O sol sangrava vermelho através da fronteira do Novo México, tingindo a terra rachada com tons de fogo. A poeira pairava espessa no ar, sendo mexida por um vento inquieto que trazia o cheiro da sálvia e algo mais doce, como o jasmim capturado em uma tempestade. Jacob Kane, desgastado por 35 anos de sol e sofrimento, estava de pé fora de sua cabana, com o machado em mãos, cortando lenha com golpes lentos e deliberados. Sua camisa colava-se em seu peito largo, o suor traçando as linhas dos músculos abaixo.
Então, ela apareceu. Uma mulher sozinha, saindo da névoa, como uma miragem nascida de sonhos febris. Sua silhueta balançava contra a luz moribunda, os quadris rolando com uma cadência que parecia zombar da quietude do deserto. Seu vestido, um vermelho desbotado, se agarrava a suas curvas, o decote se aprofundando, revelando o suave inchaço de seus seios, reluzentes com um leve brilho de suor. Seus cabelos escuros caíam sobre um ombro, emaranhados, mas deliberados, emoldurando os olhos que queimavam com uma fome que Jacob não conseguia identificar, selvagem e indomável como uma onça-parda avaliando sua presa.
Seus lábios, cheios e entreabertos, exalaram uma respiração lenta enquanto ela parava a dez passos dele, uma mão descansando na cintura, os dedos tocando o tecido fino que mal ocultava a curva de sua coxa. Jacob apertou o cabo do machado, o pulso acelerando. Não via uma mulher assim há anos, desde os salões de Santa Fé, e nunca tão perto de sua terra isolada.
O olhar dela travou no dele, ousado, inquebrantável, e por um momento ele sentiu o calor de seu olhar atravessá-lo, despertando algo primal. Ele deu um passo à frente, atraído pela forma como seu peito se erguia a cada respiração, o tecido esticando-se levemente. Seus olhos se fixaram e, quando uma rajada de vento apertou seu vestido, delineando cada curva, ele engoliu em seco. Mas então, ele percebeu.
As mãos dela tremiam levemente, e uma sombra de um hematoma estava visível em sua clavícula. Ela não era apenas uma visão. Ela estava fugindo de algo.
Jacob baixou o machado, encostando-o na pilha de lenha, e forçou sua voz a permanecer estável.
— Está perdida, senhora? — ele perguntou, mantendo a distância.
Ela inclinou a cabeça, os lábios se curvando ligeiramente, mas não respondeu. Seus dedos tocavam o decote e os olhos dele involuntariamente seguiram o movimento. Antes que ele se perdesse ali, ele se controlou.
A terra da fronteira era solitária e cruel, e ele sabia que não poderia cruzar aquela linha sem entender a história dela. Ele não sabia o que havia trazido aquela mulher até ele, mas sentiu que algo estava errado. O ar se tornava mais denso à medida que a última luz do dia desaparecia.
— Pode descansar dentro — ele disse, gesticulando em direção à cabana. — Eu durmo no celeiro.
A mulher olhou para ele, seus olhos refletindo algo indefinido: talvez alívio, talvez desconfiança, mas ela concordou com a cabeça. Quando estavam prestes a entrar, o som de cascos cortou o silêncio. Duas figuras apareceram no horizonte, cavalgando rápido, levantando uma nuvem de poeira atrás de si.
Jacob colocou a mão no revólver e protegeu a mulher com seu corpo. Ela se aproximou, seu corpo colando ao dele, o calor de sua cintura tocando a dele. Mas ele não se moveu. Seus olhos estavam fixos nos cavaleiros.
Eles não estavam ali por ele. Eles estavam ali por ela.
Os cavaleiros pararam na beira da propriedade de Jacob. Seus cavalos, arfando e levantando poeira, tomavam a cena. A mulher ao lado de Jacob, ainda sem nome, parecia mais uma chama em uma pradaria seca. Ela se moveu mais perto, o ombro roçando o braço dele. Seu vestido vermelho capturava o último brilho do crepúsculo, e a respiração dela ficava mais ofegante, mais rápida.
