O sol, um alegre tom de laranja, despontava por entre os altos edifícios da cidade, projetando longas sombras que dançavam nas ruas. Para a maioria das pessoas, era apenas mais uma terça-feira. Mas para Ana Sharma, esta não era uma terça-feira qualquer. Era a terça-feira.
Hoje, ela não seria apenas Anya, a advogada inteligente com um sorriso gentil. Hoje, ela se tornaria a juíza Ana Sharma. O despertador, programado cedo demais, nem sequer foi necessário. Ana estava acordada desde antes do amanhecer, com uma mistura efervescente de excitação e nervosismo a borbulhar na barriga.
Escolheu cuidadosamente o seu melhor fato, de um azul profundo, que a fazia sentir-se forte e pronta para tudo. Cada botão que apertava era um pequeno passo em direção à sua nova vida. Os sapatos polidos clicavam suavemente no chão de madeira enquanto ela percorria o apartamento silencioso, conferindo uma última vez se a toga estava cuidadosamente dobrada na sua bolsa especial.
Visualizou o imponente tribunal cheio de rostos ansiosos por a ver fazer o juramento. A família estaria lá, amigos, e até alguns antigos professores que sempre acreditaram nela. Este era o dia pelo qual trabalhou arduamente, o sonho que perseguira com todo o coração. Um suspiro profundo, um olhar rápido ao espelho, e Ana estava pronta para enfrentar o destino.
Com a toga cuidadosamente guardada, e o coração a transbordar de esperança, Ana saiu para o ar fresco da manhã. O tribunal ficava a apenas alguns quarteirões, um edifício de pedra com colunas imponentes que sempre a enchiam de propósito. Decidiu caminhar para desfrutar dos últimos momentos de paz antes de sua vida mudar para sempre.
Os saltos firmes batiam ritmicamente no passeio, enquanto passava por lojas ainda adormecidas e primeiros despertadores da cidade. A cidade acordava lentamente, assim como o seu próprio futuro.
De repente, uma viatura policial parou bruscamente ao seu lado. Não se movia como o tráfego habitual; cortava diretamente o seu caminho. Ana parou, surpresa. Dois policiais, grandes e de semblante sério, saíram do carro com movimentos rápidos, quase agressivos.
Um deles, alto, de olhos estreitos, posicionou-se à sua frente, bloqueando o caminho. “Senhora, podemos ajudá-la?”, perguntou, mas a voz soava mais como uma ordem do que uma pergunta. Ana endireitou os ombros, mantendo a voz firme.
“Bom dia, senhores. Há algum problema? Estou a caminho do tribunal”, respondeu. Esperava que explicar que era advogada e prestes a ser juíza clarificasse a situação.
Mas o policial que falou, identificado como Miller, apenas riu de forma áspera. “Juíza, é? Vamos ver alguma identificação, senhora, e essa bolsa”, disse, estendendo a mão de forma brusca. Ana recuou, surpresa pelo gesto rude. “Senhor, não pode fazer isso”, começou, mas ele interrompeu. “Não me responda de forma insolente. Acha que é especial?”
O aperto em seu braço doeu, e o entusiasmo do seu grande dia rapidamente se transformou em medo. Ana tentou manter a calma, oferecendo mostrar a identificação, mas Miller não a ouviu. Com um empurrão inesperado, ela caiu contra a parede de tijolos, batendo a cabeça com um som oco. Um dor aguda percorreu o braço e as costas. Os óculos caíram na calçada, e o mundo tornou-se repentinamente turvo.
O silêncio foi interrompido pelo murmúrio de transeuntes, que começaram a formar uma pequena multidão, alguns preocupados, outros apenas curiosos. Uma mulher com um lenço colorido avançou, tentando interceder, mas os policiais ignoraram os pedidos de ajuda.
Finalmente, Miller, aparentemente irritado com a atenção, soltou-a com um último olhar duro e mandou que se retirasse. Sem pedido de desculpas, sem explicação. Ana levantou-se devagar, dolorida, recolheu os óculos e ajustou o fato agora amassado. O grande dia fora manchado pelo choque, pela injustiça.
Respirando fundo, Ana dirigiu-se ao tribunal. Cada passo era pesado, mas a determinação crescia a cada movimento. Ao entrar, foi recebida com o calor de rostos familiares, familiares, amigos e líderes comunitários. A grandiosidade do edifício contrastava com a frieza do incidente que acabara de enfrentar.
No momento do juramento, Ana sentiu uma mistura de emoções: dor, choque, mas também uma determinação renovada. Ao falar, a sua voz era clara e forte:
“Obrigado a todos por estarem aqui. Este é um grande honor, e prometo servir a nossa comunidade com justiça e equidade. A lei deve tratar todos de forma igual, independentemente de quem são ou de onde vêm. Cada pessoa merece respeito e dignidade.”
O incidente do lado de fora conferia peso às suas palavras; não eram apenas palavras, eram verdade vivida. Aplaudida calorosamente, Ana recebeu a toga, sentindo o peso simbólico do seu novo papel. Sentada no banco de madeira polida, percebeu que o poder da sua posição iria proteger os indefesos e garantir que ninguém se sentisse invisível sob sua autoridade.
A dor física persistia, mas o aprendizado transformou-se em força. O acontecimento injusto da manhã moldaria sua forma de julgar, lembrando-a de ouvir com atenção e tratar todos com justiça. Ana Sharma prometeu a si mesma ser firme, justa e compassiva, lutando pelos direitos de todos que cruzassem seu caminho.
Ao sair do tribunal, o ar da tarde era fresco, e as luzes da cidade começavam a brilhar. O dia pesado, cheio de adversidade e triunfo, chegava ao fim. Ana carregava as marcas do ocorrido, mas também uma promessa poderosa: servir com integridade, garantir justiça e usar sua experiência para iluminar o caminho da equidade para todos. A sua jornada como juíza acabara de começar.