O sol já havia se posto atrás dos cumes quando Caleb Brandic desceu a encosta rochosa em direção à sua cabana. A noite estava mais fria do que o normal para o final do outono. Aquele tipo de frio que penetrava nas articulações e o lembrava que estava chegando perto dos 40 anos.
Os cascos de seu cavalo batiam no chão endurecido em um ritmo lento. Ele não apressava o animal. Não havia pressa. Nada o esperava dentro daquelas paredes de toras, exceto o silêncio. Era assim há seis anos, desde que sua esposa Mary e o filho pequeno morreram durante a febre que varreu o vale. Ele os havia enterrado atrás de uma cerca de trilhos e aprendido a seguir com o trabalho, porque era só isso que restava.
A cabana estava onde as árvores de algodão rareavam, construída por suas próprias mãos quando ele reivindicou a terra pela primeira vez. Agora estava inclinada, remendada com barro e madeira onde as tempestades a haviam castigado, o telhado ligeiramente curvado de um lado.
Não deveria haver fumaça subindo pela chaminé. Caleb não havia acendido uma fogueira naquela manhã, mas ao frear o cavalo, ele viu um tênue fio de fumaça curvando-se para cima. Seu estômago apertou imediatamente.
Ele desmontou, suas botas rangendo na terra endurecida pela geada, e amarrou as rédeas no poste. Sua mão repousou no revólver ao seu lado. Um hábito gravado nele durante anos na fronteira. Ele não gritou. Nunca o fazia.
A porta rangeu quando ele a empurrou.
Dentro, a cabana irradiava um calor que não estava lá quando ele saiu. Uma fogueira brilhava na lareira de pedra, as chamas lançando luz sobre a mesa rústica, o único banquinho, o catre contra a parede oposta.
E naquele catre, estava deitada uma mulher.
Ela não estava dormindo. Seus olhos estavam semiabertos, observando-o. Seu longo cabelo preto estava espalhado pelo cobertor em uma bagunça emaranhada. Seu vestido, de pele de veado, sujo e rasgado, agarrava-se ao corpo, as costuras rasgadas na gola até que o tecido mal cobria seu peito. Ela parecia ter não mais de 25 anos, embora seu rosto carregasse as marcas de uma vida dura. Contusões escureciam seus braços. Uma bochecha estava inchada e seus lábios estavam secos, rachados pela sede.
Caleb congelou na soleira da porta. Cada instinto aguçado. Ele já tinha visto Apaches antes, principalmente à distância, às vezes durante lutas anos atrás, quando serviu como batedor. Ele também sabia o que poderia acontecer se a notícia se espalhasse de que ele tinha uma em sua casa. Vizinhos falariam. Homens na cidade fariam perguntas, e perguntas aqui sempre levavam a problemas.
Ele sentiu seu pulso acelerar. Considerou arrastá-la para fora e deixá-la se defender sozinha. Seria mais fácil, mais seguro. Era isso que a sobrevivência geralmente exigia.
Mas enquanto ele estava ali, o revólver pesado em seu quadril, ele viu a maneira como as mãos dela tremiam enquanto agarravam o cobertor. Ela não era uma ameaça. Ela estava meio faminta e esgotada.
Por um momento, a mente de Caleb voltou para sua esposa. Ele se lembrou do rosto de Mary em suas horas finais, a mão dela flácida contra a dele quando a febre finalmente a levou. Ele se lembrou da respiração superficial do menino, da impotência de vê-lo definhar. Ele já havia enterrado a família uma vez. O pensamento de forçar esta mulher a congelar no escuro deixou um gosto em sua boca que ele não podia engolir.

Ele entrou e fechou a porta. Suas botas bateram nas tábuas enquanto ele cruzava até a mesa. Os olhos da mulher o seguiram durante todo o caminho. Ele pousou sua mochila, puxou um pedaço de pão, sobras da cidade, e o colocou sobre a mesa. Então, ele o deslizou para mais perto do lado dela no quarto. Ele não falou. Ele nunca teve muito uso para palavras. As ações eram mais simples.
