérebro. Tudo bem, cada um acredita no que quiser, mas eu quero deixar uma mensagem final para você. Se você perdeu alguém que você ama, saiba que essa pessoa não desapareceu.

Ela só mudou de forma. Ela continua existindo. Ela continua te amando e ela vai te esperar quando chegar a sua hora. Não tenha medo da morte. Tenha medo de viver sem amar. Tenha medo de deixar coisas não ditas. Tenha medo de adiar abraços, de guardar mágoas, de perder tempo com o que não importa, porque a única coisa que atravessa a morte é o amor.

Todo o resto, dinheiro, sucesso, orgulho, raiva, vaidade, fica para trás. Só o amor segue com a gente. Então, viva com amor, perdoe com amor, se despeça com amor e confie que quando chegar o seu momento, vai ter alguém esperando por você do outro lado, de braços abertos, sorrindo, pronto para te levar para casa.

Porque no fim das contas a morte não nos separa de quem amamos. Ela só nos leva de volta para onde todos nós um dia vamos nos reencontrar. E esse lugar é feito de luz, de paz e de amor eterno. Você sentiu esse alívio, essa certeza suave de que tudo faz sentido? É isso que eu queria que você levasse daqui.

A morte não é o fim, é só o começo de um reencontro que vai durar para sempre. E até lá, viva, ame, perdoe, porque um dia todos nós vamos para casa e quem amamos já tá lá nos esperando.

Related Posts

Our Privacy policy

https://abc24times.com - © 2025 News