Clayton Reeves chegou à montanha numa manhã fria de inverno. A carta do advogado era clara: a cabana de seu Tio Jeremiah estava vazia havia três anos, desde a morte do velho. Mas a visão que teve ao se aproximar desmontou cada certeza. Fumaça subia da chaminé, cinco cavalos pastavam no prado, e vozes femininas ecoavam em gargalhadas abafadas pelas paredes de madeira.
Com a escritura tremendo em suas mãos, Clayton desmontou do cavalo. O chão gelado rangia sob suas botas. Aproximou-se devagar da porta e bateu. Quando ela se abriu, ele perdeu o ar.
Diante dele estava uma mulher de cabelos escuros caindo sobre os ombros, olhos verdes profundos e presença firme. Bela, sim, mas havia algo além da beleza: uma autoridade silenciosa que o fazia prender a respiração.
— Sou Clayton Reeves. Esta cabana é minha agora. Meu tio deixou no testamento. — Ele ergueu a escritura como um escudo.
A mulher não olhou o documento.
— Clarabel. Entre. Precisamos conversar.
Lá dentro, o choque de Clayton só aumentou. Quatro outras mulheres estavam reunidas. Ruby, de cabelos vermelhos e olhos azuis faiscantes, cruzou os braços com postura desafiadora. Sadie, loira e delicada, olhou-o com timidez e voz quase suplicante. Violet, morena de olhar calculista, permaneceu nas sombras observando cada gesto dele. E Grace, de cabelos castanhos-avermelhados, exalava serenidade e força junto à lareira.
O interior da cabana não tinha nada do abandono que ele lembrava da infância. Cortinas limpas, móveis bem cuidados, cheiro de lavanda. Aquelas mulheres haviam transformado o lugar em um lar.
— Antes de começar a dar ordens, saiba que temos direito de estar aqui — disse Ruby, erguendo o queixo.
Sadie avançou com delicadeza.
— Não queremos confusão, Senhor Reeves. Só precisamos de paz.
Grace então retirou um papel do bolso e entregou-lhe.
— Este é um contrato assinado pelo seu tio, três meses antes de morrer. Ele nos garantiu residência em troca de mantermos a propriedade.
Clayton examinou o documento. A assinatura era inconfundível: o mesmo traço que recebera em cartões de aniversário. O advogado jamais mencionara aquilo. Sua garganta secou. Clarabel se aproximou e murmurou:
— A pergunta não é se você é dono. É se você consegue lidar com o que vem junto.
Antes que ele pudesse responder, o som de cascos ecoou pelo vale. Ruby correu à janela.
— Eles nos acharam.
Clarabel segurou o pulso de Clayton com força surpreendente.
— Fique longe da janela. Eles não podem saber que você está aqui.
Três cavaleiros surgiram do bosque. O do meio, alto, grisalho, olhos de gelo, desmontou e avançou decidido. Ruby sussurrou com ódio:
— Morrison.
— Quem é Morrison? — perguntou Clayton.
Violet respondeu, fria como pedra:
— Um homem que acredita que mulheres são propriedade.
Grace recolheu papéis e os escondeu contra o peito.
— Fugimos dele há três meses. Contratos falsos, dívidas inventadas. Ele não aceita perder.
O bater de Morrison na porta foi seco, ameaçador.
— Sei que estão aí, senhoritas. É hora de voltar para casa.
Clayton, movido por instinto, abriu a porta e se postou no batente.
— Aqui não há nada que lhe pertença. Esta é propriedade privada. Está invadindo.
O sorriso de Morrison foi venenoso.
— Acho que você não entendeu. Elas assinaram contratos. Eu só vim buscar o que é meu.
Ruby respondeu com fúria:
— Assinamos sob ameaça. Você destruiu casas, intimidou famílias. Não devemos nada!
Sadie, trêmula mas firme, ergueu o queixo:
— A lei não permite que sejamos gado.
