A Sinhá Que Mandava e Levava Seu Escravo no Limite, você não vai acreditar

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🔥 O DESEJO PROIBIDO E A CARROÇA PARA O SUL

Naquela manhã de sol abrasador, em um dia de 1852, quando o canto do sabiá ainda ecoava nos cafezais de Vassouras, o destino de Domingos estava selado sem que ele soubesse. Sinhá Mariana havia posto os olhos nele com uma fome que “nenhuma oração do Padre Honório poderia aplacar.”

Domingos era um negro alto e forte, de uns 30 anos, que trabalhava na Casa Grande desde menino. Ele havia sido trazido da Bahia e jamais vira a mãe novamente. Na casa dos Albuquerque, ele aprendera a ler escondido com a filha mais velha dos patrões, a menina Isaura, que tinha “coração manso.” Mas Isaura cresceu, casou-se e foi morar em São Paulo, e Domingos ficou sozinho com seus livros escondidos debaixo do colchão de palha.

O Coronel Jacinto de Albuquerque era um homem de “trato duro, mas justo dentro do que a época permitia.” Ele não batia nos escravos sem motivo e garantia que tivessem comida.

Porém, sua esposa, Sinhá Mariana, era “criatura de outra índole.” Vinda do Rio de Janeiro aos 18 anos, “moça linda de cabelos negros e olhos de felino,” casou-se com Jacinto por arranjo. Ele, viúvo e 20 anos mais velho. Desde o primeiro dia, Mariana sentira o peso do tédio e da solidão naquela fazenda.

Mariana passava os dias bordando e lendo romances franceses. E foi assim que começou a reparar em Domingos: na forma como ele carregava os sacos de café nas “costas largas,” no suor que lhe escorria, nos “músculos que se desenhavam sob a pele escura como bronze polido.”

O desejo que nasceu nela era proibido por todas as leis divinas e humanas. Mas Mariana não era mulher que se curvava facilmente, e quanto mais tentava afastar aqueles pensamentos, “mais eles a consumiam como fogo em palha seca.”


I. A Escolha Proibida

 

O Coronel Jacinto passava longas temporadas fora, tratando de negócios em Vassouras. Era nessas ausências que Mariana sentia a tentação crescer.

Uma noite de lua cheia, com o Coronel há 15 dias ausente, Mariana mandou chamar Domingos à Casa Grande, dizendo que precisava que ele consertasse uma janela do seu quarto que não fechava direito.

Domingos subiu as escadas com o coração apertado, pois sabia que não havia janela quebrada. Ele mesmo havia verificado tudo.

Quando entrou no quarto, a Sinhá estava de camisola branca, cabelos soltos, e uma garrafa de vinho do porto sobre a mesinha de cabeceira.

Domingos, conserte essa janela para mim,” disse ela com voz macia, apontando para uma janela que abria e fechava perfeitamente.

Ele se aproximou, fingindo examinar a fechadura. Suas mãos tremiam. Foi quando sentiu a mão dela tocar suas costas, os dedos subindo devagar pela camisa.

Sinhá, isso não está certo,” murmurou ele sem se virar, a voz rouca.

Mariana riu baixinho, um riso “doce e cruel,” e disse: “Quem é você para dizer o que é certo, Domingos? Você é meu, assim como tudo nessa fazenda é meu.

Ele se virou e viu nos olhos dela “uma mistura de desejo e poder que lhe gelou o sangue,” pois entendeu que não tinha escolha. Recusar-se significaria ser vendido, açoitado, ou coisa pior. Ela tinha sobre ele o poder de vida e morte.

Naquela noite, Domingos fez o que ela mandou e, enquanto a possuía, sentiu que estava perdendo algo de si mesmo, “um pedaço da sua alma que jamais recuperaria,” pois não havia prazer, “só vergonha e nojo de si próprio.” Ele sentiu que estava traindo tudo que sua mãe Zefa lhe ensinara sobre dignidade.

Mariana, contudo, sentiu prazer, misturado com a embriaguez do poder.


II. O Segredo que Matava

 

Depois daquela noite, ela o chamou outras vezes, sempre quando o Coronel estava fora. Domingos ia porque não tinha alternativa, mas cada vez que subia aquelas escadas, sentia que “morria um pouco por dentro.”

Na senzala, os outros escravos começaram a perceber. Benedito notou como Domingos ficava calado e triste, sem comer direito. Uma tarde, Benedito puxou conversa.

Mano Domingos, o que tá te comendo por dentro? Você tá com cara de quem carrega o mundo nas costas.

