O Encontro Secreto: A Noite em que Van Hattem Enfrentou o Empresário Misterioso e Mencionou Lulinha
A noite estava mais silenciosa do que o normal em Brasília quando o deputado Van Hattem entrou no estacionamento subterrâneo de um edifício comercial discreto, localizado a poucos quilômetros da Praça dos Três Poderes. Embora tivesse passado o dia inteiro em reuniões acaloradas, seu olhar estava ainda mais pesado naquele momento. Ele sabia que não estava indo a um encontro comum. Sabia que havia algo maior, algo que poderia mudar completamente o rumo de uma investigação que circulava nos bastidores há semanas — uma investigação que, segundo rumores, poderia atingir nomes muito conhecidos, incluindo o de Lulinha.

O deputado caminhou lentamente até o elevador, verificando a cada passo se não estava sendo seguido. O homem que ele estava prestes a encontrar, o empresário Renato Orsani, não era alguém com quem parlamentares marcavam encontros “informais”. Orsani era discreto, mas muito influente. Seus negócios iam de tecnologia a logística, e sua lista de contatos incluía ministros, governadores, altos executivos e até ex-assessores presidenciais. Apesar disso, ele raramente era visto em público. A reunião daquela noite poderia ser a chave para destravar um quebra-cabeça político que vinha se formando nas sombras.
Quando as portas do elevador se abriram no 14º andar, Van Hattem encontrou o ambiente iluminado apenas por algumas lâmpadas indiretas. Orsani o aguardava próximo a uma mesa de vidro, segurando um copo de água, como se tentasse demonstrar calma. Mas seu olhar denunciava inquietação.
— Obrigado por vir — disse Orsani, com a voz baixa, quase um sussurro. — Precisamos conversar sem interrupções.
Van Hattem se aproximou, colocando sua pasta de documentos sobre a mesa.
— Você disse que tinha informações sobre um esquema envolvendo contratos públicos. E mencionou um nome específico… — o deputado fez uma pausa, olhando fixamente para o empresário — …Lulinha.
Orsani desviou o olhar por alguns segundos, respirando fundo antes de responder.
— Eu não mencionei nada com certeza — começou ele, cauteloso. — O que eu disse é que algumas movimentações financeiras estranhas passaram por empresas terceirizadas. E que uma dessas empresas teria ligações indiretas com pessoas próximas…
— Próximas a quem? — cortou Van Hattem, aumentando a tensão.
O silêncio que se seguiu parecia quase palpável. Orsani soltou o ar lentamente, como se estivesse prestes a cometer um grande erro ao continuar a conversa.
— Há rumores — disse ele — de que parte desse dinheiro pode ter sido direcionada para projetos particulares. Eu não posso provar nada. Só tenho fragmentos, documentos incompletos, conversas informais. Mas algumas pessoas que participaram disso afirmam que tudo leva a um grupo que, supostamente, tem ligação com Lulinha.
Van Hattem cruzou os braços, analisando cada palavra. Aquilo poderia ser apenas especulação, mas também poderia ser uma ponta solta de algo muito maior. Mesmo assim, ele sabia que estava lidando com informações perigosas. Nada daquilo poderia ser usado oficialmente sem comprovação.
— Eu quero ver os documentos — afirmou ele.
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Orsani caminhou até uma gaveta trancada, tirou uma chave do bolso e abriu lentamente. De lá, retirou um envelope marrom, grosso, cheio de papéis.
— Isso é tudo o que eu consegui reunir sem ser percebido — explicou ele. — Mas você precisa entender uma coisa: essas pessoas não brincam. Quem tentou expor isso antes desapareceu… ou foi silenciado por outros meios.
Van Hattem pegou o envelope, mas antes que pudesse abri-lo, ouviu-se um barulho vindo do corredor. Era leve, mas claramente presente. O deputado e o empresário se entreolharam. A tensão subiu instantaneamente.
— Você trancou a porta? — perguntou Van Hattem em voz baixa.
— Sim… mas isso não significa muita coisa aqui — respondeu Orsani.
O barulho continuou, agora mais próximo, como passos lentos e calculados. O deputado guardou o envelope dentro da jaqueta, levantou-se e ficou em posição defensiva. Durante alguns segundos, ninguém falou nada. Até que, finalmente, o som parou.
— Acho melhor continuarmos isso em outro lugar — sugeriu Orsani, com a voz tremendo.
Mas antes que pudessem sair dali, a porta se abriu lentamente. Uma sombra alta surgiu, mas, curiosamente, não parecia ser alguém armado. Era apenas um funcionário da limpeza, surpreendido por encontrar os dois ali tão tarde da noite. Depois de pedir desculpas várias vezes, ele saiu tão rápido quanto entrou.
Após o susto, os dois tentaram retomar a conversa, mas o clima já tinha mudado completamente.
— Eu vou investigar isso a fundo — disse Van Hattem. — Mas você precisa estar preparado. Se isso for verdade, se essas ligações realmente existirem, ninguém vai querer que essa informação veja a luz do dia.
Orsani assentiu.
— Eu sei. Por isso vim até você. Eu não confio em mais ninguém.
O deputado pegou sua pasta, guardou o envelope e se dirigiu ao elevador, mas antes de entrar, virou-se para o empresário:
— Se algo acontecer, se alguém tentar te pressionar… me procure imediatamente. Não importa a hora.
Quando Van Hattem chegou ao estacionamento e entrou em seu carro, sentiu o peso da decisão que acabara de tomar. Ele sabia que tinha algo grande nas mãos. Algo que, se revelado, poderia abalar estruturas importantes. Mas também sabia que estava entrando em território perigoso — onde cada passo precisava ser calculado.
Enquanto dirigia pela escuridão da noite brasiliense, só uma pergunta ecoava em sua mente:
“Até onde isso vai?”
E, talvez ainda mais importante:
“Quem está disposto a impedir que eu descubra?”
Nos dias que se seguiram, Van Hattem examinou cuidadosamente cada documento do envelope. Havia extratos bancários, conversas por e-mail, anotações soltas, e até fotos de reuniões suspeitas. Nada definitivo — mas tudo extremamente sugestivo. Algo real estava por trás daquele emaranhado de informações.
A cada nova pista, mais perguntas surgiam. E todas pareciam apontar para um esquema complexo, envolvendo empresas terceirizadas, contratos públicos e intermediários com ligações políticas indiretas. Nomes importantes apareciam de forma sutil, incluindo pessoas próximas de Lulinha, embora nada comprovasse qualquer participação direta.
Mesmo sendo apenas fragmentos, Van Hattem sabia que estava diante de algo explosivo.
E a história estava apenas começando…