Sete garotas Apache foram deixadas enforcadas para morrer, até que um fazendeiro solitário as salvou e despertou uma vingança sangrenta e inimaginável.

Um álamo solitário erguia-se no meio de um mar de areia infinita, um sentinela retorcido sob o sol impiedoso de domingo. Sob sua sombra, sete cordas balançavam suavemente na brisa quente do meio-dia.

À primeira vista, Cole pensou que fossem os cadáveres de algum bando de foras-da-lei, pendurados ali como um aviso macabro para quem ousasse cruzar aquelas terras esquecidas por Deus. Mas, à medida que se aproximava, o suor que escorria por suas costas transformou-se em gelo. Não eram bandidos. Eram sete garotas Apaches enforcadas.

Seus pescoços estavam firmemente atados, os pés oscilando a centímetros do chão escaldante. Pequenas marcas de arranhões na areia abaixo mostravam que elas haviam lutado desesperadamente contra a morte, chutando o vazio até que as forças se esvaíssem. Mas o que fez Cole congelar não foi a visão em si. Foi o som. Um som fraco, quase imperceptível, de respiração.

Ele correu, seus passos pesados levantando poeira. Ao tocar o braço da primeira garota, sentiu calor. Havia ainda uma centelha de vida. Todas as sete estavam vivas, apenas inconscientes, estranguladas pelo peso de seus próprios corpos, mas salvas por um milagre ou pela pressa de seus algozes.

Com a faca em punho, Cole cortou as cordas, uma por uma, segurando cada corpo leve enquanto caíam sobre a areia abrasadora. Uma forte rajada de vento derrubou seus corpos inertes como bonecas de pano. Ele as deitou lado a lado, lutando freneticamente para desobstruir suas vias aéreas, massageando gargantas marcadas pelo cânhamo áspero.

De repente, uma mão trêmula agarrou a frente de sua camisa. Uma voz rouca, quebrada, sussurrou: — Brackett… Eles estão voltando.

Cole levantou a cabeça, os olhos varrendo o horizonte. As pegadas eram frescas. As cinzas da fogueira próxima ainda fumegavam. Rastros de rodas de carroça estendiam-se em uma linha reta, ainda não apagados pelo vento do deserto. O bando de Brackett não tinha ido longe. E, claramente, eles não faziam ideia de que as garotas ainda respiravam.

Naquele momento, Cole sabia que estava diante de uma encruzilhada moral. Ele poderia virar as costas, montar em seu cavalo e fingir que não tinha visto nada, ou poderia salvar aquelas sete vidas e lançar-se em uma guerra contra um homem que mantinha metade do Arizona sob seu calcanhar.

Ele exalou com força, a mão pousando instintivamente no cabo de seu revólver. A escolha era clara como o dia. — Está tudo bem — disse Cole suavemente. — Eu não vou deixar ninguém enforcar inocentes nesta terra.

A partir daquele momento, o destino das sete guerreiras Apaches estava irrevogavelmente ligado ao destino de um Marechal branco que acabara de tropeçar nos portões do inferno.


Cole montou uma tenda improvisada sob a sombra do álamo, protegendo as garotas do sol inclemente para que pudessem respirar melhor. Dividiu o resto de sua água em tigelas de madeira lascada, dando a cada uma delas uma partilha cuidadosa enquanto tentava estancar o sangramento ao redor de seus pescoços, onde as cordas haviam cortado fundo.

Uma das garotas subitamente sentou-se, o corpo rígido como se tivesse acabado de escapar de um pesadelo. Ela encarou Cole com olhos cansados, mas ferozes. Suas mãos buscaram instintivamente uma arma na cintura, embora fosse claro que não lhe restava nada.

Cole ergueu ambas as mãos, palmas abertas. — Calma. Eu não sou o Brackett.

Aquele nome fez as outras seis abrirem os olhos de uma vez, como se um trovão as tivesse despertado. A mais velha, aquela que Cole deduziu ser a irmã mais velha ou a líder, foi a primeira a recuperar a compostura. Sua voz era rouca, mas firme. — Você cortou as cordas. Você nos salvou… mas não chegue muito perto.

Cole recuou alguns passos, dando-lhes espaço para se sentirem seguras. — O que aconteceu? Por que enforcaram vocês?