Domingos não respondeu, mas Benedito entendeu tudo naquele silêncio. Logo, todos souberam. Alguns olhavam para Domingos com pena, outros com desprezo, mas ninguém dizia nada em voz alta, pois sabiam que falar era perigoso.

Domingos vivia em pânico constante, sabendo que se fossem descobertos, seria ele o castigado, talvez morto. Ele pensou em fugir, ir para os quilombos, mas sabia que os capitães do mato o encontrariam.

Em uma dessas noites terríveis, depois que Mariana o dispensou, Domingos ficou na varanda, pedindo força. Foi quando ouviu a voz de Joaquim do Rosário, um escravo velho e sábio que cuidava dos cavalos.

Meu filho,” disse Joaquim. “Eu sei o que tá te acontecendo e sei que você não tem culpa, mas precisa ter cuidado porque o destino tá tramando uma desgraça grande para você.

Eu não quero isso, seu Joaquim, mas como eu posso dizer não para ela?

Não pode, meu filho, e é isso que dói na alma. Porque você é homem, mas não é tratado como homem. É tratado como coisa, como animal que se usa quando quer… Reza, meu filho, reza pros seus ancestrais te protegerem, porque tempestade grande tá vindo.

Ele tinha razão. Três semanas depois, Sinhá Mariana descobriu que estava grávida. Embora o Coronel Jacinto acreditasse que o filho fosse dele, Mariana sabia a verdade no fundo do coração. Ela temeu que a criança pudesse nascer com traços que denunciariam tudo.

O medo a consumiu. Ela parou de chamar Domingos, passou a evitá-lo e até pensou em vendê-lo para longe. Domingos sentiu um alívio imenso, mas durou pouco.


III. A Sentença e a Carroça

 

Uma tarde, o Coronel Jacinto o chamou no escritório. Pelo jeito sério do patrão, Domingos soube que algo terrível estava para acontecer.

Domingos,” disse o Coronel. “Me contaram umas histórias sobre você e minha esposa. Histórias que eu não quero acreditar, mas que preciso investigar.

Senhor, eu nunca desrespeitei a Sinhá. Eu juro pela alma da minha mãe,” respondeu Domingos, a boca seca.

O Coronel apertou o chicote que ficava pendurado na parede. “Eu vou te dar uma chance de falar a verdade, Domingos. E dependendo do que você disser, eu decido o que fazer contigo.

Num lampejo de coragem, Domingos decidiu contar tudo. Ele contou como a Sinhá o chamava, como ele não podia recusar, como sofria. As lágrimas desciam pelo seu rosto. O Coronel ouviu tudo em silêncio, o rosto ficando cada vez mais vermelho.

Quando Domingos terminou, o Coronel disse apenas: “Saia daqui, vá para a senzala e não saia de lá até eu decidir o que fazer.

Naquela noite, a fazenda ficou em silêncio tenso. Todos ouviram a tempestade na Casa Grande: Sinhá Mariana gritou, o Coronel gritou mais alto. Pratos se quebraram, portas bateram. De madrugada, um tiro ecoou pela fazenda.

De manhã cedo, o capataz mandou Domingos se preparar. O Coronel ia vendê-lo para um comprador de escravos que levava negros para o Sul, para o Rio Grande, para as charqueadas, onde a vida era ainda mais dura.

Domingos juntou suas poucas coisas: o livro que Isaura lhe dera, a imagem de Nossa Senhora que sua mãe lhe pendurou no pescoço.

Joaquim do Rosário apenas disse: “Que os ancestrais te acompanhem, meu filho, onde quer que você vá.

Antes de partir, Domingos olhou uma última vez para a Casa Grande e viu a Sinhá Mariana na janela do quarto, a mão no ventre já levemente arredondado, os olhos vermelhos de choro. Naquele momento, ele não sentiu ódio nem pena dela. Sentiu apenas um vazio imenso, pois entendeu que “ambos eram vítimas de um sistema cruel que transformava seres humanos em objetos, em propriedades, em coisas sem vontade própria.”

A carroça que o levaria embora o esperava. Domingos subiu, acorrentado. Enquanto a fazenda ficava para trás, ele pensou na mãe, em Isaura, no velho Joaquim, e naquela criança que talvez nascesse com seus olhos, crescendo sem nunca saber quem foi o pai verdadeiro.

A história de Domingos se perdeu nos caminhos do Brasil escravista, mas sua dor ecoou, um grito silencioso de todos aqueles que “não puderam dizer não, que não tiveram escolha,” carregando a violência íntima e cruel nas sombras das Casas Grandes.

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