6 horas da manhã. Mara Stein sobe os largos degraus de mármore da Villa Falkenstein. Sua simples bolsa de tecido pendurada no ombro, o coração cheio de esperança. Aos 28 anos, ela finalmente encontrou trabalho novamente, como babá em uma família rica perto de Munique. Após meses de desemprego, essa posição é sua salvação.
O salário deve pagar o tratamento de sua mãe doente e as crescentes dívidas. A casa é impressionante. Três andares, um jardim extenso, fontes, piscina. Tudo parece saído de uma revista de luxo. Mas o que mais a atinge é o silêncio. Um silêncio frio e pesado, como se uma doença pairasse sobre todo o lugar. “Mara.”

A voz que ecoa no hall de entrada é fria e controlada. Valeria Falkenstein, 35 anos, impecável, elegante, em um tailleur de calças claro que custa mais do que Mara ganha em um mês. Seu olhar desliza inquisitivo sobre a jovem com roupas simples e sapatos gastos. “Você é a nova babá.” “Sim, Senhora Falkenstein. Mara Stein. Muito prazer.”
“Espero que você entenda a responsabilidade que está assumindo. Meu enteado, Gabriel, é especial.” “Especial?“, Mara pergunta cautelosamente. “Você verá. Siga-me.” Elas sobem as escadas para o segundo andar. Valeria para em frente a uma porta pesada. Por trás dela, ouve-se uma tosse suave.
Quando ela abre, um menino de cerca de sete anos está deitado na cama, pálido como papel, com olheiras escuras, respirando com dificuldade. “Gabriel, esta é Mara, sua nova babá.” O menino levanta lentamente a cabeça. “Olá“, ele sussurra roucamente. Mara sente seu coração doer. Esta criança parece realmente doente. “Olá, Gabriel, como você está?” “Cansado.” Ele tosse novamente. “Gabriel tem uma doença respiratória crônica“, Valeria explica com frieza glacial.
“Ele tem que ficar na cama a maior parte do tempo. Você só precisa dar-lhe os medicamentos na hora certa e me chamar se algo acontecer.” Mara olha ao redor. O quarto é luxuoso, mas sem alma. Sem brinquedos, sem desenhos, sem cores infantis, apenas ordem clínica. “Ele nunca brinca, não sai. Os médicos disseram: ‘Repouso é melhor. Qualquer agitação pode ser perigosa.'”
Algo a incomoda, mas ela se cala. Hoje é seu primeiro dia. “E o pai dele?” “Richard viaja muito. Vem quando pode.” Valeria lhe entrega um papel. “Aqui está o plano de medicação. Siga-o rigorosamente.” Seis remédios diferentes por dia. Anti-histamínicos, broncodilatadores, sedativos, vitaminas, tudo misturado. “Ele toma tudo isso?”
“Foi o que o médico ordenou. Sem discussão.” Depois que Valeria sai, Mara se senta ao lado da cama de Gabriel. “Você gosta de histórias?” Seus olhos brilham um pouco. “Sim, mas Valeria diz que não devo ficar agitado.” Mara sorri tristemente. “E o que você gostava de fazer antes?” “Brincar no jardim, mas desde que Valeria mora aqui, eu não posso mais.”
“Desde quando ela está aqui?” “Dois anos, desde que a mamãe morreu.” Mara engole em seco. “Sua mãe?” “Acidente de carro“, ele diz baixinho. “Depois, Valeria veio e disse que cuidaria de nós.” Agora Mara entende. Valeria não é a mãe dele, mas a segunda esposa do pai. E algo na maneira como ela fala sobre o menino não soa como amor. O resto do dia, Mara observa tudo atentamente. Gabriel parece doente, sim, mas não o tempo todo.
De vez em quando, ele parece quase vivo, como se quisesse se levantar e brincar, mas ele se contém. “Você sente dor?”, ela pergunta. “Não, só fico tão cansado depois dos remédios.” Isso a faz pensar. Ele se sente melhor antes, e pior depois.