O silêncio caiu sobre a tenda, pesado e denso. Finalmente, a mais velha falou. — Brackett não queria nos matar. Ele queria algo muito pior. Cole franziu a testa. — Ouro? Prata? Reféns por resgate? Ela balançou a cabeça. — Não. Brackett quer o Mapa de Couro. O verdadeiro. O mapa que todo Apache jurou proteger com a vida.

As outras garotas sussurraram em sua própria língua, frases curtas, rápidas e cheias de medo. Cole não conseguia entender tudo, mas o peso das palavras era universal. A mais velha continuou: — Este mapa não leva a ouro. Não é o tipo de tesouro com que os homens brancos sonham. Ele marca cada fonte de água subterrânea num raio de centenas de milhas, e a localização de veios de prata nunca reclamados. Quem o possuir, controla todo o Arizona.

Cole paralisou. Algo assim não era apenas valioso; era perigoso o suficiente para iniciar uma guerra entre tribos, mineiros e o governo. A voz dela caiu, soando como uma maldição antiga. — Brackett capturou alguém da tribo. Torturou-o pela localização do mapa. Aquele homem nunca cedeu. Então, nós fomos levadas no lugar dele.

— E vocês contaram? — perguntou Cole. A mais velha olhou-o diretamente nos olhos, sem um momento de hesitação. — Preferimos a forca.

As palavras pousaram como uma lâmina fria no ar abafado. Cole respirou fundo. — Então preciso levá-las para um lugar seguro antes que ele volte. Mas todas as sete balançaram a cabeça ao mesmo tempo. Não havia medo, nem hesitação. — Nós não vamos a lugar nenhum — declarou a líder. — Vamos encontrar Brackett primeiro.

Cole bateu na coxa, frustrado com a imprudência delas. — Vocês foram quase enforcadas até a morte, e agora querem caçar uma gangue grande o suficiente para ser um exército? Ela respondeu com uma voz tão fria quanto a pedra do deserto à noite: — Eles não são uma gangue. Eles são os assassinos de nossas famílias.

Naquele instante, Cole entendeu. Aquelas garotas não eram vítimas. Eram sete flechas Apaches, puxadas no arco, esperando para atingir o coração do inimigo. Elas ainda estavam fracas, mas em seus olhos não havia fragilidade, apenas algo ardendo, como brasas no fundo de uma fogueira que se recusa a apagar.


Cole observou enquanto elas se recuperavam com uma velocidade sobrenatural. A líder chamava-se Shia. Talin, uma das garotas, caiu de joelhos na areia e tocou uma pegada perto da árvore. Ela inclinou-se, cheirou a terra e sinalizou. Marin, Rali e Uta imediatamente se espalharam, varrendo a área como se tivessem acabado de acordar de uma soneca, e não sobrevivido a um enforcamento.

— O que vocês estão fazendo? — perguntou Cole, atônito. — Rastreando — respondeu Shia, secamente. — Brackett deixou três homens para trás para cobrir o rastro. Eles foram em direção ao Desfiladeiro Pintado. — Vocês conseguem dizer tudo isso só olhando para a areia? — O homem na retaguarda feriu a perna direita. Passo pesado. Nós vamos pegá-los. — “Nós”? — Cole franziu a testa. — Eu nunca disse que deixaria vocês se juntarem à caçada. Shia o interrompeu: — Você não pode caçar Brackett sozinho. Ele já enforcou sete de nós. Acha que hesitaria em enforcar mais um Marechal?

A verdade era amarga, mas inegável. Cole suspirou, ajustando o cinto. — Tudo bem. Se decidiram não correr, eu vou com vocês. Shia virou-se para as outras e ergueu a mão. — Hoje, nós caçamos.

O rastro que saía do local do enforcamento cortava um campo de rochas pontiagudas e desaparecia atrás de paredes de cânion vermelho-sangue. As sete guerreiras moviam-se em formação. Cole vinha na retaguarda, tentando compreender como elas liam o mundo.

Uta parou primeiro, agachada sobre uma marca rasa. Shia traduziu para Cole: — Três homens, um cavalo carregando dois. Esse cavalo está mais pesado que o normal. Selena, a alguns passos de distância, apanhou algo sob um cacto. Um pequeno pedaço de metal, não maior que um dedo. Um fragmento de distintivo em forma de estrela, violentamente arrancado de uma camisa.

