Deborah Secco — Foto: Adriano Damas e Raul Bittencourt
Atriz, empresária, empreendedora, mãe, mulher e figura pública conhecida por todo o Brasil, Deborah Secco estreia como apresentadora de reality show à frente do Terceira Metade, que vai ao ar na Globoplay nesta sexta-feira (18). Aos 45 anos de idade, 37 de carreira como atriz e mais de 50 personagens entre trabalhos em TV, teatro, cinema e streaming, ela não esconde a empolgação com a nova vertente profissional: “Não vou fingir costume ao ter um reality pra chamar de meu. Estou beirando à felicidade plena”.
A atração propõe uma nova forma de relacionamentos: o trisal. Na temporada, quatro casais se mostram em busca de uma terceira pessoa e encontram pessoas disponíveis para o poliamor. “Nunca vivi um relacionamento a três. Só vivi relacionamentos a dois, mas entendo a necessidade de cada indivíduo, casal, trisal ou quadrisal escolher a forma como quer viver. Não precisa estar em uma forma imposta socialmente. Não tem que seguir aos trancos e barrancos numa relação porque falaram que tem que ser assim”, diz.
Deborah acredita que seguir os combinados de cada relação é o mais importante. Por isso, teve relacionamentos expostos na mídia, enquanto outros foram mantidos com discrição. “Sou uma pessoa pública e sempre falo tranquilamente sobre o que me pertence, mas sempre respeitei muito quem chegou. Nunca fiz meia declaração que não tivesse sido conversada e negociada previamente”, afirma ela, que atualmente namora o produtor musical Dudu Borges, que prefere ficar longe dos holofotes. “Tudo bem saber que a gente namora, mas a nossa vida a dois é nossa. Como a gente se conheceu, quando a gente se conheceu, o que rolou… Isso é nosso.”
Deborah Secco — Foto: Adriano Damas e Raul Bittencourt
A possibilidade de experimentar novas formas de relacionamento não é descartada pela atriz. “Nunca fui fechada. Hoje, eu me encontro monogâmica e heterossexual. Amanhã? Não sei! Daqui a um ano? Não sei. Sempre fui curiosa com a pluralidade humana, muito respeitosa com as diferenças que temos”, diz.
Com a filha, Maria Flor, de 9 anos, do casamento com Hugo Moura, Deborah afirma ter se realizado. “Ser mãe é a melhor e a pior coisa da vida. Ver seu filho sofrer, passar por dificuldades, bullying, prepará-lo para este mundo cruel… Eu e o Hugo temos guarda compartilhada. Estar longe da Maria é um dos lados mais difíceis da vida, mas entendo que para o bem dela. Ela precisa desses dois polos, da mãe e do pai presentes. Não tive um pai presente. Poder curar essa ferida através da Maria é grandioso.”
O desejo de aproveitar mais tempo com a filha faz com que Deborah usufrua suas conquistas financeiras. “Economicamente, comecei a mudar de padrão muito jovem. Tive a minha mãe falando para eu economizar o meu dinheiro, ter uma vida dois padrões abaixo do dinheiro que eu tinha. De dois anos para cá, comecei a gastar um pouco do dinheiro que ganhei ao longo da minha vida.”
Além disso, soube dar alguns “nãos” profissionais. “Hoje, não quero fazer uma novela. Acho que é um trabalho muito longo. Faria se fosse um papel que me motivasse muito, como Tieta, a minha personagem-sonho”, afirma a atriz, que tem dois filmes para rodar nos próximos meses, Bruna Surfistinha 2 e Sob o céu de Tocantins.
Quem: Você está à frente do Terceira Metade, novo reality show de relacionamentos da Globoplay. Feliz com a oportunidade de apresentar um programa?
Deborah Secco: Já tinha flertado com esse lado de apresentadora. Fiz o Tá na Copa, na TV Globo, em 2022, e o Deborah Secco Apresenta, na internet, durante a gestação da Maria Flor. Comandar um reality show é completamente novo. Em 37 anos de carreira como atriz, acho que fui dominando e ficando em um lugar de menos desafios. Então, a oportunidade de apresentar é um desafio e tanto.
Você citou que se via em uma fase com menos desafios como atriz. Quis sair de uma zona de conforto ou nunca se considerou nela?
