Samantha Hayes entrou na mansão luxuosa de Alexander Reed em Manhattan, com seus tênis velhos úmidos de orvalho e os olhos atentos, mas decididos. Os trigêmeos estavam na escada de mármore, lançando travesseiros nela e gritando: “Provinciana. Vai embora como todas as outras.” Uma criada, arrastando a mala dela porta afora, fez uma careta e disse: “Ninguém dura aqui mais de um dia.”
Samantha abaixou-se para pegar um travesseiro, sorrindo calmamente. E minutos depois, quando os meninos invadiram o hall de skate para derrubá-la, como faziam com todas as outras empregadas, ela se levantou, subiu em um skate, girou com destreza e os três meninos congelaram, estupefatos. A Grande Sala, com seus tetos altos e lustres de cristal, ficou em silêncio, o eco dos skates desaparecendo. Samantha estava ali, com um pé firme no skate, o cabelo castanho preso de forma desleixada. Tommy, Max e Leo, os trigêmeos de 5 anos, a observavam com os olhos arregalados, os rostos idênticos entre a travessura e a admiração. O mordomo idoso, Sr. Grayson, empurrou os óculos para o nariz, as mãos enrugadas tremendo, sem saber se aplaudia ou repreendia. A criada à porta, com a mala ainda meio fechada, murmurou baixinho: “Ela vai embora em 5 minutos. Elas sempre fazem isso.”
Tommy, o líder dos trigêmeos, com um sorriso grande demais para seu rosto, apontou uma pistola d’água e a espirrou na bochecha dela.
Coitadinha. Provinciana.
Samantha limpou a água com a manga, lentamente, e olhou para ele com um olhar fixo. Ela não se assustou, não levantou a voz.
Boa mira, disse ela, com a voz calma, mas séria. Mas da próxima vez, acerte o vaso ali.
Os meninos pararam de rir, os olhos piscando de surpresa. Sr. Grayson levantou as sobrancelhas, visivelmente impressionado. Enquanto Samantha organizava os travesseiros espalhados, uma voz cortante atravessou o hall. Uma mulher alta, Clara, com as unhas perfeitamente feitas e um uniforme engomado, se recostou em uma coluna, sorrindo de forma zombeteira.
Olhem para ela, já pegando a bagunça desses pestinhas, disse em voz alta o suficiente para todos ouvirem. Aposto que ela está acostumada a limpar as bagunças dos outros. Provavelmente cresceu em um trailer.
A outra criada reprimiu uma risada, e os olhos delas se dirigiram para Samantha. Tommy riu, cutucando Max. Samantha parou, com as mãos cheias de travesseiros, as costas viradas para Clara. Ela virou lentamente, os olhos dela se encontrando com as criadas com uma intensidade silenciosa que fez o sorriso de Clara vacilar. Sem dizer uma palavra, Samantha subiu a escada, colocou os travesseiros cuidadosamente no lugar e deu um tapinha nas mãos.
Melhor que quebrar coisas que não se pode consertar, disse ela, com a voz suave, mas clara.
O rosto de Clara se endureceu, e o ambiente voltou a um silêncio tenso. A manhã seguiu com mais desafios. Os meninos não pararam. Desceram pelo hall com seus skates, fazendo o chão de mármore tremer. Uma lâmpada oscilou e se despedaçou no chão. Max, o menino do meio com cachos bagunçados, gritou:
Ela vai chorar e fugir, como as outras.
Leo, o menor, jogou uma bola de borracha que acertou a perna de Samantha, rolando para debaixo de uma mesa.
Senhor, disse o Sr. Grayson com um suspiro baixo. A senhora parece frágil, senhorita Hayes. Vai embora até o meio-dia.
Samantha não respondeu. Ela se agachou para juntar os cacos da lâmpada, suas mãos firmes, seu rosto inexpressivo. Sem uma palavra, pegou um skate sob o canto, subiu nele e fez um loop perfeito ao redor do caos. Os meninos pararam instantaneamente.