À tarde, Valeria chega com uma bandeja cheia de pílulas e xaropes. “Hora do seu remédio.” “Hoje não“, Gabriel sussurra. “Eu me sinto bem.” “Claro que você vai tomar“, diz Valeria, severamente. “Caso contrário, pode ter uma crise.” Ele toma tudo obedientemente e, em minutos, suas pálpebras caem. A cabeça tomba para o lado. Mais tarde, enquanto Mara arruma o quarto, o controle remoto cai e rola para debaixo da cama.
Ela se abaixa e a luz de seu celular atinge algo escondido, uma caixa. Curiosa, ela a puxa. Dentro, frascos de remédios vazios com outros nomes. Os rótulos mostram substâncias ativas como Lorazepam, Diazepam, fortes sedativos para adultos. O sangue de Mara gela.
O que algo assim está fazendo debaixo da cama de um menino de sete anos? No momento em que ela está lendo um dos frascos, ela ouve passos. Rapidamente, ela empurra a caixa de volta e ajeita a colcha. Valeria aparece na porta. “O que você está fazendo aí?” “Apenas arrumando“, Mara responde o mais calmamente possível. “Ele está dormindo?” “Sim, dormiu imediatamente.” “Bom, então vá para casa. Amanhã às 6 horas.” A caminho de casa, Mara repassa tudo novamente.
Os sedativos, o cansaço, o vazio no quarto e a sensação em seu estômago se transforma em uma convicção amarga. Algo está errado. Na manhã seguinte, Mara se levanta cedo. Ela está mais determinada do que nunca. Hoje, ela quer observar exatamente o que está acontecendo com Gabriel. Ela chega pontualmente na villa.
O ar cheira a perfume frio e cera. Valeria mal a cumprimenta e desaparece em seu escritório. “Bom dia“, sussurra Mara ao entrar no quarto de Gabriel. O menino está acordado, pálido, mas com um olhar alerta. “Dormiu bem?” “Um pouco. Sonhei com lá fora, com o jardim.” “Talvez você possa ir para lá em breve.” “Valeria diz que não posso. O médico proibiu.”
Mara sorri gentilmente. “Às vezes, os médicos mudam de ideia.” “Ela fica brava se eu perguntar demais“, ele diz baixinho. Mara sente a raiva surgir nela. Uma criança que tem medo de fazer perguntas. Ela se senta com ele e anota discretamente a hora da próxima medicação. Às 10 horas, Valeria chega como sempre com a bandeja. Seis remédios diferentes, cuidadosamente medidos.
“Aqui, Gabriel.” “Posso pular hoje? Eu estou me sentindo bem.” “Não“, diz Valeria friamente. “Você não quer acabar no hospital de novo, quer?” Gabriel os toma a contragosto. Após 10 minutos, seus olhos se fecham. Ele afunda em um sono profundo e não natural. Mara o observa.
A respiração fica mais rasa, regular, quase muito regular. Nenhuma criança dorme tão rápido com medicamentos normais. Ela anota o tempo novamente. Duas horas depois, ele lentamente abre os olhos. “Como você se sente?” “Tonto. E minha cabeça está pesada.” “Sempre depois das pílulas?” “Sim. Antes está tudo normal, depois fica tudo embaçado.” Mara balança a cabeça. Sua suspeita se endurece.
Ela decide arriscar algo à tarde. Quando Valeria traz a próxima dose, Mara finge interesse. “Senhora Falkenstein, posso lhe perguntar algo sobre nutrição? Eu li que uma dieta rica em vitaminas pode ajudar com problemas respiratórios.” Valeria se vira para ela, levemente irritada.
“Apenas faça o que está no plano.” Enquanto a mulher fala, Mara discretamente coloca parte do xarope na grande planta ao lado da cama. Apenas metade permanece no copo. Gabriel toma sua meia dose e, em duas horas, algo inesperado acontece. “Mara, eu me sinto diferente.” “Diferente como?” “Não tão cansado. Minha cabeça está clara.”
