O Grito Chocante do Deserto: “Vá Mais Fundo!” O resgate da Filha do Chefe Apache selou o destino de um rancheiro em um duelo de vida, sangue e fogo.

Ronan Hail cavalgava sozinho havia meio dia. O casaco coberto de poeira, os lábios rachados e secos. Procurava um cavalo desaparecido quando um grito agudo rasgou o silêncio do deserto.

“Não aguento mais! Vá mais fundo!”

Ronan congelou. Não era um grito de prazer. Não era uma canção. Era dor, do tipo tão crua que parecia a alma tentando se libertar do corpo. Ele esporeou seu cavalo. O galope urgente ecoava na terra.

E então ele a viu, no meio da areia escaldante. Uma mulher Apache magra, amarrada a um poste de madeira. Sua pele estava queimada pelo sol, os lábios rasgados e sangrando. A respiração era superficial, como se pudesse cessar a qualquer segundo. Marcas de chicote cruzavam suas costas, o sangue seco transformado em estrias marrons escuras.

Ronan saltou do cavalo e cortou as cordas. Ela levantou a cabeça. Os olhos pretos e profundos olharam para ele, não implorando, mas agarrados ao último vestígio de dignidade.

“Não tenha medo,” ele disse suavemente, a voz rouca pela sede.

“Vou tirar você daqui.”

Ela murmurou algo em Apache, então desabou em seus braços. O corpo dela pesava como pedra, mas Ronan a ergueu, colocou-a na sela, envolveu-a num cobertor e cavalgou, rumo ao vento quente como fogo. Ao longe, um abutre circulava. A areia carregava um longo rastro de sangue, como se o próprio deserto estivesse ferido.

Ronan não sabia o nome dela, mas tinha uma certeza: aquela mulher não merecia morrer em um lugar como aquele. O que ele não sabia era que, a partir daquele momento, seu destino estava ligado à filha de um chefe Apache.


Era o fim da tarde quando Ronan trouxe a moça de volta ao rancho. Os últimos raios de sol escorregavam pelas paredes de madeira, tingindo a casa de um bronze flamejante.

Ele a deitou na cama e derramou água gentilmente em seus lábios secos e rachados. A respiração dela estava fraca, mas gradualmente se firmou. Enquanto limpava as feridas no ombro dela, Ronan notou algo incomum brilhando numa bolsa de couro ao seu lado. Um pequeno pedaço de vidro, ligeiramente curvado, como uma lente quebrada.

Ele o segurou contra o lampião a óleo. Refletida dentro, havia uma imagem distorcida de si mesmo. Isso não era um pedaço de garrafa. Era um fragmento de lente de câmera. Ronan gelou. Naquela terra, apenas um punhado de homens carregava câmeras: jornalistas ou bastardos doentes que gostavam de capturar o sofrimento alheio.

Ele pousou o caco na mesa. A luz o atravessou, projetando um único ponto vermelho na parede, um brilho como uma gota de sangue.

A mulher se mexeu, gemeu baixinho e abriu os olhos. Pupilas pretas e profundas como abismos sem fundo. Sua voz era rouca, mas clara.

“Meu nome é Naola.”

Ronan sentou-se ao lado da cama. “Quem amarrou você?”

Ela desviou o rosto, olhando para o fogo bruxuleante no fogão. “Era um homem branco, carregava um vidro que capturava o sol. Ele queria fotografar meu corpo para humilhar meu pai.”

A voz dela tremeu, e ela apertou mais o cobertor. “Ele disse que, se o Chefe Tay não pagasse o ouro, ele penduraria minha foto em todos os saloons.”

Ronan sentiu o peito apertar. Ele conhecia aquele nome: Jack Blackwell. Um homem que vagava pela fronteira com uma câmera numa mão e uma arma na outra. Um caçador de sombras, chantageando as pessoas através da própria vergonha delas.

Naola tentou se sentar, cerrando os dentes contra a dor. “Eu vou matá-lo. Aquele homem é sujeira.”

Ronan colocou a mão no ombro dela, firme, mas gentil. “Você está segura agora.”

Ela olhou para ele, os olhos cheios de suspeita e gratidão. “Você me ajudou. Por quê?”

“Porque você não merecia morrer.”

