O Prêmio da Guerra: O Rancheiro Ganha a Loteria e Espera Terra, Mas o Escritório Territorial o Choca ao Entregar uma Mulher Apache Acorrentada como a Recompensa Final!

A cidade de Aoyo Ford não parecia grande coisa vista do cume. Apenas um aglomerado de edifícios meio pintados aninhados na curva do leito seco do rio, com uma caixa d’água inclinada demais para o norte. A maioria dos telhados era de zinco enferrujado. O único som na rua era o bater dos cascos de mula e o gemido lento de um moinho de vento sem lubrificação em algum lugar atrás do celeiro.

Harlon Grieve parou seu cavalo na beira da cidade e encarou. Ele não vinha aqui há mais de um ano, e não gostava de estar aqui agora.

Mas a carta que ele guardava dobrada no bolso interno de seu casaco—um aviso de reivindicação de loteria para veteranos do escritório territorial—dizia que, se ele não aparecesse esta semana, eles passariam seus ganhos para o próximo nome elegível.

Ele não confiava naquilo. Nunca confiou. Mas ele precisava da terra.

Doze anos atrás, Harlon fora para a guerra ao lado de seu irmão mais novo, Thomas. Apenas um deles voltou. Desde então, ele vinha trabalhando um pedaço de terra perto de Lonesome Draw, onde o cume afastava o pior do vento, e os pinheiros cresciam tortos, mas altos.

A reivindicação havia prometido a ele 80 acres de terra de pastagem examinada em um vale perto do San Pedro. Mas agora, enquanto ele amarrava seu cavalo do lado de fora do escritório de telégrafos que funcionava como balcão da loteria de terras, seu estômago estava apertado.

Não de medo, exatamente. Ele não sentia medo como antes, mas sim o tipo de inquietação que surge da experiência.


Ele entrou. O ar estava quente com tinta e fumaça de cachimbo velha.

Atrás de uma mesa, sentado, estava um homem alto em um terno mal cortado, folheando uma lista. Outros dois homens estavam encostados na parede dos fundos, em silêncio.

“Você veio buscar seu sorteio?” o homem perguntou, sem levantar os olhos. “Harlon Grieve. Veterano de cavalaria, serviu de 69 a 71. Estação em Fort Bayard.”

Harlon assentiu levemente.

O homem finalmente olhou para cima. “Você é um sortudo. Rodada final e seu nome aparece. Isso é alguma coisa.”

Harlon não respondeu, nem sorriu. O funcionário se levantou, contornou a mesa e apontou para um documento. “Aqui está a escritura, mais ou menos.” Então ele hesitou. Sua mão se afastou do papel. Ele olhou para os dois homens na parede e depois de volta para Harlon.

“Houve uma mudança.”

O rosto de Harlon não se moveu, mas seu peito apertou levemente. “Que tipo de mudança?”

O homem limpou a garganta. “Os títulos de terra territorial foram reavaliados. Sua parcela foi reatribuída duas semanas atrás devido a uma disputa de reivindicação. No entanto, sob as disposições de troca da loteria, fomos autorizados a fornecer uma recompensa alternativa.”

Ele gesticulou para trás. Os dois homens se afastaram, e ela deu um passo à frente.

Ela não falou. Não chorou. Não olhou para o chão. Apenas ficou lá, descalça. Seus braços acorrentados nos pulsos com uma argola de ferro enferrujada que tilintava suavemente quando ela mudava o peso. Seu longo cabelo preto caía sobre um ombro, emaranhado com poeira e barbante.

Seu vestido de pele de veado estava rasgado na barra e no ombro. Um hematoma do tamanho de um nó de dedo coloria uma clavícula. Ela tinha uma constituição magra, mas não frágil, o tipo de força que não vinha da facilidade.

Seus olhos fixaram-se nos de Harlon e se mantiveram.

“O nome dela é Ka,” disse o homem. “Apache, 25 anos, apreendida em um conflito tribal no outono passado. Ela foi processada. Transferência legal total de propriedade sob a Seção 7 da troca de reparação.”

Silêncio. O homem limpou a garganta novamente, desconfortável agora.

“Ela é sua.”

Harlon não se moveu. Não piscou. Ele olhou para a mulher novamente, depois para o homem. “Eu vim aqui por terra.”