“Você quer tentar se levantar?” Gabriel hesita, depois assente. Lentamente, ela o ajuda. Trôpego, mas ele fica de pé. “Eu estou realmente de pé“, ele sussurra, atordoado. “Eu consigo ficar de pé.” Lágrimas enchem os olhos de Mara. “Viu? Você é forte.” Mas, de repente, passos ecoam. Valeria está voltando.
Mara rapidamente ajuda Gabriel a voltar para a cama. “Como ele está?” “Ele vai dormir de novo“, Mara diz rapidamente. Valeria olha para o menino com desconfiança. “Ele parece diferente hoje.” “Talvez porque ele comeu.” “Talvez.” Seu olhar se detém em Mara por um breve momento. Mais tarde, quando está sozinha, Mara escreve tudo em um pequeno caderno. Cada hora, cada dose, cada reação. Ela precisa de provas.
À noite, em casa, ela olha para o teto. Se eu estiver certa, ela o está envenenando. O pensamento não a deixa. Ela jura que descobrirá a verdade. O dia seguinte. Valeria sai de casa para fazer compras. Finalmente, Mara e Gabriel estão sozinhos. “Hoje vamos tentar algo“, diz Mara baixinho. “O quê?” “Nenhum remédio, só hoje.
Se você se sentir mal, me diga imediatamente.” Gabriel assente, ansioso, mas curioso. As horas passam. No começo, nada acontece. Então, um milagre. Gabriel dorme brevemente, mas naturalmente. E quando acorda, parece mais alerta, mais vivo. “Mara, estou com fome“, ele diz de repente. O coração de Mara quase para. É a primeira vez que você diz isso.
Ela corre para a cozinha, faz sopa para ele, e quando volta, o menino está sentado na cama, brincando com um carrinho de brinquedo antigo. “Você está brincando?” “Sim.” Ele sorri abertamente. “Eu me sinto bem.” Ela mal pode acreditar no que vê. Nas horas seguintes, ele caminha lentamente pelo quarto, dando pequenos passos sem tossir. “Eu acho que não estou doente“, ele diz finalmente, baixinho.
“Por que você pensa isso?” “Porque eu só me sinto mal depois das pílulas. Sem elas, eu me sinto bem.” Mara luta contra as lágrimas. A verdade é cruel e clara. Gabriel está sendo deliberadamente doente. Quando Valeria volta à noite, o menino finge estar doente perfeitamente, a pedido de Mara. “Como ele está?” “Calmo. Dormiu.” Valeria verifica a testa, o pulso, a respiração.
“Ele parece estranhamente acordado.” “Talvez porque ele dormiu bem.” “Estranho“, ela murmura. “Normalmente ele está exausto a esta hora.” Mara sente seu pulso acelerar. Ela não pode demonstrar nada.
“Devo preparar o jantar?” “Sim. E lembre-se de dar os remédios na hora certa.” Naquela noite, Mara mal consegue dormir em seu pequeno apartamento, o coração pesado. Ela tem provas, mas nenhuma explicação. Por que Valeria está fazendo isso? Dinheiro, ódio, loucura. No dia seguinte, Valeria a observa com atenção notável. Ela parece suspeitar que algo está errado. É impossível reduzir a dose. Gabriel fica sonolento, apático, grogue novamente.
Mas enquanto Valeria está brevemente ao telefone, o menino sussurra: “Mara, estou me sentindo mal de novo.” “Eu sei, querido, mas eu prometo, vamos encontrar uma solução.” “Você promete?” “Eu prometo.” À tarde, Richard Falkenstein, o pai de Gabriel, entra na casa. Um homem bem vestido de quarenta e poucos anos, com olhos cansados de quem trabalhou demais. É a primeira vez que Mara o vê.
“Como está meu filho?”, ele pergunta a Valeria. “Como sempre, fraco, mas estável.” “Eu quero vê-lo.” Ele sobe as escadas. Mara o segue em silêncio para não deixar Gabriel sozinho. “Olá, meu garoto”, diz Richard, inclinando-se sobre a cama. “Olá, Papai“, sussurra Gabriel. Richard coloca a mão na testa dele.
