MÉDICO ATEU VIA 3 ALMAS NO CORREDOR… Sempre Que Apareciam, Alguém Morria em 24h

MÉDICO ATEU VIA 3 ALMAS NO CORREDOR… Sempre Que Apareciam, Alguém Morria em 24h

Você consegue nos ver, né, doutor? Não precisa ter medo. A gente veio esperar o seu Joaquim do quarto número 12. Obrigado pelos seus serviços, doutor. Mas o seu Joaquim vem com a gente. Prepare-se, doutor, porque daqui por diante sua vida não será mais a mesma. Dr. Henrique Alencar tinha acabado de perceber algo que faria qualquer médico perder o sono.

Pela décima vez em se meses, três figuras translúcidas esperavam no corredor da UTI e nas nove vezes anteriores, sempre que elas apareciam, alguém morria nas próximas 24 horas. Mas o que realmente o aterrorizava não era vê-las, era que dessa vez uma delas tinha olhado diretamente para ele e sorrido como se soubesse que ele podia vê-las.

Henrique, 44 anos, intensivista há 18, nunca tinha acreditado em nada além do que podia medir, pesar ou comprovar em exames. Filho de Ateus, formado em medicina na Universidade Federal do Rio Grande do Sul com honras, ele era o tipo de médico que irritava as enfermeiras mais velhas quando elas sussurravam sobre pressentimentos ou energias ruins em determinados quartos. Superstição não cura ninguém.

Ele costumava dizer com aquele meio sorriso cínico que expondia anos de formação racionalista. trabalhava em um hospital da capital Porto Alegre, onde coordenava a UTI adulto e tinha reputação de ser brilhante, mas frio. Ele salva vidas, mas não tem coração. Uma técnica de enfermagem tinha comentado uma vez sem saber que ele tinha ouvido.

Mas seis meses atrás tudo tinha começado a rachar. Foi numa terça-feira, plantão noturno, quando Henrique viu pela primeira vez uma mulher idosa, cabelos brancos, presos em coque, vestido floral, desbotado, parada no corredor próximo ao quarto sete. Ele tinha piscado, esfregado os olhos cansados depois de 14 horas de plantão. E quando olhou novamente, ela ainda estava lá.

Não se movia, apenas observava a porta do quarto com uma expressão serena. Paciente. “Com licença, a senhora está perdida?”, ele tinha perguntado, aproximando-se. A mulher tinha olhado para ele, dado um sorriso gentil e simplesmente desaparecido. Não saiu andando, não virou esquina, desapareceu como fumaça.

No quarto sete estava seu autônio, 82 anos, paciente terminal com insuficiência cardíaca avançada. Henrique tinha acabado de examiná-lo às 23. estável dentro do possível. Às 3:47 da madrugada, seu Antônio faleceu, parada cardíaca súbita. Foi a hora dele. Uma enfermeira tinha dito com aquela sabedoria cansada de quem trabalha décadas com a morte.

Henrique tinha concordado, mas algo incomodava. A imagem daquela mulher no corredor não saía da cabeça. No dia seguinte, quando a filha de seu Antônio voltou para buscar os pertences, Henrique tinha visto fotos no telefone dela, fotos antigas, digitalizadas, e lá estava a mulher do corredor. “Quem é ela?”, Henrique tinha perguntado, tentando soar casual.

“Minha avó, mãe do papai, faleceu há 15 anos.” Henrique tinha rido para si mesmo no caminho de casa. Cansaço. Tinha sido apenas cansaço e coincidência, a mente pregando peças depois de plantões exaustivos. Mas então aconteceu de novo e de novo e de novo. Sempre o mesmo padrão. Figuras translúcidas no corredor, paciente falecendo em até 48 horas.

Descrições que batiam perfeitamente com familiares já falecidos. Na quinta ocorrência, Henrique tinha parado de tentar racionalizar e começado a documentar discretamente num caderno que escondia na gaveta do consultório. Data, horário, características das aparições, quarto do paciente, tempo até o óbito. Os números não mentiam, a correlação era de 100%.

