“Não Desamarre, Apenas Faça!” A Mulher Marcada Implora Pela Morte, Mas o Pistoleiro Gasto Recusa o Pedido e Escolhe Agir Por Justiça Própria.

O sol era cruel, queimando tudo o que tocava. A terra rachava sob seu peso, e o ar tremia como vidro.

No meio daquele silêncio ardente, uma jovem cambaleava na grama alta e seca. Seus pulsos estavam amarrados à frente. As cordas cravavam-se na pele, deixando rastros sangrentos. A respiração era irregular. Cada passo era uma guerra que ela estava perdendo.

Ela caiu. O chão rasgou seus joelhos, a poeira encheu sua boca, sufocando-a.

Por um longo momento, ela ficou imóvel, enquanto o calor a pressionava contra a terra como uma crucificação. Então, seus olhos captaram algo à frente: um barril quebrado, velho, rachado, meio enterrado no solo seco.

Ela engatinhou até ele, arrastando as mãos amarradas como correntes. Ao alcançá-lo, tentou se levantar, mas a madeira se desfez, deixando farpas nas palmas. Mesmo assim, ela se apoiou nele. Era a única coisa a que podia se agarrar.

Seu vestido estava esfarrapado, manchado de sangue e poeira. O cabelo grudava em seu rosto em mechas úmidas. Moscas pousavam em seus braços, lábios e feridas abertas. Ela tentou afastá-las, mas as mãos estavam muito fracas.

Um sussurro escapou, seco como a areia. “Por favor, Deus. Assim não.”


O som de cascos cortou o silêncio. Lento, constante, cada vez mais perto. O corpo dela enrijeceu. Seu olhar disparou para o horizonte. Um cavalo. Um cavaleiro, alto, silencioso. O sol atrás dele o transformava numa silhueta negra contra a luz ofuscante.

O pânico acendeu-se dentro dela, mas suas pernas não obedeciam. O corpo havia desistido. A mente, não.

Ela pressionou a testa contra a madeira quente do barril e sussurrou: “Só não de novo, por favor, não de novo.”

O cavaleiro parou a poucos passos. O cavalo bufou, batendo o casco na poeira. Um som de passos e esporas. Uma sombra cobriu-a.

Ela levantou a cabeça. Os olhos semicerrados, o olhar turvo. O rosto do homem estava obscurecido pelo sol, mas ela viu o revólver em seu cinto.

Seu coração bateu uma, duas vezes, e diminuiu. Ela exalou, quase inaudível.

“Não desamarre. Apenas faça.”


O homem parou. O vento cessou. Apenas o zumbido das moscas e o ranger da sela quebravam o silêncio.

Ele a observou. Os hematomas, a marca de ferro em sua mão, a sujeira em cada linha de seu rosto.

Ele tirou o chapéu, permitindo que o sol iluminasse seu rosto curtido. Chamava-se Jack Callahan, 58 anos. Um homem que perdera tudo, mas que ainda não se esquecera de fazer o que era certo.

Jack vira a morte. Causara a morte. Mas aquilo era diferente. Aquela era a crueldade marcada na pele. Assim era o inferno à luz do dia.

Ele se ajoelhou ao lado dela. “Moça, você está segura,” ele disse baixinho.

Ela riu. Um som quebrado, frágil. “Segura.” A voz dela falhou. “Não há segurança enquanto ele viver.”

Os olhos de Jack se estreitaram. “Quem?”

Ela olhou para ele. Pupilas dilatadas, lábios trêmulos. “Wade,” ela sussurrou.

O corpo dela relaxou, a cabeça tombou para frente. Ela desabou em seus braços, a respiração quase imperceptível.


Jack a segurou antes que atingisse o chão. A pele dela queimava de febre. Ele a levantou facilmente, frágil como uma boneca de pano. Olhou para a distância, o maxilar apertado. O nome ecoou em sua memória. Wade. Ele o conhecia. O odiava.