O homem encolheu os ombros como se não fosse culpa dele. “Isso é o que está disponível agora. Pegue ou vá embora.”

Ir embora. Isso teria sido simples. Ele não precisava disso. Não queria isso.

Mas se ele a deixasse, o que aconteceria? Ele tinha visto o que os homens faziam com mulheres como ela nos acampamentos, atrás de saloons, na trilha. Ela seria vendida novamente, ou pior.

Ele enfiou a mão no casaco, puxou a carta e a deixou cair sobre a mesa.

Eu a levarei,” ele disse. Não alto, nem com raiva, apenas claro.

A corrente foi entregue sem cerimônia. Ela não resistiu, apenas o observou com uma expressão firme que não era bem confiança, mas também não era medo.

Eles partiram sem uma palavra.


A cavalgada para fora da cidade foi silenciosa. Ka sentou-se atrás dele no cavalo, os joelhos agarrando a sela, os braços amarrados em volta da cintura, não o segurando, apenas mantendo o equilíbrio.

Harlon não olhou para trás. Ele não disse nada. Ele não sabia o que diabos tinha acabado de fazer.

De vez em quando, ele olhava para as mãos dela. Vermelhas e com crostas, seus dedos flexionavam-se lentamente, como se ainda estivessem testando o fato de estarem desacorrentados. Ele podia sentir a respiração dela contra suas costas.

Eles cruzaram as planícies ao pôr do sol. A terra ficou mais vermelha, iluminada pela última luz, mas nenhum dos dois prestou muita atenção.

Quando chegaram à clareira em Lonesome Draw, estava escuro. Sua cabana era baixa contra a encosta. Construída à mão, um cômodo, fogão a lenha no canto.

Ele desmontou e se virou para ela. “Você pode ficar.”

Ela não respondeu.

Ele se adiantou, desfez a corrente e a jogou na varanda. Ele abriu a porta. Ela hesitou pela primeira vez, então entrou.

Lá dentro, ela olhou ao redor, absorvendo o ambiente. Uma mesa, duas cadeiras, um catre em cada canto.

“Este é seu,” ele disse, apontando para o catre não usado. “Você não é prisioneira. Você vai embora se quiser.”

Ela sentou-se lentamente, os joelhos rígidos da viagem. Ele lhe entregou um cobertor e depois despejou água em uma pequena tigela de estanho. “A comida está fria. Tem feijão no saco.”

Ainda sem resposta. Ela começou a desenrolar o pano em volta dos pulsos lentamente. Ele não observou. Acendeu o fogão e sentou-se.

Uma hora se passou. Nenhum dos dois falou, mas ela não fugiu. E ele não a mandou embora. E no silêncio que se estendeu entre eles, algo se estabeleceu. Não confiança. Ainda não. Mas o começo disso.


O frio pairava na cabana como uma respiração suspensa. Harlon Grieve sentou-se na beira de seu catre, botas meio amarradas, olhos fixos no fogão. As brasas há muito se transformaram em cinzas.

A mulher ainda dormia. Ela estava deitada de lado no outro catre, braços cruzados e perto do peito sob o cobertor que ele lhe dera. Os seus mocassins estavam ao lado do catre, alinhados ordenadamente. Ela não tinha tocado na comida que ele deixara na mesa.

Harlon não se moveu. Ele apenas observou. Ele esperava que ela tivesse ido embora. Mas ela não se mexeu. E agora, ela se agitou.

Seus olhos se abriram lentamente, ajustando-se à penumbra. Ela o viu observando, não estremeceu. Apenas encarou de volta.

Ele se levantou. “Vou checar as armadilhas,” ele disse. Sua voz saiu baixa, rouca pelo desuso. “Não demoro.”

Ela não respondeu, mas seus olhos permaneceram nele. Ele pegou o casaco, passou o rifle por um ombro e saiu para o frio.

Quando ele entrou, o cheiro de calor o atingiu primeiro. Madeira queimada e algo próximo ao conforto. O fogão crepitava firme agora.

Ela estava perto dele, mexendo na panela com uma colher de pau esculpida que ele não usava há semanas. O cobertor estava dobrado em seu catre. O cabelo estava preso.

Ela não falou quando ele entrou, apenas acenou. Ele acenou de volta, depois colocou o coelho na mesa. “Eu limpo,” ele disse.