Jacob podia sentir a tensão no ar. Aquela mulher não era uma vítima. Ela era alguém caçada. E ele não permitiria que seu desejo turvasse seu julgamento.
O cavaleiro à frente, um homem de bigode encerado e um distintivo de xerife brilhando no colete, desmontou com um passo firme.
— Você tem algo que não pertence aqui — disse o xerife Amos Tate, o homem da lei de Bitter Creek, sorrindo, mas seus olhos eram frios e calculistas.
Jacob olhou para ele com um olhar fixo.
— Ela não pertence a ninguém, Tate — disse Jacob, a voz baixa, mas firme.
Tate sorriu de forma tortuosa, e o segundo cavaleiro, um homem magro com uma cicatriz no rosto, ficou montado, a espingarda descansando sobre a sela. A tensão no ar aumentava à medida que o calor da noite os cercava.
— Você está protegendo Lila Monroe — disse Tate. — Ela fugiu de um salão em Tucson e deve muito dinheiro. Gente como ela não deixa dívida ir embora facilmente.
Lila. O nome bateu como uma pedra no peito de Jacob. Ele olhou para ela, seus olhos agora com uma fúria silenciosa, uma chama inextinguível. Ela não tinha vergonha. Só havia fogo.
Jacob, mantendo os olhos em Tate, perguntou:
— Por que ela está aqui, então?
Tate deu um passo mais perto, seus passos pesando na terra seca.
— Ela tem um preço, e estou aqui para cobrar.
Lila, com a voz baixa, mas cortante, disse:
— Não sou dívida de ninguém.
Jacob sabia que a mulher ao seu lado não precisava ser salva. Ela precisava ser defendida.
Ele olhou para Tate e disse com firmeza:
— Ela fica até dizer o contrário.
O sorriso de Tate desapareceu, mas ele não recuou. A noite estava silenciosa e carregada, a tensão crescendo à medida que o vento murmurava pelos arbustos. Então, o som de um estalo ecoou na escuridão. Um galho quebrando além do curral.
Jacob virou a cabeça, seus sentidos alertas. Os olhos de Tate rapidamente se fixaram na direção da escuridão.
— Está demorando demais, Kane — disse Tate.
Antes que pudesse fazer qualquer movimento, uma figura apareceu na sombra, seguida por mais duas. Não eram Apaches. Eram homens de Tucson, os mesmos de quem Lila fugira.
Jacob manteve a calma, seu olhar fixo nos homens.
— Saia da minha terra, Tate. — Jacob ordenou, sua mão indo até o revólver.
Os homens riram, mas o som era vago. Não era apenas uma ameaça vazia. Eles estavam ali para levar algo — ou alguém. E Jacob não permitiria que isso acontecesse.
Lila sussurrou em seu ouvido, sua mão passando por seu braço.
— Eu posso atirar — ela disse.
Jacob passou a pistola para ela, os dedos de Lila apertando-a com uma firmeza inabalável.
O homem com a cicatriz foi o primeiro a puxar a arma, mas Jacob foi mais rápido. O disparo ecoou, e o homem caiu. Os outros dois congelaram, antes de virarem e fugirem na escuridão, os cascos dos cavalos se afastando rapidamente.
Jacob abaixou sua arma, olhando para Lila. Seus olhos se encontraram, intensos e vivos.
— Você não precisava fazer isso — ela disse, sua voz suave.
— Eu precisava — respondeu Jacob, com um tom mais suave agora.
Ela se aproximou dele, colocando a mão no peito dele. Seus dedos traçaram a linha da camisa, mas ele cobriu sua mão com a dele, mantendo os olhos fixos nela.
— Fique — disse ele.
A noite caiu sobre eles, silenciosa. Lila Monroe não estava mais fugindo. Jacob Kane também não. Eles estavam juntos, no mesmo lugar, enfrentando a escuridão do deserto.
E, finalmente, eles tinham encontrado algo que não iriam deixar ir.