Um pistoleiro provocou uma mulher chinesa… sem saber que iria despertar a mulher mais perigosa do Ocidente.

Ninguém naquele saloon imundo percebeu que estava sentado ao lado da mulher mais letal do Oeste.

Era uma mulher de descendência chinesa, quieta, que apenas ninava uma xícara de chá morno entre as mãos calejadas, suportando o escárnio e os olhares de desprezo sem proferir uma única palavra. Seu silêncio era seu escudo, forjado na dor, afiado como uma lâmina e infinitamente paciente. Ao seu redor, o barulho estridente da bebedeira era um zumbido distante, até que sua imobilidade se tornou mais pesada que a bigorna de um ferreiro — um peso que estava prestes a se tornar uma sentença de morte.

O saloon “Gaiola Dourada” rugia com risadas de bêbados e fumaça espessa de charuto barato. Era 1884, e a cidade de Crimson Gulch vivia sob a sombra de um único homem: Clayton Thorne, o líder implacável da gangue Abutres de Ferro. Ele controlava cada esquina, cada negócio, cada gota de licor servida. Onde seus homens pisavam, o medo seguia como um coiote faminto.

Mas naquela noite, algo quebrou o padrão familiar de brutalidade e submissão.

Em uma mesa de canto sentava-se uma mulher que não pertencia àquele lugar. Limi, beirando os sessenta anos, tinha cabelos prateados como raios de luar tecidos em um coque simples, e a pele curtida por décadas sob um sol impiedoso. Suas mãos, embora marcadas pela idade, eram perfeitamente firmes. Ninguém entendia o que uma mulher como ela, claramente uma forasteira, queria em um buraco infernal como aquele.

Clayton Thorne a mediu com puro desprezo. Uma velha estrangeira, uma relíquia esquecida, pensou ele. Aproximou-se lentamente, seus passos pesados fazendo as tábuas do chão gemerem, enquanto seus pistoleiros riam, já antecipando o esporte cruel que viria.

Thorne agarrou o bule de chá da mulher e despejou o resto do líquido frio sobre a cabeça dela. O chá escorreu por seus cabelos prateados, pingando em seu rosto estoico. — Bem-vinda ao inferno, bonequinha — zombou ele, o hálito cheirando a uísque barato. — Eu mando nesta cidade.

Limi não respondeu. Seu olhar permaneceu fixo em sua xícara vazia, tão calma como se o insulto nunca tivesse acontecido. O silêncio se estendeu por vários segundos longos e agonizantes. Então, algo no ar mudou. Havia algo errado com aquela mulher. Algo contido e enrolado como uma serpente esperando o momento exato para dar o bote.

Um dos pistoleiros sussurrou, o sorriso vacilando: — Chefe… aquela velha tem um olhar estranho.

Thorne, enfurecido pela falta de medo dela, empurrou a mesa com violência. A xícara de porcelana caiu no chão e se estilhaçou em cem pedaços. Ainda assim, a velha não recuou. Ela apenas ergueu o olhar por um instante — um olhar calmo, congelado e vazio. Um olhar que não pertencia a nenhuma mulher que eles já tivessem conhecido.

Ela se levantou devagar, limpou o chá do rosto com a manga, deixou algumas moedas sobre a mesa molhada e caminhou em direção à saída. Antes de cruzar a soleira, parou e olhou para trás, para a mesa dos pistoleiros. Seus olhos memorizaram cada rosto, um por um.

Lá fora, sob o brilho amarelo das lâmpadas a óleo, um vento frio varria as ruas. O nome Limi não significava nada ali, mas em algum lugar no passado, o nome “Dragão Silencioso” era sussurrado com pavor. E Crimson Gulch estava prestes a descobrir o porquê.


A cidade de Crimson Gulch era um lugar que Deus esqueceu e o diabo lembrava com carinho. Três ruas de terra, um banco, uma igreja sem pastor e um saloon que nunca fechava. A lei havia passado por ali anos atrás, mas nunca ficara. Este era território de foras-da-lei.

Dois anos antes, Thorne e seu bando queimaram o escritório do xerife e enforcaram o prefeito no poste do telégrafo. Desde então, ninguém ousava desafiá-los. A cidade respirava medo.

