“Venderam-lhe uma ‘Noiva Gorda Demais’ como uma Piada Cruel— Mas o Fazendeiro Solitário Transformou-a na Sua Única Razão de Viver”

O pó dançava no ar com uma malícia mal disfarçada, imitando a diversão torcida nos olhos da multidão. Ele cobria seu vestido gasto, grudando em seu rosto manchado de lágrimas, como um manto de vergonha pública. Em uma plataforma improvisada, normalmente reservada para gado ou propriedades penhoradas, ela se manteve de cabeça baixa, o peso de cem olhares zombeteiros esmagando-a como um golpe físico.

Jedodiah Thornne, um homem cuja gordura só era superada pela crueldade, apontou para ela com um gesto espalhafatoso. Sua voz áspera e oleosa ecoou no silêncio pesado. “Senhores, uma oferta rara hoje. Talvez não seja o que alguns de vocês estão acostumados, mas considerem o preço, digamos, acessível?” Uma onda de risadas nervosas atravessou os homens reunidos, cada um dando mais um prego no caixão da dignidade de Aara. Sua suposta crime? Ser órfã, endividada e, em sua visão estreita, “gorda demais” para ser considerada por qualquer homem respeitável.

Thorne comprara sua dívida por um trocado, e esta exibição era o seu tipo de diversão — um gesto público para cimentar seu domínio sobre a pequena e empobrecida localidade de Redemption Gulch. As mãos de Aara se apertaram nos lados, suas unhas brancas, o único sinal visível do inferno de humilhação que queimava dentro dela. Ela não ousava olhar para cima, não ousava encontrar os olhos deles, com medo de que os últimos vestígios de sua força desmoronassem sob o silêncio sufocante, interrompido apenas pela risada satisfeita de Thorne.

Foi então que uma nova voz cortou o ar pesado, calma e baixa, mas carregada de uma força indiscutível. “Qual é o preço?” Todos os olhos se voltaram para o novo homem.

Silas Blackwood, parado à margem da multidão, era um homem com poucas palavras e menos amigos. Seu rosto, uma rota de linhas profundas e silêncios não ditos, não exibia nenhum prazer. Seus olhos, da cor de um céu invernal, estavam vazios de divertimento, apenas um silêncio inquietante, imperturbável.

Thorne, surpreso por um momento, logo se recuperou com um sorriso debochado. “Blackwood”, disse, com sarcasmo. “Não te imaginei do tipo que se casaria. Ou talvez esteja só à procura de mais isolamento para o inverno?” Risadas nervosas seguiram, mas dessa vez, havia uma incerteza nelas. Silas não era homem de se provocar.

Ele permaneceu firme, sua atenção em Aara, não na caricatura de Thorne. Ele via o tremor em seus ombros, o brilho de lágrimas não derramadas em seus cílios, a dor crua em seu rosto. Ele via uma alma se afogando, e as águas subindo rápido.

“Nomeie seu preço, Thorne”, disse Silas, sua voz tão fria quanto a paisagem ao seu redor.

Thorne, desfrutando de seu poder, respondeu com um sorriso torcido. “Para você, Blackwood, considerando as… ‘características’ dela, vamos dizer… 50 dólares. Uma pechincha para tanta mulher.”

Silas não hesitou. Ele mergulhou a mão em seu bolso e, com movimentos lentos e deliberados, deixou cair as moedas sobre a mão de Thorne. O som das moedas caindo ecoou alto no silêncio. Ele não contou as moedas. Apenas encarou Thorne nos olhos gananciosos.

“Ela é livre de você”, Silas afirmou, não perguntou.

Ele olhou para Aara então, seu olhar enigmático. “Você virá comigo.” Era uma ordem, uma oferta, uma tábua de salvação tudo em um só gesto.