E agora, pela décima vez, elas estavam ali. Desta vez eram três e estavam paradas próximas ao quarto 12, onde seu Joaquim dos Santos, 78 anos, agricultor aposentado, estava internado há duas semanas com câncer de pâncreas em estágio terminal. Henrique parou no meio do corredor, a prancheta com exames escorregando das mãos e batendo no chão com um estrondo que fez duas enfermeiras virarem a cabeça. Mas ele mal notou.

Tava olhando fixamente pros três espíritos. Uma mulher jovem, não mais que 30 anos, vestido branco simples, cabelos escuros até os ombros, expressão doce e ansiosa. Um homem robusto, de meia idade, camisa xadrez de trabalho, botas de couro, rosto marcado pelo sol, braços cruzados, mais postura relaxada.

e uma menina, uma criança de uns 10 anos vestidinho de bolinhas, tranças loiras, segurando a mão da mulher. Os três olhavam pra porta do quarto 12 com uma expectativa palpável, como quem espera na plataforma do trem que tá prestes a chegar. “Doutor Henrique, tá tudo bem?” A voz da enfermeira Carmen o trouxe de volta.

Ele piscou, olhou para ela, depois pro corredor. Os três espíritos continuavam ali, mas agora a menina tinha virado a cabeça e olhava diretamente para ele e sorriu. Um sorriso puro, infantil, que de alguma forma comunicava: “Você pode nos ver, né? Eu eu estou bem, só deixei cair a cancheta.” Carmen pegou a prancheta do chão, entregou para ele com um olhar preocupado. Você tá muito pálido.

Quer que eu peça para alguém cobrir? Você tá há quantas horas no plantão? Não, não, eu tô bem. Carmen, o seu Joaquim, como ele tá? Estável, mas você sabe como é. Pode ser hoje, amanhã, semana que vem. Essas coisas não tm hora marcada. Tem sim. Henrique pensou, olhando pros três espíritos que continuavam esperando pacientemente.

Tem sim. Prepare-se, porque agora Dr. Henrique vai fazer algo que pode custar sua carreira inteira. Ele vai quebrar todos os protocolos e perguntar à família de seu Joaquim sobre pessoas mortas que ele nunca deveria saber que existiram. E quando as descrições baterem perfeitamente, quando ele descobrir quem são aqueles três espíritos esperando no corredor, vai entender que existe um propósito muito maior por trás desse dom terrível.

Um propósito que vai transformá-lo no médico mais controverso e, paradoxalmente mais humano daquele hospital. A decisão mais difícil que um médico pode tomar não é sobre qual tratamento aplicar ou quando desligar os aparelhos. É decidir se conta ou não para uma família que vê os mortos esperando no corredor. Porque uma vez que você abre essa porta não tem volta.

Ou você é louco, ou o mundo é muito maior e mais estranho do que qualquer um quer admitir. Dr. Henrique estava 5 minutos de atravessar essa linha e suas mãos suavam frio enquanto batia na porta da sala de espera onde a família de seu Joaquim aguardava notícias. Dentro da sala estavam quatro pessoas. A filha mais velha, Mariana, uns 50 anos, professora aposentada, olhos inchados de tanto chorar.

O filho do meio, Carlos, 48, mecânico de mãos calejadas e expressão fechada. A nora Silvana, esposa de Carlos, que segurava a bolsa no colo escudo. E o neto adolescente, Gustavo, 16 anos, fones de ouvido no pescoço, olhar distante de quem ainda não processou que o avô tá morrendo. Todos levantaram quando Henrique entrou.

Aquela expectativa desesperada que ele conhecia bem depois de quase duas décadas de medicina. “Doutor, ele melhorou?”, Mariana perguntou a voz trêmula. Henrique respirou fundo, fechou a porta atrás de si e tomou a decisão que mudaria tudo. Seu Joaquim tá estáil no momento, mas preciso conversar com vocês sobre algo delicado, algo que vai parecer muito estranho, e eu peço que me ouçam até o final antes de qualquer julgamento. Carlos franziu a testa já desconfiado.