Não. Como atriz, não existe esse lugar de zona de conforto, mas sinto que domino bastante. Afinal, são 37 anos fazendo dramaturgia. Tecnicamente, já é muito familiar para mim. Ser convidada para fazer algo diferente, já me estimulou. Sendo um reality, então… Eu até me emociono porque conversa com meu lado de espectadora. Não vou fingir costume ao ter um reality pra chamar de meu. Estou beirando à felicidade plena.
E é um reality com uma proposta que ainda não vimos!
É uma proposta completamente diferente. É um reality muito intenso. Ver reality me traz uma ampla cultura para relacionamentos. Já vimos de um tudo, mas ainda faltava contemplar essas outras formas de amar. O Terceira Metade contempla essa forma não-tradicional de se relacionar. Acredito que, cada vez mais, essas formas de relacionamento vão estar em voga. Com a evolução da humanidade a gente vai entendendo o que nos foi imposto socialmente, o tal do amor romântico. A Regina Navarro Lins (psicanalista) fala que fomos habituados a acreditar no formato do amor romântico, aquele em que o príncipe encantado vem buscar a princesa, ou do filme de Hollywood… Com a maturidade e o entendimento da vida, esse formato da família margarina vai ficando falido.
Deborah Secco — Foto: Adriano Damas e Raul Bittencourt
O relacionamento a três já foi uma opção para você?
Nunca vivi um relacionamento a três. Só vivi relacionamentos a dois, mas entendo muito a necessidade de cada indivíduo, casal, trisal ou quadrisal escolher a forma como quer viver. Não precisa estar em uma forma imposta socialmente. Não tem que seguir aos trancos e barrancos numa relação porque falaram que tem que ser assim. O Terceira Metade traz esse olhar interessante para as novas possibilidades que se apresentam e, por muito tempo, ficamos empurrando para baixo do tapete.
“Com a maturidade e o entendimento da vida, esse formato da família margarina vai ficando falido”
Relacionamentos não-monogâmicos já existem há tempos. Acredita que, daqui para frente, eles passem a ser falados com mais naturalidade?
Sim. A minha avó vivia em um relacionamento não-monogâmico, porém numa época em que não era possível se falar sobre isso. Ouso dizer que nenhuma mulher da geração da minha avó vivia um relacionamento monogâmico. Enquanto as mulheres ficavam em casa, os maridos saíam para trabalhar e tinham liberdade sexual para outros relacionamentos, enquanto as mulheres não. A geração seguinte, já influenciada pelos filmes de Hollywood, veio com aquela ideia de amor romântico, em que um resolveria todos os problemas do outro e poderia ser feliz para sempre. Isso acaba se mostrando falho.
Vemos muitas histórias em que a monogamia pré-estabelecida não é respeitada. Consequentemente, vivemos relacionamentos imaginados como monogâmicos e que, na verdade, não são. A conversa sobre a não-monogamia, presente na atual geração, é uma maneira de deixar a hipocrisia de lado, sem tantos receios e fala mais abertamente sobre isso, diferentemente da minha geração. Futuramente, a geração da Maria vai estar muito à frente em diálogo, com mais verdade, mais conversa e combinados.
O que você mais aprendeu sobre relacionamentos com o Terceira Metade?
Aprendi sobre a pluralidade da poligamia. Existem muitos formatos da não-monogamia. Cada relacionamento — seja casal, trisal ou quadrisal — tem suas regras e elas podem ser mutantes. Tudo pode ser conversado, negociado, reformulado. Essa parte que me interessou muito. Sempre flertei com a não-monogamia, mas nunca tive um relacionamento aberto. A mulher que sou hoje não é a mulher que eu era há uma semana e não será a mulher que serei daqui uma semana. Acho que os combinamos precisam ser refeitos dia após dia. Se quisermos ser um casal que dê certo – e o meu dar certo não é no sentido de “para sempre”, é no sentido de hoje – temos que conversar. Tem que ser honesto, ser amigo. Os casais não-monogâmicos têm mais esse tipo de conversa do que os casais que estão fechados em um modelo.
Com o contato com as histórias do Terceira Metade, você cogitou a possibilidade de se experimentar um trisal?
Essa ideia sempre foi muito possível, assim como a ideia da bissexualidade. Nunca fui fechada. Hoje, eu me encontro em um relacionamento monogâmico e heterossexual. Amanhã? Não sei! Daqui a um ano? Não sei. O importante é entender quem somos hoje. Nunca fui uma pessoa preconceituosa. Sempre fui curiosa com a pluralidade humana, muito respeitosa com as diferenças que temos. Flerto sempre com a ideia de ser livre para o que me faz feliz. O que me faz feliz hoje pode ser diferente amanhã.
