Sam Garrett! A voz cortou o calor do Arizona como uma lâmina afiada passando por seda.
Oito homens montados, oito rifles, todos apontados para uma cabine desgastada, onde um homem não esperava mais se importar com a vida… até aquele momento.
Sam saiu para a varanda, suas botas rangendo contra a madeira antiga atrás dele. Através da janela, Isabella Santiago observava, seus olhos escuros já tendo visto mais do que qualquer ser humano deveria.
Em suas mãos, um revólver Colt, carregado, pronto.
“Querem ela?”, Sam chamou, sua voz carregando quinze anos de raiva enterrada. “Vão ter que passar por mim primeiro.”
O líder, Joaquín Mendoza, sorriu como uma cascavel em roupas de domingo.
“Um homem contra oito, amigo. As probabilidades não são boas.”
A mão de Sam pairou sobre o coldre, a mesma mão que não conseguiu salvar Elena quinze anos atrás, em Tennessee, a mesma mão que não falharia com a irmã dela hoje.
“Já enfrentei coisa pior”, disse ele.
O vento do deserto segurou a respiração. Oito dedos apertaram os gatilhos dos rifles, mas… poderia a culpa de um homem ser suficiente para deter um pequeno exército? E que preço o amor exigiria na poeira do Arizona?
Três dias antes…
Sam Garrett era um homem condenado. Quinze anos de culpa e uísque haviam cavado linhas em seu rosto, mais profundas que os cânions do Arizona. Sua cabine, solitária, ficava no topo de um morro, silenciosa, esquecida — exatamente como ele preferia. Então, ela apareceu, saindo de trás da linha de pinheiros.
Isabella Santiago movia-se como fumaça, seu vestido branco rasgado, aderente a curvas que falavam de nobreza espanhola e fogo irlandês. Sangue manchava o tecido, e sua pele oliva estava marcada pela sujeira. Mas aqueles olhos… Deus, aqueles olhos…
O coração de Sam parou por um momento.
“Elena…”, ele murmurou, o nome caindo de seus lábios como uma oração.
A mulher, essa impossibilidade, levantou o queixo. “Minha irmã”, ela disse, a voz quebrada, mas firme. “Ela falou de você antes de morrer.”
As palavras pairaram no ar quente do deserto, e então Isabella desabou, as pernas cedendo, caindo na poeira com um leve som abafado. O vestido subiu até suas coxas, revelando pele marcada por feridas e algo mais horrível. Sam a pegou antes que caísse ao chão. O cheiro de jasmim, misturado ao sangue e ao medo, o fez lembrar o que era sentir algo, ser humano.
“Por favor”, ela gemeu contra seu peito, “não me deixe levar de volta.”
Sam a levantou com facilidade, sentindo o tremor do corpo dela contra o seu. Ela era toda curvas perigosas e confiança desesperada, essa mulher com os olhos da sua amada morta, enquanto ele a carregava para a cabine. Sua cabeça caiu contra seu ombro, e pela primeira vez em quinze anos, Sam sentiu seu coração aprender a bater de novo.
Dentro da cabine, à luz da lamparina, a totalidade do horror se revelou.
As costas de Isabella estavam cobertas de marcas de tortura — queimaduras, cortes e algo que fez o sangue de Sam se congelar: uma tatuagem de dragão negro, envolta em símbolos que significavam apenas uma coisa.
“Serpiente Negra. Isabella Susaro… vendo seu reconhecimento”, disse ele, a raiva fervendo por dentro. A operação do dragão negro, que marcava suas “propriedades”. Ela era propriedade.
O golpe foi duro demais. Aquela mulher, com toda sua beleza feroz e os olhos de Elena, reduzida à condição de mercadoria por homens que usavam rostos humanos.
“Você está segura agora”, ele disse, com convicção em cada palavra.
Isabella virou-se para ele. O movimento fez o vestido rasgado deslizar de seu ombro, expondo uma pele dourada sob a luz do fogo, marcada por hematomas que contavam histórias que Sam não queria ouvir. Mas sob todo o dano, ele podia ver a mulher: orgulhosa, bonita, inquebrável apesar de tudo.
“Eu sou?” ela perguntou, com um tom desafiador. “Ou estou trocando uma jaula por outra?”
Sam a encarou, sério. “Não sou como eles.”
“Prove”, ela disse, e deixou o vestido cair um pouco mais.
Seria tão fácil. Ela estava se oferecendo, esse anjo quebrado, testando-o da única maneira que conhecia. Seu corpo era uma arma que aprendera a usar, e agora ela oferecia para garantir sua sobrevivência. Sam virou-se de costas, os dentes apertados.
“Descanse”, ele disse, sua voz áspera como papel de lixa. “Ninguém vai te machucar aqui.”
Quando olhou de volta, Isabella estava sorrindo. O primeiro sorriso real desde sua chegada. E ele viu ali, claro, a mulher que as cartas de Elena descreviam: a irmã corajosa e bonita, que sonhava com o mundo.
