A Implosão do Discurso: Malafaia Recua, Zezé Surta com Misoginia e a PF Acha Financiadores da Fuga de Ramagem
POR DENTRO DO VEXAME NACIONAL: O FRACASSO DA ESTRATÉGIA DA DIREITA, O SURTO DO FILHO DO PRESIDENTE E A CONFISSÃO DE UM PASTOR INFLUENTE.
O cenário político brasileiro viu, em um curtíssimo espaço de tempo, uma série de eventos que não apenas expõem a fragilidade e o desespero da extrema-direita, mas também desnudam o nível de agressividade, misoginia e até mesmo a ligação com o submundo do crime que permeiam parte de seus principais líderes. O que era para ser uma frente unida de oposição ao Judiciário e ao Governo, transformou-se em uma implosão de discursos incoerentes, ataques pessoais e a admissão pública de erros estratégicos.
O epicentro dessa implosão recente é multifacetado, abrangendo desde o vexame internacional e o recuo estratégico de um pastor influente, passando pelo ataque descontrolado e vulgar de um deputado federal, até culminar em um ato de misoginia chocante de um cantor sertanejo, tudo isso enquanto a Polícia Federal fecha o cerco contra os financiadores da fuga de um deputado condenado por tentativa de golpe.

A Grande Derrota Estratégica: O Recuo de Silas Malafaia
Um dos momentos mais simbólicos da semana foi o vídeo do pastor Silas Malafaia, uma das vozes mais estridentes e influentes do bolsonarismo. Malafaia, que historicamente tem defendido o ex-presidente e suas táticas políticas, mudou drasticamente o tom após a derrota fragorosa em uma das principais estratégias da extrema-direita: a aposta na política externa americana para punir e pressionar o Judiciário brasileiro.
Durante meses, parlamentares, influenciadores digitais e líderes como Malafaia repetiram à exaustão que o governo dos Estados Unidos iria intervir, sancionando ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) através da Lei Magnitsky. O alvo principal? O Ministro Alexandre de Moraes. A narrativa era tratada como uma “grande jogada”, uma certeza que mudaria o cenário político interno e desestabilizaria o Judiciário.
Nada disso aconteceu. Com o recuo formal do governo norte-americano, que retirou o nome de Alexandre de Moraes da lista de sanções, a narrativa desmoronou completamente. Não houve intervenção, não houve punição externa. O discurso precisou ser reformulado às pressas, e coube a Malafaia a tarefa ingrata de admitir o erro e detonar a direita que ele mesmo ajudou a construir.
Malafaia afirmou que a direita errou “ao apostar suas fichas na política norte-americana” e criticou a “ideia ruim” de usar a política internacional como ferramenta de pressão. O pastor pregou a necessidade de “calma” e de “estratégia política”, condenando o ativismo de rede social e a “vergonha” de lançar candidaturas “fora de hora” e “sem consultar ninguém”. Sua fala é a confissão de que a emoção e a falta de planejamento dominaram o campo bolsonarista:
“Eu tenho dito, a direita tem muito que aprender. É uma vergonha. Lançam candidatura fora de hora, lançam candidatura sem consultar ninguém e aí quer que todo mundo engula de tudo que é gente, vamos ter calma, vamos ter estratégia política.”
A admissão de Malafaia, contudo, é um movimento calculado. Ele tentou salvar a face redirecionando a prioridade:
“Eu prefiro liberdade de pessoas inocentes do que uma vingança de Magnist contra Moraes. Se esse é o motivo, ó, maravilha, porque esse momento político, o máximo que se conseguia era redução de penas. Vamos ter calma, vamos esperar o momento certo aí sim para pedir uma anistia ampla, geral, irrestrita.”
Ao mudar o foco da “vingança” para a “liberdade” (de condenados e investigados do campo bolsonarista), Malafaia tenta pavimentar o caminho para a defesa de uma anistia, reconhecendo que a pressão externa falhou e que o caminho agora deve ser o político-legislativo. O pastor expõe, sem querer, o fracasso de uma liderança que se mostrou ineficaz e excessivamente dependente de táticas de confronto que não se sustentaram.
O Chilique de Bananinha: Ataque Agresivo e Sem Fatos
Se Malafaia tentou se reposicionar com um discurso de “calma estratégica”, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (conhecido como “Bananinha” por seus críticos) escolheu o caminho oposto. Em um vídeo que rapidamente viralizou, o filho do ex-presidente lançou um ataque direto contra ministros do STF e outras autoridades, como o Ministro Flávio Dino e o PGR, Augusto Aras (a quem se refere pelo apelido “Gonê”).
O tom foi agressivo, descontrolado e desprovido de fatos ou argumentos concretos. O deputado utilizou xingamentos, insinuações e ofensas pessoais de baixo calão, em um ataque que beira o destempero. O parlamentar, que deveria primar pela diplomacia e pelo debate de ideias, recorreu a termos vulgares e desrespeitosos:
“Eu conheço essa raça, eu vou falar em bom português para vocês, porque não adianta nada ser moderado nas palavras. Essa raça de filha da [censurado] É isso que Alexandre Moraes, Fábio Sor, PGR, Gonê, Flávio Dino, esses outros aí são.”