Limi hospedara-se na pensão da Viúva Mae. Naquela noite, após o incidente no saloon, ela subiu as escadas devagar. Seu quarto era espartano: uma cama, uma cadeira e uma janela com vista para a rua principal.

Sentada na cama, ela tirou de sua sacola a única coisa valiosa que carregava: uma fotografia desbotada. Nela, um homem jovem e orgulhoso estava ao lado de uma mulher bonita segurando um menino de cerca de dez anos. Eles estavam em frente a uma pequena lavanderia. Limi traçou o rosto da mulher — o seu próprio, tantos anos atrás — com o dedo trêmulo.

Seus olhos marejaram, mas ela não chorou. Ela não chorava há décadas. A última vez fora em 1871, quando encontrou sua casa reduzida a cinzas e seu marido e filho enterrados sob os escombros. Os culpados eram garimpeiros que limpavam reivindicações de terra por qualquer meio necessário.

Limi os caçara por três anos. Encontrou-os, um por um. Nenhum deles morreu rápido. Quando o último homem parou de gritar, ela desapareceu nas montanhas, tentando esquecer o gosto da vingança.

Até quatro semanas atrás. Um viajante moribundo tropeçara em sua cabana isolada. Antes de morrer, ele falou de Crimson Gulch, de Thorne, e mencionou um nome que congelou o sangue de Limi: Finn Riley.

Finn Riley. O único homem que escapara de sua vingança dezesseis anos atrás. O homem que planejara o ataque à sua família. O homem que ordenara que sua casa fosse queimada enquanto eles dormiam. E agora, Finn Riley era o braço direito de Clayton Thorne.

Limi deitou-se vestida, olhando para o teto. Suas mãos tremiam, não de medo, mas de memória muscular. Seus dedos lembravam o peso de um revólver, a pressão exata do gatilho, o cheiro de óleo de arma. O Dragão Silencioso havia despertado.


A manhã chegou com um sol brutal, transformando as ruas em espelhos de poeira. Limi desceu para a cozinha onde a Viúva Mae preparava café. — Bom dia, Sra. Lee — sussurrou a viúva, nervosa. — Ouvi o que aconteceu no saloon.

Limi aceitou o café preto. Enquanto bebia, observava a rua pela janela. Os homens de Thorne já estavam rondando. Um brutamontes, um homem enorme chamado Breaker, espancava um velho lojista que não podia pagar a “taxa de proteção”. O homem caiu, sangrando, e ninguém interveio.

Limi apertou a xícara com tanta força que seus nós dos dedos ficaram brancos. — Não se envolva, Sra. Lee — disse a viúva, notando a mudança nos olhos dela. — Esses homens matam por diversão. — Eu sei — respondeu Limi, com a voz rouca. — Eu costumava fazer o mesmo.

Limi saiu. O sol escondia seu rosto sob a aba de um chapéu simples enquanto ela caminhava em direção ao mercado. O lojista ainda gemia no chão. Breaker ria com seus comparsas.

— Ei, velha! — gritou Breaker. — Esse comerciante me deve respeito. Você está enfiando o nariz onde não deve.

Limi endireitou-se lentamente, as costas estalando. — Este homem não lhe deve nada. Mas você? Você tem uma dívida que não pode pagar.

Breaker riu e sacou seu revólver. — Você tem ideia de com quem está falando? — Sim — disse Limi serenamente. — Com um homem morto caminhando.

Breaker franziu a testa, confuso. Mas dentro do saloon, observando pela janela, Finn Riley congelou. O passado acabara de alcançá-lo.

Finn deixou cair seu copo de uísque. O vidro se estilhaçou, mas ele não notou. Seus olhos estavam fixos na velha mulher na rua, na pequena cicatriz em forma de meia-lua logo acima da sobrancelha dela. — Não pode ser — murmurou ele. — Nós a deixamos queimando com o resto deles.

Mas não tinham deixado. Finn sabia. Ele sempre soube que um dia o fantasma viria buscá-lo.