Morrison riu sem humor.
— Liberdade é luxo que vocês não podem ter.
Clarabel ergueu a voz.
— Temos provas. Registros, testemunhas. Até a esposa que você declarou morta está viva.
Grace puxou um medalhão de prata. Morrison empalideceu.
— Margaret — disse ela. — Encontramos em Denver. Sua esposa está viva e pronta para falar com as autoridades.
O verniz de Morrison se desfez. A mão dele caiu para o coldre. Clarabel pressionou algo frio na mão de Clayton: o velho revólver do Tio Jeremiah.
— Alguns homens só entendem uma língua. Você consegue falar?
O barulho de mais cascos encheu o vale. Seis cavaleiros se aproximavam. Eram o Marechal Thompson e seus homens. Morrison percebeu tarde demais. O marechal desmontou com calma.
— Senhorita Bell, bom revê-la. Trouxeram o que precisamos?
Sadie entregou-lhe uma pasta com documentos. Morrison, encurralado, preferiu a violência. Sacou a arma e mirou Clarabel. Clayton reagiu em um só movimento: puxou-a para trás e disparou. O tiro dele acertou o ombro de Morrison; a bala do inimigo quebrou a madeira atrás da cabeça dela. Deputados avançaram e imobilizaram o homem.
Clarabel agarrou o casaco de Clayton, respirando rápido.
— Você podia ter morrido!
— E você também. — Ele segurou o rosto dela, percebendo que sua vida havia mudado em poucas horas.
Morrison, ferido, ainda rosnava ameaças. Mas Violet o encarou com frieza.
— Seus contatos também estão sob investigação. Seu tempo acabou.
Ruby deu um passo à frente.
— Está sentindo o gosto das consequências, Thomas?
Grace abraçou Sadie.
— Acabou. Estamos livres.
O Marechal apertou a mão de Clayton.
— Belo tiro, rapaz. Salvou uma vida hoje.
Clarabel entrelaçou os dedos nos dele, quase em segredo.
— Você podia ter ido embora. Por que ficou?
Clayton a olhou nos olhos verdes.
— Porque algumas coisas valem a luta, mesmo quando acabamos de encontrá-las.
Três meses depois, a cabana não era mais a mesma. Novos quartos foram erguidos, o curral reconstruído, a horta crescia viçosa. Morrison cumpria quinze anos de prisão, e sua rede de corrupção havia ruído. Margaret, viva, recuperara as minas da família e ajudava outras mulheres a escapar de abusos semelhantes.
Ruby dedicava-se à doma de cavalos. Sadie e Violet cuidavam do jardim, transformando a terra dura em verde abundante. Grace organizava contas e negociações. E Clarabel, sempre presente, caminhava ao lado de Clayton como parceira.
Num fim de tarde, ela atravessou o terreiro com uma carta nas mãos.
— Três criadores do Colorado querem potros até a primavera.
Clayton pegou a carta, mas olhou apenas para ela.
— Vamos ter de ampliar o trabalho.
— Vamos. — Clarabel entrou no abraço dele. — E você? Ainda duvida do nosso arranjo?
Clayton olhou as quatro mulheres no pátio, cada uma ocupada, e depois voltou aos olhos verdes dela.
— Nenhuma dúvida. Às vezes acho que sou eu quem está sendo domado por cinco mulheres extraordinárias.
Ela riu com leveza.
— Talvez estejamos nos domando mutuamente. E é assim que se constrói um lar.
O sol descia atrás das montanhas tingindo o céu de laranja e roxo. Clayton percebeu que a verdadeira herança do Tio Jeremiah não era a cabana, mas a oportunidade de se tornar o homem que sempre quis ser: alguém que protege, que partilha e que encontra sentido no inesperado.
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Enquanto a noite caía, a cabana acesa parecia um farol no meio da vastidão. E, para quem vivia ali, era mais que uma casa: era um recomeço, uma promessa de futuro.