Os Adolescentes Zombaram dos Sapatos do Velhote Até que Ele Subiu ao Palco e Foi Apresentado Como…

As Pegadas de Ross Miller

O vento de outono soprava suavemente entre os roseirais do pequeno jardim à frente da casa azul-clara de Ross Miller. Aos 75 anos, com o cabelo grisalho bem penteado e as mãos calejadas pelo prazer de trabalhar a terra, Ross podava algumas plantas enquanto assobiava uma velha melodia.

Aposentado há quatro anos como professor de História e ex-diretor de uma das escolas mais prestigiadas da região, dedicava agora os dias à jardinagem, aos livros e aos passeios matinais pelo bairro tranquilo. A sua casa, modesta mas acolhedora, espelhava a sua personalidade organizada e serena. Lá dentro, estantes repletas de livros dividiam espaço com fotografias a preto e branco de turmas que orientara ao longo de quatro décadas.

Foi ao arrancar uma erva daninha que ouviu o som de um carro a estacionar. Levantou os olhos e reconheceu o velho amigo Howard Jenkins a sair de um sedan prateado. Tinham crescido juntos, frequentado as mesmas escolas, e embora tivessem seguido rumos distintos — Ross na educação, Howard na política educativa — mantinham a amizade viva.

— Olá, Ross! Ainda fiel ao teu jardim? — disse Howard com um sorriso cansado, metendo as mãos nos bolsos do casaco castanho.

Depois de um abraço breve, sentaram-se na varanda com duas chávenas de café. Howard parecia inquieto, mexendo na colher mesmo depois do açúcar se dissolver.

— Ross, vou ser direto — disse, pousando a chávena. — Preciso da tua ajuda. A nossa antiga escola perdeu mais um diretor. É o terceiro este ano. E acho que és a pessoa certa para devolver à Central High o que ela já foi.

Ross suspirou. A paz da reforma era preciosa. No entanto, algo dentro dele agitou-se: lembranças dos corredores iluminados, dos jogos de basquetebol, dos debates apaixonados sobre história e literatura.

— Howard, agradeço a confiança, mas pendurei o casaco. Estou a desfrutar do tempo livre.

— Seria só por seis meses. Temporário. Até encontrarmos alguém fixo.

A conversa prolongou-se. A certa altura, contra todas as suas intenções iniciais, Ross ouviu-se dizer:

— Está bem. Seis meses. Não mais.

Na segunda-feira seguinte, Ross preparava-se frente ao espelho. De camisa branca engomada e gravata azul-marinho, reparou que não tinha sapatos apropriados. Os únicos formais que restavam eram uns mocassins castanhos gastos que usava na jardinagem. Limpou-os com cuidado e murmurou:

— Vão ter de servir.

Ao chegar à escola, o choque foi imediato. O edifício de tijolos vermelhos, antes imponente, estava vandalizado, com janelas partidas, lixo no jardim, e estudantes espalhados pelo pátio em vez de estarem nas aulas.

Um grupo de rapazes, vestidos com os casacos da equipa desportiva, passou por ele e comentou em voz alta:

— Olhem para os sapatos do velhote… Será que veio pedir esmola?

Ross manteve a compostura. Sabia que não era o momento para confrontos. Entrou e percorreu os corredores degradados, observando armários amolgados e professores desmotivados.

Na biblioteca, os livros estavam espalhados. O ginásio tinha tabelas partidas e linhas desbotadas. No seu novo gabinete, encontrou uma pilha de documentos desorganizados e um telefone silencioso.

Recordou a teoria das janelas partidas: sinais visíveis de abandono geram mais abandono. Aquela escola gritava que ninguém se importava.

Na tarde do primeiro dia, convocou todos os alunos ao ginásio. Quando subiu ao palco improvisado, notou os mesmos rapazes que o haviam insultado. Alguns riam. Outros cochichavam. Até que a vice-diretora pediu silêncio.

— Boa tarde — começou Ross, com voz calma mas firme. — Muitos não me conhecem, mas eu conheço esta escola. Estudei aqui. Aprendi aqui. Joguei neste ginásio.

O silêncio instalou-se.

— Sim, notaram os meus sapatos. São velhos. Acompanham-me no jardim. Mas ainda cumprem o seu papel. Como esta escola: um pouco gasta, mas com muito para dar.

Mostrou uma fotografia da equipa de basquetebol de 1971, com ele segurando um troféu. A seguir, concluiu:

— O que quero é simples: restaurar este lugar. E preciso de vocês. Porque esta escola é de todos.

Os dias seguintes trouxeram pequenas mudanças. Criou equipas de limpeza, envolveu pais e alunos em mutirões ao fim de semana, e reativou atividades antigas como o jornal escolar e os torneios interturmas. Aos poucos, os corredores ganharam cor, a biblioteca foi reorganizada, e até os rapazes que o tinham insultado juntaram-se ao esforço, pintando o campo de basquetebol ao lado dele — que, claro, estava de volta aos mocassins velhos.

Três meses depois, a escola era irreconhecível. As taxas de faltas caíram, os pedidos de transferência de professores pararam, e o ambiente era outro.

No final do semestre, no dia da sua despedida, Ross chegou esperando apenas um “obrigado”. Mas o que encontrou foi um pátio decorado, alunos e professores reunidos. Os mesmos rapazes aproximaram-se com uma caixa. Lá dentro, um novo par de mocassins, idênticos aos seus — mas brilhantes.

— Para que nunca se esqueça que transformou esta escola… um passo de cada vez.

Ross emocionou-se. Alguém entregou-lhe um álbum com fotos do “antes e depois”. Ao subir ao palco, disse:

— Quando cheguei, notaram os meus sapatos. Hoje, parto com novos. Mas o mais importante são as pegadas que deixamos. E cada um de vocês deixou uma marca neste lugar… e em mim.

Ovacionado de pé, Ross sorriu. Voltaria ao jardim, sim. Mas com o coração cheio. Porque ali, semeou algo mais duradouro que flores: o sentido de comunidade, orgulho e pertença.

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