É sobre desligar os aparelhos. Porque se for, a gente já decidiu que não é sobre isso. É sobre É sobre quem tá esperando por ele. Silêncio. Todos olharam para Henrique como se ele tivesse falado em outro idioma. Esperando? Como assim esperando? Henrique puxou uma cadeira, sentou-se de frente pra família. Isso ia contra todos os protocolos.

e a contra toda a sua formação. Mas os três espíritos continuavam no corredor e ele sabia, com uma certeza que não conseguia explicar que tinha menos de 24 horas. Seu Joaquim ia desencarnar e essas pessoas mereciam saber, mereciam se despedir. Vocês acreditam em vida após a morte, em espíritos? Carlos soltou uma risada amarga. Doutor, com todo respeito, o senhor chamou a gente aqui para falar de religião. Deixa ele falar.

Mariana interrompeu, olhando fixamente para Henrique com uma intensidade que o fez perceber que ela já tinha vivido coisas que a medicina não explicava. Continue, doutor. Há seis meses, comecei a ver presenças no corredor da UTI, sempre próximas aos quartos de pacientes terminais.

E sempre, sem exceção, quando essas presenças aparecem, o paciente falece dentro de 24 a 48 horas. No início achei que estava ficando louco, cansaço, estresse, burnout, mas então comecei a documentar e percebi um padrão. As presenças são sempre familiares já falecidos do paciente. Silvana levou a mão à boca. Gustavo tirou os fones completamente, agora prestando atenção total.

Carlos tinha se levantado claramente irritado. Isso é algum tipo de piada de mau gosto? Meu pai tá morrendo e você vem com essas Carlos. Senta. Maria Norddenou a voz firme depois para Henrique. Você viu alguém próximo ao quarto do meu pai? Não era pergunta, era afirmação. Vi três pessoas e vou descrever cada uma.

Se eu tiver errado, se não bater com ninguém que vocês conheceram, podem me denunciar ao conselho médico. Me chama de louco, fazer o que quiserem. Mas se eu tiver certo, vocês terão tempo de se despedir. Henrique tirou do bolso o caderno onde tinha notado as características. Abriu na página mais recente. Uma mulher jovem entre 28 e 32 anos, cabelos escuros, lisos até os ombros, vestido branco simples, estilo ano 60 ou 70, expressão doce.

fica olhando pra porta do quarto com uma ansiedade carinhosa, como se estivesse esperando alguém que ama muito e não vê a tempo. Mariana tinha começado a chorar. Silvana também. Carlos tinha sentado de volta pálido. Um homem por volta de 40 e poucos anos, estrutura forte, trabalhador braçal, camisa xadrez vermelha e preta, botas de couro marrom, rosto queimado de sol, cicatriz pequena acima da sobrancelha direita, braços cruzados, mas postura relaxada, jeito protetor. Carlos sussurrou algo que Henrique não entendeu.

Mariana tinha levado as mãos ao rosto e uma menina, 10 anos, talvez menos, vestido de bolinhas azuis, tranças loiras, rosto de anjo, segurando a mão da mulher, sorrindo. Foi Mariana quem falou primeiro. A voz embargada. A mulher é a Maria, primeira esposa do meu pai. Ela morreu em 1972, tinha 31 anos, complicações no parto.

Eu era criança, mas lembro dela. Lembro do vestido branco que ela usava aos domingos. Minha mãe, a segunda esposa, sempre teve ciúmes daquele vestido. Carlos continuou, a voz trêmula. O homem é o meu tio João, irmão gêmeo do meu pai. Morreu num acidente de trator em 1985, 47 anos.

Meu pai nunca se recuperou completamente. Dizia que era como se tivesse perdido metade de si mesmo. Silvana, que até então ficara calada, disse com voz quase inaudível: “E a menina? A menina é a Ana Clara, a bebê que nasceu no parto que matou a Maria. Ela não sobreviveu nem 24 horas. Seu Joaquim nunca falava sobre ela, mas eu vi a certidão de óbito uma vez quando ajudei a organizar documentos paraa aposentadoria dele.

Ana Clara dos Santos, 10 de março de 1972. Nascimento e óbito. No mesmo dia. O silêncio que caiu na sala era tão denso que Henrique podia ouvir o próprio coração batendo. Ninguém se mexia, ninguém falava. O peso daquela revelação, daquela confirmação impossível preenchia cada centímetro do espaço. Henrique fechou o caderno devagar.