Um calafrio percorreu a espinha de Cole. Era um pedaço de um distintivo de Xerife. Abaixo, no leito do cânion, marcas profundas de carroça cortavam a terra macia. E bem entre esses trilhos havia uma pegada de bota que Cole nunca confundiria. Botas de cano alto, biqueira de aço, solas pregadas. Apenas um homem em toda a região as usava. — Xerife Dorian Hale, de Red Mesa — murmurou Cole.

Shia olhou para ele, os olhos contendo algo mais profundo que ódio. — Hale não é aliado de Brackett. Ele é o guia dele. — Hale é um Xerife. O trabalho dele é proteger a cidade. — Ele está se protegendo — disse Shia. — E protegendo o mapa. Hale é nosso tio de sangue.

As palavras “tio de sangue” atingiram Cole como uma marreta. O ar no cânion ficou espesso. — Tio? — Cole perguntou. Shia sentou-se em uma pedra, entrelaçando os dedos. — Sete anos atrás, Hale estava fugindo de patrulhas. Ele veio à nossa aldeia pedindo abrigo. O povo Apache não recusa um viajante. Nós lhe demos água, comida, um lugar para dormir.

Sua voz caiu, pesada. — Naquela noite, não havia lua. O bando de Brackett veio. Sem aviso. Eles cortaram, queimaram e estrangularam enquanto nossos olhos ainda se ajustavam à fumaça. Hale segurou minha mãe pelo braço, exigindo o mapa. Ela cuspiu na cara dele. Ele a matou com as próprias mãos. Cinquenta pessoas morreram naquela noite. Não por causa de guerra, mas por causa do mapa. — E como vocês sobreviveram? — Eu puxei minhas seis irmãs para uma fenda quando o fogo começou. Ouvi cada grito. E jurei que um dia ele teria que nos ver novamente antes de morrer.


O céu começou a queimar num tom cobre avermelhado quando entraram na Garganta do Diabo, um cânion acidentado com paredes verticais como lâminas gêmeas. — Hale quer nos levar para cá — disse Shia, examinando as bordas superiores. — É aqui que ele costumava praticar táticas de emboscada com meu pai.

Eles entraram. Minutos depois, Rali congelou. Ela pegou uma pequena pedra e a soltou. Ela quicou para a esquerda em vez de cair reta. — Alguém está acima de nós — sussurrou Talin. — O vento mudou.

Um disparo ecoou. Balas choveram como granizo de aço. — Muevam-se! — gritou Shia. Mas elas não correram cegamente. As sete garotas se separaram com precisão militar, cada uma dardejando para uma fenda ou saliência de rocha. Selena escalou a parede vertical como um gato da montanha. Uta lançou uma pedra para confundir o eco. Rali deslizou sob pedregulhos. Cole disparou de volta, mantendo as cabeças dos atiradores baixas. Um grito veio de cima. Um dos emboscadores caiu, uma lâmina cravada no peito. Talin estava lá em cima, tendo escalado enquanto as balas voavam.

Shia assobiou. O grupo contra-atacou. Uta acendeu um feixe de grama seca e o lançou. Fumaça preta subiu, sufocando os atiradores. Em minutos, a emboscada desmoronou. Os sobreviventes fugiram como lobos expulsos de seu covil. Cole ofegava, misturando suor e sangue. — Eles não eram homens de Brackett. Eram de Hale. Shia assentiu. — Ele sabia que estávamos vivas. E está nos esperando em algum lugar pior. As ruínas da velha igreja.


Quando o sol afundou atrás das cristas de pedra, a última luz derramou-se sobre o que um dia fora uma igreja construída pelos primeiros colonos. Agora, restavam apenas paredes quebradas e vigas de madeira enegrecida que pareciam ossos de uma besta antiga.

— É aqui — disse Shia. — Hale está lá dentro. Não havia porta dos fundos. Exatamente como Hale planejara. — Pelo menos vinte homens — disse Talin, lendo o chão. — Pólvora fresca.

Uma voz ecoou das sombras. Fria como aço mergulhado na neve. — Reddington… Traga-as para dentro. Um homem branco não pode desafiar a lei. Quero-as de volta na cidade para serem julgadas.