A mulher se ergueu com esforço. O cobertor escorregou até a cintura, expondo mais de seus ombros machucados, o tecido de seu vestido pendurado no peito. Caleb manteve os olhos em seu rosto. Seus movimentos eram lentos, cuidadosos, mas ela alcançou o pão. Ela rasgou um pedaço e o comeu como alguém que não se alimentava há dias. Seu peito apertou com algo entre pena e desconforto. Ele não podia saber a história dela ainda, mas as contusões e a sujeira diziam o suficiente. Ela havia sido caçada, ferida, deixada para trás. O que ela queria agora era claro o suficiente: um lugar para descansar, mesmo que por uma noite.
Caleb sentou-se no banquinho, braços cruzados, o revólver ao alcance na mesa. O fogo estalou. Os olhos da mulher demoraram-se nele enquanto ela mastigava. Não houve súplica, nem palavra de agradecimento, apenas uma aceitação silenciosa de que ele não a havia expulsado.
O nome dela, ele saberia mais tarde, era Nielli. Ela havia sido forçada a se afastar de seu povo, trocada entre mãos que não escolheu, e deixada para fugir quando os homens se cansaram dela. Sua missão era sobrevivência. Nada mais, nada menos. A missão de Caleb, embora ele não tivesse admitido para si mesmo até agora, era ainda mais simples: continuar vivendo em um mundo que já havia tirado tudo dele.
Dois propósitos quebrados se cruzaram naquela noite em uma cabana feita para um. A escolha de ficar ou de expulsá-la pairava no silêncio. Caleb olhou para ela mais uma vez, depois se recostou, a decisão se formando clara em sua mente. Ela ficaria por agora.
Caleb não dormiu muito naquela noite. Ele manteve seu rifle por perto, encostado na parede ao lado de seu catre, e ficou sentado meio ereto no banquinho até o fogo queimar até as brasas. A mulher deitou-se em sua cama, o cobertor apertado em torno dos ombros, sua respiração lenta, mas nunca profunda o suficiente para significar descanso total. De vez em quando, seus olhos se abriam, verificando se ele ainda estava lá, verificando se ele havia se movido. Ele não se moveu. Ele permaneceu firme, maxilar cerrado, ouvindo o vento pressionar as toras.
Ao amanhecer, o quarto esfriou novamente. Caleb se levantou, adicionou lenha ao fogo e se movimentou pela cabana com a mesma disciplina silenciosa que sempre teve: o arrastar das botas, o som de água sendo despejada em um copo de lata, o tinido surdo de uma faca na mesa. Esses eram os pequenos ruídos que preenchiam o espaço.
Quando ele pousou o copo na mesa, deslizou-o para o lado dela novamente, assim como havia feito com o pão. Ela se mexeu, os olhos se abrindo, o rosto pálido na luz fraca que vinha da janela. Seus lábios se entreabriram, mas nenhuma palavra veio. Ele percebeu que ela provavelmente não falava muito inglês. Talvez nada.
Caleb a observou beber lentamente, ambas as mãos em torno da lata. Seus dedos eram pequenos, contusões surgindo roxas ao longo de seus pulsos, onde cordas haviam cortado. Esse detalhe ficou com ele. Alguém a havia amarrado não muito tempo atrás. Quem quer que tenha feito isso ainda poderia estar por aí. Ele sentiu o pensamento pesar em seu estômago. Se eles viessem procurando e a encontrassem ali, seria ele contra quantos homens eles trouxessem.
Ele poderia tê-la mandado embora naquele momento. O pensamento cruzou sua mente mais de uma vez. Sua vida era quieta, estável, previsível. Ele não precisava de problemas. Mas cada vez que a ideia surgia, significava a visão das mãos dela tremendo ao levantar o copo, o leve subir do peito dela sob o cobertor remendado, a contusão escura ao longo de sua maçã do rosto, e com isso vinha a velha memória de sua esposa em seus dias finais.