Deborah Secco — Foto: Adriano Damas e Raul Bittencourt
Ao longo da sua carreira, você já fez várias declarações sobre sua vida amorosa. Em uma entrevista, você chegou até a dizer que dava entrevistas achando que os repórteres eram seus terapeutas…Continuo assim, né? Falida na tentativa de melhora (risos). Sou quem eu sou, mas juro que estou tentando melhorar há exatos 30 anos.
Isso assusta seus parceiros? Eles chegam achando que já sabem tudo sobre você?
De uma certa forma, qualquer pessoa pública assusta. As pessoas têm uma imagem da “Deborah Secco” que não é a real Deborah. Cada pessoa tem uma imagem a partir da pequena fatia que consumiu sobre mim durante a vida. Não consigo controlar o que as pessoas consumiram sobre mim, o que elas pensam… Apenas sei quem eu sou. A convivência e a maneira como você vive nessa vida ordinária, no cotidiano diário, dizem muito mais sobre você do que o que saiu na mídia. Quem chega na sua vida, pode até chegar com uma imagem construída a partir de pequenos recortes. Quem fica, tem acesso a uma Deborah real, uma Deborah que eu não tenho interesse de oferecer para muitas pessoas. Sempre falo que não sou esse mulherão que todo mundo cria, mas também não digo quem eu sou exatamente. Quem eu sou é para quem chega e quer ficar, quem se interessa.
E como seu atual relacionamento com o Dudu Borges começou?
Meu relacionamento com o Dudu vai ser sempre uma incógnita. Sou uma pessoa pública e sempre falo tranquilamente sobre o que me pertence, mas sempre respeitei muito quem chegou. Quem chegou e quis falar, falamos juntos. Quem chegou e quis dividir, dividimos juntos. Nunca fiz meia declaração que não tivesse sido conversada e negociada previamente. Com o Dudu, isso não faz tanto sentido. Ele vive na vida pública há muitos anos e de forma discreta. O primeiro ponto que conversamos entre os nossos combinados era o de que ele não gostaria de ter a vida exposta, justamente por ser um cara muito discreto. Tudo bem saber que a gente namora, mas a nossa vida a dois é nossa. Como a gente se conheceu, quando a gente se conheceu, o que rolou… Isso é nosso. Respeito com todo afeto, assim como respeitei todas as pessoas que passaram por mim. Já tive relacionamentos em que a pessoa chegava topando a exposição, depois se incomodava, passado um tempo topava de novo. Os combinados são negociáveis e mutantes.
Nada precisa ser engessado?
Nada. O grande segredo da vida é entender a flexibilidade. Só uma parte não consigo evitar: ser pública. Este é um limite que não consigo resolver.
Falamos sobre a diferença de comportamentos entre as gerações. Como você percebe isso na Maria Flor?
Ela está em uma pré-pré-adolescência, quase na pré-adolescência. Eu percebo muita diferença pela tecnologia, mas eu acho que é uma geração que vem pronta. Muito mais pronta que a nossa.
Deborah Secco e a filha, Maria Flor — Foto: Arquivo pessoal
Mais pronta em qual sentido?
A Maria me fala coisas surpreendentes. Talvez seja algo particular dela, mas percebo que ela é muito empática e respeitosa com as diferenças. A Maria é muito responsável e consciente socialmente. Vou citar exemplos: ela era pequenininha e eu disse que ela era a mais linda do mundo. Ela respondeu: “Mãe, não existe a mais linda. Cada um é lindo do seu jeito. Que coisa feia comparar beleza”. Uma outra vez, comprei e a presenteei com um estojo, bem típico da minha geração e que me trazia uma memória afetiva, cheio de canetinhas. Ela levou para escola e voltou sem o estojo. Questionei o porquê e ela respondeu que tinha dado para uma amiga. “Amor, mamãe vai te explicar uma coisa: trabalho e fico longe de você para poder comprar e conseguir te comprar as coisas”, falei. Ela me respondeu: “Mamãe, eu também vou te explicar um negócio: pessoas são muito mais importantes do que coisas. Para mim, vale muito mais ver minha amiga feliz do que guardar um estojo”.