Eles não falaram muito enquanto comiam. Ela comia devagar, metódica, olhos perspicazes, sempre observando-o da maneira silenciosa que os animais faziam quando não tinham decidido se estavam seguros. As mãos dela não tremiam. Ela não estava relaxada, mas também não estava se preparando para fugir.

Depois, ela pegou as tigelas de estanho, saiu e as lavou no riacho sem que lhe dissessem.

Harlon observou cada movimento dela com o tipo de atenção que o mantivera vivo durante as patrulhas. Isso não era hábito. Era avaliação, tentando entender quem ela era.

Quando o meio-dia chegou, ela se moveu para o canto da sala e sentou-se no chão perto do fogo, de pernas cruzadas.


Ele trabalhou fora a maior parte da tarde. Quando voltou perto do anoitecer, seus ombros doíam, sua perna latejava.

Ele entrou na cabana esperando o silêncio. Mas ela havia cozinhado novamente. Desta vez, feijão e broa de milho. Nada sofisticado, apenas quente e pronto. Ela lhe entregou um prato de estanho.

Ele acenou. “Obrigado.” Ela deu um pequeno aceno de volta, quase ilegível, mas estava lá.

Naquela noite, depois que ela se deitou, Harlon ficou acordado por um tempo. Ela não chorou, não sussurrou, apenas respirou firmemente.

Ele olhou para ela uma vez, realmente olhou. Ela era jovem, mas não indefesa, forte de maneiras que ele entendia.

Ela não foi embora. Ele não perguntou por quê. E isso era o suficiente por enquanto.


Os dias se passaram em silêncio, mas não era o tipo que arranhava. Era o tipo que se instalava nos ossos, se você permitisse. Constante, previsível, como o frio.

Ka acordava ao amanhecer sem que lhe dissessem. Ela dobrava a roupa de cama, varria o chão, reacendia as brasas com cuidado prático. Nenhum movimento desperdiçado.

Harlon passava a maioria das manhãs lá fora. Seu mancar tornava o trabalho mais lento, mas não mais fraco. E agora, toda vez que ele voltava para dentro, algo tinha sido feito. O barril de água estava cheio. Suas camisas sobressalentes estavam costuradas e dobradas.

Ela não pedia permissão. Ela apenas fazia, e ainda dizia pouco.

Certa tarde, ele a encontrou perto do celeiro, ajoelhada na terra, puxando ervas daninhas da horta que não era tocada desde o verão. Seus dedos estavam vermelhos de frio.

Ele parou e a observou por um momento. “Você não precisa fazer isso,” ele disse.

Ela não olhou para ele. “Eu sei.”

Essa foi a primeira vez que ela falou desde que deixaram Aoyo Ford. A voz dela estava calma, uniforme. Nenhuma incerteza nela.

“Você planeja ficar?” ele perguntou.

Ela pausou, depois assentiu uma vez. “Por enquanto.”


Nos dias seguintes, o ritmo deles se tornou sólido. Ele caçava. Ela limpava. Ele consertava a dobradiça da porta da cabana. Ela encontrou um cabo de vassoura velho e o cortou para fazer um esfregão. Ele armava armadilhas. Ela trazia lenha.

Uma noite, depois de um dia duro rachando toras, ele sentou-se perto do fogão, esfregando a perna.

Ela ficou quieta do outro lado da sala, depois se moveu em direção a ele com uma jarra de pomada. Ela se ajoelhou ao lado dele.

Os dedos dela eram leves quando tocaram seu joelho. Ela esfregou a pomada na pele, com cuidado para não pressionar muito onde o osso inchava. Ele não a impediu. As mãos dela eram quentes.

Quando ela terminou, não se levantou imediatamente, apenas sentou-se sobre os calcanhares, olhando para ele.

“Você lutou?” ela perguntou.

Ele assentiu. “Sim. Perdi alguém. Meu irmão.”

Silêncio novamente. Ela abaixou o olhar. “Eu perdi minha irmã.”

Ele olhou para ela então. Um olhar real. Não os olhares rápidos de antes.

“A tribo me vendeu,” ela acrescentou. “Disseram que eu era azar.”

Ele não respondeu imediatamente. Então disse: “Eles estavam errados.”

Ela não chorou. Apenas ficou ali por mais um momento, depois se levantou e voltou para seu catre.