Ele não seria o homem que ficaria parado novamente enquanto outra vida se apagava na frente dele.
Quando ela pousou o copo, ela olhou para ele e depois para a porta, como se estivesse medindo se ele a impediria de sair. Ele não se moveu. Ele apenas disse uma palavra. Lenta, quieta.
— Fique.
Ela piscou ao som de sua voz, os lábios se apertando, e então baixou os olhos. Quer ela tenha entendido totalmente ou não, ela não se levantou do catre. Ela puxou o cobertor com mais força em torno dos ombros. Isso foi o suficiente para ele.
Caleb vestiu o casaco e saiu. O frio atingiu seu rosto com força. Ele rachou lenha no quintal, seu machado batendo em ritmo constante, cada golpe uma forma de afastar os pensamentos de sua cabeça.
Enquanto trabalhava, ele considerou a questão de como ela havia entrado. Ele sabia que havia deixado a porta trancada quando saiu. A resposta simples era que ela havia arrombado a trava, e quando ele verificou mais tarde, ele viu. A madeira estava rachada, lascada ao redor da moldura, a barra forçada a se soltar. Ela estava desesperada o suficiente para forçar a entrada.
Ele carregou um braçado de lenha para dentro. Ela não havia se movido. O pão havia sumido, migalhas na mesa. O cobertor a escondia em grande parte, mas a gola de seu vestido rasgado ainda caía aberta em seu peito, sujeira manchando sua pele. Ela manteve os olhos nele quando ele entrou, não mais com desafio, mas com uma vigilância aguçada, como se esperasse que ele finalmente a expulsasse.
Em vez disso, Caleb colocou a lenha ao lado da lareira e se ocupou com a panela. Ele cortou tiras de carne de veado seca, jogou-as com feijão e colocou a panela sobre o fogo. O cheiro encheu a cabana rapidamente. Ela observou cada movimento de suas mãos.
Quando ele deslizou o prato pela mesa, ela hesitou apenas um momento antes de pegá-lo. Ela comeu devagar, mas com a fome de alguém que não confiava em seu estômago com uma refeição completa há dias.
Enquanto ela comia, Caleb a estudou. Ele precisava decidir o que aquilo era. Ela era apenas uma estranha de passagem, descansando uma noite sob seu teto? Ou ela era alguém que ficaria mais tempo, alguém que trazia perigo à sua porta? A verdade era que ele ainda não tinha resposta. O que ele sabia era que não podia, em sã consciência, jogá-la no frio.
Quando ela terminou, empurrou o prato para ele, baixou os olhos e cruzou as mãos na mesa. Não foi um agradecimento falado em voz alta, mas carregava o mesmo peso. Ele deu um aceno lento.
O resto da manhã passou sem palavras. Caleb cuidou de suas tarefas, buscando água, verificando o pequeno curral, consertando a dobradiça quebrada da porta. Cada vez que voltava para dentro, ele a encontrava ainda lá, observando, silenciosa, mas presente. Ela não tentou sair. Ela não se escondeu. E quando o sol subiu mais alto sobre o cume, a decisão havia se estabelecido silenciosamente na mente de Caleb. Ela estava ficando.
O dia se arrastou devagar, aquele tipo de dia em que nada dramático acontecia. No entanto, tudo mudou nas pequenas decisões tomadas entre duas pessoas que compartilhavam as mesmas quatro paredes.
Caleb se movia em sua rotina com o mesmo ritmo constante que sempre teve. Mas agora, cada passo era ponderado contra a presença da mulher que o observava. Ela permaneceu no catre até o meio-dia, quieta, embrulhada no cobertor. Seus olhos o seguiam enquanto ele trabalhava, nem exigindo, nem implorando, simplesmente observando.