Nossa! Ela te desmontou?
Sim, desmontou a mamãe capitalista, consumista, toda errada. Nessas horas, eu percebo que ela veio muito pronta. E ela faz análise desde cedo. Ela começou aos 7. Eu comecei aos 12.
Você gosta de ser a mãe parceirona?
Ela é minha melhor amiga, minha parceira. O melhor da minha vida é estar com ela. Ontem, passamos um dia juntas, aproveitando um dia das férias dela. Eu olhava e pensava: “Que legal é ser mãe dessa menina, que legal observar, ouvi-la falar”. É incrível maternar.
Deborah Secco e a filha, Maria Flor, curtem férias em Fernando de Noronha em julho de 2025 — Foto: Reprodução/Instagram
Você nunca escondeu o desejo de ser mãe. Quando engravidou, você estava nas gravações iniciais de Verdades Secretas e precisou deixar o elenco. Sempre viu a maternidade com uma realização?
Sim, a maior realização e o maior sonho da minha vida. Ser mãe é muito melhor do que eu imaginava – e muito pior também. Ser mãe é a melhor e a pior coisa da vida. Ver seu filho sofrer, passar por dificuldades, bullying, prepará-lo para este mundo cruel… Eu e o Hugo temos guarda compartilhada. Estar longe da Maria é um dos lados mais difíceis da vida, mas entendo que para o bem dela. Ela precisa desses dois polos, da mãe e do pai presentes. Não tive um pai presente. Poder curar essa ferida através da Maria é grandioso.
“Ser mãe é a melhor e a pior coisa da vida. Ver seu filho sofrer, passar por dificuldades, bullying, prepará-lo para este mundo cruel… “
Quando cita o bullying, você já viu sua filha passando por alguma questão?
Já, várias vezes. Afinal, é difícil controlar escola, outras crianças… Participo de um grupo de mães muito incrível na escola da Maria. A gente se comunica muito, se ajuda. Estamos sempre atentos, conectados e preocupados com as crianças, mas não dá para controlar 100%. Essa é a minha missão mais difícil, mas, sem dúvida alguma, foram com as minhas dores que eu me transformei na mulher que eu sou. Quando tudo deu errado, me tornei uma pessoa melhor. Por isso, não posso evitar que dê tudo errado para a Maria. Assim, vai poder se transformar a mulher potente que ela pode ser. É difícil observá-la à margem e não resolver, mas é importante capacitá-la para que possa ter independência.
A mãe leoa tem vontade de interferir em conflitos do dia a dia dela?
O tempo inteiro. Nossa tendência é a de querer interferir, mas me controlo. Se eu pudesse, me botava à frente de tudo, mas não posso. Preciso capacitá-la. A minha recuada é como se eu dissesse: “Confio em você, pode resolver sozinha”. Procuro passar a confiança de que ela é capaz sem mim.
E você teve isso da sua mãe?
Sim, o tempo inteiro também. Minha mãe me fez muito independente, muito capaz. Ela me fez acreditar que tudo era possível de conquistar. Ela sempre esteve por perto, mas sempre possibilitou que eu tivesse autonomia.
“Meus padrões de escolha masculinas foram por homens que não escolhiam por mim. Era uma repetição de padrão e precisei de muitos anos de terapia”
Você comentou que seu pai não foi uma figura presente. Quando você notou a falta dessa figura paterna na sua vida?
A separação dos meus pais, quando eu tinha 12 anos, foi um grande marco. Senti como se estivesse perdendo algo valioso, que era o poder da convivência. Quando a separação aconteceu, entendi a restrição do tempo, do afeto… A figura masculina da minha vida — no meu entendimento naquela época, hoje entendo que não foi isso que aconteceu — virou a figura de um homem que não me escolheu, um homem que não escolheu estar comigo, não brigava para estar comigo. Mais tarde, meus padrões de escolha masculinas foram por homens que não escolhiam por mim. Era uma repetição de padrão e precisei de muitos anos de terapia.
E como ficou sua relação com seu pai?
Hoje, acho meu pai maravilhoso. Sei que não teve isso de “não me escolheu”. É por isso que tento maternar de forma diferente da minha mãe. Em alguns aspectos, quero ser igual. Em outros, busco ser diferente. Busco essa melhora de padrão. A Maria tem um grande pai. O Hugo é apaixonado por ela. Não consigo ver a vida dele sem a Maria, nem a minha sem ela. Então, temos que dividir da melhor forma.
