O sol da manhã penetrava pelas grandes janelas da mansão Hayes, iluminando os lustres de cristal e refletindo em poças douradas que se formavam no piso polido da cozinha. Tudo na mansão exalava poder e riqueza. Mas aquele dia, a atmosfera estava estranhamente pesada, quase sufocante.
Alexander Hayes, um milionário autodidata, conhecido por sua frieza e precisão nos negócios, estava sentado no ilha de cozinha de carvalho, com um terno azul escuro bem cortado. Seus cabelos platinados estavam penteados para trás, e sua mandíbula afiada carregava o cansaço de uma noite de negociações com investidores de Hong Kong. Ele olhava distraidamente seu e-mail, bebendo café preto, sem perceber a mulher que se movia silenciosamente pela cozinha.
Naomi, sua empregada doméstica, usava uma blusa creme e calças bege, com os cabelos curtos e encaracolados. Seu rosto parecia mais apagado que o normal, e seus movimentos eram mais lentos, como se cada passo fosse um esforço.
Alexander olhou para cima, seu olhar casualmente pegando o braço de Naomi enquanto ela esticava para pegar uma xícara de porcelana na prateleira. Foi então que ele viu. Uma marca roxa e crua, parcialmente escondida sob a manga de sua camisa. “Provavelmente esbarrou em algo”, pensou ele para si mesmo. Mas quando Naomi se virou, equilibrando a xícara de chá na mão, ele percebeu outra. Uma mancha escura perto de seu ombro, logo acima da clavícula. Algo apertou o coração de Alexander.
— Naomi — disse ele casualmente, mas com uma leve tensão na voz. Ela congelou.
— Sim, senhor? — ela perguntou baixinho, caminhando até ele com a cabeça ligeiramente abaixada.
Ela colocou a xícara diante dele, e Alexander manteve os olhos fixos em seu rosto.
— Você tem estado quieta ultimamente — ele disse, mantendo a voz neutra. — Está tudo bem?
Naomi deu um sorriso pequeno, forçado.
— Estou bem, senhor. — Seus dedos apertaram a xícara com nervosismo. Alexander olhou para o braço dela, depois para o ombro.
— Tem certeza? — perguntou ele, sua expressão suave, mas com algo intenso por trás do olhar.
— Sim. — Ela puxou a manga da camisa para cobrir as marcas, os dedos tremendo enquanto ela mexia nas mangas.
— Eu caí outro dia enquanto carregava a roupa — ela disse, com a voz baixa. — A cesta estava muito pesada.
Alexander se recostou na cadeira, observando-a atentamente. Naomi trabalhava para ele há dois anos. Ela era eficiente, gentil e sempre otimista. Mas, nos últimos tempos, a alegria dela parecia ter desaparecido. Não havia mais risos, nem canções suaves enquanto ela trabalhava. E agora, aquelas marcas.
Ele se lembrou de uma noite em que chegou tarde em casa depois de um evento de caridade. Encontou Naomi dobrando lençóis na lavanderia, as mangas da camisa dela completamente abaixadas, apesar do calor intenso.
— Ainda está trabalhando? — ele perguntou, surpreso. Ela se assustou com a voz dele.
— Sim, senhor, só terminando.
Mas havia algo de errado no sorriso dela naquela noite, um lampejo de medo nos olhos. Naquela hora, ele tinha ignorado. Agora, ele se amaldiçoava por não ter insistido.
— Naomi, — ele disse firmemente. — Olhe para mim.
Ela hesitou, então levantou o olhar, o medo claro em seus olhos.
— Você tem trabalhado aqui tempo suficiente para saber que pode me contar qualquer coisa. O que quer que esteja acontecendo, eu posso ajudar.
Os lábios de Naomi tremeram.
— Não é nada, senhor. Eu prometo.
Alexander não estava convencido. Mais tarde naquele dia, ele foi verificar as gravações das câmeras de segurança na entrada da mansão. Queria saber com quem Naomi tinha se encontrado nas suas idas semanais ao mercado. Para sua surpresa, as câmeras mostraram um homem, uma figura alta e robusta, com um rosto duro, pegando Naomi pelo braço perto do portão da entrada, há alguns dias.
O homem se inclinou perto dela, gritando algo, sua mão apertando o pulso dela com força o suficiente para deixar marcas. Naomi acenou com a cabeça, quase com medo, antes de ele a soltar.
O coração de Alexander acelerou. Quem era aquele homem?
Naquela noite, Naomi entrou na sala de estudo com uma bandeja de chá. Suas mãos tremiam ligeiramente enquanto ela o colocava na mesa.
— Naomi, — Alexander disse de repente. Ela congelou.
— Sim, senhor?
— Aquele homem na entrada, quem é ele?
O rosto dela empalideceu.
— Eu… eu não sei do que o senhor está falando. — Ela tentou disfarçar, mas Alexander não se deixou enganar.
— Não minta para mim. — Sua voz foi calma, mas com autoridade.
Naomi abriu a boca, mas nenhuma palavra saiu.
Ela cresceu em um bairro difícil, criada por uma avó que lhe ensinou a ser forte, mas gentil. Naomi era inteligente e sonhava em se tornar professora, mas a vida a empurrou para o modo de sobrevivência. Aos 19 anos, ela se apaixonou por um homem que parecia gentil no começo, mas, com o tempo, ele se tornou violento.
Quando ela finalmente o deixou, achou que estava livre. Mas ele a encontrou novamente, e agora ele queria dinheiro.
— Naomi, — Alexander disse suavemente, quebrando o silêncio. — Esse homem está te machucando?
Ela não respondeu. Uma lágrima escorreu pelo seu rosto enquanto ela segurava a bainha da blusa.
O maxilar de Alexander se apertou.
— Eu preciso que você entenda uma coisa, Naomi — disse ele, sua voz mais suave agora. — Você não está sozinha, e você não é propriedade de ninguém. Quem quer que esse homem seja, ele nunca mais vai pôr os pés perto de você.
Naomi balançou a cabeça freneticamente.
— Não, se você se envolver, ele vai machucar você também. Ele é perigoso. Por favor, deixe estar.
Os olhos de Alexander escureceram.
— Eu não vou deixar. Não quando alguém sob meu teto está sofrendo.
Naquela noite, Alexander recebeu uma ligação do segurança do portão. O mesmo homem apareceu novamente, gritando o nome de Naomi.
— Senhor, ele está exigindo vê-la. Diz que ela deve a ele.
Alexander não hesitou.
— Não deixe ele entrar e chame a polícia agora.
Ele desligou e se dirigiu para a cozinha, onde Naomi estava sentada, suas mãos tremendo sobre uma xícara de chá.
— Acabou hoje à noite, — disse ele firmemente. —
— Senhor — Naomi começou a protestar, mas ele interrompeu.
— Escute-me, você sofreu o suficiente. Esta é a minha casa, as minhas regras, e ninguém vai machucar as pessoas da minha casa.
Tears streamed down Naomi’s face as Alexander placed a reassuring hand on hers.
— You’re safe now, I promise.