Eu não tinha como saber dessas informações. Nunca conversei com seu Joaquim sobre família. Nunca vi fotos, nunca li prontuários antigos que mencionassem isso, mas eles estão lá no corredor esperando. E baseado nos padrões anteriores, seu Joaquim tem menos de 24 horas. Mariana levantou, limpou as lágrimas, endireitou a postura com uma força que só quem já perdeu muito consegue ter.

Então, precisamos nos despedir hoje, agora. Vamos chamar todos, irmãos, netos, sobrinhos. Ele precisa saber que tá tudo bem, que pode ir, que a Maria, o João e a Ana Clara vieram buscá-lo. Carlos ainda estava processando, mas assentiu. Doutor, obrigado. Sei que isso pode te custar a carreira, mas obrigado.

Henrique apenas acenou com a cabeça, saiu da sala com as pernas bambas, voltou pro corredor e lá estavam eles, os três espíritos. Mas dessa vez, quando ele olhou, a mulher de branco virou a cabeça para ele e moveu os lábios em um obrigada silencioso. Segure-se firme, porque você vai testemunhar o que acontece quando um homem de 78 anos tem seus últimos momentos de lucidez e vê com os próprios olhos os espíritos que vieram buscá-lo.

Você vai ouvir as últimas palavras de seu Joaquim para Dr. Henrique. palavras que vão transformar um médico cético em alguém que finalmente entende que sua missão vai muito além de salvar corpos e vai descobrir o que acontece quando outros médicos e enfermeiras começam a notar o comportamento estranho de Henrique.

E alguns deles confessam que também vêm coisas que não deveriam ser possíveis. Existe um momento sagrado que poucos têm o privilégio de testemunhar. O instante em que alguém vê o véu entre os mundos se desfazer e reconhece os rostos daqueles que vieram buscá-lo. Dr. Henrique estava prestes a viver esse momento às 4:37 da madrugada de uma quinta-feira, quando seu Joaquim abriu os olhos pela última vez, olhou diretamente pros três espíritos no corredor que ninguém mais podia ver e sorriu com uma paz que a morfina jamais poderia proporcionar. A família tinha ficado a noite toda,

todos os filhos, netos, até bisnetos pequenos que dormiam nos colos das mães. O quarto 12 estava lotado, quebrando todas as regras de visitação da UTI, mas Henrique tinha autorizado. “Deixem”, ele tinha dito para Carmen quando ela tentou limitar o número de pessoas. “Hoje as regras não importam”. Eles tinham se revesado ao lado da cama, contando histórias, segurando a mão de seu Joaquim.

dizendo tudo que precisava ser dito. Mariana tinha lido uma carta que escreveu agradecendo por ele ter sido o melhor pai possível depois de perder a Maria por ter escolhido amar de novo, mesmo com o coração partido. Carlos tinha chorado pela primeira vez em anos, pedindo perdão por ter sido distante nos últimos tempos, por ter deixado o trabalho roubar os domingos em família.

E no meio da madrugada, quando a maioria já cochilava nas cadeiras, seu Joaquim tinha começado a murmurar. Henrique estava no posto de enfermagem revisando prontuários quando Carmen o chamou com urgência. Dr. Henrique, o seu Joaquim acordou e tá tá falando coisas estranhas. Ele correu pro quarto. A família já estava de pé, todos ao redor da cama. Seu Joaquim tinha os olhos abertos, muito abertos, olhando fixamente pra porta.

Não paraa família ao redor, pra porta. E havia algo na expressão dele. Não era confusão, não era dor, era reconhecimento, era alegria pura. Maria! A voz saiu rouca, mas clara. Maria, meu amor, você veio. Depois de tanto tempo, você veio me buscar. Mariana soluçou, apertou a mão do pai. Pai, é a Mariana. Tô aqui.

Mas seu Joaquim não olhava para ela, continuava olhando paraa porta. E João, meu irmão, que saudade, meu irmão. E ela, a menina, minha Ana Clara, minha filhinha que eu nunca peguei no colo. Tá tão linda, tão linda. Henrique sentiu um arrepio subir pela espinha. virou-se lentamente para olhar paraa porta e lá estavam os três. Mas agora não eram mais figuras translúcidas e distantes, eram quase sólidos, radiantes. A mulher de branco tinha dado um passo para dentro do quarto, a mão estendida.