O discurso de Eduardo Bolsonaro é o retrato do desespero e da incapacidade de lidar com a derrota política. Na ausência de estratégias viáveis e com o Judiciário mantendo o controle sobre as investigações de crimes cometidos durante o governo anterior, a única ferramenta que resta é a agressão verbal. O ataque, além de irresponsável, é uma afronta direta à harmonia entre os poderes e uma tentativa desesperada de inflamar sua base de seguidores.
Misoginia e Hipocrisia: O Surto de Zezé Di Camargo Contra o SBT
O terceiro ato deste drama de implosão veio do mundo da música sertaneja, com o cantor Zezé Di Camargo, outro bolsonarista notório, protagonizando um surto de misoginia e hipocrisia. A revolta do cantor se deu após a participação do Presidente Lula e do Ministro Alexandre de Moraes no evento de lançamento do SBT News.
Indignado com a presença de autoridades que ele considera inimigas ideológicas, Zezé usou as redes sociais em plena madrugada para atacar o SBT e, de forma particularmente vil, as filhas do falecido Silvio Santos. Em um vídeo, ele acusou as herdeiras de estarem “prostituindo o SBT,” usando explicitamente essa palavra de baixo calão para desqualificar a decisão empresarial da emissora.
A crítica do cantor é duplamente chocante. Primeiro, pelo teor agressivo e machista, que associa o funcionamento de uma empresa de mídia (que busca pluralidade e democracia, marcas históricas de Silvio Santos) a um ato de desonra moral. Segundo, pela hipocrisia: Zezé, que já havia gravado um especial de Natal para o canal, exigiu publicamente que a emissora censurasse o seu próprio trabalho.
“Uma coisa que eu sempre disse na minha vida, filho que não honra pai e mãe para mim não existe. Não precisam passar o meu pôr no ar o meu especial. Não quero participar disso. Se vocês puderem fazer um favor para mim, tire o meu especial do ar. Beijo para todos. Amo vocês, amo SBT, tenho maior carinho, tudo, mas eu acho que vocês estão, desculpem, prostituindo.”
Zezé Di Camargo demonstra que, para a extrema-direita, empresas de comunicação não devem ser guiadas por princípios de negócio ou pluralidade, mas sim funcionar como “puxadinhos ideológicos”. Quando a realidade (o SBT, em luto pela morte de Silvio Santos, opta por seguir funcionando democraticamente) não se curva à cartilha bolsonarista, a reação é de “chilique, ofensa e tentativa de intimidação”, com o agravante do machismo explícito.
O Cerco da PF e a Rota de Fuga Clandestina de Ramagem

Enquanto a direita se afunda em brigas e vexames públicos, a Polícia Federal (PF) segue apertando o cerco contra a articulação criminosa. O foco da vez é a fuga do deputado bolsonarista Alexandre Ramagem, condenado por tentativa de golpe de estado e hoje foragido nos Estados Unidos.
A PF conseguiu uma prisão crucial em Manaus: Celso Rodrigo de Melo, filho do milionário garimpeiro Rodrigo Cataratas. A prisão é a primeira ligada à logística e ao financiamento da fuga de Ramagem, que deixou o país clandestinamente em setembro. A investigação aponta que Ramagem viajou de avião para Boa Vista (Roraima) e, de lá, seguiu de carro para cruzar a fronteira pela Guiana, embarcando para os EUA.
Rodrigo Cataratas, o pai do preso, é uma figura conhecida no submundo do garimpo ilegal, líder de movimentos pró-garimpo e dono de um patrimônio milionário, que inclui dinheiro vivo, dezenas de veículos e aeronaves. Ele é uma figura central em investigações de crimes ambientais e foi denunciado por incendiar veículos do IBAMA. O filho, Celso, também já havia sido preso por garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami.
A conexão é direta e perturbadora: um deputado condenado por golpe de estado (Ramagem) é ajudado a escapar do país por figuras ligadas ao crime ambiental e ao garimpo ilegal (Cataratas e filho), que mantêm negócios justamente na rota de fuga. O caso confirma a tese de que parte do financiamento e da logística da extrema-direita está intrinsecamente ligada a setores criminosos que operam na Amazônia.
A prisão de Celso Rodrigo de Melo não deve ser a última. A PF já tem informações detalhadas sobre quem financiou e organizou a saída clandestina de Ramagem. A primeira prisão é o primeiro passo para desmantelar a rede de apoio que permitiu a fuga de um condenado, mostrando que o braço da Justiça está chegando aos financiadores.
Conclusão: A Crise Total de uma Extrema-Direita Sem Rumo
Os eventos recentes – a confissão de Malafaia sobre o fracasso estratégico, o ataque descontrolado de Eduardo Bolsonaro, a misoginia de Zezé Di Camargo e a prisão dos financiadores da fuga de Ramagem – não são incidentes isolados. Eles representam a crise total de uma extrema-direita que se encontra encurralada.
Sem apoio internacional, confrontada com investigações internas e incapaz de sustentar um debate político sério, a reação é a descida à agressividade, à vulgaridade e, no caso de Zezé, a um patamar deplorável de misoginia e hipocrisia. Enquanto isso, a Justiça avança sobre as conexões financeiras e logísticas de seus membros, mostrando que a lei, agora, não reconhece mais privilégios. A implosão do discurso é apenas um sintoma da implosão da própria base de poder.