A CARTA DO XEQUE-MATE: PF Pega Prova-Chave e a Teia de Corrupção que Liga o Clã Bolsonaro ao Comando Vermelho no Rio
A maior investigação sobre o crime organizado no Rio de Janeiro atinge o seu núcleo político mais sensível. Documentos e depoimentos em poder da Polícia Federal e do Ministro Alexandre de Moraes apontam ligações diretas entre o Senador Flávio Bolsonaro e indicados ao Governo do Estado que operavam a favor de facções criminosas. A delação que pode derrubar o Palácio Guanabara e a família Bolsonaro está prestes a acontecer. O Brasil prende a respiração.

I. O Terremoto Político de uma Prisão: A Sombra de Bacilar
O Rio de Janeiro e Brasília foram abalados por um terremoto judicial com a prisão de Rodrigo Bacilar, influente deputado e ex-presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ). A decisão, emanada do Supremo Tribunal Federal (STF) no âmbito de uma mega investigação conduzida pela Polícia Federal (PF) sob a relatoria do Ministro Alexandre de Moraes, não é apenas um golpe no Governador Cláudio Castro, mas uma ameaça direta à família Bolsonaro.
Bacilar, que agora enfrenta acusações graves de corrupção e envolvimento em esquemas complexos, é um aliado de primeira hora do Senador Flávio Bolsonaro. A proximidade entre os dois é íntima e amplamente documentada: existem centenas de registros fotográficos que os mostram juntos, frequentando a casa um do outro, e até mesmo se hospedando nos mesmos locais em suas viagens entre o Rio e a capital federal.
O que a investigação da PF encontrou na decisão que levou Bacilar à prisão, no entanto, é o que realmente causou pânico nos círculos mais altos da política fluminense: provas-chave que citam não apenas o Governador Cláudio Castro, mas também operadores diretos do Comando Vermelho (CV).
A PF está agora determinada a atingir o “núcleo político” que deu sustentação e cobertura ao crime organizado. A prisão de Bacilar foi apenas o primeiro passo, e a evidência mais explosiva recai diretamente sobre o padrão de indicações feitas por Flávio Bolsonaro no Governo do Estado.
II. A Teia de Indicações e a Tática de Guerra da Facção
A investigação revela que o Senador Flávio Bolsonaro teria feito pelo menos duas indicações diretas para secretarias estaduais de Cláudio Castro, e ambas as indicações tinham, segundo as provas em poder da Justiça, ligações perigosas e comprovadas com o crime organizado, especificamente o Comando Vermelho.
2.1. O Secretário que Negociava com o Comando Vermelho: Gutemberg Fonseca
O primeiro nome que surge com força é o de Gutemberg Fonseca, atual Secretário de Esportes do Governo Cláudio Castro. Fonseca, amigo pessoal e indicado diretamente a pedido de Flávio Bolsonaro, foi alvo de interceptações e conversas que, segundo a PF, comprovam sua atuação em benefício da facção.
O Secretário teria se encontrado com membros do Comando Vermelho para tratar de apoio político em determinada região do estado. O mais grave: ele teria recebido um pedido da facção para remover o BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais, a tropa de elite da PM) de uma área de interesse do tráfico, substituindo-o por policiais militares “normais” – ou seja, com armamento menos sofisticado e menor poder de fogo. O resultado veio em um agradecimento da facção, sinalizando que a ordem foi cumprida, tornando a vida dos criminosos muito mais fácil.
A indicação de um aliado para uma pasta “secundária” como a de Esportes, que a extrema-direita não costuma priorizar, serviu como moeda de troca política. Mas a função real do Secretário, de acordo com as evidências, era facilitar as operações e a blindagem de territórios sob o controle do Comando Vermelho.
2.2. A Delação Implorável: Alessandro Carracena e o Vazamento de Operações
O segundo nome é ainda mais explosivo: Alessandro Carracena, ex-Secretário de Defesa do Consumidor, também indicado sob a chancela de Flávio Bolsonaro. Carracena não está apenas sendo investigado; ele está preso neste exato momento.
As autoridades judiciais e a Polícia Federal estão exercendo pressão máxima para que Carracena feche um acordo de delação premiada. O motivo é a gravidade das acusações: ele não só movimentava grandes somas de dinheiro da facção, como também vazava operações policiais para membros do Comando Vermelho. Carracena instruía a facção sobre como se beneficiar dos vazamentos, fugir dos cercos policiais e, em última instância, se manter à margem da lei.