O homem de camisa xadrez sorria com os olhos marejados e a menina, a pequena Ana Clara, tinha soltado a mão da mãe e dado passos tímidos em direção à cama. Seu Joaquim levantou a mão trêmula, como se tentasse alcançar algo. Vocês vieram? Eu sabia que viriam. Não tô com medo. Não tô não.

Foi quando seus olhos desviaram da porta e encontraram os de Henrique. E seu Joaquim franziu a testa, confuso por um momento. Depois algo mudou na expressão dele. Compreensão. Doutor, o senhor O senhor tá vendo eles? também, né? A sala inteira ficou em silêncio. Todos os olhos se viraram para Henrique. Ele sentiu o peso daquele momento. Podia mentir. Podia dizer que seu Joaquim estava delirando por causa da medicação.

Podia manter a máscara de médico cético e racional. Ou podia, pela primeira vez em 44 anos, ser completamente honesto sobre algo que desafiava tudo que tinha aprendido. Estou vendo, seu Joaquim. Estou vendo os três. A Maria tá linda no vestido branco. Seu irmão João tá sorrindo.

E a Ana Clara, ela tá ansiosa para conhecer o pai dela. As lágrimas escorriam pelo rosto enrugado de seu Joaquim. Que presente o senhor tem, doutor. Que presente poder ver o que vem depois, poder saber que a gente não acaba, que o amor continua. Isso é um presente de Deus. ou um fardo. Henrique respondeu com honestidade. Ainda não sei bem qual dos dois.

É um presente, seu Joaquim insistiu, a voz ficando mais fraca. Porque o senhor pode dizer para as pessoas, pode dizer que não precisa ter medo, que do outro lado tem amor, tem reencontro, tem paz. A respiração dele estava ficando irregular. Os monitores começaram a apitar mais rápido. Mariana apertou a mão do pai com mais força. Pai, eu te amo. Sempre vou te amar.

Eu sei, filha, eu sei. E vou continuar amando vocês de lá. Vou cuidar de vocês de lá, eu prometo. Seu Joaquim olhou mais uma vez pra porta, onde os três espíritos esperavam. A menina tinha chegado mais perto, tava ao pé da cama. Agora, olhando pro pai que nunca conheceu com um amor que transcendia o tempo e a morte. Tô pronto. Tô pronto para ir com vocês. Henrique apenas assentiu.

Vai, eles estão esperando. O espírito de seu Joaquim caminhou até a porta. A menina, Ana Clara, correu e pulou nos braços dele. Foi a primeira vez que pai e filha se abraçaram. Maria se aproximou, colocou a mão no rosto do marido que tinha partido há mais de 50 anos e João, o irmão gêmeo, pôs a mão no ombro do irmão com um sorriso que dizia: “Finalmente juntos de novo”.

Uma luz começou a aparecer atrás deles. Não uma luz física, algo diferente, dourada, quente, acolhedora. E os quatro, de mãos dadas, caminharam para dentro dela. No mundo físico, os monitores emitiram um apito longo e contínuo. Seu Joaquim dos Santos, 78 anos, havia falecido às 4:52. Mariana desabou chorando. Carlos segurava a irmã.

Silvana rezava baixinho. Gustavo olhava pro avô com lágrimas silenciosas escorrendo. E Henrique ficou ali testemunha silenciosa de que a morte não era o fim. Era apenas uma porta. Uma porta que se abria para um reencontro de amor. Carmen estava do lado de fora do quarto quando Henrique saiu.

Ela olhou para ele com uma expressão estranha, não de julgamento, mas de reconhecimento. Você também vê, não é? Ela perguntou baixinho, longe dos outros. Henrique a olhou surpreso. Como trabalho em UTI há 32 anos, doutor, você acha que eu nunca vi, nunca senti? Eu sempre soube quando alguém ia partir, sempre senti as presenças, mas nunca tive coragem de falar com medo de acharem que eu era louca.

Mas você você falou, você contou pra família e deu para eles o presente de se despedir. Você realmente vê? Vejo não tão claro quanto você, pelo jeito, mas vejo sombras, silhuetas e sinto, sinto quando eles chegam. Outros membros da equipe começaram a passar pelo corredor, dois técnicos de enfermagem, uma residente e Henrique percebeu algo.