“Ainda quente? Talvez ele realmente precise ir para o hospital.” “Hospital?“, pergunta Mara surpresa. “Sim“, Valeria responde friamente. “O médico disse que talvez ele devesse ser monitorado em regime de internação.” “Que médico?“, pergunta Mara rapidamente. “Doutor Mendel“, diz Valeria, bruscamente. “Ele estava aqui quando você estava de folga.” Mara sabe imediatamente: nenhum médico esteve aqui. Quando Richard se afasta, Valeria sorri levemente.
“Estou preparando tudo para a clínica.” Mara sente suas mãos tremerem. Isso não pode acontecer. Se Gabriel for para uma clínica, longe de testemunhas, ele talvez nunca mais saia. À noite, a casa está silenciosa. Mara espera até ter certeza de que Valeria está dormindo. Então, ela vai para a cozinha em silêncio.
Lá, a mulher está acordada, com uma bandeja e copos de medição. “Valeria“, diz Mara com a voz firme. A mulher se vira lentamente. “O que você está fazendo aqui embaixo?” “Nós precisamos conversar. Sobre a medicação de Gabriel.” Valeria congela. “O que você quer dizer com isso?” “Eu sei que são falsificados. Eu sei que você o está envenenando.” Um silêncio gelado preenche a cozinha. “Você é louca“, Valeria chia.
“Não, eu tenho provas, resultados de laboratório. Haloperidol, Midazolam, venenos para uma criança. Você não pode provar nada.” “Posso, e Richard vai saber de tudo.” Um sorriso sinistro surge nos lábios de Valeria. “Richard? Ele acredita em mim. Você é apenas a pobre garota do subúrbio. Em quem ele vai acreditar?” “No filho dele“, Mara diz baixinho, “quando ele o vir falar.”
Valeria subitamente pega algo em uma gaveta. Uma faca brilha. “Então ele nunca vai ouvir você falar.” Mara recua. “Valeria, por favor, pense bem. Você está destruindo sua vida.” “Eu não estou destruindo nada. Estou salvando-a“, grita Valeria. “Esse garoto está entre mim e tudo o que me é devido.”
“Do que você está falando?” “A herança. Toda a fortuna pertence a Gabriel assim que ele completar 18 anos. Eu não ganho nada enquanto ele estiver vivo, saudável e lúcido. Mas se ele estiver diferente, eu ganho a custódia e o dinheiro.” “Você… você quer deixá-lo deficiente, não matá-lo, apenas fraco o suficiente para controlar a herança?” “**Isso não é assassinato, é sensatez.” Mara a encara horrorizada. “Você é doente.” “Eu sou inteligente.”
“Ninguém vai acreditar em mim. Muito menos em você.” Ela levanta a faca, mas Mara reage instintivamente. Ela pega a panela pesada do fogão e atinge. Um baque surdo. Valeria cai no chão, inconsciente. Mara treme, mas sabe que não há tempo. Ela corre escada acima. “Gabriel, acorde.”
O menino abre os olhos, confuso. “O que está acontecendo?” “Temos que ir. Imediatamente. Por quê? Eu explico depois. Você consegue andar?” Ele assente fracamente. Mara o ajuda. Escada abaixo. Lá embaixo, Valeria se mexe, sangue na testa, mas viva. “Vocês não vão sair daqui“, ela grita, pegando a faca. Mara agarra Gabriel e corre para o jardim.
“Socorro!“, ela grita desesperadamente. “Socorro, por favor!” Uma luz acende na casa vizinha. Um homem mais velho abre a porta. “O que está acontecendo aqui?” “Por favor, chame a polícia. Ela quer nos matar.” Atrás dela, Valeria está na porta, ofegante, com a faca na mão. Mas quando os vizinhos saem para a rua, ela a abaixa. Seus olhos estão negros de raiva.
“Isso não acabou”, ela chia. Mara aperta Gabriel contra si enquanto o vizinho telefona. Pela primeira vez em dias, ela sente esperança, mas também medo do que ainda está por vir. Os minutos até a chegada da polícia pareceram intermináveis. Mara segurou Gabriel, enquanto o menino tremia, mas permanecia acordado.