Naquela noite, ele não dormiu imediatamente, porque pela primeira vez o silêncio entre eles não parecia distância. Parecia algo conquistado.


A neve havia derretido de vez agora. O chão estava macio e o ar cheirava a terra úmida. Harlon sentia isso na perna na maioria dos dias. Ele tentou trabalhar, mas a dor vinha forte agora.

No quarto dia, ele desabou do lado de fora do celeiro enquanto cortava lenha. Ka ouviu o machado cair, não o som dele atingindo a madeira, mas atingindo a terra.

Ela correu descalça, escorregou na lama enquanto caía ao lado dele. O rosto dele estava pálido, a respiração superficial. Sua camisa estava grudada nele de suor. Sua pele queimava.

Ela não entrou em pânico. Ela o arrastou para dentro pelos braços, lenta e firmemente. Ela encontrou o inchaço sob a velha cicatriz de bala, vermelho e quente ao toque.

Ela umedeceu um pano e limpou o rosto dele. Ele não acordou naquela noite.

Ela sentou-se ao lado dele, alimentando o fogão a cada hora, mantendo o calor constante.

Quando a febre atingiu o pico, ele gemeu uma vez e tentou rolar. Ela o empurrou gentilmente de volta.

“Você está seguro,” ela sussurrou, sem ter certeza se ele podia ouvir.

Ela não tinha tocado em outro homem desde antes de ser vendida pela primeira vez. Mas agora suas mãos se moviam com cuidado, não com medo. Ela desabotoou a camisa dele o suficiente para refrescá-lo, aninhou os cobertores ao redor dele, ficou perto.

Pela manhã, a febre cedeu. Ele se mexeu logo após o amanhecer. Ela estava sentada no chão perto do fogo, um copo de estanho aninhado em ambas as mãos. Ela não tinha dormido.

“Você ficou,” ele engasgou.

Ela assentiu. “Você precisava de alguém.”

“Sempre preciso de alguém,” ele disse. Meio piada, mas saiu fraco.

Ela não sorriu, mas se moveu para o lado dele, colocou a mão em sua testa novamente. “Mais frio agora. Beba.”

Ela o ajudou a se sentar, trouxe-lhe água. Ele estudou-a por um longo segundo.

“Você poderia ter ido embora.”

“Eu não queria.”

Isso ficou entre eles. Então ela se levantou, mexeu o ensopado que estava mantendo aquecido a manhã toda. Ele tomou-o sem uma palavra.

Mais tarde naquele dia, quando ele conseguiu andar, ele olhou para ela. “Você pode ficar pelo tempo que quiser.”

Ela não respondeu com palavras. Ela simplesmente assentiu, virou-se e voltou para dentro.

E pela primeira vez desde a guerra, Harlon soube que não queria mais ficar sozinho.


O trabalho de consertar a cerca do curral começou. Ele não pediu ajuda. Ela simplesmente pegou um segundo trilho e o seguiu. Eles trabalharam sem falar.

Ele cavou os buracos dos postes quebrados, fincou novos com um martelo. Ela carregava madeira, media as lacunas a olho, entregava-lhe os pregos quando ele precisava.

Ao meio-dia, quando ele parou para limpar a testa, ela estendeu a garrafa d’água. Suas mãos se roçaram por um segundo. Ela não se afastou. Nem ele.

“Costumava ter gado aqui,” ele disse depois de um tempo.

“Você quer mais?” ela perguntou.

“Talvez,” ele disse.

“Você precisará de um portão mais forte.”

“Eu sei.”

“Eu posso ajudar.”

Ele olhou para ela. “Você já está.”

Eles ensinaram um ao outro. Ela lhe mostrou um método para amarrar as juntas dos trilhos com couro curtido, um método que ela disse que seu tio usava no vento forte da montanha. Eles não hesitaram em levantar pedras. Ela nunca pedia descanso, mas ele a forçava a fazer pausas.

O “Nós” era a forma como aconteceu. Não em algum momento de confissão, mas em suor, golpes de martelo e na lenta moldagem de um lugar onde duas pessoas pudessem pertencer novamente.

Certa noite, enquanto ele se apoiava na soleira da porta, olhando para a cerca que haviam reconstruído juntos, ela parou ao lado dele e disse: “Está mais forte agora.”