Ao longo dos anos, te vimos trabalhando bastante. Com a maternidade, você faz questão de ter tempo de qualidade com a Maria Flor, mas não abriu mão da carreira. Como é conciliar?
Quando a Maria Flor nasceu, fiquei oito meses parada, só sendo mãe. Nas entrevistas daquela época, cheguei a dizer que cogitava parar, que queria ser apenas mãe. Porém, quando ela nasceu, nasceu em mim a vontade de ser exemplo. Lembro que minha mãe sempre disse que a gente não é exemplo pelo o que fala e, sim, pelo o que faz. E ela me ensinou a ser uma mulher independente e bem-sucedida dentro das minhas possibilidades. Quero muito que a Maria entenda que para nós, mulheres, ainda é bem mais difícil. A gente precisa ter nosso dinheiro, nossa independência, nossa realização pessoal. Ela tem esse exemplo dentro de casa. Sou uma mulher que trabalha porque ama e porque busca sua independência. Sou feliz e vou em busca das mais reais vontades.
Você gosta de passar valores de educação financeira para sua filha? Ou não se considera o melhor exemplo?
Muito. E sou o melhor exemplo. Minha mãe me deu muita responsabilidade financeira. Economicamente, comecei a mudar de padrão muito jovem. Tinha responsabilidade desde muito jovem, mas tive a minha mãe falando para eu economizar o meu dinheiro, ter uma vida dois padrões abaixo do dinheiro que eu tinha. De dois anos para cá, comecei a gastar um pouco do dinheiro que ganhei ao longo da minha vida. Mas ainda tenho medo (risos). Teve um mês que fiz uma compra mais expressiva, com umas roupas, e passei quase um mês chorando pelo gasto. Fui educada em um extremo. A terapia me ajuda a encontrar esse caminho do meio, sem extremos. Ou seja, nem juntar tudo, nem gastar tudo. Estou flertando com o equilíbrio.
O consumismo fez parte da sua vida em algum momento?
Ele está começando a fazer parte agora. Às vezes, eu peco. Compro demais e me arrependo. Estou neste momento. Estou flertando com esse padrão que nunca usufruí.
Tem permitido alguns prazeres de compra?
Estou adorando essa parte (risos).
“Tive 35 anos de muito controle (financeiro). Agora, é hora de relaxar um pouquinho, mas com consciência”
Afinal, é uma maneira de aproveitar o que acumulou ao longo de anos de trabalho e esforço.
Não vou esperar ficar velha e não puder mais viajar… Por que vou deixar de comprar uma roupa bonita? Vou comprar a roupa bonita só quando eu não estiver mais bonita e sem condições de usar por estar toda velhinha e enrugadinha? É preciso saber equilibrar. Tive 35 anos de muito controle (financeiro). Agora, é hora de relaxar um pouquinho, mas com consciência.
E a Maria Flor também é educada com essa consciência financeira?
Ela já veio pronta. Por exemplo, ela já fez alguns trabalhos comigo. Guardamos o dinheirinho dela. Outro dia, ela queria comprar algo e eu falei: “Vamos gastar do seu dinheiro”. Aí, ela recuou: “Ah, então eu não quero. Não quero gastar de lá”. Ela sabe economizar. Sou sócia de uma rede de brechós, Peça Rara, e ela sabe desapegar. Coloca as coisinhas dela para vender, como brinquedos e roupas. Ela adora colocar para vender e ver o dinheiro entrando na continha dela.
Seu lado empreendedora também está cada vez mais forte.
Tenho gostado muito disso. Tenho cinco empresas minhas e outras duas em que faço colabs. Sou muito feliz neste lugar de empreendedora. Exige um outro lado meu. Participo de reuniões de marketing, de fechamento de mês. É tudo muito novo para mim, mas tenho achado interessante. Gosto de mostrar que posso estar onde eu quiser. Não é porque sou atriz que não posso ser dona de empresa. Posso ser uma mulher séria e, ao mesmo tempo, doida.
É boa a sensação de não ficar presa a caixinhas, né?
A gente cabe em qualquer lugar. Embora ainda seja muito triste ainda perceber e ver que há mulheres boicotando mulheres. Julgam o “muito séria”, “muito vulgar”, “muito louca”. Queremos abraçar o mundo. O mundo é nosso. Tenho vontade de ser exemplo, então gosto de ocupar espaços.