Ele olhou para a mulher em seus braços, os pulsos feridos, o pulso fraco, e em seu silêncio ouviu algo que não ouvia há anos: responsabilidade.

“Bem, moça,” ele murmurou. “Você escolheu a pessoa errada para pedir a morte. Eu não sou quem vai matá-la.”

Ele a colocou no cavalo, montou e virou em direção ao vale. O sol ardia em suas costas, o vento trazia cheiro de graxa e sangue. Em algum lugar distante, um corvo gritou. Jack não olhou para trás.

Ele ficou ali por um longo tempo, observando a moça em seus braços. As cordas em seus pulsos pareciam mais antigas que o medo dela. Ele tirou a faca e as cortou. Ela estremeceu quando a tensão desapareceu. Os braços caíram, a pele em carne viva.

“Calma,” ele murmurou roucamente, com pesar.

Ela não respondeu. Seus olhos reviraram, o corpo flácido novamente. Ele olhou mais uma vez para o horizonte. Nenhuma poeira, nenhum cavaleiro, apenas o ar pesado e o canto estridente das cigarras.

Ele a colocou no cavalo, segurando-a perto, e cavalgou de volta. A jornada foi silenciosa, exceto pelo vento. A cada poucos minutos, ela se encolhia, sussurrando algo incoerente: nomes, lugares, fragmentos de orações. Ele não ouviu. Há muito tempo entendera que a dor falava sua própria língua.


Quando chegaram ao rancho, o sol já estava se pondo atrás das colinas. O lugar era velho, parecendo cansado e mudo. A tinta nas cercas havia descascado há muito, e o celeiro estava inclinado, como se tivesse desistido anos atrás. Não era um lar, mas era seguro.

Jack deitou a moça em uma cama no quarto sobressalente, despejou um pouco de água do jarro e molhou seus lábios. Ela se mexeu, mas não abriu os olhos. A febre ainda a queimava.

Ele se sentou ao lado dela, o homem que uma vez jurara nunca mais salvar ninguém. Já havia enterrado muitos. E, no entanto, ali estava ele novamente.

Quando ela finalmente abriu os olhos, a primeira coisa que fez foi levar as mãos aos pulsos. Olhou demoradamente para as marcas da corda, depois para ele.

“Você me desamarrou,” ela sussurrou.

“Pareceu o certo a fazer,” ele respondeu baixinho.

O olhar dela estudou seu rosto. Primeiro cauteloso, depois mais suave. “Por que você me ajudou? Você nem me conhece.”

Jack deu de ombros. “Acho que não preciso. Você parece alguém que já teve dor suficiente para uma vida inteira.”

Ela desviou o olhar, os lábios tremendo. “Meu nome é Clara. Eu era professora no Leste.”

Ele assentiu. A palavra professora soava estranha naquela terra desértica. “O que você estava fazendo aqui, Clara?”

Ela hesitou. “Pensei que estava vindo para dar aulas, mas eles mentiram. Disseram que era uma escola. Mas não era uma escola.”

Jack olhou para ela longamente, sem perguntar mais. Não precisava. Ele conhecia aquele olhar, o via naqueles que haviam sobrevivido ao pior.

Lá fora, o vento aumentou, trazendo o cheiro de chuva distante. Jack virou-se para a porta. Havia muitas perguntas, mas nenhuma exigia resposta naquela noite.

Ao sair para o crepúsculo, um pensamento lhe veio: se Clara Wynn estava dizendo a verdade, o próprio Diabo havia retornado a Montana.


A manhã seguinte estava silenciosa, estranhamente silenciosa. Jack estava dando água ao cavalo no bebedouro. O calor já subia. O ar tremia acima do chão.

Clara estava sentada na varanda, vestindo uma de suas camisas velhas, olhando para o horizonte, como se algo ainda a estivesse perseguindo. Ela falava pouco, Jack perguntava pouco, e isso servia a ambos.