Ele assentiu. “Nós também.”

Ela não respondeu, mas permaneceu ali, ombro a ombro, e isso era o suficiente.


Eles tinham acabado de reforçar o último poste de canto do curral quando o som de cascos ecoou baixo do cume sul.

Três homens se aproximaram. O mais velho se apresentou: “Corman, do escritório de ajuste de reivindicações de Tucson.”

“Temos informações de que você aceitou uma recompensa viva na loteria de Aoyo Ford. Você ainda pode trocar a garota por terra ou compensação monetária.”

“Ela não é uma troca,” Harlon disse.

“Então você a está reivindicando como propriedade.”

A mandíbula de Harlon apertou. “Ela não é propriedade.”

O homem mais jovem bufou. “Então o que ela é?”

Antes que Harlon pudesse responder, Ka saiu de trás da cabana. Ela estava à vista. Sem correntes, sem hesitação.

“Ela é minha parceira,” Harlon disse.

Corman olhou para ela, depois para ele. “Senhor, a lei permite posse formal ou troca. Não há cláusula para parceria. Não por escrito.”

“Eu não preciso disso por escrito,” Harlon disse, com aço em sua voz.

Corman assentiu. “Certo. Marcaremos a reivindicação como retida, mas sou obrigado a informar. A garota não pode reivindicar status legal, a menos que…”

Harlon o interrompeu. “Ela tem o meu.”

Os homens foram embora. Sem ameaças, apenas poeira.

Harlon exalou devagar. Ka não tinha se movido. Ele a olhou. “Você está bem?” ele perguntou.

Ela assentiu. “Já ouvi coisa pior.”

Naquela noite, ela colocou a mão sobre a dele pela primeira vez. Ele não a afastou. Ele virou a mão para que seus dedos pudessem ficar entrelaçados. Não como uma reivindicação, mas como uma escolha.


A cabana estava quente. Ka estava no fogão, descalça, mexendo o feijão com uma das mãos e segurando uma caneca de café na outra. Ela parecia pertencer.

Harlon a olhou. O inchaço na perna ainda vinha, mas menos. Ela se certificava disso.

Certa manhã, eles construíram um banco sob o pinheiro. Quando terminaram, sentaram-se ali enquanto o sol subia, cada um segurando uma caneca de estanho.

“Você sente falta de alguma coisa?” ela perguntou, os olhos no cume.

Ele pensou nisso. “Barulho, talvez. Cidade, de vez em quando.” Ele olhou para ela. “E você?”

Ela assentiu. “Minha irmã, minha língua. Mas não as pessoas que me venderam.”


Na segunda semana de setembro, o curral estava pronto. Totalmente fechado. Sem lacunas. Eles se sentaram na beira da cerca ao entardecer.

Ela se virou para ele. “Você ainda está esperando.”

“Pelo quê?”

“Por alguém para me levar embora.”

Ele não mentiu. “Eu penso nisso.”

Ela assentiu lentamente. “Eu também pensei, mas não mais.”

Quando ela estendeu a mão e a pousou em sua bochecha, ele não se moveu. Os dedos dela estavam calejados agora, os pulsos curados, as costas retas.

Ele se inclinou devagar, como algo conquistado. O primeiro beijo deles foi quieto. Não desesperado, apenas certo.


Antes do meio-dia, os homens vieram novamente. Dois desta vez, vestidos de terno. Não eram a lei, apenas homens com papéis.

“Sr. Grieve. Você não respondeu à intimação. O assunto foi para o conselho territorial. Visita final.”

Ka saiu da cabana, limpando as mãos em sua saia.

“Ela fica,” Harlon disse.

“Senhor, eu não acho que você entende o que os tribunais…”

“Eu entendo.” Ele apontou para a terra atrás deles, o curral, o celeiro, o defumador. “Ela fica,” ele repetiu, a voz baixa. “Final. Ela é o lar.”

O homem foi embora.

Naquela noite, Ka deitou-se em sua cama. Ela não pediu permissão, e ele não a impediu. No escuro, ela estendeu a mão para a dele. Desta vez, ele a segurou de volta, mais apertado.

Eles eram um homem, uma mulher, dois catres juntos. Sem correntes, sem prêmios, apenas paz.

Ela ficou, e isso significava tudo.

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