Alguns deles olhavam para ele com aquele mesmo reconhecimento, como se fizessem parte de um clube secreto que nunca tinha tido coragem de admitir sua existência. A residente, Dra. Júlia, de apenas 28 anos, se aproximou timidamente. Dr. Henrique, eu ouvi sobre o que o senhor fez, sobre o que contou pra família do seu Joaquim e eu eu preciso te dizer uma coisa. Eu também vejo.

Desde que comecei a trabalhar aqui, achei que era estress, achei que ia passar, mas não passa. e eu não sabia o que fazer com isso. Um técnico de enfermagem mais velho, seu Roberto, que trabalhava no turno da noite há décadas, acrescentou: “Eu sinto quando eles vêm, sinto um frio na nuca, uma presença e sempre, sempre mesmo a pessoa parte logo depois.

” Pensei que fosse só a intuição de quem trabalha com morte há muito tempo, mas agora agora vejo que é mais que isso. Ali no corredor da UTI do Hospital Santa Cruz, às 5 da manhã de uma quinta-feira, formou-se um círculo. médicos, enfermeiros, técnicos, todos compartilhando pela primeira vez em voz alta experiências que tinham guardado com medo, com vergonha, com certeza de que seriam ridicularizados. E Henrique percebeu algo fundamental.

Ele não estava sozinho, nunca esteve. Havia outros como ele, pessoas que viam o que não deveria ser visto, que testemunhavam a passagem das almas, que sabiam, sem sombra de dúvida, que a morte não era o fim. A questão era: O que fazer com esse conhecimento? Prepare seu coração pro que vem agora, porque no próximo bloco, Dr.

Henrique vai tomar uma decisão que vai mudar não apenas a sua carreira, mas a forma como todo o hospital lida com pacientes terminais. Ele vai criar algo que nenhum hospital no Brasil tem, um protocolo de despedida consciente, onde famílias são sutilmente alertadas quando finga próximo. Mas nem todos vão aceitar isso bem. Alguns vão chamá-lo de charlatão, outros vão tentar destruí-lo profissionalmente e ele terá que decidir: esconde o dom para manter a carreira ou abraça o propósito maior, mesmo que isso custe tudo que construiu. A pior coisa que pode acontecer com um médico não é perder um paciente. É ser

acusado de insanidade pelos próprios colegas quando você decide usar um dom que eles não conseguem ver, medir ou comprovar em exames laboratoriais. Dr. Henrique estava prestes a descobrir isso da forma mais dolorosa possível, quando o Dr. Maurício Tavares, diretor clínico do Hospital Santa Cruz e cético militante, convocou uma reunião de emergência do Conselho Médico três semanas após a morte de seu Joaquim, com uma acusação formal de conduta inadequada e promoção de pseudociência em ambiente hospitalar.

A reunião estava marcada para uma segunda-feira às 14 horas na sala de conferências. Henrique chegou 15 minutos adiantado, como sempre fazia, mas dessa vez não era por profissionalismo, era nervosismo puro. Sabia o que estava por vir. Nos últimos 21 dias, ele tinha começado discretamente o que chamou internamente de protocolo de despedida.

Quando vi os espíritos no corredor, conversava em particular com as famílias, dava-lhes descrições, oferecia-lhes a oportunidade de se preparar. Tinha feito isso com mais quatro famílias. Todas tinham agradecido profundamente, todas tinham tido tempo de se despedir. Mas uma delas, a família Rodrigues, tinha um membro que era médico em outro hospital e esse médico tinha ficado furioso. Dr.

Maurício já estava na sala quando Henrique entrou. 58 anos, cabelos grisalhos, impecavelmente penteados, óculos de grau que usava mais como acessório de autoridade do que por necessidade. Terno cinza escuro que parecia ter sido passado com régua. Ao lado dele, Dr. Fernando Paz, chefe do Departamento de Psiquiatria e Dra. Letícia Gomes, representante do Conselho de Ética.

Henrique sentiu o estômago apertar. Isso era sério? Muito sério. Dr. Henrique, sente-se. Maurício disse com uma cordialidade gelada que era pior que qualquer hostilidade aberta. Agradeço por ter vindo. Tenho certeza de que sabe porque está aqui. Tenho uma ideia. Recebi uma denúncia formal do Dr. Rodrigues Filho, cardiologista do Hospital São Lucas.