Lá fora, o sol se punha no horizonte. No brilho ardente, o caco de vidro na parede projetava a forma de um homem segurando uma câmera, como um aviso. Ronan jogou o fragmento no fogo. O vidro estalou, explodindo em centenas de estilhaços brilhantes. Mas dentro dele, algo ainda queimava. A sensação de que o homem por trás da lente ainda estava lá fora, esperando a escuridão para terminar seu quadro inacabado.


A noite do deserto caiu como um manto negro sobre a terra. Ronan estava sentado na varanda, um Winchester apoiado nas coxas, o lampião a óleo tremeluzindo ao lado dele. No estábulo, o cavalo pisava repetidamente, um sinal claro de que algo se aproximava.

Lá dentro, Naola estava encolhida perto do fogo, ainda firmemente enrolada no cobertor. Ela não estava dormindo. Seus olhos observavam silenciosamente a luz do fogo dançando na lâmina de seu punhal. Sempre que o vento sibilava pelas fendas da porta, ela encolhia-se, a mão alcançando instintivamente a arma.

Ronan se levantou. Algo estava errado. Das colinas veio o som fraco de pedras caindo e, em seguida, um tilintar metálico suave. Ele se moveu ao longo da cerca. A noite era densa, pesada.

Então veio um clique seco, o som de um martelo sendo puxado para trás.

Ronan virou-se. Uma sombra estava sob o luar, alta e magra, metade do rosto perdida na escuridão. Em sua mão, uma câmera antiga reluzia, sua lente piscando como o olho de um demônio.

“Não se mova, Hail,” veio a voz áspera. Meio riso, meio loucura. “É a cena perfeita. O herói do oeste, o luar e a sua coisinha selvagem.”

Era Jack Blackwell.

Ronan apertou o aperto no rifle. “Abaixe isso.”

Jack deu um passo à frente, a luz varrendo seu rosto. Olhos injetados, um sorriso frio. “Eu só quero uma foto final. Ela nua no chão. E você morto ao lado dela. Isso é arte, entendeu?”

O vento cessou. Então, um tiro. Ronan atirou, raspando o ombro de Jack, mas Jack revidou imediatamente, sua bala rasgando a porta do rancho. Naola saltou e arrastou Ronan para dentro.

O vidro estilhaçou-se por toda parte. Jack chutou a porta, invadindo. A luz do fogão iluminou seu rosto ensanguentado. Ele sorria, insano, com a arma apontada para Naola.

“Fique de joelhos. Eu quero capturar seu rosto quando estiver com medo.”

Mas ela não estava com medo. Ela brandiu o punhal e o afundou profundamente no ombro dele. O sangue jorrou. Jack gritou, caindo de joelhos. Ronan bateu a coronha do rifle na cabeça dele. Um baque metálico ecoou. O sangue pingou no chão de madeira. Jack desabou. A câmera se partiu em duas. O filme desenrolou-se livremente. As chamas o alcançaram e ele queimou.

Naola ofegou, o corpo inteiro tremendo. Ronan segurou seus ombros. “Acabou.”

Ela olhou para Jack caído no chão, os lábios tremendo. “Não. Com homens como ele, nunca acaba. Sempre há cópias.”

O vento noturno soprou pela porta estilhaçada. A luz do fogo tremeluzia sobre dois rostos, um pálido, um bronzeado, com um rastro vermelho de sangue desenhado entre eles.


O amanhecer veio devagar após a longa noite. A primeira luz entrava pela janela quebrada, banhando o corpo inerte de Jack Blackwell no chão de madeira. O sangue havia secado na cor de ferrugem. Ronan jogou um pano sobre ele, não por pena, mas para dar um fim silencioso ao pesadelo.

Naola sentou-se na varanda, os olhos ainda inchados. Ela não disse nada, apenas observou o sol nascer sobre as colinas. A mesma luz que antes a queimara agora revelava cada cicatriz em sua pele.

Ronan levou a câmera quebrada para fora. Os estilhaços de vidro dobravam a luz em centenas de pequenos feixes. Ele a atirou no chão e a esmagou sob o calcanhar. O som do vidro estalando foi seco e agudo, mas não o suficiente para apagar as memórias da noite anterior.

“Ele disse que a luz era a arma dele,” Naola disse suavemente. “Agora, a luz pertence a mim.”

Ela pegou um caco que havia sobrevivido, segurando-o em direção ao sol. O reflexo fez seus olhos cintilarem, ferozes e radiantes como uma deusa da guerra. Então, ela o atirou no fogo. O vidro estourou com um pequeno pop, soltando uma faísca verde, como se a última alma de Jack tivesse se desvanecido em fumaça.