Ao meio-dia, Caleb percebeu que precisava de água. A bacia estava quase vazia, e ele não podia evitar a viagem até o riacho. Ele olhou para ela, avaliando se ela estava forte o suficiente para caminhar aquela distância. Se ela fosse permanecer ali por mais de uma noite, ela precisava se levantar, se mover, provar que não morreria em sua cama.
Sem uma palavra, ele tirou o balde de seu gancho e o estendeu para ela. O olhar dela caiu para o balde, depois voltou para o rosto dele. Por um momento, ele pensou que ela poderia recusar, ou que ela poderia nem entender o que ele queria dizer, mas ela o pegou. Seus dedos estavam finos, ainda tremendo, mas ela agarrou a alça e se levantou. O cobertor escorregou de seus ombros, deixando apenas o vestido rasgado contra sua pele. O decote havia se aberto mais do que antes.
Caleb desviou os olhos e abriu a porta, saindo primeiro. Ela o seguiu descalça no chão gelado, sua respiração rápida no ar frio.
O riacho não estava longe, mas a caminhada era difícil o suficiente para alguém que estava faminto. Ela tropeçou uma vez no caminho irregular, os joelhos afundando na terra. Caleb instintivamente estendeu a mão para o braço dela, firmando-a. Seu aperto foi firme, mas breve, apenas o suficiente para mantê-la em pé. Ela olhou para ele com intensidade, mas não com raiva, mais como surpresa por ele não a ter empurrado para longe. Ela ajustou seu aperto no balde e continuou em frente sem uma palavra.
Quando chegaram ao riacho, a água corria baixa e rápida sobre as pedras, fria o suficiente para picar a pele. Ela se agachou, mergulhando o balde, seus dedos roçando o riacho. Ela sibilou suavemente com o choque, mas não recuou. Ela encheu o balde lentamente, deixando a água chapinhar contra suas mãos machucadas.
Caleb se agachou por perto, examinando os cumes das colinas como sempre fazia. Aqui, o ruído viajava, e um homem sozinho tinha que observar cada sombra. Hoje, o perigo dobrou. Se alguém o visse ali com ela, haveria perguntas que ele não poderia responder.
Quando ela tentou levantar o balde cheio, ela lutou, os braços tremendo sob o peso. Caleb avançou, sua mão fechando-se sobre a alça. Por um segundo, o aperto dela se apertou, como se temesse que ele pretendesse tirá-lo dela. Ele não o fez. Ele a deixou sentir que carregava o peso com ela, o balde firme entre eles. Juntos, eles voltaram, o ombro dela roçando o braço dele quando o caminho se estreitou. Nenhum dos dois falou.
De volta à cabana, ele colocou a água para dentro enquanto ela ficava perto do fogo, esfregando o calor de volta em seus braços. O silêncio voltou, mas era diferente do silêncio da noite anterior. Agora havia um ritmo.
Quando a noite caiu, Caleb colocou outra tora no fogo e sentou-se pesadamente. O rifle permaneceu perto como sempre. A mulher, Nielli, embora ele ainda não soubesse seu nome, se encolheu de volta para o catre. Ela não perguntou se podia. Apenas deitou-se de frente para o fogo.
Caleb olhou para as chamas por um longo tempo, os pensamentos circulando. O perigo de mantê-la era real. Homens que a machucaram ainda podiam estar caçando. Se a encontrassem ali, ele teria que se colocar entre eles e sua cabana. Ele não sabia se queria aquela luta. Mas quando ele olhava para ela, embrulhada no cobertor, as contusões desaparecendo em sua sombra, algo em seu peito se acalmava. Ela estava viva e estava aqui, isso era o suficiente para firmar sua decisão por mais um dia. Ele não a mandaria embora. Ainda não.
A terceira noite passou sem incidentes, e pela manhã, Caleb se estabeleceu no estranho ritmo de ter outra pessoa em sua cabana. Quando ele voltou para dentro, ela já estava acordada, sentada na beira do catre com um cobertor enrolado nos ombros.
