A noite estava carregada, o peso da perda do meu avô ainda apertava meu peito. Ele sempre foi mais do que um avô para mim, mais do que uma figura de autoridade – era meu guia, meu apoio. E agora, sentado na cama do hospital, com suas mãos fracas nas minhas, ele me disse palavras que não consegui esquecer: “Denise, você é a única em quem confio.”
Eu segurei sua mão com força, mas o sofrimento em seus olhos me fazia sentir uma impotência que eu não conseguia expressar. Ele sabia o que estava por vir. Não demoraria muito até que ele partisse e eu tivesse que lidar com um mundo que não me parecia mais tão acolhedor. “Não deixe que tirem o que eu construí”, ele sussurrou, suas palavras um aviso claro, mas eu não entendi a profundidade do que ele queria dizer.
Agora, no escritório, com todos os olhos voltados para minha mãe e para Arthur, meu padrasto, a realidade começava a tomar forma. Minha mãe, com sua postura impecável, tinha acabado de anunciar com uma frieza surpreendente que Arthur tomaria o comando da empresa. Ele, que em menos de um ano, fez questão de me lembrar todos os dias que eu não era forte o suficiente, inteligente o suficiente ou velha o suficiente para assumir a responsabilidade.
Mas então, algo inesperado aconteceu. O advogado, que até então parecia estar apenas cumprindo com as formalidades, fez uma pausa e olhou diretamente para mim. “De acordo com o testamento de Mr. Wright,” ele começou com uma calma surpreendente, “toda a sua herança, incluindo todas as ações da Wright Industries, foi deixada para sua neta, Denise Wright.”
O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. A expressão de minha mãe, que antes exibia um sorriso de confiança, se contorceu em incredulidade. Arthur, ao lado dela, não conseguia esconder seu desconforto. Ele riu, mas era uma risada amarga. “Isso é um erro”, ele disse, tentando desdenhar da situação. Mas sua dúvida foi rapidamente ignorada pelo advogado, que continuou: “Não há erro. Denise Wright é a única herdeira, com efeito imediato. Ela é a nova dona da empresa.”
A reação foi instantânea. Todos os presentes na sala pareciam ter sido atingidos por uma onda de choque, exceto minha mãe, que agora não disfarçava o rancor que sentia. Ela não teve palavras para disfarçar a raiva, mas antes que ela pudesse protestar mais, o advogado revelou outra verdade que acabaria com suas pretensões. “Mr. Wright também deixou a propriedade da família, incluindo esta casa, para Denise, junto com todos os bens financeiros.”
Eu podia ver a cor sumindo do rosto de minha mãe. O controle que ela achava ter sobre tudo começava a se desmoronar diante dela. Arthur tentou manter a calma, oferecendo uma proposta. “Denise, você é jovem demais para lidar com tudo isso. Deixe-nos ajudá-la. Podemos compartilhar a gestão, com você sendo o rosto da empresa e eu cuidando dos negócios.”
O veneno nas palavras dela não era mais disfarçado. “Você acha que pode lidar com isso?”, ela me desafiou, sua voz mais baixa, mas cheia de desprezo. “Você realmente acha que está pronta?”
Eu a encarei, sentindo a pressão daquelas palavras. “Sim”, respondi simplesmente, sem hesitar.
Naquela noite, eu mal consegui dormir. Não porque eu tivesse medo – o peso da responsabilidade estava lá, mas eu sabia que esse era o caminho que meu avô havia escolhido para mim. Eu não estava sozinha, e eu tinha algo que nem eles podiam entender: a confiança dele em mim.
Na manhã seguinte, ao chegar na sede da Wright Industries, a grandiosidade do edifício me deixou sem fôlego. Estava ali, sob meus pés, todo o império que meu avô construiu. Seus conselheiros já estavam esperando por mim, prontos para dar apoio, como ele havia prometido.
Mas ao sair do carro, a voz que cortou o ar frio fez meu estômago se revirar. “Denise”, ouvi. Virei e vi minha mãe e Arthur, juntos, em frente à entrada, como se estivessem esperando por mim. A fachada deles era calma demais, ensaiada demais. “Precisamos conversar”, minha mãe disse, o tom agora mais suave, tentando esconder o ódio.
Eu sabia exatamente o que eles queriam. Não era uma conversa familiar, era uma última tentativa de barganhar, de tentar retomar o que achavam ser deles. Entrei na sala, sentando-me com eles, o ambiente pesado com uma tensão que eu podia cortar com a faca.
“Você está além da sua capacidade, Denise”, minha mãe começou, “seu avô colocou um peso demais sobre você. Não é justo esperar que você administre uma empresa de bilhões a essa idade.”
Eu a ignorei, virando a cabeça levemente. “Então você acha que Arthur deveria assumir o comando?”, eu indaguei.
“Sim”, ela respondeu sem hesitar, “ele tem experiência. Você poderia aprender com ele.”
“Você quer que eu saia e entregue tudo o que meu avô me deixou?”, perguntei, deixando claro que não acreditava nas palavras dela. Arthur sorriu, tentando se manter calmo. “Na verdade, estamos oferecendo uma parceria. Você pode continuar com o título, mas eu cuidarei de tudo, você só manteria o cargo e os benefícios.”
Eu olhei para eles, sentindo o escárnio em cada palavra que saía da boca deles. Era uma tentativa de me corromper com promessas de dinheiro e luxos. Eles achavam que poderiam me subornar.
“Não, obrigado. Eu vou administrar sozinha”, disse com firmeza. “Sei o que estou fazendo.”
Minha mãe tentou mais uma vez, mas agora, com um veneno em sua voz. “Você vai falhar. O mundo dos negócios vai devorar você. Não adianta resistir.”
A última coisa que ouvi dela antes de sair foi: “Não volte pedindo ajuda quando tudo cair por terra.”
Mas eu estava pronta. Para mim, isso não era só uma vitória. Era a chance de mostrar a todos, inclusive a minha mãe e Arthur, que eu estava mais do que preparada para comandar a Wright Industries. Eu era a herdeira, e ninguém, nem minha mãe nem meu padrasto, ia tirar isso de mim.