Shia soltou uma risada afiada. — Julgadas, ele diz. Cole estava entre dois mundos. De um lado, as sete guerreiras. Do outro, a lei que ele jurara defender toda a sua vida. — Reddington! — rugiu Hale. — Você representa os Estados Unidos. Entregue-as ou será julgado como traidor.

As sete garotas olharam para Cole. Sem pressão. Apenas esperando. Lentamente, Cole desabotoou o distintivo de Marechal adjunto de sua camisa. O metal capturou o brilho vermelho do pôr do sol. Ele o deixou cair no chão. O som de metal na pedra soou como um veredicto. Cole sacou sua arma e deu um passo à frente, ao lado de Shia. — A sua lei não é justiça. Eu escolho a justiça Apache.

Do escuro, Hale gritou, incrédulo: — Você sabe o que fez? — Sei — respondeu Cole. — Escolhi ficar com os inocentes.

O som de armas sendo engatilhadas ecoou por trás das paredes quebradas. Os homens de Hale surgiram, cercando a igreja. Shia ergueu a mão. Apenas um pequeno gesto. Naquela noite, elas não correriam. Talin correu para a esquerda, rápida como um raio. Selena rastejou rente ao chão. Rali saltou sobre as vigas quebradas. Marin e Uta dividiram-se. O escuro explodiu em gritos e clarões de pólvora.

Um homem caiu sob a lâmina de Rali. Outro tombou com o golpe de Talin. Cole disparou, acertando um atirador que mirava em Shia. O tiroteio martelava o telhado em ruínas, mas os homens de Hale estavam atirando em sombras. As mulheres Apaches haviam se tornado a própria noite.

— Mantenham a posição! — gritou Hale, em pânico. Um silvo cortou o ar. Uma flecha cravou-se na terra a centímetros das botas de Hale. Ele congelou. Shia saiu das sombras, caminhando diretamente para o centro da igreja em ruínas. A luz do fogo tremeluzia em seu rosto. Suas seis irmãs surgiram atrás dela, formando uma meia-lua. Cole postou-se ao lado delas.

Hale sacou sua pistola, a mão tremendo. — Eu sou a lei! Eu tenho o direito… Cole deu um passo à frente. — A lei não cobre cinquenta assassinatos. — Você é um Marechal! Você responde a mim! Cole olhou para Shia. Apenas um aceno. Então ele disse a frase que seria lembrada por décadas naquela terra: — Faça rápido.

Shia puxou a corda do arco. Seu coração não tremia. Hale entendeu. Ele largou a arma e caiu de joelhos na poeira da velha igreja. A flecha voou. Dorian Hale, o homem que queimara uma vila inteira, caiu no mesmo lugar onde um dia pregara mentiras. O silêncio cobriu tudo. Apenas o vento permaneceu.


Quando a aurora surgiu, o sangue seco no chão tornara-se negro. Cole enfiou a mão no bolso, mas lembrou-se de que o distintivo ficara para trás, sobre uma pedra ao lado do corpo de Hale. Seu último laço com o velho mundo.

Shia aproximou-se. Ela olhou para ele, não com a dor de uma menina órfã, mas com o olhar de uma guerreira que vira um homem ficar ao seu lado na hora mais sombria. — Se vocês me aceitarem — disse Cole suavemente —, eu quero deixar o Arizona com vocês.

Shia colocou a mão no peito dele, solene como um rito sagrado. As seis irmãs atrás dela permaneceram em silêncio, mas todas sabiam: Cole havia escolhido aquela família, e aquela família o havia escolhido.

As sete guerreiras Apaches cavalgaram para fora da igreja em ruínas com Cole Reddington. Deixaram o distintivo, deixaram a lei do homem branco e levaram consigo o Mapa de Couro e um vínculo forjado em sangue.

Algumas estradas são feitas para caminhar, e outras existem apenas para testar quanta luz ainda vive em nossos corações. Cole Reddington escolheu essa luz, mesmo que isso significasse caminhar através de traição e de sua própria sombra. Ele não era mais um Marechal, mas mantivera a única coisa que importava: a coragem de defender a verdade quando todos os outros se curvam. Às vezes, o caminho mais honroso não é o mais fácil, mas é o único que se recusa a nos levar para a escuridão.

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