Caleb despejou café em dois copos de lata e deslizou um pela mesa. Ela hesitou, depois o pegou. Desta vez, sua mão não tremia tanto. A contusão em sua bochecha havia começado a desaparecer de roxo para amarelo, embora as marcas de corda em seus pulsos permanecessem nítidas. Ele se pegou olhando para elas por mais tempo do que pretendia, imaginando que tipo de homem as havia deixado. Ela percebeu seu olhar, puxou a manga para baixo e virou o rosto ligeiramente. Ele não insistiu.
Naquela manhã, Caleb selou seu cavalo. Os suprimentos estavam acabando. Ele tinha feijão suficiente para alguns dias, mas sem farinha, sem sal, nada para durar por outro período. Ele tinha que ir à cidade.
O pensamento de deixá-la sozinha na cabana o incomodava. Se alguém viesse procurando, se um vizinho se aproximasse demais, ou pior, se ela decidisse fugir, tudo se desvendaria. Ele a deixou para trás, embora não sem hesitação. Antes de montar, ele a viu observando-o da soleira da porta. O cobertor havia sumido, seus ombros nus sob a gola rasgada do vestido, seus olhos escuros ilegíveis. Ele levantou a mão ligeiramente, não em despedida, mas como uma ordem silenciosa para ficar dentro. Ela deu um leve aceno.
A viagem de ida e volta à cidade levou metade do dia. Caleb manteve a cabeça baixa, comprou apenas o que precisava e falou pouco. Ele sentiu o peso de cada par de olhos sobre ele, mesmo quando ninguém estava olhando.
Ao voltar para a clareira, o sol já havia passado do pico. Ele viu fumaça da chaminé antes de chegar à cabana, e seu peito apertou.
Lá dentro, ela havia mantido o fogo aceso e arrumado seu casaco consertado na parte de trás da cadeira. A costura era áspera, irregular, mas segurava. Ele notou que ela também havia varrido o chão com uma vassoura de galhos, empurrando a sujeira e a cinza para um lado. Ela estava tentando se tornar útil.
O gesto o atingiu de uma maneira que ele não conseguia nomear. Ele largou os sacos de farinha e sal sobre a mesa e deu-lhe um único aceno. Ela encontrou seu olhar por um momento, depois olhou para baixo novamente.
Naquela noite, eles comeram em silêncio como sempre, mas o silêncio não parecia mais vazio. Parecia uma espécie de trégua. Ela não se encolheu quando o braço dele roçou o dela ao passar a lata. Ela também não evitou os olhos dele completamente, embora nunca os segurasse por muito tempo.
O frio apertou mais forte naquela noite do que em qualquer outra anterior. O vento chacoalhava os caixilhos, e a geada se acumulava grossa no lado interno do vidro. Ele podia ouvi-la se mexendo sob o cobertor, tentando encontrar calor.
Caleb sentou-se à mesa com seu rifle sobre os joelhos, os olhos no fogo. Ele disse a si mesmo que ficava acordado por hábito, por cautela. Mas a verdade era mais simples. Ele ficava acordado porque ela estava ali e ele não confiava no que poderia acontecer se fechasse os olhos.
Ela sentou-se no catre, puxando o cobertor com mais força em torno de si. Seus olhos escuros piscaram para ele e, pela primeira vez, ela falou. Sua voz era suave, o sotaque carregado.
— Frio.
Caleb olhou para ela, surpreso ao ouvi-la falar. Por dias, ela havia se comunicado apenas através do silêncio, através de suas mãos, através da maneira como ela seguia sua liderança. Aquela única palavra carregava mais peso do que uma conversa inteira.
Ele se levantou, tirou o próprio casaco do gancho e o colocou sobre os ombros dela. Ela estremeceu ao toque no início, depois parou. O casaco era muito grande, as mangas penduradas além de suas mãos, mas o calor pareceu aliviar seus tremores. Ela encontrou seu olhar novamente e, desta vez, não desviou tão rapidamente.
