Vendida pela Madrasta ao “Monstro” da Mansão Assombrada: A Verdade Chocante por Trás da Compra de uma Criança

Numa pequena aldeia aninhada entre colinas, onde o século XX ainda engatinhava e os sussurros viajavam mais rápido que o vento, o tempo era marcado pelas estações. A primavera tinha levado a mãe de Evelyn Moore, e o inverno seguinte trouxe Clare, a nova esposa do seu pai. Clare era uma mulher de mãos ásperas e um olhar ainda mais duro, que via na enteada de nove anos não uma criança, mas um fardo.

O pai de Evelyn, Thomas, um homem que afogava a memória da primeira esposa nas águas turvas do uísque barato, precisava de alguém que cuidasse das tarefas. E assim, a pequena Evelyn, com apenas nove anos, carregava responsabilidades de adulto. As suas mãos, que deveriam estar a brincar com bonecas de trapo, estavam calejadas pelo cabo da vassoura, pelo balde de leite pesado e pela panela onde preparava refeições que Clare mal reconhecia com um aceno.

Enquanto a sua infância era roubada, Evelyn nutria um fascínio secreto pela propriedade Hargraves, a imponente mansão no topo da colina, que se erguia como uma sentinela silenciosa. A casa, com as suas janelas altas e cortinas sempre fechadas, era fonte de histórias sussurradas. Diziam que o velho Hargraves enlouquecera depois que a esposa o abandonou, que o fantasma dela ainda vagava pelos corredores.

Evelyn, no entanto, sentia algo diferente. Das raras vezes que conseguia escapar, ela subia a uma pequena colina e observava a mansão. Às vezes, tinha a certeza de ver uma silhueta pálida na janela do segundo andar – não um fantasma ameaçador, mas algo que parecia tão solitário quanto ela.

Uma Transação Impensável

Numa tarde particularmente quente de verão, tudo mudou. Evelyn viu um elegante automóvel preto, uma visão rara naquelas paragens, estacionado em frente à sua casa. Escondida atrás de um carvalho, ela observou a cena. Um homem alto, impecavelmente vestido com um fato escuro, falava com Clare no quintal. A sua madrasta, que raramente demonstrava qualquer emoção, gesticulava com uma excitação febril.

“Ela é forte para a idade”, Evelyn ouviu Clare dizer. “Trabalha como um adulto, não causa problemas.”

Um arrepio percorreu a espinha da menina. Estavam a falar dela? O homem acenou lentamente e tirou um envelope grosso do bolso do casaco. Clare agarrou-o com um entusiasmo mal disfarçado, confirmando o conteúdo. “Amanhã, então”, disse o homem, com uma voz profunda e culta que não pertencia àquele vale.

Naquela noite, o pai de Evelyn não voltou para casa. Clare, por outro lado, estava quase amigável, oferecendo-lhe uma fatia extra de pão. “Descansa bem”, disse ela, com um sorriso estranho. “Amanhã será um grande dia.”

O “grande dia” começou com Clare a entregar a Evelyn o seu único vestido bom. “Arruma as tuas coisas. Só o essencial.”

“Para onde vamos?”, perguntou Evelyn.

“Tu vais para um lugar diferente”, hesitou Clare, desviando o olhar. “O teu pai concorda com tudo.” Era mentira. O pai dela provavelmente nem sequer sabia o que estava a acontecer.

Quando o automóvel preto reapareceu, Evelyn sentiu o estômago afundar. O homem elegante saiu. “Esta é Evelyn”, disse Clare, colocando as mãos nos ombros da menina num gesto que parecia mais a apresentação de uma mercadoria.

“Senhorita Evelyn”, disse o homem, inclinando-se ligeiramente. “O meu nome é Edward Hargraves.”

Hargraves. O dono da mansão misteriosa. O homem que todos temiam. E, por alguma razão, ele estava ali para a levar.

A Chegada à Mansão “Assombrada”

Enquanto o carro subia a colina, um silêncio pesado pairava. Evelyn, sentada no banco de couro, observava a quinta onde nascera a ficar para trás. Não era um lar feliz, mas era o único que ela conhecia.