“Obrigado”, ela disse simplesmente.
Naquela noite, Sam sentou-se na varanda com seu rifle cruzado sobre os joelhos, ouvindo sua respiração suave através das finas paredes da cabine. Lá fora, os coiotes uivavam ao longe no deserto. Mas foi o som da voz de Isabella, sussurrando seu nome enquanto dormia, que o manteve acordado até o amanhecer.
No dia seguinte, a rotina foi de café e conversas cuidadosas. Isabella movia-se pela cabine com uma graça que parecia deslocada, contrastando com a violência escrita em sua pele. Ela havia encontrado uma das camisas velhas de Sam, e ela caía folgada sobre seu corpo, revelando o contorno do seu pescoço e a linha elegante da garganta.
“Conte-me sobre Elena”, ela disse, sentando-se à mesa.
A mão de Sam parou no café. Durante quinze anos, ninguém falara o nome dela em sua presença.
“Ela era tudo de bom que eu já tive”, ele disse finalmente. “E eu a deixei morrer.”
Isabella falou suavemente: “A febre a levou, não você.”
Ela falou sobre como Elena havia escrito em suas cartas, contando o quanto Sam esteve ao lado dela, o tempo todo.
“Eu devia ter sido mais rápido”, ele murmurou. “Deveria ter sido…”
Mas Isabella não o deixou continuar. “Homens adoram carregar o peso do mundo, não é? Como se a culpa os tornasse poderosos, em vez de tolos.”
Aquelas palavras o atingiram mais forte porque carregavam a cadência de Elena. Ela cortava sua autocomiseração com precisão cirúrgica.
Isabella se levantou, caminhando até a janela com movimentos hipnóticos. Ela estava linda como uma pintura, seus olhos queimando com algo mais do que o sol do Arizona. Ela olhou de volta, e Sam sentiu a pressão daquelas palavras.
“Eu sou a mulher que vai nos salvar”, disse ela, com uma determinação selvagem.
Mas então, o som dos cascos chegou. Os cavaleiros estavam se aproximando.
“Me encontraram”, Isabella disse, empalidecendo.
Sam se moveu rapidamente, verificando suas armas. Quando foi pegar o cinturão de armas, Isabella segurou seu pulso com uma força que queimou como uma marca.
“Se me levarem, me prometa que não vai atrás de mim”, ela implorou. “Não jogue sua vida fora como fez com Elena.”
Sam a olhou nos olhos, a raiva subindo como uma onda. “Não ouse comparar isso com aquilo.”
Ele a puxou para si, seu corpo quente contra o dele. Ela estava tremendo, e ele sentiu cada um dos seus batimentos cardíacos.
“Eu não vou te perder”, ele sussurrou, enterrando o rosto no cabelo dela. “Não você também.”
Amanheceu, e com ela vieram os cavaleiros. O som das esporas e dos cascos cortava o ar. O homem que apareceu era exatamente o que Sam esperava: roupas caras, um homem barato disfarçado.
Diego, o capataz, riu, “Você pensa que pode roubar de Joaquín Mendoza? Ela é propriedade de El Jefe. Ele vai levar o que é dele.”
Sam segurou o Colt, firme. “A senhora diz que não vai a lugar algum.”
Mas, então, a surpresa: Diego se afastou e apareceu o verdadeiro líder — El Jefe, um mexicano de olhos mortos e mãos tão macias quanto a de uma mulher.
“Eu não vou deixar você levar ela”, Sam disse calmamente.
O combate foi rápido e brutal. Os homens de Mendoza caíram diante da pontaria precisa de Sam e dos homens de Lei de Marshall Reyes.
Isabella se ajoelhou ao lado de um homem ferido e pegou um pequeno caderno de couro de seu bolso — a chave para acabar com toda a operação de Serpiente Negra. Ela ergueu o caderno à luz. “Isso acaba agora.”
“Aquele livro vai colocar muitos homens maus na cadeia”, disse o Marshall Reyes.
Sam a observava, orgulhoso. Ela, marcada e torturada, agora segurando a chave para destruir tudo o que quase a destruiu.
“Agora o que fazemos?”, Sam perguntou.
Isabella olhou para ele, e pela primeira vez, o medo brilhou em seus olhos.
“Eu não sei. Nunca fui livre antes.”
Sam se aproximou, tocando seu rosto. “Então talvez seja hora de aprender.”
Seis meses depois, na Garrett Ranch, a vida florescia. Sam e Isabella agora viviam com risos e amor, construindo algo real, algo que Elena teria orgulho.
No final, o que restava para os dois, era aprender a viver juntos, apesar de todas as cicatrizes e os fantasmas que ainda os assombravam.
E o deserto, sempre presente, agora era um palco para novas histórias — histórias de redenção e segundas chances.