
“Voe com este helicóptero e eu me caso com você.”
Ela riu — aquele tipo de riso que escorre de arrogância. Todos no hangar riram junto com ela, exceto o homem que ela zombava. Um pai solteiro, com graxa nas mãos e dor nos olhos. Mas o que ela não sabia era que esse homem já havia pilotado helicópteros para salvar vidas.
E o desafio dela acabaria revelando um passado que a deixaria em lágrimas.
A chuva caía pesada sobre o horizonte da cidade enquanto o som de trovões distantes ecoava pela zona industrial.
Dentro de um vasto hangar particular, o cheiro de combustível de aviação e óleo de motor preenchia o ar. Mecânicos se moviam rapidamente sob o brilho das luzes halógenas, apertando parafusos e fazendo verificações pré-voo em helicópteros pertencentes à Harper Aviation, uma das empresas aeroespaciais mais bem-sucedidas do país.
Entre eles estava Daniel Reed, um homem quieto e robusto, de pouco mais de trinta anos, com as mãos calejadas e manchadas de graxa. Seu macacão azul trazia as marcas de longas horas e silenciosa dedicação. Ele não era apenas mais um trabalhador — era um pai solteiro fazendo o possível para dar uma vida melhor à filha de seis anos, Lily, desde que a mãe dela falecera dois anos antes.
Naquela noite, o hangar estava mais agitado do que o normal. A própria CEO, Victoria Harper, faria uma visita surpresa. Conhecida por seu instinto afiado para os negócios, confiança feroz e atitude inatingível, Victoria era tão admirada quanto temida. Sua empresa havia construído um império baseado em precisão e perfeição — e ela não esperava menos de quem trabalhava para ela.
Ela chegou em um helicóptero preto elegante, descendo com saltos que batiam ritmicamente contra o chão metálico, os olhos escondidos atrás de óculos escuros de grife. Todos os mecânicos se endireitaram imediatamente — todos, exceto Daniel, que continuou trabalhando em silêncio, concentrado em consertar um rotor problemático.
“Quem é o homem que nem levanta os olhos quando a chefe entra?” — perguntou Victoria, em um tom afiado e autoritário.
O supervisor gaguejou. “Esse é Daniel Reed, senhora. Nosso melhor mecânico… mas costuma ficar na dele.”
Victoria sorriu com desdém. “Confiança… ou arrogância? Fico curiosa.”
Ela caminhou até ele, os saltos ecoando. “Você aí — Daniel, certo? O que é tão importante que não pode sequer cumprimentar sua CEO?”
Daniel levantou o olhar, limpou as mãos em um pano e fez um leve aceno de cabeça.
“Só estou garantindo que este pássaro esteja seguro para voar, senhora. Um parafuso fora do lugar pode significar uma vida perdida.”
Victoria ergueu uma sobrancelha. “Você fala como quem sabe o que é estar lá em cima.”
Daniel apenas sorriu de leve. “Já soube, um dia.”
“Já soube?” — ela insistiu.
Antes que ele respondesse, um dos pilotos de teste correu até ela. “Senhora, o piloto reserva ligou dizendo que está doente. Não poderemos fazer o voo de demonstração hoje.”
Victoria franziu o cenho. “Inaceitável. Os investidores chegam em uma hora. Alguém vai pilotar aquele helicóptero — ou cabeças vão rolar.”
O olhar dela se voltou para Daniel. “Você disse que já pilotou. O que isso quer dizer, mecânico?”
Daniel hesitou, o maxilar tenso. “Quer dizer que não piloto desde meus dias no exército.”
Os lábios dela se curvaram num meio sorriso. “Então está me dizendo que um mecânico coberto de graxa já foi soldado?”
Daniel não respondeu — e o silêncio foi o bastante para provocar risadinhas ao redor.
Victoria inclinou-se, a voz brincalhona, mas cruel. “Quer saber de uma coisa, Daniel? Voe com este helicóptero e eu me caso com você.”
O hangar explodiu em gargalhadas. Era para ser uma piada — a zombaria de uma mulher rica.
Mas Daniel não riu. Ele olhou direto nos olhos dela, calmo e firme.
“Senhora, não acho que seus investidores apreciariam esse tipo de desafio. Mas se precisar que esse pássaro levante voo, eu levo.”
O riso morreu na hora.
O supervisor deu um passo à frente, nervoso. “Senhora, é perigoso. Ele não pilota há anos.”
Mas Victoria cruzou os braços. “Muito bem. Vamos ver o que esse pai solteiro consegue fazer. Você tem quinze minutos.”
A expressão “pai solteiro” fez Daniel estremecer levemente — não por vergonha, mas porque o lembrou de Lily, esperando em casa, colorindo aviões sobre a mesa da cozinha.
Mas algo dentro dele havia despertado — uma faísca enterrada sob anos de perda e luta.