E os “nãos”? Também são importantes de falar?
Claro. Hoje, não quero fazer uma novela. Acho que é um trabalho muito longo. Faria se fosse um papel que me motivasse muito, como Tieta, a minha personagem-sonho. Fazer novela exige uma dedicação de seis dias por semana, 11 horas por dia. Não cabe. Tenho percebido o rápido crescimento da Maria, estou perdendo a minha criança. Se for algo pontual, ok. Mas uma novela não cabe neste momento porque são horas e horas no estúdio. Ao voltar para casa, ainda tenho que decorar texto para o dia seguinte.
Deborah Secco estrelou o filme ‘Bruna Surfistinha’ (2011) e fará continuidade da história — Foto: Divulgação
Enquanto fica longe da TV, seus próximos trabalhos são no cinema?
Isso. Rodo o Bruna Surfistinha 2 no fim deste ano e Sob o céu do Tocantins, que ainda estamos captando recursos, no ano que vem.
Você tem muitos trabalhos icônicos e o filme Bruna Surfistinha (2011) é um deles. O que te motivou a fazer o Bruna Surfistinha 2?
Tenho o maior orgulho de falar que a Bruna é um dos personagens mais famosos do cinema nacional. Ao lado de Capitão Nascimento e Dona Hermínia, temos Bruna Surfistinha. Estar nesse hall do cinema brasileiro me enche de orgulho. Busquei muito uma oportunidade de fazer cinema e fiz na força do grito. Pedi, implorei, fui atrás de dinheiro… Bruna Surfistinha é um filme que ganhou muitos prêmios e tem uma mítica polêmica. Sexo sempre mexe com esse lado do errado, do proibido. Considero um grande trabalho meu como atriz, pude me ver de um jeito bem diferente.
Vocês vão retratar que fase da Bruna Surfistinha? Ou mostrará um lado mais da Raquel Pacheco?
Teremos a Raquel e a Bruna. Mostraremos já uma fase em que ela é mãe, cuida dos filhos… Ainda estamos terminando o roteiro, então não tem nada 100% fechado. Não posso dar spoiler.
Para Sob o céu do Tocantins, em que interpretará uma caminhoneira, você passará por uma transformação física, certo?
Sim, quero tirar o peito. Por isso, a logística de rodar o Bruna Surfistinha antes. Acho que vai dar bom!
Ainda adolescente, Deborah Secco radicalizou o visual dando adeus ao cabelão que usava na série ‘Confissões de Adolescente’ (1994) para atuar na novela ‘Vira-Lata’ (1996) — Foto: Divulgação
As mudanças no visual fazem parte da sua vida. Para fazer Vira-lata, ainda novinha, você adotou um corte bem curtinho vinda daquele cabelão que o país te conheceu em Confissões de Adolescente. Colocar seu físico à disposição dos papéis é realmente uma das suas marcas.
Nunca tive muito apego. Como atriz, tenho que estar disponível emocionalmente, eticamente, fisicamente. A maior dificuldade para mim, talvez, não seja a física e, sim, a ética, como a de fazer uma assassina e mergulhar a fundo com um olhar tendencioso para ela – completamente diferentemente do meu. Conseguir mudar meu foco de ética. Ser atriz é o trabalho mais incrível do mundo. Gosto de estar disponível de corpo e alma inteiramente. Sempre topei emagrecer, engordar, cortar cabelo. Emagreci para o filme Boa Sorte, engordei 20 quilos para Entrando numa Roubada. Estar com o corpo flutuante é muito bom.
“Sempre tive muito medo de descobrirem que eu era uma mentira. Nunca me achei uma mulher sexy, nem bonita. Construí essa autoestima na maturidade”
Já se sentiu muito pressionada para estar nos padrões de beleza?
A vida inteira. Sempre tive muito medo de descobrirem que eu era uma mentira. Nunca me achei uma mulher sexy, nem bonita. Construí essa autoestima na maturidade. Eu não me colocava nesse lugar de bonita quando era jovem. Então, tinha medo que descobrissem que eu estava ocupando um lugar que não me pertencia. Porém, sempre fui mais preocupada em não desapontar como profissional do que como beleza. Sofremos com os padrões estéticos. Hoje, aos 45, entendo minhas imperfeições, minhas vulnerabilidades, minhas qualidades. Aprendi a me olhar com mais carinho, mais empatia, me acho o máximo.
