Ouvi Minha Esposa Dizer Que Não Me Amava — Eu Me Divorciei, Mas Três Anos Depois Tudo Mudou

Ouvi Minha Esposa Dizer Que Não Me Amava — Eu Me Divorciei, Mas Três Anos Depois Tudo Mudou

Naquele fim de tarde quente de verão, quando o ar parece mais espesso e o mundo pesa mais do que deveria, eu estava na sala de entrada, descalço, segurando o carregador do laptop dela. O mesmo carregador que ela me pediu, desesperada, para pegar antes de eu sair para o mercado. A porta da frente estava entreaberta, como se ela soubesse que eu ainda não tinha ido embora. Eu não planejava parar. Não era isso que eu queria. Mas quando ouvi a risada dela se transformar em um sussurro, soube imediatamente que algo estava errado.

“Eu não consigo mais fingir,” ela disse. “Oi, eu não o amo.”

Eu congelei. Não pisquei. Não respirei. Não era uma piada. Era a verdade. O tipo de verdade que se escapa de dentro, quando você menos espera, quando se cansa de fingir.

Ela estava na nossa cozinha, tomando chá gelado com a irmã. A mesma cozinha onde costumávamos dançar à meia-noite só porque a nossa música tocava no aleatório. A mesma cozinha onde choramos juntos quando perdemos o bebê. Onde eu beijava sua testa mil vezes, convencido de que ela sentia o mesmo.

“Eu não sei porque ainda estou aqui,” ela continuou, olhando para a irmã. “Talvez por culpa. Talvez porque me sinto mal por ele.”

Eu senti o carregador apertar nas minhas mãos, mas não porque estava com raiva. Eu sentia que aquela frase confirmava algo que eu já desconfiava, mas tinha medo de encarar: eu era um fardo para ela. Não um parceiro, não um marido, mas um projeto que ela já não tinha mais energia para terminar.

Sem fazer barulho, me afastei e deixei o carregador na escada. Ela nunca percebeu. Uma hora depois, recebi uma mensagem dela: “Obrigado, amor.” Eu não respondi.

Passei a noite inteira andando de um lado para o outro, tentando convencer a mim mesmo que tinha sido uma daquelas coisas ditas no calor do momento. Talvez ela não tenha querido dizer aquilo. Mas, no fundo, eu sabia que não era uma reclamação momentânea. Aquilo era a verdade, finalmente se revelando.

Nos próximos seis dias, joguei o papel do marido dedicado, como se minha vida dependesse disso. Preparei o café da manhã, dei-lhe beijos de despedida antes de ir trabalhar, mandei playlists, perguntei sobre as reuniões dela. Mas toda vez que ela sorria de volta, eu via algo vazio em seus olhos. Algo que agora eu sabia que já estava ali há anos.

Na sétima noite, eu disse as palavras que nunca pensei que diria: “Eu acho que deveríamos acabar com isso.”

Ela piscou, sem surpresa. “Tá. Sem brigas. Sem porquês. Só tá.” Como se estivesse esperando que eu dissesse isso para que ela não tivesse que dizer.

O silêncio que se seguiu foi mais alto do que qualquer briga que tivéssemos tido. Naquela noite, eu arrumei minhas coisas e saí silenciosamente. Nada de drama. Nada de discursos. Só minha escova de dentes, meus livros e uma mala com roupas que ela não havia escolhido para mim. Desapareci.

Fiquei fora por três anos.

Então, na sexta-feira passada, enquanto eu pegava um takeout, virei na fila e lá estava ela, com o mesmo colar que eu lhe dei no nosso quinto aniversário, segurando uma criança e me encarando como se tivesse visto um fantasma. O que ela disse depois, isso mudou tudo.

Não falei primeiro. Não consegui. Minha boca se abriu, mas nada saiu. Só fiquei ali, naquela esquina iluminada daquele restaurante, enquanto a mulher que costumava ser meu mundo inteiro estava a apenas cinco metros de distância, com uma criança no quadril, me olhando como se eu fosse o estranho.

Ela parecia mais velha. Não de um jeito ruim, apenas cansada. Seus olhos tinham um peso diferente, como se ela finalmente estivesse carregando coisas que antes evitava. E aquela criança, uma menina com o mesmo tipo de cacho no cabelo que Trina costumava arrumar atrás da orelha quando estava nervosa, olhava para mim, piscando, como se eu fosse um estranho que havia entrado no sonho errado.

“Emory…” Ela disse meu nome, baixo, como se fosse machucar se dissesse mais alto.

Eu piscava, ainda congelado, e olhei ao redor. Nenhum outro cliente parecia notar. O homem atrás do balcão continuava chamando os números como se nada estivesse acontecendo. Mas para mim, o tempo se quebrou. Três anos se comprimiram em um segundo. Finalmente consegui murmurar: “Oi.”

Não perguntei como ela estava. Não perguntei se a criança era dela. Só disse “Oi”. Porque qualquer outra coisa abriria as comportas, e eu não sabia se estava pronto para me afogar nisso.

Ela deu um passo em minha direção. “Podemos conversar?”

Eu não sabia o que fazer. Cada fibra do meu corpo gritava para eu sair dali. Manter a paz que eu havia conquistado, o silêncio que tinha ganhado. Mas o olhar dela não era o mesmo de antes. Trina sempre usava máscaras: sarcástica, entediada, distante. Mas agora não havia máscara. Ela estava exposta. Cansada. Quase arrependida.

Eu acenei com a cabeça, sem palavras, como se estivesse concordando com algo irreversível. Ela sugeriu que fôssemos para o carro, que estava estacionado ali perto. Disse que sua filha, sua filha, logo adormeceria com a mamadeira. Eu a segui em silêncio, ainda atordoado.

Sentamos nos bancos da frente, com o motor ligado e a criança balbuciando suavemente no banco de trás. Foi só então que ela se virou para mim.

“Eu nunca pensei que te veria novamente,” ela disse. “Eu quase não acreditei quando vi você.”

Respondi apenas com um “É… a vida faz isso.”

Ela mordeu o lábio, hesitou um pouco, e então disse: “O nome dela é Ivy.”

Aquilo respondeu uma pergunta, mas não a que eu realmente queria saber. Não perguntei quem era o pai. Não perguntei quanto tempo depois do nosso divórcio ela engravidou. Não perguntei nada porque já sabia o suficiente. O que eu realmente queria saber era: o que diabos havia acontecido?

Depois de um longo silêncio, ela disse algo que me atingiu como um soco no estômago: “Eu não te amava quando disse que não te amava.”

Eu não disse nada. Ela continuou.

“Eu fiquei com raiva, não de você, mas de mim mesma. Eu me sentia perdida, como se não fosse a mulher que eu queria ser, e eu te culpei por isso, porque você era estável. Você era bom, e eu não conseguia ser boa. Então, eu te empurrei pra longe.”

Havia uma dor em suas palavras, algo real. Mas não era mais sobre nós. Era sobre o que restava de tudo que tínhamos sido.

A conversa se arrastava, mas quando ela disse, “Ivy não tem pai. Ele foi embora, disse que não estava pronto,” algo dentro de mim rachou. Eu não sabia se era raiva ou tristeza, mas senti uma necessidade urgente de fazer algo. Eu havia sido deixado de fora, e não por falta de vontade, mas por uma escolha que me tirou a chance de ser parte de tudo.

Minha boca estava seca e, pela primeira vez, eu não senti raiva. Senti algo pior. Piedade. E mais perigoso ainda… curiosidade.

E foi isso que me levou até o meu passado.

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