Ele alega que você abordou a família dele durante o internamento de sua mãe, dona Amélia Rodrigues, e fez afirmações de natureza, como devo dizer, paranormal, que você alegou ver espíritos de familiares falecidos esperando no corredor e que usou essas alegações para pressionar a família a autorizar cuidados paliativos em vez de tratamento agressivo. Henrique respirou fundo. Não pressionei ninguém.

Ofereci informações que eles poderiam usar como quisessem e a família agradeceu. A própria dona Mélia, nos últimos momentos de lucidez, agradeceu por eu ter dado tempo pra família se preparar. Tempo? Dr. Fernando interveio, a voz clínica e cautelosa. Henrique, você tá alegando que pode prever quando um paciente vai falecer baseado em visões.

Não são visões, são percepções. E sim, posso. Documentei 14 casos nos últimos 6 meses. Taxa de acerto 100%. Tempo médio entre aparição e óbito 28 horas. Dout. Letícia folhou alguns papéis. Você tá ciente de que isso soa como bem como delírio, como algo que precisaríamos avaliar de perspectiva psiquiátrica? Eu tô ciente de como soua, mas também tô ciente dos resultados.

14 famílias que tiveram tempo de se despedir, 14 pacientes que partiram em paz, rodeados de amor, porque alguém teve coragem de avisá-los que o fim estava próximo. Dr. Maurício bateu na mesa com a caneta impaciente. Henrique, você é um dos nossos melhores intensivistas. Sua taxa de sucesso com pacientes críticos é exemplar. Sua formação é impecável.

Mas isso isso tá além de qualquer protocolo médico aceitável. Você não pode fazer diagnóstico de terminalidade baseado em espíritos. Isso é charlatanice. É. É o quê? Henrique o interrompeu. A voz mais firme do que esperava. Não científico ou apenas assustador porque desafia o que vocês acreditam sobre a realidade? O silêncio que caiu foi tenso.

Maurício tirou os óculos, limpou-os lentamente, um gesto que ele sempre fazia quando estava furioso, mas tentando manter compostura. O hospital tem uma reputação a zelar, não podemos permitir que Foi quando a porta se abriu. Carmen entrou sem bater, algo que ela jamais faria em circunstâncias normais. Atrás dela, Dra.

Júlia, seu Roberto, mais três enfermeiros, dois técnicos e, surpreendentemente Dr. Paulo Mendes, pneumologista de 62 anos e um dos médicos mais respeitados do hospital. “Desculpe interromper”, Carmen disse, “mas não soava arrependida. Mas precisamos falar, enfermeira, estamos em uma reunião privada do conselho. Dr. Maurício começou.

E eu tô exercendo meu direito de testemunhar em favor de um colega”, Carmen respondeu, entrando completamente na sala. Trabalho neste hospital há 32 anos. Vi centenas de pessoas morrerem e vi coisas que a medicina não explica, assim como todos que estão aqui comigo. Dr. Pao deu um passo à frente.

Maurício, Letícia, Fernando, vocês me conhecem há quanto tempo? 20 anos, 30. Sabem que não sou dado a fantasias ou misticismos, mas preciso dizer, Dr. Henrique não tá sozinho no que ele vê. Eu também vejo, não tão claramente, mas vejo, sombras, presenças e aprendi ao longo de décadas a reconhecer os sinais de quando um paciente tá prestes a partir. Dout.

Júlia acrescentou a voz trêmula, mas determinada. Eu tenho 28 anos, recém formada. Achei que estava enlouquercendo quando comecei a ver, mas depois que Dr. Henrique teve coragem de falar, percebi que não tô sozinha e que isso não é loucura. É apenas uma percepção que alguns de nós têm e outros não. Isso é absurdo, Dr. Maurício explodiu.

Você estão me dizendo que metade da equipe da UTI alega ter poderes sobrenaturais? Não são poderes, Dr. Paulo disse calmamente. É sensibilidade. Algumas pessoas têm ouvido absoluto paraa música, outras têm percepção espacial excepcional e algumas, como nós, têm sensibilidade para perceber quando o véu entre vida e morte tá prestes a se romper.

