Minha mãe era viciada em jogos, eu pagava 1.600 por mês das dívidas dela — até que um dia ela gritou na minha cara: ‘ladra, sai da minha casa!

É a última vez, eu prometo. hoje é meu dia de sorte. só vou dar uma passadinha no cassino.

essa foi a terceira vez que ouvi minha mãe dizer isso naquela semana.

ela saiu de casa sem preparar o jantar, sem se despedir direito. e desapareceu. de novo.

minha mãe era viciada em apostas. foi esse vício que destruiu o casamento dela com meu pai. quando se divorciaram, ela chorou, implorando:

– eu vou mudar… venham comigo, por favor. não consigo viver sozinha.

eu e meu irmão william acreditamos. fomos morar com ela. seis meses depois, meu irmão viu ela trocando prêmios no cassino. no mesmo dia em que disse estar fazendo um turno extra num bar.

– mãe, você mentiu pra gente?

– sou sua mãe. por que mentiria? eu cozinho, limpo, trabalho. só queria aliviar o estresse um pouco.

naquela época, minha mãe sustentava tudo sozinha. meu pai estava doente e internado, e nós ainda éramos muito jovens para ajudar com despesas. ela fazia turnos duplos, dia e noite. tínhamos essa dívida de gratidão com ela. por isso meu pai aguentou por tantos anos. por isso nós também aguentamos.

mas a promessa de “vou mudar” nunca durava. três anos depois que comecei a trabalhar numa imobiliária, encontrei uma carta de cobrança de cartão de crédito.

– mãe, isso aqui é um aviso de dívida! você está apostando de novo?

– não! isso é… diferente…

– diferente como, mãe?

ela caiu no choro.
– me desculpem. comecei com pouco, juro. mas fui perdendo e só queria recuperar. perdoa a mamãe…

lembrei de quando conversamos sobre cassinos. que ninguém fica rico jogando. que se existisse uma fórmula mágica, não venderiam em revistas por 12 dólares.

– se você soubesse um truque infalível, venderia ele por esse preço?

– claro que não – ela admitiu.

– então por que acredita nisso?

ela ficou em silêncio. eu e william já sabíamos: ela era mais vítima do próprio desejo do que do cassino em si.

quando verificamos, ela devia 1.600 dólares só de juros. combinei com ela: eu pagaria a dívida e assumiria o controle das finanças da casa.

eu tinha um sonho: que william fosse para a universidade. eu mesma tinha desistido por falta de dinheiro. e ele sabia disso.

– mana, não precisa se sacrificar por mim…
– preciso, sim. você tem talento.

mas o dinheiro do nosso pai, reservado pra minha universidade, minha mãe gastou no cassino anos atrás. william ouviu isso sem querer. e mesmo assim, nunca contou pro nosso pai. não queria que ela fosse mal falada de novo.

comecei a trabalhar em tempo integral, paguei as dívidas da minha mãe e banquei os estudos do william. minha vida era trabalho, contas e café instantâneo.

até que um dia, precisei pagar a coleta do jornal. peguei a carteira da minha mãe na mesa. quando ela me viu com a carteira na mão, surtou:

– você roubou meu dinheiro, dorothy?

ela gritou. william correu da sala assustado. tentei explicar, mas ela não escutava.

– sua ladra! sai dessa casa agora!

fiquei em choque. eu, que pagava as dívidas dela. eu, que sustentava a casa. e ela me chamava de ladra?

olhei para william.

– vamos embora. agora.

ele não hesitou. em poucos minutos, arrumamos roupas e cadernos e saímos.
antes de fechar a porta, ela gritou:

– nunca mais voltem!

meio mês depois, ela ligou. estava desesperada:
– dorothy, me desculpa. estou sem dinheiro… preciso de ajuda…

respondi com frieza:

– você disse que não era mais nossa mãe. que não deveríamos voltar. então cuide disso sozinha.

ela ligou para william também. tentou se fazer de mãe preocupada. ele me pediu que nos encontrássemos com ela uma última vez. aceitei.

ela apareceu no nosso novo apartamento. ficou impressionada:

– nossa, dorothy está mesmo ganhando bem?

– sim – respondeu william – ela até tem um segundo emprego. e paga tudo em dinheiro.

– segundo emprego? – ela me olhou surpresa.

– você achou que eu pagava 1.600 dólares por mês só com meu salário?

eu tinha um canal no youtube. postava resenhas de livros desde os tempos de biblioteca pública. aos poucos, começou a render.

– agora que sabe que estamos bem, pode ir – eu disse.

ela tentou chorar. implorar.
– me perdoa. eu estava fora de mim…

– não acredito mais em você – respondi. – me chamou de ladra, mãe. isso não se apaga.

william tentou acalmá-la. mas de repente, ela gritou:

– ingratos! não preciso de vocês!

derrubou café, bolo e saiu batendo porta.
ficamos imóveis. depois… caímos na risada.

meses depois, william passou na faculdade. eu estou noiva. nossa vida seguiu.

segundo parentes, minha mãe faliu. mas continua frequentando cassinos.

eu e william? estamos construindo uma nova vida. longe de promessas quebradas.

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