O vizinho, o Senhor Anton Bauer, ficou protetoramente na porta. “Fiquem dentro, a polícia está a caminho“, ele disse calmamente. Luzes azuis finalmente se refletiram na entrada da Villa Falkenstein. Duas viaturas pararam, oficiais saltaram. Valeria estava no jardim. A faca ainda estava em sua mão.
“Largue a arma. Imediatamente!“, gritou um deles. Valeria a deixou cair, mas sua voz era cortante. “Ela está mentindo. Esta mulher quer me chantagear.” “Eu?!“, gritou Mara, chocada. “Ela tentou nos matar!” Os policiais separaram as duas. Gabriel se agarrou ao braço de Mara. Sua voz tremia.
“Ela queria me levar para o hospital para que ninguém percebesse que eu estava saudável.” Os oficiais levaram Valeria. Mara explicou tudo, o mais calmamente possível. “Eu tenho provas“, ela disse, mostrando os resultados do laboratório. “Os medicamentos contêm sedativos fortes, Haloperidol, Midazolam. A criança estava sendo deliberadamente sedada.” O investigador-chefe, o Inspetor Neumann, franziu a testa.
“São acusações graves. Vamos apreender os frascos e enviá-los para análise.” Ao entrarem na villa, encontraram Valeria na cozinha. Ela havia tentado queimar os frascos vazios debaixo do fogão a gás, mas a polícia foi mais rápida.
“Senhora Falkenstein”, disse o inspetor friamente, “A senhora está sendo presa por tentativa de homicídio e abuso infantil.” “É um mal-entendido!“, ela gritou enquanto as algemas se fechavam. “A babá está mentindo. Ela é louca.” Mas as provas falavam por si. Pouco depois, Richard Falkenstein voltou, ainda de terno, completamente confuso. “O que está acontecendo aqui?” Mara se adiantou.
“Senhor Falkenstein, sua esposa estava envenenando seu filho.” “O quê?” Ele olhou para ela como se tivesse perdido a cabeça. “Eu tenho análises de laboratório. Os medicamentos foram adulterados. Ela queria enfraquecer Gabriel para controlar a herança.” Richard ficou paralisado. Então ele ouviu um suave “Papai.” Ele se virou e viu Gabriel.
Acordado, sorrindo, respirando calmamente. Nenhum sinal da doença que supostamente o prendia. “Meu garoto, você parece saudável.” “Eu estou bem, Papai. A Mara me ajudou.” Richard se ajoelhou, lágrimas nos olhos. “Eu deveria ter visto isso. Eu confiei nela.” “Ela era muito convincente“, disse Mara gentilmente. “**Mas Gabriel nunca esteve doente, apenas drogado.”
A polícia levou Valeria para fora. Ela lançou um olhar para Mara. Gélido. “Você destruiu tudo.” “Não“, Mara respondeu calmamente. “Eu o salvei.” Nos dias seguintes, seguiram-se intermináveis interrogatórios, exames médicos, reportagens da imprensa. Os médicos do hospital infantil confirmaram: o corpo de Gabriel estava enfraquecido pelos medicamentos, mas sem danos permanentes.
“Um milagre que tenha sido descoberto a tempo”, disse o médico-chefe. “Mais alguns meses e o cérebro teria sofrido.” Valeria Falkenstein foi oficialmente acusada de tentativa de homicídio, falsificação de documentos e agressão grave. As investigações trouxeram ainda mais à luz.
Um marido anterior havia morrido em circunstâncias semelhantes e o suposto médico, Dr. Mendel, não existia. Richard demitiu toda a equipe médica e prometeu que ninguém jamais machucaria Gabriel novamente. Um mês depois, Mara estava sentada com ele e Gabriel no jardim. O menino brincava rindo com uma bola, descalço, livre, feliz. “Mal posso acreditar“, disse Richard baixinho.