Isso nos torna charlatães ou nos torna mais humanos? Dr. Fernando, o psiquiatra, tinha ficado em silêncio durante todo o confronto. Agora ele falou pensativo: “Maurício, posso sugerir algo? Em vez de punir Dr. Henrique, que tal estudar o fenômeno? Fazer uma pesquisa controlada, documentar casos, ver se realmente há um padrão estatístico? Se há, mesmo que não entendamos o mecanismo, podemos usar isso em benefício dos pacientes. Pesquisar espiritismo em um hospital.

Maurício estava vermelho. Pesquisar percepção aguçada de sinais pré-morte. Dr. Fernando corrigiu. Não precisa chamar de espíritos. Pode chamar de intuição médica avançada. Pode chamar do que quiser, mas se funciona, se ajuda famílias, se traz conforto, não seria nossa obrigação ao menos investigar? Dout. Letícia, que tinha estado em silêncio, finalmente falou: “Do ponto de vista ético, se Dr.

Henrique não tá prejudicando pacientes, se tá oferecendo informação sem coersão, sem cobrar nada, sem prometer curas milagrosas, tecnicamente não há violação. Pode ser heterodoxo, mas não é antiético.” Dr. Maurício olhou ao redor da sala, pra equipe que tinha vindo defender Henrique, pros membros do conselho que pareciam no mínimo, abertos a considerar. e então olhou para Henrique com uma expressão que era metade frustração, metade respeito relutante.

Tá bem, não vou puni-lo por enquanto, mas quero documentação rigorosa de cada caso, quero relatórios e se houver uma reclamação formal, uma evidência de que você tá causando dano psicológico a famílias vulneráveis, isso acaba entendido? Entendido? E mais uma coisa, se você realmente tem essa percepção, use-a com responsabilidade.

Não saia contando para todo mundo, apenas para aqueles que você sente que podem se beneficiar. E sempre, sempre dê a eles a opção de não querer saber. Henrique acendeu. Sempre dei. A reunião foi encerrada. Quando todos saíram, Carmen tocou o braço de Henrique. Você sabia que tinha tanta gente do seu lado? Não fazia ideia. Pois saiba.

E saiba que o que você tá fazendo importa. Importa muito. Ei, fica atento porque agora você vai testemunhar o momento em que Dr. Henrique tem sua experiência mais absurda. Quando ele vê os espíritos esperando no corredor do quarto de uma criança, uma menina de apenas 7 anos. E pela primeira vez ele terá que decidir se conta ou não pros pais que o finta próximo.

Uma criança, a decisão mais difícil que ele já teve que tomar. E o que acontece depois vai provar que existe um propósito muito maior por trás desse dom terrível e maravilhoso. Um propósito que vai redefinir o que significa ser médico, o que significa cuidar não apenas do corpo, mas da alma em transição.

A linha mais tênue que existe na medicina não é entre morte, é entre dizer a verdade que pode destruir uma família ou silenciar para poupá-los de uma dor antecipada. E quando essa família são os pais de uma criança de 7 anos chamada Sofia, que tá internada na UTI pediátrica com leucemia em estágio terminal, essa linha se torna um abismo. Dr.

Henrique estava parado nesse abismo às 9:23 de uma terça-feira, olhando para dois espíritos esperando no corredor do quarto de uma criança, uma avó idosa e um menino adolescente, sabendo que tinha menos de 24 horas para decidir se contaria ou não aos pais de Sofia que ela estava prestes a partir. Henrique não trabalhava na UTI pediátrica.

Seu território era a UTI adulto, dois andares acima. Mas a Dra. A Mariana Lopes, oncologista pediátrica e amiga de faculdade, tinha ligado pela manhã com a voz embargada, pedindo que ele desse uma olhada numa paciente. “Sei que você tem aquele dom”, ela tinha dito hesitante.

“E preciso saber, preciso saber se é hoje, amanhã, se ainda há tempo. Os pais dela estão se despedaçando, Henrique. Não sabem se devem continuar com tratamento agressivo ou deixá-la ir em paz.” Ele tinha descido relutante, sabendo que atender a esse pedido era cruzar mais uma linha. Mas quando viu os espíritos no corredor da pediatria, soube que não havia escolha, havia propósito, havia razã

Related Posts

Our Privacy policy

https://abc24times.com - © 2025 News