Seus passos leves ecoavam pelas ruínas onde as sombras pareciam sussurrar ameaças invisíveis. Elara, uma garota frágil mas com o olhar endurecido pela sobrevivência, parou. Ela sentia o perigo na quietude pesada que pairava sobre as ruas quebradas.
Em meio a metal retorcido e poeira de concreto, ela avistou um corpo. Um homem, mal se agarrando à vida. O medo percorreu sua espinha como gelo. No entanto, algo mais forte a impeliu a se aproximar daquele estranho silencioso. Seus ferimentos eram profundos, rastros de sangue marcando o chão de uma luta desesperada e invisível. Ela tremeu, imaginando quem teria deixado aquele homem para morrer no ermo esquecido da cidade.
Segurando sua última garrafa de água, Elara ajoelhou-se ao lado dele com uma resolução silenciosa. Na luz fraca do crepúsculo, suas mãos tremiam enquanto ela inclinava a garrafa em direção aos lábios rachados dele.
O homem engasgou, os olhos se abrindo em terror, como se fugisse de horrores que apenas ele podia ver. Elara recuou, o coração disparado. Ele seria uma vítima ou uma ameaça disfarçada?
Um clangor metálico ecoou por perto. Alguém os observava na escuridão. Ela varreu o beco com os olhos, mas apenas os escombros instáveis responderam à sua busca frenética. O homem agarrou o pulso dela. Seu aperto era fraco, trêmulo, mas desesperado. — Corra… — ele sussurrou, um aviso que ela mal pôde compreender.

O que quer que o estivesse caçando, ela percebeu, estava muito mais perto do que ela temia. Uma sombra deslizou pelos escombros, alongando-se sob o sol poente. Ela sentiu a presença apertando o ar ao redor deles como uma armadilha prestes a disparar. O homem tentou ficar de pé, mas desmoronou, implorando com olhos pesados de segredos. Elara sabia que ajudá-lo significava entrar em uma história muito maior do que a simples sobrevivência.
Agarrando-se à coragem, ela o arrastou em direção a um abrigo quebrado, envolto em fumaça. Em algum lugar atrás deles, passos ecoaram. Calmos. Deliberados. Aproximando-se.
A porta enferrujada do abrigo rangeu ao abrir, revelando uma escuridão densa de poeira. Ela puxou o homem para dentro, torcendo para que as sombras escondessem o rastro de sangue. A respiração dele ficou mais áspera, cada suspiro tremendo com desespero silencioso. Elara rasgou a barra de seu vestido gasto, procurando estancar o sangramento que encharcava a camisa dele.
Lá fora, passos lentos traçavam círculos, como um predador saboreando a caça. O coração de Elara batia com um medo que ela nunca conhecera antes. O homem tentou falar novamente, mas apenas fragmentos de sussurros quebrados escaparam. Algo sobre uma traição, um acordo e alguém que queria apagá-lo da existência. Ela não entendia os detalhes, mas o terror nos olhos dele dizia o suficiente.
Quem quer que o caçasse não era apenas perigoso. Era implacável.
Um leve clique metálico lá fora fez a respiração dela prender na garganta. Ela pressionou um dedo nos lábios, pedindo silêncio. O estranho lá fora bateu ritmicamente em um pedaço de metal, como se sinalizasse para alguém invisível. O padrão era muito constante, muito deliberado para ser ruído aleatório.
Elara olhou para o homem. Os olhos dele se arregalaram com súbito reconhecimento. Ele articulou uma palavra sem som que congelou o sangue dela. Rastreador.
O pulso dela trovejou enquanto as batidas ficavam mais nítidas, mais impacientes. Eles tinham apenas momentos antes que a descoberta destruísse sua frágil segurança. Ela pegou um caco de espelho quebrado deitado na sujeira. Inclinando-o cuidadosamente, ela angulou o reflexo para o beco externo.
Uma figura alta estava parada, imóvel. O rosto estava escondido atrás de um capuz chamuscado. A figura escaneava os escombros com precisão mecânica, calculando. Elara baixou o caco, temendo que até a luz pudesse trair sua posição. O homem apertou a mão dela fracamente, grato pela coragem.
Um estrondo repentino ecoou pelas ruínas, enviando pássaros em revoada para o céu. A figura encapuzada virou-se bruscamente, atraída pelo barulho como uma isca. Elara exalou alívio, mas o homem balançou a cabeça. Isso não era segurança. Quem quer que tivesse feito aquele barulho tinha suas próprias intenções perigosas esta noite. Nada sobre aquela noite parecia acidental. Cada passo parecia orquestrado.
Elara engoliu em seco. Sobreviver exigiria mais do que se esconder. — Por que eles estão atrás de você? — ela sussurrou, mal respirando a pergunta. A resposta dele a fez vacilar. — Porque eu vi o que não deveria ter visto. As palavras carregavam peso. Um peso cheio de perigo que ela ainda não conseguia compreender.
