Vendida como uma ‘mulher amaldiçoada’, ela encontrou o amor verdadeiro com o montanhês solitário que a chamou de sua esposa abençoada.

Ash Ridge, Território do Novo México. Primavera de 1884.
O vento da primavera carregava poeira pelas ruas de Ash Ridge, misturando-se com o cheiro de estrume e madeira carbonizada. Era aquele tipo de dia seco onde nada se movia a menos que fosse absolutamente necessário. As pessoas se reuniam na praça do mercado, atraídas pela promessa de gado, ferramentas e algo mais estranho.
O nome dela era Kate Wyn. Vinte e dois anos de idade. Seu vestido azul estava desbotado nas costuras e suas mãos permaneciam cerradas ao lado do corpo, como se ela estivesse segurando algo dentro de si para não desmoronar.
Seu pai a empurrou para o centro da praça como se ela fosse um pedaço de carne em exposição.
— Ela sabe cozinhar, costurar e ficar quieta — anunciou ele, com a voz áspera. — Qualquer um com moedas pode levá-la para casa esta noite.
A multidão não riu, pelo menos não alto, mas o silêncio entre os murmúrios era pior. As mulheres desviavam o olhar. As crianças espiavam por trás das saias das mães. Kate ficou ali, com o sol queimando sua pele e a vergonha queimando ainda mais forte por baixo dela.
— Ela é estéril — acrescentou o pai, cruelmente. — Tentamos por anos, nada aconteceu. Mas ela tem mãos firmes e todos os dentes na boca. Isso conta para alguma coisa.
Kate não implorou. Ela já tinha feito isso antes. Uma vez quando seu marido a expulsou após dois anos tentando engravidar. Outra vez quando seu vestido de noiva foi arrancado por mãos que costumavam segurá-la com carinho. Não tinha importado antes, então ela permaneceu em silêncio.
No fundo da multidão, sua mãe estava parada com um xale gasto puxado firmemente ao redor dos ombros, os olhos fixos no chão. Ela não falou, não impediu, apenas assistiu. E quando a multidão se abriu, ela se deixou levar pelo fluxo de pessoas, como se não tivesse ido lá para ver sua filha ser vendida, mas apenas para ir embora com todos os outros.
Um homem deu um passo à frente. Ombros largos, camisa rígida de poeira e suor da trilha. Um chapéu de abas largas projetava uma sombra sobre a maior parte de seu rosto. Seu casaco cheirava a cavalo e pinho.
Ele não perguntou o nome dela. Não a examinou como um comprador. Ele simplesmente enfiou a mão no casaco, tirou uma bolsa de couro e jogou as moedas na mesa. Sem barganha, sem perguntas.
O pai de Kate ergueu uma sobrancelha.
— Tem certeza? Ela não vem com reembolso.
O homem não hesitou, nem olhou para Kate.
— Ela não será mais julgada — disse ele.
Então, ele se virou e foi embora. Kate não se moveu imediatamente. A multidão já havia começado a se dispersar. Ninguém se importava para onde ela ia agora. Seu pai lhe deu um último empurrão.
— Vá. Você é dele agora.
Ela se abaixou para pegar sua pequena bolsa — apenas um par de sapatos velhos e um medalhão com o rosto de sua mãe dentro — e seguiu o estranho para dentro da poeira. A carroça esperava perto do ferreiro, atrelada a um par de mulas tão silenciosas quanto seu dono. Kate subiu na frente da carroça, acomodando-se ao lado do estranho sem dizer uma palavra.
Ela não sabia que o nome dele era Bo Thatcher.
— Ainda não — disse Bo, entregando-lhe um cantil amassado. — É uma longa viagem.
A água tinha gosto de lata e vento antigo. Eles saíram dos limites de Ash Ridge, onde a pradaria se abria como uma página esperando para ser escrita. O céu se estendia para sempre. Postes de cerca inclinavam-se cansados em direção à terra. Nenhum pássaro, apenas o vento na grama e o rangido ocasional do couro.
Ele não falou novamente e ela não perguntou. Kate estudou o rosto dele quando a aba do chapéu levantou o suficiente. Ele não era velho, mas o sol havia gravado sua história na pele. Trinta e cinco anos, talvez. Suas mãos descansavam soltas nas rédeas; uma com cicatrizes nos nós dos dedos, a outra envolta em uma tira de pano rasgado. Sem aliança.
— Por que você me levou? — ela perguntou, não esperando uma resposta.
Ele não olhou para o lado.
— Cinco filhos — disse ele. — Sem mãe, sem tempo.
A garganta dela se fechou.
— Então sou uma governanta.
— Não — respondeu ele. — Apenas alguém que não seja cruel. Isso é o suficiente.