Na rua, Clayton Thorne saiu do saloon, alertado pelo silêncio repentino. — O que está acontecendo aqui? — exigiu ele. — Essa velha está louca, chefe — disse Breaker.

Limi encontrou o olhar de Thorne com uma calma gélida. — Eu não estou louca. E não quero morrer. Estou procurando por alguém. — Quem? — perguntou Thorne. — Finn Riley. Eu sei que ele está aqui.

O ar congelou. Thorne franziu a testa. — Não conheço nenhum Riley — mentiu Thorne. — Você conhece. E ele me conhece — disse Limi.

Finn saiu lentamente do saloon, pálido como um cadáver. Suas mãos tremiam. — Limi — sussurrou ele, a voz quebrada. — Pensei que você estivesse morta. — Eu estava — respondeu ela, a voz perigosamente suave. — Até saber que você ainda estava respirando.

Thorne olhou para Finn, confuso. — Você conhece essa velha? Finn engoliu em seco. — Ela é o Dragão Silencioso.

Naquele instante, os mais velhos da cidade sentiram um calafrio. A mulher que caçara uma dúzia de homens por três territórios sem perder uma única luta.

Thorne soltou uma risada seca. — O Dragão Silencioso? Isso é conto de fadas de fogueira. Olha, velha, se você quer o Riley, vai ter que passar por mim e meus vinte e cinco homens. — Vinte e cinco homens não me preocupam — disse Limi, sem desviar os olhos de Finn. — Já matei mais por menos.

O riso de Thorne morreu. Havia uma certeza na voz daquela mulher, uma calma que apenas aqueles que encararam a morte inúmeras vezes possuem.

— Eu vou lhe dar uma chance, Thorne — disse Limi, baixo, mas claro. — Entregue Finn Riley. Deixe-me terminar o que comecei há dezesseis anos, e eu irei embora. Você e seus homens continuam vivos. E se recusar… então todos morrem. Um por um. E Riley será o último, apenas para ver todos os seus amigos caírem antes dele.

Thorne cuspiu no chão, a arrogância voltando. — Você tem até o amanhecer de amanhã para sair da cidade. Se ainda estiver aqui, eu mesmo te mato.

Limi assentiu lentamente. — Amanhã ao amanhecer. Rua principal. Você, eu e Riley. Que Deus tenha misericórdia de quem sobreviver.

Ela virou as costas e caminhou de volta para a pensão, deixando vinte e cinco homens armados assistindo-a partir.


A madrugada rompeu vermelha sobre Crimson Gulch. O sol ainda não havia nascido quando Limi desceu as escadas da pensão. Ela usava dois revólveres Colt Peacemaker em coldres de couro simples, o cabelo amarrado para trás com força. Seus passos eram firmes e rítmicos, como um soldado marchando para sua batalha final.

A Viúva Mae esperava com chá. — Você não precisa fazer isso — sussurrou. — Sim, eu preciso — respondeu Limi. Ela bebeu o chá em um gole, deixando moedas de prata na mesa. — Se eu não voltar, isso cobre meu quarto e meu enterro.

A cidade estava deserta. Janelas fechadas. Ninguém queria testemunhar o massacre. Limi caminhou até o centro da Rua Principal e parou em frente ao saloon.

As portas duplas se abriram. Clayton Thorne saiu primeiro, depois Finn Riley, trêmulo. E atrás deles, vinte e três homens armados com rifles, espingardas e revólveres, todos apontados para uma única mulher idosa.

Thorne sorriu. — Última chance, Limi. Monte no cavalo e suma. Limi cuspiu no chão poeirento. — Eu estive morta por dezesseis anos. Hoje, estou aqui para terminar o serviço.

Thorne deu um sinal. Seus homens se espalharam em um semicírculo. Era uma execução. — Alguma última palavra? — perguntou Thorne.

Limi olhou Finn Riley diretamente nos olhos. — Seu chefe ordenou que minha família fosse queimada viva. Você segurou a tocha. Eles imploraram por misericórdia. Você lhes deu fogo.

Finn fechou os olhos, lágrimas escorrendo pelo rosto curtido. — Eu… eu não queria…

Silêncio absoluto. O vento parou. O mundo prendeu a respiração. Thorne levantou a mão. — Apontar!

