Dizem que o chá de bebê da sua melhor amiga deveria ser um daqueles marcos inesquecíveis — um dia recheado de risadas, cupcakes com açúcar confeiteiro e fitas em tons pastéis amarradas em potes de vidro. Aquelas tardes que acabam inundando o Instagram, com filtros suaves, bochechas coradas, mãos sobre barrigas e legendas como “abençoada além das palavras”.
Mas deixa eu te contar uma coisa: naquele dia, no chá de bebê da Noel, tudo que eu achava saber sobre minha vida se estilhaçou como porcelana barata.
Meu nome é Meline, tenho 32 anos, e jamais imaginei ser o tipo de mulher que acaba protagonizando uma daquelas histórias sussurradas entre amigas, regadas a vinho e olhos arregalados. E, no entanto, aqui estou.
O chá aconteceu na casa da irmã da Noel, perto do Lago Travis — um chalé encantador, com varanda de madeira branca e aroma de velas de baunilha e cedro. Era o cenário perfeito para um dia que deveria ser perfeito.
Noel e eu nos conhecemos na faculdade. A gente se uniu por conta de colegas de quarto insuportáveis e ex-namorados piores ainda. Compartilhamos móveis de brechó, tacos às três da manhã, e todos os nossos segredos. Ela era a irmã que eu nunca tive: ousada, magnética, sempre no centro das atenções — e eu não me importava. Gostava de estar ao lado da sua luz.
Quando ela me contou que estava grávida, eu sorri. Abracei. Engoli meu próprio coração. Caleb e eu tentávamos há mais de dois anos. Consultas médicas, gráficos de ovulação, vitaminas, sexo cronometrado. Todos os meses aquele maldito teste mostrava só uma linha. E cada uma delas me afundava.
Mas amigas de verdade… apoiam, não é?
Caleb não iria ao chá. Brincou que era “muito de mulherzinha”, com jogos bobos e sanduíches minúsculos. Mas na noite anterior, ele disse: “Vou com você. Sei que pode ser difícil. Quero estar lá.” E eu acreditei.
Durante a primeira hora, tudo parecia normal. Até bom, na verdade. Noel brilhava num vestido floral largo. Circulava sorridente, recebendo abraços, mordendo bolinhos. Eu a seguia como sempre — reabastecendo bebidas, organizando brincadeiras, desviando das perguntas constrangedoras da tia Gina: “E vocês, pra quando?”
Caleb ficava mais afastado, conversando com Nathan, o marido da Noel. Uma hora, o vi me observando do pátio. Havia algo estranho em seu olhar. Achei que fosse preocupação por eu estar triste.
Mas então veio a abertura dos presentes. Todos suspiravam diante dos sapatinhos, mordedores e babadores com bichinhos bordados. Noel levantou o body que eu comprei: amarelo claro, com pequenos limões. “Meu Deus, Meline,” ela disse, radiante. “É a coisa mais fofa que já vi. Você me conhece tão bem.”
E eu conhecia. Ou achava que conhecia.
Foi quando Caleb se aproximou e sussurrou: “Precisamos ir.”
“Agora?”, sussurrei de volta. “O que houve?”
Ele estava pálido. Muito pálido. “Não consigo continuar fingindo.”
Agarrou meu pulso com força. Saímos sem que Noel notasse. Caminhamos até o carro. “Caleb, você está me assustando,” falei.
Ele parou, com os olhos marejados. “Preciso te contar uma coisa. E sei que vai te destruir.”
O mundo ainda rodava ao nosso redor — risos, música, o chá de bebê continuava. Mas o meu mundo já não era o mesmo.
“É sobre a Noel,” ele disse.
“Eu percebi,” retruquei, ríspida.
Ele fechou os olhos. “O bebê… é meu, Meline.”
O chão sumiu.
“Você está mentindo.”
“Não estou.” Sua voz era um galho seco quebrando. “Foi só uma vez. Em julho. Você estava em Houston. Nathan estava fora. Bebemos…”
“Cala a boca.” Minha voz saiu afiada. “Não foi um acidente. Ela era minha melhor amiga!”
“Eu sei.” Ele chorava. “Nunca parei de te amar.”
“Então por que fez isso?” perguntei, quase sussurrando.
“Porque sou fraco.”
E naquele momento, entendi: ele já me havia perdido. E ela também.
Dias depois, mandei uma mensagem para Noel. “Esqueci de te dar um presente no chá. Pode passar aqui amanhã?” Ela respondeu com um coração amarelo.
Quando ela chegou, grávida do meu marido, com aquele sorriso falso, eu entreguei o envelope. Um teste de paternidade. 99,9% de compatibilidade com Caleb. E então eu disse:
“Já contei pro Nathan.”
Ela chorou.
E eu a deixei ali, no sofá, segurando a ruína da própria mentira.
Seis meses depois, ela teve o bebê. Um menino. Saudável.
E eu?
Eu descobri algo. Um pequeno atraso. Náuseas matinais. Duas linhas rosas.
Meu milagre.
Não era do Caleb. E isso pouco importava. Porque ele era só meu.
E, quando minha filha nascer, vou ensiná-la: às vezes, quem te ama mais alto… também te trai mais silenciosamente. Mas você não precisa quebrar. Você pode reconstruir. Mais forte. Mais fria. Mais livre.