Ao anoitecer, chegaram a um rancho escondido nas costelas secas da terra. A casa inclinava-se ligeiramente para o oeste. Um celeiro cinzento ficava atrás dela. Galinhas corriam pelo pátio quando a carroça parou.
Ele desceu e caminhou para a varanda. Ela o seguiu. A porta da frente não era uma porta de verdade, apenas uma colcha grossa pregada na moldura para manter o vento fora.
Lá dentro, cinco rostos olharam para cima. Quatro meninos, uma menina. Todos de olhos arregalados e bochechas vermelhas, paralisados na penumbra. Eles haviam perdido a mãe para uma febre dois invernos atrás. Desde então, o silêncio naquela cabana tinha sido mais alto do que qualquer tempestade.
— Esta é Kate — disse Bo. — Ela vai ficar.
O mais novo, Samson, talvez com cinco anos, caminhou direto para ele e abraçou sua perna. Bo o pegou com um braço e abriu uma porta com o outro.
— O quarto é lá em cima. A água está no balde.
Kate subiu as escadas devagar. O quarto era simples: uma bacia, uma cama estreita, uma janela olhando para o campo aberto. Ela sentou na beira da cama. Não chorou, não ainda. Mas suas mãos tremiam no colo enquanto ouvia os sons de estranhos em uma casa que não era sua.
A manhã trouxe o cheiro de fumaça e café velho. A cabana acordou cedo. Kate moveu-se com cuidado, sem saber quem dormia leve, quem derramava açúcar ou como gostavam dos ovos.
As crianças ficaram quietas. Judah, o mais velho, a observava com braços cruzados. Levi sussurrava para Gideon. Meera, a única menina, agarrava-se a um pedaço de tecido perto do fogo. Samson imitava cada movimento de Kate em silêncio.
Ela tentou cozinhar. O feijão virou pasta. O pão não cresceu. Ela derramou o café. Mais tarde, tentando costurar uma meia, furou o dedo duas vezes. Ela não disse nada, apenas varreu o chão até seus ombros doerem.
Naquela tarde, ao levantar uma panela de ensopado, o aperto de Kate escorregou. O ferro fundido caiu no chão, espalhando o ensopado pelas tábuas. O barulho assustou as crianças, que congelaram.
Kate ficou imóvel, o coração martelando, esperando o grito, esperando o estalo que ouvira tantas vezes antes.
A porta se abriu. Bo entrou. Ele olhou para a bagunça, depois para ela. Sem uma palavra, agachou-se, pegou a panela e limpou o chão com um pano.
— É apenas ensopado — disse ele.
E foi isso. Ele voltou para fora. Kate ficou paralisada por mais um minuto. O calor subiu em sua garganta, mas desta vez não era vergonha. Era algo mais silencioso, algo para o qual ela ainda não tinha nome.
Naquela noite, ela se arrastou de quarto em quarto verificando as crianças. Meera se mexeu e choramingou. Sua testa estava quente. Muito quente.
Kate foi para o corredor e encontrou Bo.
— Ela está ardendo em febre. Preciso de casca de salgueiro e hortelã.
Ele não fez perguntas. Em minutos, ela tinha tudo. Ferveu água, esmagou ervas, molhou panos. Pressionou o linho úmido no rosto de Meera, embalou a menina e cantarolou. Ela não parou. Nem quando a criança tremeu, nem quando seu próprio corpo pesou de exaustão.
Ela ficou acordada a noite toda. Ao amanhecer, Meera abriu os olhos e sussurrou roubamente: “Panquecas!”
Bo estava na porta. Ele não disse nada, mas a tensão em seus ombros relaxou. Seus olhos ficaram fixos em Kate como se estivesse vendo algo sagrado.
Na manhã seguinte, havia um vapor saindo de uma chaleira no fogão e um bilhete com duas palavras em caligrafia rígida: Obrigado.
Kate segurou o bilhete e tomou o chá. Algo dentro dela, cansado e fechado há muito tempo, começou a mudar.
Naquela tarde, Samson correu até ela enquanto ela lavava panelas.
— Maple — disse ele, apontando para uma árvore. — Brilhante e segura.
Ele abraçou as pernas dela. Kate se abaixou e o puxou para perto. Pela primeira vez em semanas, ela sorriu. Não porque esperavam que ela sorrisse, mas porque ela queria.
Conforme a primavera se firmava, o ritmo da cabana mudou. As mãos de Kate encontraram sua firmeza. O pão cresceu. Ela costurou cachecóis de sacos de ração. Ensinou letras à luz de velas e trançou o cabelo de Meera com fitas azuis encontradas em um baú velho.
Ela aprendeu os medos de cada criança. Judah odiava trovões. Levi mentia quando estava envergonhado. Meera ficava quieta quando sentia falta da mãe.
Nenhum deles perguntou quem ela era. Eles apenas observavam o que ela fazia.