Ao meio-dia, as cigarras abafavam tudo, e o ar cheirava a poeira e trovoadas. Foi então que Jack ouviu cascos, não da cidade, mas da estrada sul.

Ele levantou o olhar. A mão pousou no coldre.

Um cavaleiro apareceu na estrada. Lentamente, o cavalo mancava. Uma mulher saltou da sela antes mesmo que o cavalo parasse. O vestido dela estava coberto de poeira da estrada.

Jack piscou uma vez, depois de novo. “Eliza,” ele sussurrou.

Ela parecia mais magra do que ele se lembrava. O cabelo emaranhado, o rosto pálido.

“Eu decidi,” a voz de Eliza tremia. “Jack, eu não sabia para onde mais ir.”

Jack franziu a testa. Eliza Reed, a esposa de Tom. “Garota, você parece ter passado pelo inferno. O que aconteceu?”

Ela não respondeu imediatamente, apenas pegou uma pequena caixa de madeira na bolsa da sela. Ela a segurava com força, como se temesse que fosse desaparecer.

“Eu trouxe algo. Você precisa ver isso.”

Jack pegou a caixa. Era mais pesada do que parecia. Dentro, papéis, cartas, nomes cuidadosamente escritos, recibos, dinheiro e algo que gelou o sangue de Jack: a caligrafia de Tom.

“Eliza,” ele disse baixinho. “O que é isso?”

A voz dela falhou. “É tudo, Jack. Tudo o que Wade fez, e como Tom estava envolvido.” Ela soluçou. “Eu tentei pará-lo, implorei, mas ele disse que Wade o possuía e que não havia saída a não ser a morte.”

O maxilar de Jack se apertou. Ele olhou novamente para os papéis, nomes de mulheres, quantias, datas. A tinta ainda estava fresca. Algo frio e mau escorregou por suas costas.

“Eliza, você não deveria ter trazido isso. Se Wade descobrir, ele enviará homens.”

“Eu sei,” ela sussurrou. Lágrimas brilharam em seus olhos. “É por isso que eu vim até você. Você é o único que ele teme.”

Jack não respondeu. Apenas olhou para o horizonte. O sol refletia nos campos, na aba de seu chapéu. Ele quase sentiu a tempestade, vinda de longe, aproximando-se a cada segundo.

Clara saiu para a varanda. Havia medo em seus olhos. Pela primeira vez, ela viu Eliza.

Agora, três vidas estavam interligadas pelo medo, pelo sangue e pelo mal de um único homem. Jack ergueu a caixa como se fosse uma maldição.

“Se Wade está vindo,” ele murmurou, “então o inferno está vindo com ele.”


O sol batia impiedosamente naquela manhã. Jack cavalgou como um homem que havia feito uma escolha. Atrás, o rancho diminuía na névoa trêmula. À frente, a planície vazia se estendia em direção à igreja em ruínas de que Eliza falara.

Ela implorara para que ele não fosse sozinho. Clara estava em silêncio, apenas observando da varanda com um olhar que sempre significava um adeus.

O ar tremia de calor. A poeira grudava em seu casaco, o suor em seu pescoço. Cada poste de cerca era como uma lápide para almas perdidas.

Quando a torre apareceu, o mundo ficou em silêncio. Apenas moscas e vento. A igreja estava meio desmoronada, coberta de ervas daninhas, sem janelas, as portas quebradas.

Jack desmontou, amarrou o cavalo à trave. “Ei, tem alguém aqui?” ele gritou.

A única resposta foi o eco.

E de repente, uma voz vinda das sombras. “Sempre pensei que você morreria lentamente, Capitão.”

Jack virou a cabeça. Corbin. O braço direito de Wade. Um homem com quem ele havia lutado uma vez, quando a lei e o caos eram a mesma coisa.

“Então Wade o enviou.”

Corbin sorriu com maldade. “Ele me disse para lembrá-lo do seu lugar. Não se meta nos negócios dele.”