“Um mês atrás ele estava lá em cima, quase inconsciente, e agora ele está correndo pelo jardim.” “Ele nunca esteve doente“, Mara respondeu, “apenas preso em um pesadelo.” “E você o libertou.” Ele olhou para ela, genuinamente grato. “Como eu posso te agradecer?” “O senhor não precisa me agradecer, Senhor Falkenstein. Eu apenas fiz o que era certo.”
“Então, por favor, me chame de Richard“, ele disse com um leve sorriso. Gabriel correu até eles e abraçou os dois. “Papai, Mara, eu amo vocês.” Mara sentiu algo se soltar dentro dela. Pela primeira vez em anos, ela sentiu paz. Algumas semanas depois, o juiz a chamou para testemunhar.
Valeria não parecia mais elegante no tribunal. Seu cabelo estava desgrenhado, seu olhar vazio. Ela negou tudo até o fim. Mas os relatórios de laboratório, os frascos, os testemunhos eram inequívocos. “A ré está condenada a 15 anos de prisão“, declarou o juiz. Valeria gritou, se enfureceu, sendo finalmente escoltada para fora.
Após o julgamento, Richard se aproximou de Mara. “Acabou. Finalmente.” “Sim“, ela sussurrou. “Mas Gabriel nunca a esquecerá.” “**Talvez não, mas ele saberá que você o salvou.” Nos meses seguintes, o dever se transformou em confiança, a confiança em amizade e, lentamente, quase imperceptivelmente, em algo mais profundo.
Mara permaneceu na villa, não mais como funcionária, mas como parte da família. Gabriel a chamava de Mamãe Mara e Richard começou a olhá-la de forma diferente, com um calor que ia além da gratidão. Uma noite, os três estavam sentados à mesa de jantar. Gabriel contava histórias engraçadas da escola, enquanto Richard observava os dois.
Quando Gabriel foi para a cama, Richard ficou para trás. “Mara“, ele disse baixinho, “você nos devolveu a vida. Eu… eu não sei quando foi a última vez que vi você rir assim.” Ela sorriu, envergonhada. “Talvez porque agora eu sinta que finalmente pertenço a algum lugar.” Richard assentiu. “Então fique, não apenas como babá, mas como alguém que pertence.”
Seus olhares se encontraram, quentes, honestos, cheios de sentimentos não ditos. Meio ano depois, o verão banhou a Villa Falkenstein em luz quente. Os jardins florescem. Gabriel corre descalço pelo gramado, rindo alto, enquanto o sol transforma seu cabelo loiro em ouro. A casa, antes fria e silenciosa, agora soa com vida.
Mara está no terraço, uma xícara de café na mão. Ela observa o menino e sente seu coração se encher. Tanta coisa mudou. Não mais sussurros atrás das portas, nem medicamentos, nem medo, apenas paz. “Bom dia“, diz uma voz grave atrás dela. Richard sai, vestido casualmente, descalço como seu filho.
Uma visão rara para o homem geralmente tão controlado. “Bom dia“, ela responde, sorrindo. Ele se apoia no corrimão ao lado dela. “Mal reconheci Gabriel. Ele ri um pouco mais alto a cada dia.” “Crianças se curam mais rápido quando são amadas“, ela diz calmamente. “E adultos?“, ele pergunta com um olhar lateral. Ela ri suavemente.
“Com eles, demora mais.” Ele a observa em silêncio por um momento. Em seus olhos há gratidão, mas também algo mais profundo, afeição que vai além das palavras. “Eu conversei com o médico de Gabriel ontem. Ele disse que podemos encerrar oficialmente o capítulo da doença.” Mara assente, lágrimas nos olhos.
“Esse é o final mais lindo que eu poderia imaginar.” “Não“, ele diz baixinho. “**Este é o começo.” Ele se vira para ela, pegando sua mão. “Eu sei que você teria ido embora assim que tivesse certeza de que ele estava saudável. Você não é uma pessoa que fica por pena.” “Eu nunca quis ficar porque eu tinha que ficar“, ela sussurra.