Ela se aproximou deles e, com os tênis rangendo levemente no piso, disse:
Nova regra: quem derrubar um vaso, tem que limpar.
Tommy deixou a pistola d’água cair ao lado, Max ficou com a boca aberta e Leo parou de brincar com a bola. Pela primeira vez em anos, os trigêmeos ouviram.
Mais tarde naquela manhã, Samantha seguiu os meninos até a sala de brinquedos, onde brinquedos estavam espalhados como o depois de um furacão. Quando se abaixou para pegar um bloco perdido, uma risada alta soou. Outra criada, Ellen, de estatura baixa e rosto tenso, apareceu na porta, os braços cruzados.
Olhem só, a nova babá já está de joelhos, disse, sua voz carregada de desdém. Aposto que ela está rezando para que esses meninos não a devorem viva.
Tommy, empilhando blocos por perto, sorriu maliciosamente, acompanhando o tom de Ellen.
Sim, ela vai pedir misericórdia, disse ele.
Samantha manteve a calma, empilhando os blocos com mãos firmes, mas o maxilar apertado por um breve momento. Ela levantou um único bloco e foi até Tommy.
Construa algo que valha a pena manter, disse, colocando o bloco na mão dele. E, virando-se para Ellen, completou: – Ou talvez seja melhor assistir a como se faz.
O sorriso de Ellen congelou, os braços caindo ao lado dela enquanto Samantha voltava a empilhar os blocos. Os meninos começaram a rir, suas provocações cessaram.
O resto do dia foi uma batalha diferente. O almoço na mansão, com sua mesa polida e cadeiras de veludo, se transformou em um campo de guerra. Espaguete voou, manchando o teto com manchas vermelhas. Suco de laranja se derramou pelo chão, se espalhando pelos pés das cadeiras. Tommy esparramou ketchup sobre o suéter de Samantha, rindo tão alto que quase caiu. Todas as outras criadas fugiram, gritando, ele disse, seus olhos desafiando-a.
Max, jogou uma almôndega que acertou o ombro dela, deixando uma mancha oleosa.
Leo derramou leite sobre a mesa, observando-o se espalhar até chegar às mãos dela.
O Sr. Grayson ficou parado perto da porta, os braços cruzados, balançando a cabeça.
Eu avisei, disse ele baixinho. As criadas na cozinha cochichavam, suas palavras afiadas como facas.
Ela vai embora, ninguém sobrevive ao almoço com esses demônios, outro comentou com um sorriso.
Samantha apertou as mãos ao redor da borda da mesa, o suéter manchado, o cabelo grudado no pescoço. Ela deu um suspiro profundo, seus olhos fixos. Antes que o caos se intensificasse mais, Samantha bateu as mãos uma vez, com um som claro e firme.
Os meninos congelaram, os garfos no ar. Ela puxou três pequenos aventais de uma gaveta, os colocou sobre os meninos e disse:
Certo, agora vocês são os chefs. Quem fizer o melhor prato come primeiro.
Os trigêmeos hesitaram, mas logo mergulharam na cozinha com entusiasmo. Tommy empilhou o macarrão em uma torre instável, Max fez uma salada com um gesto dramático e Leo fez desenhos cuidadosos com o molho.
Vinte minutos depois, a mesa parecia um verdadeiro prato, e não um desastre. Alexander Reed entrou na sala com seus sapatos polidos, seus olhos frios escaneando o ambiente. Ele parou por um momento, observando os meninos comerem calmamente, comendo como pessoas normais.
A luz do lustre refletiu em seu rosto, e por um momento, ele parecia quase humano.
Quando Samantha colocou os pratos diante dos meninos, Alexander pegou a cafeteira e serviu café para ela.
Obrigado, disse ele, sua voz mais suave. Ela fez o que ninguém mais conseguiu.
E assim, em um único dia, Samantha não só conquistou a mansão de Alexander, mas também conquistou os corações daqueles meninos travessos e, quem sabe, o próprio Alexander.