Aara, atônita, finalmente levantou a cabeça. Seus olhos se encontraram com os de Silas. E nela, ela não viu desdém, nem piedade, mas algo que não encontrava há muito tempo: respeito. Ou talvez apenas a ausência da crueldade a qual se acostumara. Qual escolha ela tinha? Ficar ali, para ser mais uma vez humilhada? Ela assentiu, um movimento quase imperceptível, sua garganta apertada demais para palavras.

O caminho até o rancho de Silas foi silencioso. O ar pesado de não ditas palavras e medo latente. Aara se encolhia na sela, seu corpo doendo pela tensão da praça de leilão, sua mente turbilhando de confusão. Quem era esse homem, esse silencioso fazendeiro que a tirou da humilhação pública com um punhado de moedas e poucas palavras?

Quando chegaram, o rancho de Silas era simples, sem luxo, mas firme contra a vastidão inóspita das planícies. Uma casa pequena, uma estrebaria bem cuidada, e um cercado. Não havia toques femininos, apenas o necessário. Silas desceu de seu cavalo e estendeu a mão para ajudá-la. Seu toque era surpreendentemente suave, calejado mas cuidadoso.

“Essa é a casa”, disse ele, apontando com o queixo. “Comida na despensa, camas feitas.” Ele não a olhou enquanto falava, seus olhos fixos no cavalo.

Aara hesitou, os pés ainda presos ao chão empoeirado.

“Sr. Blackwood… Por quê?” Ela sussurrou, a dúvida em sua voz.

Silas parou por um momento, o vento assobiando nas telhas da estrebaria. Então se virou, seu rosto fechado, como se as palavras fossem um esforço.

“Não se deve exibir ninguém assim”, disse ele, com a voz áspera, como se cada palavra fosse um fardo. Ele olhou brevemente para ela, um leve lampejo de entendimento passando por seus olhos. “Você está segura aqui. Descanse.”

Silas levou os cavalos para o celeiro, deixando Aara em pé, sozinha, suas emoções turbilhonando. Ela entrou na casa com cautela, encontrando um espaço simples, mas funcional. Sua cama era pequena, o fogo apagado na lareira. A casa de um homem que esperava pouco da vida, e talvez recebesse menos.

Naquela noite, enquanto a solidão se infiltrava em seus ossos e o medo a consumia, Aara pensou em Thorne, em sua face zombeteira e no riso cruel da multidão. Mas então ela lembrou dos olhos de Silas. Não eram gentis, não ainda, mas eram firmes e sem malícia. Era uma centelha de luz em uma escuridão esmagadora, e ela a agarrou com a força de alguém se afogando.

Os dias que se seguiram foram de silêncio, mas também de pequenas mudanças. Silas, com sua rotina simples e silenciosa, não exigiu nada dela. Ela começava a se recompor, sua vida antes uma luta constante contra a fome e o desprezo, agora suavizada pela generosidade quieta de um homem que conhecia a dor. Ela arrumava a casa, plantava no jardim, e sentia-se útil.

Aara começava a ver a vida em uma nova luz, e, quando Silas, sem palavras, deixou sementes na mesa, ela soube que ele estava começando a ver também. Ela estava mais do que uma “mulher para ser comprada”. Ela era alguém. E, ao olhar para Silas, ela viu que ele também estava começando a curar suas próprias feridas.

Mas a paz que encontraram juntos não seria eterna sem conflitos. Jedodiah Thorne, ressentido por ter sido desafiado, chegou até o rancho, acompanhado de seus capangas. Ele não se contentava com a derrota. Ele queria mais.

Quando Aara o viu, seu coração disparou, mas Silas, com a calma de um homem que já perdeu tudo, se preparou para a luta.

“Você vai embora, Thorne”, disse Silas, a voz baixa, mas carregada de uma força imbatível. “Agora. E você não voltará.”

E foi ali, em um confronto que não era apenas físico, mas também emocional, que Aara percebeu que Silas não era só um homem rude e silencioso. Ele era alguém que lutaria para proteger aquilo que havia de mais importante. Ela não era uma carga para ele. Ela era sua razão de lutar, sua razão para viver.

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