“Pegue o que Você Pagou,” Ela Disse – Mas o Que Ela Escondeu Dentro… Quebrou-O Por Dentro

Alguns pecados não se limpam com a chuva do deserto; eles ficam nas ossadas, como poeira alcalina, queimando de dentro para fora até que você não seja nada além de um homem oco, vagando por dias vazios. Samuel Hayes aprendeu essa verdade na manhã em que a morte bateu à sua porta.

Não foi o tipo de morte que se anuncia com tiros ou trovões. Essa morte chegou silenciosa, como um sussurro amarrado em lona e corda, jogada em sua linha de cercado como lixo do dia anterior. A mula que trouxe a carga ficou paciente sob o calor, mascando nada, os olhos planos como moedas. Samuel desceu da varanda, os passos pesando na terra compactada que não via chuva há três meses. O café em sua caneca de lata já estava frio, mas ele continuou segurando, porque alguns hábitos morrem mais devagar que os homens que os fazem.

O carroça estava ali, pequena e quebrada, a lona rasgada como uma velha ferida. Um bilhete flutuou do nó da corda, “Pago na íntegra, propriedade entregue”. A palavra “propriedade” atingiu Samuel de forma errada, instalando-se no estômago como um uísque ruim. Sam tinha sido cavaleiro, já vira homens tratando outros homens como gado, mas isso… isso era diferente. Parecia pessoal.

Ele puxou a lona para trás. “Jesus, meu Deus.”

A jovem não devia ter mais de 22 anos, mas seus olhos pareciam antigos. O sangue estava seco no cabelo escuro, os hematomas pintavam sua pele pálida em tons de roxo e amarelo. O que restava de seu vestido grudava nela como vergonha, mas foi nas costas que o mandíbula de Samuel se contraiu.

Letras profundas, feitas com a brutalidade de um homem que gostava de seu trabalho: WHORE — uma marca como o gado. Quando seus olhos verdes se abriram, elas estavam vazias, como uma igreja queimada. Ela o olhou sem medo, sem esperança, sem nada.

“Você me comprou”, ela sussurrou, a voz rachada como couro velho. “Agora, termine.”

Samuel ficou olhando para ela, essa coisa quebrada que alguém tinha embrulhado em lona e deixado na sua porta. Sua caneca de café escorregou das mãos, caiu na terra e espalhou o líquido negro pelo pó.

Em todos os seus anos matando, Samuel nunca tinha visto maldade tão pura.

E agora, diante dele, ela estava ali, dizendo “termine”. O que um homem faz com algo assim, algo tão corrompido?

Ele não teve resposta. Não sabia o que fazer.

Em vez disso, pegou a jovem no colo com o cuidado de quem manuseia um potro recém-nascido e a carregou para dentro da casa. Ela pesava nada, menos que nada, como se sua alma já tivesse fugido, deixando apenas pele e ossos para trás. Ele a deitou na cama do quarto dos fundos, o único que ainda estava vazio… bem, até hoje.

A garota, Margaret, que ele viria a saber mais tarde, não lutou, não agradeceu, apenas fechou os olhos verdes e deixou a escuridão a levar. Por três dias, ela dormiu como se fosse morta.

Samuel sentou-se de vigia, limpando feridas que pareciam ter sido feitas por um homem que gostava do que fazia. As cicatrizes nas costas dela contavam uma história, uma história que Samuel não queria ler, mas não conseguia desviar os olhos.

No quarto dia, ela se sentou, sem aviso, sem movimento, apenas erguendo-se para encarar a parede, como se pudesse ver através dela.

“Por que você não terminou?” Ela perguntou.

Samuel olhou para ela, com o olhar cansado. “Porque eu não sou esse tipo de homem.”

Ela riu, mas não era uma risada feliz. Era o tipo de risada que vem quando o mundo prega sua mais cruel piada.

“Todo homem é esse tipo de homem, dado as circunstâncias certas.”

“Talvez.” Samuel se levantou, indo até a janela.

O amanhecer estava quebrando sobre as terras áridas, tingindo tudo de vermelho seco. “Mas essas não são as circunstâncias.”

Margaret estudou seu perfil contra a janela, seus ombros tensos, como uma mola carregada.

“Você não sabe o que está dizendo”, ela disse. “Crawford não desiste do que é dele.”

“Eu sei quem ele é”, Samuel respondeu. “Mas você está na minha terra agora. Crawford não tem nenhuma posse aqui.”

Ela o observou em silêncio por um longo momento, depois, baixou os olhos para sua própria mão sobre o escova do cavalo.

“Crawford vai me pegar.”

Samuel sentiu o peso daquelas palavras, o passado de Crawford se arrastando pelo vento como uma tempestade. Mas não estava preparado para o que viria.

Os dias seguintes passaram em uma rotina estranha. Samuel deixava comida onde ela pudesse alcançá-la, água fresca na bacia e roupas limpas na cadeira. Ele não se aproximava, não ficava demais, dava-lhe espaço para se recuperar e, lentamente, Maggie começou a descongelar. Ela começou a ajudar com pequenas coisas ao redor da casa, inicialmente costurando roupas, depois preparando refeições simples enquanto Samuel trabalhava na terra.

Ele a via de longe, no reflexo do trabalho silencioso. Havia graça, até mesmo beleza, nas pequenas coisas que ela fazia. A mulher que ela fora estava começando a retornar.

Uma tarde, ele a encontrou fora, escovando sua velha égua com delicadeza. A égua, normalmente arisca, estava calma sob seu toque.

“Ela gosta de você”, Samuel observou.

“Animais não mentem”, Maggie disse sem olhar para ele. “Não tentam ser algo que não são.”

Ela parou a escova, a mão ainda sobre o pescoço do cavalo. “Ao contrário das pessoas.”

Samuel permaneceu em silêncio, observando-a com o cair da tarde refletindo no seu cabelo escuro, e então, perguntou: “Crawford está vindo atrás de você?”

Maggie apertou a escova. “Eventualmente, ele vai. Ele tem muito investimento em mim para me deixar escapar.”

Aquela palavra – investimento – se sentiu pesada para Samuel. Ele conhecia o tipo de homem que se sentia dono de algo, alguém que poderia jogar a vida de uma mulher na terra como um pedaço de carne.

“Que tipo de investimento?”

Maggie virou-se para ele, seus olhos verdes fixos, como se estivesse esperando pela confirmação do que já sabia.

“O tipo que faz meninas desaparecerem à noite”, ela sussurrou. “O tipo que faz testemunhas… sumirem.”

Agora, tudo estava claro. Samuel entendeu o que estava em jogo. Não era só Crawford, era todo o sistema sujo ao seu redor. “Quantos?”

“Demais.” Ela olhou para os seus pés. “Mas eu fiz nada, disse nada… porque tinha medo de morrer.”

Samuel passou a mão pelo cabelo grisalho. “Ficar vivo não é pecado.”

Mas Maggie já estava indo. Ela olhou para o cavalo, limpando uma lágrima que não havia caído. “Às vezes, viver custa a vida dos outros.”

A violência inevitável chegou quando o sol já estava se pondo. Crawford chegou em seu cavalo, trazendo com ele mais alguns. Samuel sabia o que fazer. Eles estavam prontos. Mas Maggie, com o Colt, já sabia como lutar. E o que eles fizeram… foi se reerguer.

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