Ronan voltou ao rancho. Ele recolheu todos os pertences de Jack: a câmera, o filme, o caderno, a arma e os enfiou num saco. Juntos, eles foram até a cidade e entregaram tudo no escritório do xerife.

“Este homem nos atacou, a mim e à mulher Apache,” Ronan disse claramente.

O xerife olhou para ele, franzindo a testa. “Este bastardo louco. Estávamos rastreando ele há meses. Bem, você acabou de tornar todo este território muito mais seguro.”

Três dias depois, a notícia se espalhou. Jack Blackwell morrera na cadeia. Ninguém sabia por quê. Alguns diziam que ele se enforcara. Outros sussurravam que ele havia sido silenciado. Naola apenas olhou para a distância. “Uma alma como a dele nunca morre em silêncio.”


Naquela tarde, eles retornaram ao lugar onde ela havia sido amarrada. O vento havia soterrado todos os vestígios de sangue. Apenas o poste permanecia, solitário sob o sol. Ronan puxou sua faca e o derrubou. Juntos, eles enterraram o último pedaço de vidro sob um cacto, onde a terra e a luz se encontravam.

Antes de partirem, Naola perguntou suavemente: “Você acha que eu terei paz algum dia?”

Ronan balançou a cabeça. “Não. Mas, de agora em diante, o medo pertence a outra pessoa.”

Ela olhou para ele, longa e profundamente, como um voto silencioso. O vento do deserto aumentou, girando poeira dourada ao redor deles, e na última luz do dia, suas sombras se tornaram uma só.


Mais tarde naquela tarde, o céu ardia com um tom vermelho-cobre. De longe, veio o som de cascos, firmes, fortes e pesados como tambores de guerra. Ronan olhou para cima.

Uma formação de cavaleiros Apache se aproximava das colinas, a poeira rodopiando em seu rastro. Liderando-os, estava um homem em um casaco de couro pintado de vermelho, um pingente de prata com a face de uma águia gravada em seu pescoço. Era o Chefe Tay, pai de Naola.

Eles pararam no portão do rancho. Os guerreiros Apache sentavam-se eretos em seus cavalos, os olhos frios como aço. Um deles desmontou e falou brevemente em sua língua nativa.

Naola saiu para a varanda, os pés descalços tocando a areia, o cabelo preto esvoaçando no vento. Tay olhou para a filha por um longo tempo. Ele não disse nada, apenas o olhar de um pai que havia perdido a fé em seu próprio sangue.

“Você a salvou,” ele disse em inglês, a voz áspera como pedras rolando. “Mas tocar nela é um insulto ao nosso povo.”

Ronan encarou seus olhos sem pestanejar. “Eu não a toquei. Eu salvei alguém que estava morrendo.”

“Ninguém resgata a filha de um chefe sem um preço.” O ar se apertou como um arco esticado.

Um dos guerreiros estendeu a mão para a arma. Naola deu um passo à frente, a voz calma e firme. “Pai, este homem não me desonrou. Ele me cobriu, me deu água, salvou-me da morte.”

Tay olhou para ela, os olhos divididos entre orgulho e fúria. “E agora você está ao lado dele.”

“Eu estou ao lado da verdade.”

Até o vento pareceu fazer uma pausa com suas palavras. Um guerreiro gritou e sacou a lâmina. Ronan ergueu seu Winchester em um único fôlego. Mas Tay levantou a mão, um comando silencioso para parar.

Ele desmontou e aproximou-se de Ronan até que apenas o comprimento de um braço os separasse. “Você sabe quem é minha filha?”

“Eu sei,” Ronan respondeu, a voz baixa. “E eu não tenho medo da linhagem dela.”

Tay olhou em seus olhos. “Se ela escolher você, sangue será derramado. Meu povo verá isso como traição.”

“Então, que chamem de traição,” disse Ronan. “Eu não escolhi uma tribo. Eu escolhi aquela que vi morrendo no deserto.”

Tay não disse nada. Seus velhos olhos eram profundos como um poço. Então, ele se virou e montou em seu cavalo. “Se minha filha ficar, eu não a perseguirei,” ele disse, em voz baixa. “Mas se ela pertencer a você, eu serei o primeiro a atirar.”

Com isso, os cavaleiros Apache viraram seus cavalos e partiram, levando o vento e a poeira com eles. Naola ficou observando seu pai desaparecer além do horizonte, o sol cintilando em seus olhos úmidos.