“O que sabe sobre mim, senhorita?”, perguntou Edward Hargraves, quebrando o silêncio.

“As pessoas dizem coisas, senhor.”

“Imagino que sim”, respondeu ele, com um sorriso triste. “Dizem que sou um monstro? Ou talvez um feiticeiro?”

“Alguns dizem que há um fantasma na sua casa, senhor. Uma senhora de branco que olha pelas janelas.”

Edward ficou em silêncio por um momento. “Às vezes, senhorita Evelyn, os fantasmas que as pessoas veem são meros reflexos da sua própria solidão.”

A mansão, vista de perto, era impressionante. Uma estrutura graciosa de tijolos claros, com colunas brancas e janelas altas. Não parecia um lugar sombrio, mas havia uma quietude que a fazia sentir-se suspensa no tempo. Uma governanta de ar sério, a Sra. Wilson, levou Evelyn para um quarto que a deixou sem fôlego. Era maior do que a sala de estar inteira da sua antiga casa, com uma cama macia e uma estante cheia de mais livros do que ela alguma vez vira.

Sozinha, Evelyn finalmente chorou. O que estava a acontecer? Porque é que este homem rico a levara? O que é que Clare recebera em troca? E, mais importante, o que se esperava dela agora?

A Verdade por Trás da Compra

Horas mais tarde, após o primeiro banho de banheira da sua vida, Evelyn foi levada à sala de jantar. “Deve estar a perguntar-se porque está aqui”, disse Edward Hargraves. “Tenho uma proposta. Mas antes, sabe ler?”

“Sim, senhor. A minha mãe ensinou-me.”

Um sorriso genuíno iluminou o rosto de Edward. “Excelente. E gosta de histórias?”

“Muito, senhor.”

“Então, talvez possa ajudar alguém que também adora histórias, mas não tem com quem as partilhar”, disse ele. “A minha filha, Amelia.”

Evelyn não conseguiu esconder a surpresa. Ninguém na aldeia alguma vez mencionara que o misterioso Sr. Hargraves tinha uma filha.

“Sim. A Amelia tem doze anos e, infelizmente, sofre de uma condição que a impede de sair de casa. Os seus pulmões são frágeis.”

De repente, tudo começou a fazer sentido. A figura pálida na janela não era um fantasma. Era uma menina doente, tão presa quanto Evelyn se sentia na sua própria vida, embora por razões diferentes.

“Quando a vi na aldeia, sempre a trabalhar, sempre sozinha, pensei que talvez as duas pudessem beneficiar da companhia uma da outra”, continuou Edward, o seu olhar agora mais suave. “Ofereci à sua madrasta uma quantia considerável. Não para a comprar, como ela provavelmente entendeu, mas para lhe garantir uma escolha melhor do que aquela vida.”

Evelyn processou as palavras. “Comprou-me para ser amiga da sua filha.”

Edward pareceu desconfortável. “Preferiria dizer que lhe ofereci um novo lar. Onde pode estudar, ter conforto e, sim, fazer companhia a uma menina solitária.”

As Duas Meninas Solitárias

Após o jantar, Edward levou Evelyn ao quarto de Amelia. O quarto era um universo de cores, cheio de desenhos e livros. Sentada numa poltrona junto à janela estava a menina que Evelyn observara tantas vezes. Amelia Hargraves era pálida como a lua, com longos cabelos castanhos e olhos de um azul tão intenso que pareciam conter o céu.

“Tu deves ser a Evelyn”, disse ela com um sorriso. “Eu via-te da janela. Tu estavas sempre a olhar para a nossa casa.”

“As pessoas dizem que a casa é assombrada”, murmurou Evelyn.

Amelia riu. “Às vezes, eu assustava-os de propósito. Fazia caretas horríveis.”

Quando o pai saiu, Amelia tornou-se séria. “Ele disse-te que eu estou a morrer?”, perguntou ela, com uma calma desarmante. Evelyn ficou chocada. “Os médicos dizem que os meus pulmões não aguentam outro inverno. O papá não aceita, claro. É por isso que ele te trouxe. Ele acha que a solidão está a matar-me tão depressa como a doença. Eu sempre quis uma irmã. Alguém para partilhar histórias.”