Vinte e três armas se ergueram. Limi não se moveu. Suas mãos relaxadas ao lado dos coldres. — Fogo!

O comando de Thorne foi cortado quando Limi se moveu. E nos sete segundos seguintes, a história foi escrita.

Suas mãos tornaram-se um borrão. Ambos os Colts saíram do couro com uma velocidade impossível. Bang! Bang! Dois homens caíram antes que qualquer um pudesse apertar o gatilho. Balas atingiram a terra onde ela estivera momentos antes, mas Limi já havia rolado para o lado com a agilidade de um gato, deslizando para trás de um bebedouro de cavalos.

Bang! Bang! Bang! Três homens caíram. Seus movimentos eram precisos, fluidos, calculados. Não havia pressa, nem medo. Era pura técnica, uma dança mortal aprimorada por décadas de dor e fúria. Os pistoleiros atiravam em sombras enquanto seus parceiros caíam um por um.

Quarenta segundos depois, quinze homens jaziam mortos ou moribundos na rua. A poeira e a fumaça da pólvora cobriam tudo como um nevoeiro cinza.

Thorne recuou para o saloon, recarregando freneticamente. — Ela é o diabo! Ela é o maldito diabo! — gritou ele.

Finn estava paralisado no meio da rua, incapaz de se mover, incapaz de atirar, apenas assistindo enquanto Limi avançava lentamente através da fumaça, implacável, inevitável.

Os últimos cinco pistoleiros avançaram desesperadamente. Bang, bang, bang, bang, bang. Todos caíram.

Apenas Thorne restava de pé. Ele, Finn e uma velha mulher caminhando em direção a eles como a própria morte. Limi parou a vinte passos. Vinte e três mortos. Dois restantes.

Finn caiu de joelhos, soluçando. — Faça isso, Limi. Acabe logo.

Mas Thorne, enlouquecido pelo medo e pela fúria, levantou seu último revólver. Não para Limi, mas para Finn. — Se eu vou morrer, vou levar esse traidor comigo! — rosnou ele.

Bang. O tiro trovejou. Finn se encolheu, esperando o impacto. Mas ele nunca veio.

Atrás dele, Clayton Thorne caiu para trás, um buraco de bala perfeitamente centrado entre os olhos. O revólver de Limi ainda fumegava, apontado para onde a cabeça de Thorne estivera um segundo antes.

— Isso foi pela minha família — disse ela, a voz calma em meio à carnificina.

Ela guardou suas armas e olhou para baixo, para Finn Riley, que tremia no chão, cercado pelos corpos de seus companheiros. — Você vive — disse ela. — Passe cada dia sendo melhor do que o covarde que você foi. Essa é a sua punição. Viver com o que viu aqui hoje.

Sem mais uma palavra, Limi virou-se e começou a caminhar, dirigindo-se para o leste, em direção ao sol nascente. O Dragão Silencioso desaparecia, derretendo-se de volta na lenda de onde viera.

Crimson Gulch estava finalmente livre. Vinte e três homens jaziam mortos na poeira da cidade. Uma alma quebrada recebeu uma segunda chance cruel.

Às vezes, a justiça não vem de um distintivo ou de um tribunal. Às vezes, ela chega com os passos silenciosos de um fantasma que se recusou a permanecer enterrado.

O sol nasceu completamente, lançando longas sombras sobre uma cidade marcada, mas viva. E em algum lugar ao longo do horizonte, uma figura solitária desapareceu na vasta paisagem, deixando apenas silêncio e poeira para trás.

Dizem que Finn Riley passou o resto de seus dias reconstruindo a cidade que ajudara a destruir, assombrado pelos olhos da velha mulher. Quanto a Limi, alguns dizem que ela desapareceu além das colinas. Outros juram que viram uma figura solitária meditando na borda do deserto.

Mas uma coisa é certa: onde a justiça hesita, as lendas nunca descansam. E talvez, apenas talvez, quando o vento sopra pelo cânion ao anoitecer, você ainda possa ouvir o eco fraco de seus revólveres.

Bang! Bang!

Justiça sussurrada pelo vento.

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