Ronan tocou suavemente seu ombro. “Ele voltará?”

Ela assentiu levemente. “Não para matar, mas para testar meu coração.”


Nos dias que se seguiram, o rancho mergulhou em um silêncio esticado como um arco. Naola ficou, não mais a moça amarrada no deserto, mas uma mulher renascida das cinzas.

Pelas manhãs, ela trabalhava nos campos com Ronan. Ele a ensinou a prender uma sela, a domar um cavalo com a voz em vez do chicote. Ela o ensinou a ler o vento em busca de sinais de tempestade e a rastrear a pegada de um lobo na areia. Eles falavam pouco, mas cada gesto carregava o peso da confiança.

Em uma tarde, Ronan alinhou algumas latas na cerca. Ele entregou a ela seu revólver Colt. “Você disse que seu pai te ensinou a lutar com lanças e mãos nuas. Hoje, experimente minha arma.”

Naola pegou a arma. Seu aperto era firme, mas a mão tremia levemente. O primeiro tiro errou por muito. Ele não riu, apenas acenou com a cabeça. “Vento contrário. Tente de novo.”

Ela apertou os olhos, respirou fundo e puxou o gatilho. Bang. A lata voou da cerca, girando através do crepúsculo dourado. Ela se virou para ele, os olhos presos entre surpresa e orgulho. “Eu aprendo rápido, não aprendo?”

“Até demais. Só não a aponte para mim.”

Ela riu. Um som áspero, estranho, mas real e belo.


Naquela noite, eles se sentaram perto do fogo. Ronan consertava uma sela e Naola costurava uma bolsa de couro rasgada.

“Na nossa tribo,” ela disse suavemente, “quando um homem salva a vida de uma mulher, eles chamam de dívida de sangue. Mas eu não quero pagar com sangue.”

Ronan olhou para cima. “Como você quer pagar?”

“Vivendo.”

O fogo projetava suas sombras pela parede. Naquela luz bruxuleante, Naola parecia uma estátua de bronze viva. Rosto escurecido pelo sol. Ombros fortes, olhos queimando brilhantes, uma beleza selvagem e livre que fez Ronan se desviar para esconder o que se agitava em seu peito.

Ela se levantou e foi para a varanda. A brisa do deserto carregava o cheiro de grama seca e terra úmida. “É pacífico aqui,” ela disse. “Mas a paz não dura muito nesta terra.”

“Eu sei,” Ronan respondeu. “É por isso que reconstruímos tudo, uma tábua, um pedaço de confiança de cada vez.”

Juntos, eles levantaram uma nova cerca, consertaram o estábulo e replantaram as sementes secas. A cada anoitecer, à medida que o sol se esvaía, a luz dourada se instalava em sua pele, e ele não conseguia distinguir se ela era real ou um sonho feito de fogo e vento.

Uma vez, ele a viu parada sozinha no campo, a mão repousando no local onde as cordas haviam cortado profundamente. Ela fechou os olhos e sussurrou: “Onde havia correntes, agora há respiração.”

Ele caminhou até ela, não disse nada, e pegou sua mão. Os dois ficaram ali no crepúsculo vermelho e ardente, duas almas de mundos diferentes compartilhando uma terra, onde a confiança começava a crescer novamente.


O céu do sul havia começado a mudar. Nuvens escuras flutuavam das montanhas distantes, sinalizando as primeiras chuvas após meses de seca escaldante. Ronan estava na varanda, a camisa encharcada de suor e poeira, observando raios cortarem o céu.

Ao ar livre, Naola ainda conduzia um cavalo, imperturbável pelo vento e pela areia que picava sua pele.

Ele gritou: “Entre! Há raios!”

Ela se virou, o cabelo chicoteando no vento, a luz da tempestade piscando em seu rosto bronzeado pelo sol. “Eu cavalguei em tempestades de neve. Trovões não me assustam, mas tenho medo de perder você.”

As palavras irromperam, repentinas e poderosas como o próprio trovão. Naola congelou, depois sorriu. Um sorriso raro, suave como a chuva tocando a areia.

A chuva caiu de uma vez. Gotas pesadas batiam no telhado de zinco, lavando a poeira vermelha da terra. Ronan saiu da varanda e correu em direção a ela, agarrou sua mão e a puxou de volta.