A ligação entre Carracena e Flávio Bolsonaro era de tal intimidade que beirava a cumplicidade pessoal e material. Segundo reportagens, o Senador, apesar de possuir inúmeros imóveis no Rio de Janeiro, optava por se hospedar na mansão de Carracena quando estava no estado. Em retribuição, Carracena se hospedava na mansão de Flávio em Brasília. A troca de favores e a convivência próxima levantam a pergunta mais incômoda: Qual é a chance de um político indicar, em um mesmo governo, dois aliados próximos, e que ambos estejam ligados a facções criminosas, sem que esse político tenha conhecimento ou envolvimento? A tese da ingenuidade se desfaz diante da repetição e da gravidade dos fatos.
III. A Blindagem do Sistema: O Governo do Rio Submerso
A crise de Bacilar, Fonseca e Carracena não é isolada; é sistêmica e atinge o coração da administração do Rio de Janeiro. Para demonstrar a profundidade da infiltração, a investigação resgata o caso de um terceiro auxiliar de Cláudio Castro: o ex-Secretário de Administração Penitenciária, Rafael Montenegro.
Montenegro, embora não tenha sido uma indicação direta de Flávio Bolsonaro, mostra o padrão de favores inaceitáveis. Em 2021, Montenegro foi flagrado em uma situação de escândalo: o traficante “Abelha” deixou o presídio Vicente Pirajibe, em Bangu, pela porta da frente, mesmo tendo um mandado de prisão em aberto contra si.
O que chocou a opinião pública foi que o traficante foi recebido no portão por um carro oficial com escolta, à disposição do Secretário Rafael Montenegro. Um ofício da 3ª Vara Criminal da Capital havia alertado o gabinete do Secretário sobre o mandado de prisão de Abelha dias antes. Mesmo assim, a soltura irregular aconteceu, e Montenegro não apenas se manteve no cargo por meses, como a Justiça tem indícios de que ele estava ali para apertar a mão do traficante e sinalizar: “Você foi solto graças a mim.”
A soma desses três casos (Fonseca, Carracena e Montenegro) pinta um quadro sombrio de um governo estadual onde as indicações políticas, ou a falta de controle sobre seus secretários, permitiu que o crime organizado tivesse acesso e apoio direto a cargos estratégicos — Defesa do Consumidor (perfeita para vazar operações), Esportes (perfeita para movimentação de influência) e, inacreditavelmente, a pasta de Presídios.
IV. O Pânico na ALERJ: Delação ou Exposição?
A prisão de Rodrigo Bacilar desatou uma crise política imediata. Pela Constituição, a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (ALERJ) tem 45 dias para votar se mantém ou revoga a prisão do deputado. E é aqui que o medo se instala entre os parlamentares.
O voto para soltar Bacilar seria aberto, expondo cada deputado ao escrutínio público e às redes sociais. Ninguém quer ser visto como o legislador que votou para soltar um indivíduo ligado a facções criminosas.
O dilema é terrível:
Votar pela manutenção da prisão: Isso significa trair um companheiro do Centrão e um aliado de Flávio Bolsonaro. Mas, pior, aumenta o risco de Bacilar, quanto mais tempo detido, “abrir o bico e delatar todo mundo” (“abrir a boca e delatar todo mundo”), incluindo aqueles que o traíram.
Votar pela soltura: Isso significa colocar um alvo na testa, pois a PF e o STF observarão com lupa quem tentou blindar um “faccionado”. Além disso, é um suicídio eleitoral a apenas meses de uma eleição.
O Senador Flávio Bolsonaro, que viu dois de seus indicados mais próximos envolvidos no esquema, assiste a tudo tremendo. Se Carracena fechar uma delação premiada (o que é ativamente buscado pela PF) ou se Bacilar decidir falar para reduzir sua pena, a investigação que Moraes prometeu que atingiria o “núcleo político” chegará diretamente à sua porta.
A população brasileira, como os analistas apontam, possui uma tolerância surpreendente a acusações de “ataque às instituições” ou “golpe de Estado”. Contudo, essa mesma população não perdoa corrupção envolvendo roubo de dinheiro público ou, o que é muito pior, ligação com facções criminosas. O risco político de votar pela soltura de Bacilar é infinitamente maior do que o risco de votar contra um “golpista”.
O placar na ALERJ, que inicialmente parecia favorável à soltura de Bacilar, agora está apertado. Parlamentares estão amedrontados pelos desdobramentos e pela certeza de que a PF investigará o motivo de cada voto pela libertação. A prisão de Bacilar não foi ilegal, não é perseguição; ela tem todos os elementos para uma prisão preventiva, incluindo provas de que ele vazou operações.
A casa está caindo, e não vai cair apenas sobre o deputado: a PF, o STF e a pressão pública estão converindo para desmantelar a aliança espúria entre a política fluminense e o Comando Vermelho. Resta saber quem será o primeiro a quebrar o silêncio e entregar a lista completa de envolvidos.