Jack pousou a mão no coldre. “Eu não estou nos negócios dele. Estou limpando-os.”

O sorriso de Corbin desapareceu. O mundo parou.

Jack disse baixinho: “Você ainda pode ir embora, garoto.”

E então veio o som que não precisava de palavras. Duas pistolas foram sacadas. O tiro rachou o silêncio. A poeira subiu. Jack cambaleou. A bala queimou seu ombro.

Corbin caiu de joelhos. O sangue escureceu na poeira. Ele tentou dizer algo, mas o vento levou suas palavras.

Jack ficou de pé, respirando pesadamente. Fumaça subia do cano. Perto da mão do morto, algo brilhou. Um isqueiro de latão.

Ele o pegou. Havia arranhões na lateral. Pixie, Tom, Clara.

O vento mudou, trazendo o cheiro de chuva e pólvora. Jack fechou o punho, seus olhos ardendo. Ele olhou para o oeste, onde as nuvens se acumulavam.

“Bem, irmãozinho,” ele sussurrou. “Se é assim, então venha por mim.”

O trovão ecoou pela planície. As primeiras gotas de chuva caíram na poeira, como sangue. E em algum lugar, além da tempestade, Tom Callahan já estava voltando para casa.


A chuva começou de repente, fria, forte. Lavando a poeira e o sangue do chão.

Jack cavalgou pela tempestade, uma mão pressionando o ombro ferido, a outra apertando as rédeas. Raios rasgavam o céu, iluminando o caminho para casa. Ele não rezou, apenas sussurrou o nome do irmão.

Quando o rancho apareceu à distância, a tempestade já castigava o vale. A porta do celeiro batia ao vento. Clara estava na varanda com uma lanterna. Atrás dela, Eliza gritou dentro da casa.

Jack pulou do cavalo e invadiu. Tom estava lá. Molhado, zangado, dilacerado por uma mistura de fúria e remorso. A pistola em suas mãos, mas seus olhos eram mais assustadores. Cheios de vergonha.

“Por quê, Tom?” A voz de Jack estava cansada, não irada. “Você poderia ter vivido honestamente, poderia ter sido melhor.”

“Eu tentei,” Tom sussurrou. “Mas Wade possui tudo. A lei, as pessoas, a mim.”

“Você fez sua escolha,” disse Jack suavemente. “Mas você pode escolher de novo.”

A mão de Tom tremeu. Um tiro. Um único tiro.

Quando a fumaça se dissipou, Tom estava no chão. O sangue encharcava as tábuas velhas, as mesmas onde um dia eles aprenderam a andar.

Os olhos de Tom procuraram o rosto do irmão. “Ser bom não salva ninguém.”

Jack balançou a cabeça. Lágrimas se misturaram com a chuva. “Salva você. Agora.”

O peito de Tom subiu uma vez e parou. O vento cessou. O trovão se afastou para as montanhas.

Jack saiu para a chuva. Clara estava ao lado dele, abraçando Eliza. Palavras eram desnecessárias. Ele assentiu brevemente, mas significativamente.


Ao amanhecer, a tempestade havia passado. Jack selou dois cavalos e estendeu a Clara um livro antigo: Grandes Esperanças. As páginas estavam desgastadas, a lombada quebrada.

“É tudo o que resta da sua vida anterior,” ele disse. “Pegue. Ensine de novo. Faça com que isso signifique algo.”

Ela sorriu fracamente. “E você? Você virá conosco?”

Jack olhou para as colinas do norte, onde a luz da manhã tocava a grama molhada. “Eu vou um pouco. Tenho assuntos a resolver.”

Quando eles se separaram, o sol rompeu as nuvens. E pela primeira vez em muitos anos, a terra parecia limpa.

Às vezes, a bondade não muda o mundo, mas muda os corações que ainda são capazes de ouvir. E talvez isso seja o suficiente.

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