Seu físico esteve em pauta ao longo da sua carreira. Você também é lembrada por falar da sua panela de brigadeiro diária. Recordo que vinha uma sensação de incredulidade ao ler. As pessoas falavam “impossível ela fazer isso”. Isso realmente acontecia?
Sempre aconteceu. Diariamente (uma panela), acho que não. Mas um chocolatinho diário, sim. Ainda acontece. Um chocolatinho, uma Nutellinha… Realmente, tenho genética que não é de engordar, é uma genética de emagrecer. Nunca precisei me restringir a comer. Realmente posso comer tudo o que eu quero. Ao mesmo tempo em que a questão de engordar não era uma preocupação, meu cabelo – tenho alopecia androgenética – era uma questão, afinal tenho uma profissão que exige muito do meu cabelo.
Deborah Secco — Foto: Adriano Damas e Raul Bittencourt
Quando você decidiu falar o diagnóstico da alopecia, chegou a ser um tabu?
Nunca pensei nisso. A primeira vez que falei sobre isso foi em uma inauguração da Mais Cabello, quando me perguntaram porque eu tinha virado sócia e respondi. Nunca tive muito problema em falar sobre mim, tanto as coisas boas, como as ruins. Já expus defeitos, anseios, não tenho motivo para esconder a alopecia da sociedade. É uma condição que todas as mulheres da minha família têm. As mulheres vão ficando carecas na terceira idade. Sempre tive o cabelo muito fininho e passei por muita tintura, secador, escova… Entendi que eu precisava tratar.
“Tudo o que eu sonhei, eu realizei. E ganhei. Ganhei de todos os meus sonhos. A realidade se desenhou melhor que os meus sonhos”
Atriz, apresentadora, empresária, empreendedora, mãe, mulher, figura pública. Quando olha para trás e vê tantas conquistas, o que te motiva a continuar? Quais suas vontades?
Eu me considero uma pessoa muito abençoada. Já venci todos os meus sonhos. Quando eu era menina, sonhava em ser conhecida pelo Brasil todo, andar na rua e todos saberem meu nome. Sonhava em fazer grandes personagens, ter papéis lembrados com o passar dos anos, sonhava em fazer um personagem famoso nos cinemas, sonhava em ficar rica, sonhava em ajudar minha filha, sonhava que seria mãe de uma menina chamada Maria. Tudo o que eu sonhei, eu realizei. E ganhei. Ganhei de todos os meus sonhos. A realidade se desenhou melhor que os meus sonhos. Minha filha é maravilhosa, tenho uma boa condição financeira. O que me faz continuar é a minha paixão pela vida. Amo viver e experimentar a minha evolução, meu aprendizado. Hoje, trabalho em algumas empresas, trabalho como atriz, como apresentadora, tenho um relacionamento com um cara que admiro demais, que me ensina demais, que acho foda, incrível e genial. Não crio muitas expectativas com a vida. O que ela me apresenta tem sido surpreendente e engrandecedor. Acordo aberta para surpresas.
Alguma situação te faria recuar?
Acho que não. Não gosto de pensar nisso. Talvez, o que me fizesse parar seria a possibilidade de algo acontecer com a minha filha. Minha mãe perdeu uma filha e isso foi forte para mim. Acho que isso me paralisaria. Não estou pronta para perder as pessoas que eu amo. Rezo todos os dias. Tenho uma fé muito grande. Sei que o que vier será para o meu bem por mais que não pareça ser tão bom. Deus meu deu o melhor. Se ele trouxer coisas difíceis, serão para o meu crescimento. Acordo todos os dias com a frase “seja feita a vossa vontade”.
Sua religiosidade sempre foi forte?
Sim. fui criada no catolicismo. Minha avó foi minha catequista. Fiz primeira comunhão, crisma. Frequentei a igreja por muitos anos. Hoje em dia, não tenho mais uma religião porque eu não acredito no homem, mas eu acredito em Deus. Deus fala comigo o tempo inteiro. Combinei com Deus tudo o que ia acontecer na minha vida e Ele nunca me faltou. Combinei que seria mãe aos 35 anos e fui. Combinei que seria o primeiro nome da abertura de uma novela das 9 e fui. Converso com Deus todos os dias. A fé é o que me leva.
Deborah Secco — Foto: Adriano Damas e Raul Bittencourt