Ele voltou para o fogo, agachou-se e colocou outra tora. As chamas saltaram mais alto, iluminando a cabana em um brilho laranja constante. Quando ele se sentou novamente, ela ainda o estava observando. Após uma longa pausa, ela apontou para o peito dele, depois para si mesma, e então pressionou a mão na cama, como se quisesse dizer que ficaria.
Caleb sentiu a tensão em seu maxilar. Ele pensou no risco novamente. Se os cavaleiros passassem e a vissem ali, não haveria como explicar.
Mais tarde, à medida que a noite se aprofundava, a cabana esfriou ainda mais. Caleb se levantou para verificar o caixilho. Quando se virou, ela estava encolhida sob o cobertor, os joelhos dobrados, os ombros curvados contra o frio. Sem pensar muito, ele pegou outro cobertor de lã de seu baú e atravessou o quarto. Ela se mexeu quando ele se aproximou, os olhos piscando com a velha cautela. Mas quando ele espalhou o segundo cobertor sobre ela, ela não se afastou. Por um momento, a mão dele pairou na beira do cobertor perto do braço dela. Sua pele estava quente sob o tecido fino. Ele recuou rapidamente, o maxilar cerrado.
Ela não havia se movido, não havia se encolhido, apenas o observou com os mesmos olhos escuros e firmes.
Caleb voltou para o banquinho, mas seu corpo estava tenso. Ele disse a si mesmo que era apenas bondade, que ele teria feito o mesmo por qualquer alma necessitada. No entanto, no fundo, ele sabia que aquela não era toda a verdade. Ele havia cruzado uma linha, não na ação, mas no pensamento. Ele havia se permitido sentir novamente.
Quando o fogo queimou baixo, ela se mexeu no catre e falou novamente, sua voz fraca.
— Seu nome?
Ele olhou para cima.
— Caleb — ele disse simplesmente.
Ela assentiu, repetindo-o suavemente.
— Caleb.
Então ela tocou seu peito levemente.
— Nielli.
O nome dela se estabeleceu entre eles como outra tora na fogueira. Real. Sólido. Ele tinha um nome para ela agora.
Caleb ficou acordado por um longo tempo, repetindo o nome dela em sua cabeça: Nielli. Ele pensou em como ela havia forçado a entrada em sua cabana, meio morta, e como ele a havia deixado ficar. Ele pensou nas marcas em seus pulsos, no vazio em suas bochechas, na maneira silenciosa como ela havia começado a fazer parte de seu espaço. E ele pensou no que significava o fato de ela ter escolhido dizer seu nome em voz alta para ele.
Quando ele finalmente se deitou no chão ao lado do fogo, rifle ao alcance, ele soube a verdade que não queria admitir. Mandá-la embora não era mais uma opção. O risco era real, mas a escolha já havia sido feita. Ela estava aqui e ele estava deixando-a ficar. E pela primeira vez em anos, Caleb Brandic não adormeceu apenas no silêncio. Ele adormeceu ao som da respiração de outra pessoa, constante e próxima, preenchendo a cabana com algo que ele pensou ter perdido para sempre.
Na manhã seguinte, o ar dentro da cabana era diferente. O silêncio entre eles não parecia mais uma barreira. Ao longo do dia, ele a encontrou na mesa, consertando o rasgo em seu vestido com agulha e linha que ele havia deixado. Ela queria ser mais do que uma hóspede. Ela queria pertencer.
Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, o som de cascos irrompeu na clareira. Caleb congelou, a mão indo imediatamente para o rifle. Nielli enrijeceu, o rosto perdendo a cor.
Um vizinho, Jackson Crowley, chamou.
— Brandic, você está aí?
Caleb saiu. Jackson, o vizinho, estudou-o por um longo momento.