A chuva caía como uma cortina de prata envolvendo seus corpos. Naola inclinou o rosto para o céu, seus ombros nus reluzindo. “Esta chuva pertence à terra,” ela disse suavemente. “Ela lava o sangue e o pecado, e mantém aqueles que merecem ficar.”

“Eu só quero segurar você na luz real.”

“A luz não pertence a ninguém,” ela murmurou. “Mas esta noite, eu a compartilharei com você.”

Ela colocou a mão no peito dele. E ali, sob a chuva, seus lábios se encontraram. Quente, lento, trêmulo. Não mais resgatador e resgatada. Apenas duas almas que haviam se encontrado na selva.


Naquela manhã, a chuva havia acabado de passar. O orvalho cobria a grama jovem e o cheiro de terra úmida subia como a fragrância de uma nova vida. Ronan acordou cedo e encontrou Naola parada na varanda, o cabelo ainda molhado, segurando o pingente de prata gravado com a águia, a marca de um chefe.

“Meu pai virá hoje,” ela disse suavemente.

Ronan assentiu. Ele sabia que esse confronto não poderia ser evitado.

Ao meio-dia, o sol se ergueu sobre as montanhas, derramando luz dourada sobre o vale. Da trilha, cinco guerreiros Apache apareceram. O Chefe Tay liderava o caminho. O ar parecia pesado, como antes de uma tempestade. Eles não carregavam armas erguidas. Mas cada olhar era um aviso.

Tay desmontou e subiu até a varanda. Ele olhou para a filha, não mais uma criança assustada, mas uma mulher com a postura de uma guerreira.

“Você escolheu um caminho diferente,” ele disse calmamente.

“Eu escolhi a vida, pai,” Naola respondeu calmamente. “E este homem me ensinou a acreditar nas pessoas novamente.”

Tay ficou em silêncio por um momento. Então, ele pegou um pano vermelho escuro de uma bolsa de couro, mergulhou-o numa tigela com água, manchando-o com a marca de sangue antigo. “Em nossa tribo,” ele disse, “esta cor representa um juramento de sangue: de vingança ou de paz.”

Ele se virou para Ronan. “Você salvou minha filha, mas o coração dela não pertence mais à tribo. Então me diga, você quer honra ou vida?”

Ronan respondeu: “Eu só quero estar ao lado daquela que salvei, agora que ela não precisa mais ser salva.”

O vento aumentou, levantando areia no pátio. Um guerreiro alcançou sua lâmina, mas Tay levantou a mão para impedi-lo. Ele deu um passo à frente e estendeu o pano vermelho para Ronan.

“Se você usar isso, você pertence à nossa tribo. Se você o jogar fora, então deixe esta terra para sempre.”

Ronan olhou para Naola. O olhar dela não dava ordens, apenas um convite. Ele enrolou o pano em seu pulso e o apertou. “Eu escolho ficar.”

Houve um breve silêncio. Então, Tay assentiu. “Então você não é mais um estranho. Você faz parte deste sangue e da minha filha.” Ele se virou para Naola, um leve sorriso cruzando seu rosto. “Ela está livre.”

Ele montou em seu cavalo. Os guerreiros viraram e cavalgaram para longe sem ameaças, apenas o som de cascos desaparecendo no vento.

Naola se aproximou de Ronan e tocou o pano vermelho em seu pulso. “Você sabia,” ela disse. “Na nossa tribo, quando duas pessoas usam a mesma cor de sangue, isso significa que estão casadas.”

Ronan riu gentilmente, puxando-a para mais perto. “Então, descobrimos que já estamos casados e nem sabíamos.”

A leste, o sol se ergueu após a tempestade, lançando luz dourada sobre eles. Ela encostou a cabeça no peito dele e sussurrou: “Eu fui uma vez capturada na dor. Agora, eu quero ser vista na luz da liberdade.”

Ronan a abraçou apertado. “Liberdade é a única coisa que eu tenho para dar.”

Eles ficaram na alvorada, enquanto a areia seca começava a se suavizar e a terra vermelha brilhava, curada de feridas e sombras. Eles haviam construído algo novo. Coragem não é a ausência de medo. É a escolha de continuar avançando, mesmo quando o medo queima em seu peito. Ronan e Naola lutaram para provar que o que é certo não pertence à cor da pele, à linhagem de sangue ou à lei. Pertence àqueles que ousam se levantar quando o mundo permanece em silêncio. E esse tipo de coragem, é o que faz até o deserto florescer.

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