A primeira vez que um deles disse, saiu natural como respirar. Levi passou uma colher para ela e murmurou: “Aqui, mamãe.”
A sala ficou imóvel. Ele não se corrigiu. Nem ela. No dia seguinte, foi Gideon. Depois Meera, depois Samson. Ela era a mãe agora. Sem cerimônia, apenas a nomeação lenta do que já era verdade.
Certa noite, Bo perguntou na varanda:
— Você já pensou em ir embora?
— Pensei, há um tempo atrás — respondeu ela.
— Por que não foi?
Kate olhou para os campos escuros.
— Pela primeira vez na minha vida, ninguém está me pedindo para ser algo que não sou.
A cidade de Ash Ridge permanecia hostil. Certa tarde, Bo precisou ir buscar sal e pregos. Kate foi junto. Enquanto Bo estava na loja, Kate esperou na varanda.
— Ora, ora, se não é o fantasma estéril de volta à cidade.
A voz era de sua ex-sogra. Ao lado dela estava a nova esposa de seu ex-marido, grávida e arrogante.
— É ela? — perguntou a garota. — Bonita, mas amaldiçoada. Inútil como um jarro rachado. Eu vou dar um herdeiro forte, não como ela.
Kate ficou imóvel, a mandíbula travada. Então, uma sombra caiu ao lado da dela. Bo saiu da loja. Ele olhou para as duas mulheres e depois se virou para Kate.
— Ela é quem coloca Meera para dormir quando as pernas doem — disse ele, com voz firme. — A única que ensinou Samson a não jogar pedras. A única que faz aquela casa parecer que tem um teto novamente.
Nenhuma das mulheres falou. Bo acenou para a carroça.
— Pronta?
Kate assentiu. Eles foram embora juntos, deixando as palavras para trás como poeira.
Naquela noite, Kate saiu para buscar água no poço. O céu estava escuro e abafado.
— Veja só o que o vento trouxe.
Clay Vaughn, o caçador do cume vizinho, estava encostado na cerca, bêbado.
— Achei que Bo mantinha você trancada — disse ele, avançando. — Depois de toda aquela conversa, você nos deve pelo menos um sorriso.
— Vá para casa, Clay — disse Kate, recuando.
Ele agarrou o pulso dela com a mão suja.
— Só queria dar uma olhada…
Antes que ela pudesse gritar, a porta do celeiro se abriu. Passos rápidos, e então Bo acertou Clay em cheio no queixo. O caçador caiu como uma árvore derrubada.
Bo estava ofegante, com os nós dos dedos sangrando. Ele se virou para Kate.
— Você está bem?
Ela assentiu, tremendo. Bo desamarrou o lenço do pescoço e envolveu o pulso dela, onde Clay havia agarrado.
— Ninguém toca em você — disse ele, baixo e firme. — A menos que eu diga.
Mais tarde, dentro da casa, Kate limpou a mão ferida de Bo.
— Você não precisava fazer isso.
— Ele colocou a mão em você. Eu não gosto de brigar, mas gosto menos ainda quando alguém te assusta.
— Eu chorei — disse ela — mas não porque estava com medo. Foi porque ninguém nunca me defendeu assim antes.
Bo olhou para ela, e algo quente passou em seus olhos.
— Eu não quero viver em um mundo onde um homem como aquele acha que pode tocar em você.
Na manhã seguinte, um grito agudo quebrou o silêncio.
Kate correu para fora. Gideon estava caído perto da pilha de lenha, o rosto contorcido de dor, a perna torcida e um machado velho caído a centímetros de distância. Havia sangue, muito sangue.
— Oh, Deus — sussurrou Kate, ajoelhando-se.
Bo veio correndo. Ele pegou o menino nos braços e o levou para a mesa da cozinha.
— Ferva água! Bandagens, agora! — gritou ele.
Kate correu. Seu coração batia tão forte que ela não ouvia seus próprios passos. Ela trouxe tudo. Bo cortou a calça do menino. O corte era profundo.
Kate pressionou o pano na ferida. Gideon gritou.
— Eu sei, querido — disse ela, chorando. — Eu sei que dói. Apenas aguente firme.
Ela amarrou a ferida com força, nó após nó, suas lágrimas caindo sobre o tecido. O sangramento diminuiu. Bo observava, silencioso.
Gideon piscou, pálido, mas acordado.
— Não chore, mamãe — sussurrou ele.
Kate pressionou os lábios, respirando aquele nome como uma oração.
— Mamãe — disse ele novamente. — Você faz os melhores biscoitos.
Kate colocou a mão no rosto dele e baixou a cabeça, grata não apenas pela vida do menino, mas pela vida que, contra todas as probabilidades, havia florescido para ela também. Em meio à poeira e à dor, ela havia encontrado seu lugar.