“Mas talvez eu fique porque eu quero.” “Então fique“, ele diz simplesmente. Eles se olham e, por um momento, o tempo parece parar. Ao longe, Gabriel chama: “Papai, Mara, venham!” Eles descem juntos para o jardim. O menino segura dois aviões de papel. “Vamos fazer uma corrida. Quem voar mais longe, ganha.”
“Qual é o prêmio?”, pergunta Richard. “Um sorvete!“, grita Gabriel. “Então eu tenho que me esforçar“, Mara ri e dobra seu avião cuidadosamente. “3, 2, 1!” Eles jogam. O avião de Gabriel voa mais longe. “Eu ganhei!“, ele comemora. Richard o pega no colo, girando com ele, rindo.
Mara ri junto e, neste momento, tudo parece tão leve, tão curado, como se o sofrimento nunca tivesse existido. Mais tarde, quando Gabriel dorme, Mara está sentada no terraço. O céu está vermelho e dourado. Richard chega com duas taças de vinho. “Ao vencedor da corrida de hoje“, ele diz, “e aos pais dele“, ela acrescenta, sem pensar. Ele congela brevemente, depois sorri. “Isso soou lindo. Você sabe disso?” “Eu…”, ela cora levemente.
“Mara“, ele diz suavemente, “você transformou esta casa em um lar novamente. Você deu vida ao meu filho e esperança a mim.” “Eu pensei que depois do que aconteceu, eu não poderia confiar em mais ninguém. Mas você me provou o contrário.” “Eu apenas fiz o que era certo“, ela sussurra. “Não“, ele diz seriamente. “Você fez o que foi corajoso, e isso é mais raro.”
Ele coloca a mão no rosto dela. “Eu não quero te perder. Não como funcionária, não como amiga, de jeito nenhum.” Mara olha para ele, em silêncio por um longo tempo. “Eu não sei se estou pronta para confiar de novo“, ela sussurra. “Então leve o seu tempo. Eu estou aqui e não vou embora.” Ela se inclina em seu ombro. Pela primeira vez em anos, ela se sente segura. Um ano depois.
As manchetes dos jornais foram esquecidas. A villa está novamente cheia de vida, festas, risos, aniversários. Gabriel se tornou um menino forte e alegre. Um novo carro familiar está na garagem e uma foto está pendurada sobre a lareira. Gabriel, Richard e Mara rindo, de mãos dadas. Nesta noite, eles comemoram o oitavo aniversário de Gabriel.
Amigos, vizinhos, crianças, luzes cintilantes no jardim, música, o som de copos e risadas. “Faça um desejo!“, grita Mara enquanto Gabriel apaga as velas. “Eu desejo que fiquemos juntos para sempre!“, ele grita alto. Mara sorri, mas seus olhos brilham. Richard a abraça. “Eu acho que o desejo dele já se realizou.”
Quando os convidados se foram, eles ficam no jardim sob as luzes cintilantes. “Ele está certo“, diz Richard. “Nós somos uma família, através de tudo.” “Eu nunca pensei que diria isso“, ela sussurra. “Mas sim, nós somos.” Ele a puxa para perto. “**Eu não apenas precisava de você, Mara, eu me apaixonei por você.”
Ela hesita brevemente, então responde baixinho. “Eu sei. E eu por você.” O beijo que se segue é quieto, terno, real, sem drama, sem medo. Apenas duas pessoas que se encontraram através da dor. Epílogo. Um ano depois. Mara e Richard estão em frente a um grande edifício antigo, um hospital infantil cuja fachada foi recentemente pintada. Uma nova placa brilha sobre a porta. Fundação Gabriel para Crianças Maltratadas.
Jornalistas tiram fotos, pessoas aplaudem. Gabriel corta a fita com orgulho. “Para que nenhuma criança tenha mais medo“, ele diz aos microfones. Mara segura a mão de Richard. Ele sussurra: “Isso só é possível por sua causa.” “Não“, ela diz baixinho, “por causa dele.” O vento sopra sobre o pátio, o sol irrompe pelas nuvens. E por um momento, tudo parece tão claro.
Da dor surgiu a coragem, do medo a esperança, de duas almas perdidas, uma família. Fim.