Evelyn sentiu algo quente crescer no peito. Não era pena; era compreensão. Duas meninas solitárias, presas por circunstâncias diferentes.

“Este é o meu livro favorito”, disse Amelia. “Lês um pouco para mim? O papá lê, mas faz todas as vozes iguais.”

Evelyn pegou no livro e começou a ler, criando vozes diferentes para cada personagem, tal como a sua mãe costumava fazer. Em breve, o riso de Amelia encheu o quarto, e Evelyn riu também, mais livremente do que fazia há anos.

O Confronto Final

Uma rotina confortável estabeleceu-se. Evelyn tinha aulas de manhã com um tutor e passava as tardes com Amelia. Duas semanas depois, algo inesperado aconteceu: Clare apareceu nos portões da mansão, exigindo ver o mestre.

Evelyn, que passava no corredor, ouviu a conversa. “Não percebo o que aconteceu àquele dinheiro!”, dizia Clare, indignada. “O Thomas bebeu uma parte, mas o resto simplesmente desapareceu!”

“Tenho a certeza de que encontrará uma explicação”, respondeu Edward, frio. “Quanto à Evelyn, ela fica aqui.”

“Mas a menina pertence à família! Não é certo!”

“Certo?”, a voz de Edward tornou-se aço. “A senhora vendeu uma criança por dinheiro. Não me fale sobre o que é certo. As pessoas dizem muitas coisas sobre esta casa, mas raramente se dão ao trabalho de descobrir a verdade. Se quer saber o que realmente aconteceu à Evelyn, sugiro que lhe pergunte.”

Nesse momento, Evelyn, num impulso, abriu a porta da biblioteca. Clare empalideceu ao ver a enteada. Já não era a criança magra e maltrapilha, mas uma menina com uma postura direita, vestida com dignidade.

“Evelyn”, murmurou Clare. “Estás bem?”

“Estou muito bem, senhora”, respondeu Evelyn, surpreendendo-se com a própria calma. “Melhor do que alguma vez estive.”

“Mas o que é que ele te faz aqui? Porque é que ele precisava de uma menina?”

Evelyn ergueu a mão, pedindo a Edward que a deixasse responder. “O Sr. Hargraves deu-me um lar. Deu-me educação, respeito e a oportunidade de ajudar alguém que precisa de uma amiga. A única coisa que ele pediu em troca foi que eu lesse histórias à filha dele, que está demasiado doente para sair de casa.”

Clare piscou os olhos, confusa. “Uma filha? Ele tem uma filha?”

“Sim. A Amelia. As pessoas pensam que ela é um fantasma porque só a veem de longe. Ninguém se deu ao trabalho de descobrir a verdade.”

Algo no rosto de Clare mudou, uma compreensão tardia que a fez encolher-se. “Eu não sabia.”

“A senhora não perguntou”, respondeu Evelyn, sem rancor. “A senhora só viu o dinheiro.”

Clare hesitou e, no último momento, virou-se. “O teu pai pergunta por ti”, disse ela, baixinho. “À noite, quando a bebida o torna sentimental.”

“Diga-lhe que estou bem”, respondeu Evelyn. “E que um dia, quando ele estiver melhor, talvez me possa visitar.”

Depois de Clare sair, Edward olhou para Evelyn com respeito. “Foste muito corajosa.”

“Aprendi com a Amelia”, respondeu ela.

Naquela noite, Evelyn e Amelia decidiram escrever a sua própria história. “Era uma vez”, começou Evelyn, “duas meninas que todos pensavam ser algo que não eram: um fantasma e uma criada. Mas que, juntas, descobriram que podiam ser muito mais.”

Enquanto a noite caía sobre a mansão Hargraves, duas vozes jovens teciam um conto de esperança. Os fantasmas do passado, os criados pela solidão e pelos boatos da aldeia, finalmente encontravam a paz. E o futuro, por mais incerto que fosse, prometia novas possibilidades a cada página virada.

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