— Você tem tido companhia?
— Apenas mantendo o fogo aceso — Caleb disse. — O frio está pior este ano.
Jackson cuspiu na terra.
— Você tome cuidado. Dizem que um casal de sujeitos passou na semana passada atrás de uma Apache fugitiva que roubou deles. Eles têm feito perguntas na cidade.
As palavras atingiram Caleb como um golpe. Ele manteve a voz firme.
— Vou ficar de olho.
Jackson partiu, mas o estômago de Caleb se apertou. Ele sabia agora o que suspeitava desde a noite em que a encontrou. Alguém viria procurando.
Lá dentro, Nielli não havia se movido de seu esconderijo. Ele se agachou ao lado dela.
— Eles estão procurando — ele disse lentamente. — Eles virão.
Ela segurou o olhar dele e, com os dedos trêmulos, tocou a mão dele em seu braço. Foi a primeira vez que ela o alcançou por sua própria escolha. Ela estava confiando nele para se colocar entre ela e o que esperava além da linha das árvores.
Naquela noite, o fogo ardeu forte, mas nenhum dos dois descansou muito. Caleb sentou-se perto da porta com o rifle no colo, os ouvidos atentos ao som de cascos ou vozes. Nielli se encolheu perto da lareira. Havia algo sólido se estabelecendo entre eles. Ele não a deixaria ser levada.
A noite se aprofundou. Neve pesada caía. Caleb sentou-se perto da porta. Nielli se aproximou do fogo, coberta com os dois cobertores.
— Eles me levaram acorrentada — ela disse, seu inglês quebrado, mas claro. Ela tocou seus pulsos. — Eu fugi. Se eles me encontrarem, matam você.
Caleb pousou o revólver, levantou-se e atravessou o quarto. Ele se agachou na frente dela.
— Isso não está acontecendo com você — ele disse firmemente. — Não enquanto você estiver aqui.
Ela levantou a mão, tocou o peito dele levemente. Ela acreditava nele.
Perto da meia-noite, o som veio fraco, mas real. Cascos na neve. Caleb se enrijeceu, o som do rifle na mão. Dois cavaleiros.
O homem gritou: “Brandic, soubemos que você está guardando o que não é seu. Nós a levaremos agora. Poupe-se do problema.”
O trinco chacoalhou. O coração de Caleb martelava, mas sua voz saiu firme.
— Não há nada aqui para vocês.
A porta estilhaçou sob o golpe seguinte. O primeiro homem entrou, lanterna balançando, pistola na mão. Caleb disparou. O tiro ecoou como um trovão. O primeiro homem cambaleou para trás. O segundo gritou e atirou, a bala cravando na tora. Caleb girou o rifle e disparou novamente. O segundo homem desabou na soleira.
O silêncio voltou, exceto pelo fogo.
Caleb arrastou os dois corpos para a tempestade. A neve os cobriria pela manhã.
Quando ele fechou a porta e a trancou novamente, encontrou Nielli de pé. Ela saiu de seu canto, os olhos firmes. Ela atravessou o quarto e parou na frente dele. Ela levantou a mão, tocou seu peito e sussurrou: “Salvo.”
Caleb assentiu.
— Salvo.
Naquela manhã, o sol nasceu claro. Caleb saiu com Nielli ao lado. Pela primeira vez, ela não parecia alguém prestes a fugir. Ela olhou para frente, o rosto calmo.
— Você não precisa ir embora — ele disse.
Ela virou-se, estudando-o. Lentamente, ela estendeu a mão e a colocou na dele. Não era uma súplica, nem uma barganha. Era uma escolha.
Eles voltaram para dentro. O cabana não era mais um lugar de luto. Tornou-se um lar. Caleb Brandic não estava mais sozinho. Nielli não era mais uma fugitiva ou uma estranha. Ela era dele e ele era dela. E na fronteira, onde a vida nunca era prometida, isso era mais do que suficiente.