Ele subiu na cabine, os dedos deslizando por interruptores e medidores familiares. Por um momento, fechou os olhos — e o hangar desapareceu.
Ele quase pôde ouvir a voz de seu copiloto de anos atrás, sentir as vibrações do campo de batalha, o cheiro da poeira do Afeganistão.
Lembrou-se de voar sob fogo inimigo para resgatar soldados feridos. Lembrou-se da explosão que acabou com tudo — e de acordar no hospital, paralisado pela culpa mais do que pela dor.
O motor rugiu, ecoando pelo hangar. Os mecânicos recuaram enquanto as pás começaram a girar, cortando o ar pesado.
Victoria cruzou os braços, fingindo indiferença, mas o coração disparava. Ela não esperava que ele realmente o fizesse.
Com precisão firme, Daniel ergueu o helicóptero do chão. Ele subiu suavemente, pairou por um instante e depois inclinou-se em uma decolagem perfeita.
Manobrou com a calma de quem já enfrentou tempestades bem piores.
A máquina o obedecia como um velho amigo.
Lá embaixo, Victoria observava em silêncio atônito.
Os investidores, que haviam acabado de chegar, ficaram boquiabertos, assistindo o helicóptero dançar no ar — curvas afiadas, giros suaves, sustentação impecável — tudo executado com a maestria que não se pode fingir.
Dez minutos depois, o helicóptero pousou suavemente, como se tocasse vidro.
Daniel desceu, o rosto calmo, os olhos cansados — mas orgulhosos.
“Isso foi impressionante,” disse Victoria, a voz tremendo levemente.
Daniel deu de ombros. “Apenas fazendo meu trabalho, senhora.”
Ele começou a se afastar, mas ela o chamou:
“Espere.”
O tom dela havia mudado.
“Você disse que esteve no exército. Era piloto.”
Ele assentiu uma vez. “Divisão de busca e resgate. Oito anos. Perdi meu copiloto em uma missão. Não pilotei desde então.”
Os olhos dela suavizaram pela primeira vez, perdendo a confiança gélida.
“Por que está aqui, consertando máquinas, em vez de pilotá-las?”
Daniel parou, virou-se um pouco.
“Porque minha filha precisa de mim vivo — mais do que o mundo precisa de outro herói.”
Então, ele se afastou, deixando-a sem palavras.
Mais tarde, naquela noite, Victoria estava em seu escritório, olhando a cidade. As palavras dele não saíam da cabeça.
Ela puxou o arquivo dele — e o ar lhe faltou.
Capitão Daniel Reed. Medalha de Valor. Condecorado por salvar doze soldados de um local de queda em chamas.
Ela recostou-se na cadeira, o peito apertado por culpa e admiração.
Ela havia zombado de um homem que já tinha dado mais ao mundo do que a maioria jamais daria.
Enquanto isso, Daniel voltava para casa. Lily correu para seus braços, rindo.
“Papai, você está cheirando ao céu de novo!” — ela disse inocentemente.
Ele sorriu e beijou a testa dela. “Talvez só por hoje, meu amor.”
Mas, enquanto a colocava na cama, não pôde deixar de se perguntar o que o amanhã traria.
Porque, em algum lugar no alto de um escritório de vidro, Victoria Harper olhava para a noite — e seu orgulho lentamente se derretia em algo novo.
Respeito. Curiosidade. E talvez, só talvez, a primeira faísca de algo inesperado.
✨ Fim do capítulo 1.
Uma semana depois, Victoria chamou Daniel de volta ao hangar — não como mecânico, mas como piloto.
“Preciso que você treine minha equipe,” disse ela suavemente. “Ninguém pilota como você.”
Daniel concordou, com a mesma humildade calma que escondia tempestades por dentro.
Os dias passaram, e Victoria se viu atraída pela força dele — pelo modo como falava com doçura com Lily quando ela aparecia, e pelos olhos que carregavam dor, mas também paz.
Numa tarde dourada, com o sol tingindo o hangar, ela perguntou:
“Por que não me contou quem você era?”
Daniel sorriu. “Não achei que importasse.”
Ela baixou o olhar, arrependida. “Importa… pra mim.”
De repente, uma chamada de emergência chegou.
Um helicóptero de teste havia perdido o controle no ar.
Sem hesitar, Daniel entrou em outra aeronave.
Victoria observou, o coração disparado, enquanto ele guiava o piloto em segurança — mais uma vez arriscando a própria vida.
Quando ele pousou, ela correu até ele, lágrimas escorrendo.
“Você os salvou de novo,” ela sussurrou.
Daniel riu baixinho. “Acho que velhos hábitos custam a morrer.”
Victoria olhou em seus olhos e sorriu.
“Sobre aquela piada… a do casamento…”
Daniel arqueou a sobrancelha. “Sim?”
Ela corou. “Eu não estava mais brincando.”
Ele sorriu. “Então, vamos voar juntos. Para sempre.”