Lá fora, o vento varria a poeira sobre sucatas de metal como avisos fantasmagóricos. O homem lutou para ficar de pé, agarrando o braço dela para se equilibrar. Suas pernas tremiam violentamente. Ela se posicionou ao lado dele, guiando-o através dos destroços retorcidos. Cada canto guardava sombras que pareciam se mover com olhos ocultos. O ar estava espesso de pavor, como se as próprias ruínas observassem.
Ele apontou para uma torre distante, meio colapsada, mas ainda erguida contra o céu noturno. — Lá é onde tudo começou — ele rasparou, a voz quase inaudível.
Elara estreitou os olhos, estudando a torre que se erguia dos destroços. Ela não sabia por quê, mas algo nela parecia frio e errado. Ir para lá significava caminhar para o perigo, mas ficar significava morte certa. Ela assentiu devagar. O único caminho a seguir era em direção à verdade.
Enquanto atravessavam um pátio vazio, um som familiar retornou. Toc. Toc. Toc. O som de batidas, fraco, distante, mas ecoando com precisão implacável. O Rastreador encapuzado encontrara o rastro novamente.
O homem instigou-a a seguir em frente, embora a dor esculpisse linhas em seu rosto. Elara apertou o aperto nele, recusando-se a deixá-lo para trás. A silhueta da torre agigantava-se, sussurrando segredos ao vento. Uma viga caída bloqueou o caminho, forçando-os a entrar em uma passagem estreita. As paredes do beco erguiam-se altas, prendendo-os em um aperto sufocante.
O homem congelou de repente, ouvindo algo que ela ainda não detectara. Segundos depois, ela ouviu também. Respiração suave. Não pertencia a eles. Alguém esperava no escuro à frente, imóvel e paciente. Elara agachou-se, tateando o chão. Seus dedos roçaram um cano enferrujado, frio e pesado. Ela o ergueu com cautela, recusando-se a permanecer indefesa neste pesadelo.
— Fique atrás de mim — o homem sussurrou, tentando protegê-la mesmo em seu estado. Passos se aproximaram, lentos e deliberados. Elara levantou o cano mais alto, o medo se afiando em bravura bruta. Uma silhueta emergiu. Pequena, curvada, movendo-se estranhamente. Por um momento, ela respirou aliviada, pensando que não era o Rastreador. Mas então a figura se aproximou, revelando olhos famintos de um saqueador. Ele atacou.
Elara balançou o cano com força inesperada. O impacto mandou o saqueador tropeçando para trás, gemendo de choque e dor. Ela nunca havia lutado antes, mas o instinto guiava cada movimento. O saqueador rosnou, estendendo mãos como garras em direção a ela. Antes que pudesse agarrá-la, o homem ferido o empurrou com suas últimas forças. O saqueador fugiu, aterrorizado pela súbita explosão de resistência.
A vitória foi breve, mas comprou segundos preciosos. Eles avançaram, cada passo mais pesado que o último. A entrada da torre estava perto agora, a apenas algumas ruínas de distância. Mas cada instinto gritava perigo. Elara forçou-se a continuar. Dentro da torre, o frio era mais intenso do que a noite lá fora. As paredes estavam gravadas com símbolos que ela não entendia, afiados e irregulares.
— Alguém marcou este lugar — sussurrou o homem, a voz trêmula. Elara tocou um símbolo, sentindo-o pulsar fracamente sob sua mão. Algo antigo e perigoso vivia dentro daquelas paredes. Luzes piscavam acima, embora nenhuma energia devesse existir ali. — Não toque em nada — ele avisou com urgência.
Atrás deles, o som de batidas retornou. Mais perto. Uma porta metálica selou-se atrás deles com um eco trovejante. Elara girou, assustada pelo súbito isolamento. — Só há um caminho agora — murmurou o homem, apontando para uma escada estreita em espiral.
Eles subiram na escuridão, guiados apenas pelo instinto e desespero. As escadas rangiam, sombras se esticavam anormalmente. No topo, uma câmara fraca aguardava, iluminada por uma única lâmpada moribunda. No centro, um terminal empoeirado piscava com luz fraca. O homem cambaleou em direção a ele, digitando fracamente com mãos trêmulas. — É isso que eles querem destruir — ele ofegou.
Linhas de dados ocultos preencheram a tela rachada. Elara não entendia os códigos, mas sentia a verdade neles. O homem virou-se para ela, olhos queimando com determinação exausta. — Eu tenho que expor isso. Ou todos lá fora pagarão o preço.
Um estrondo distante sacudiu a poeira do teto. O Rastreador entrara na torre. O homem pediu que ela se escondesse, mas Elara balançou a cabeça com desafio. Ela se posicionou perto da entrada, segurando seu cano com força. O medo tremia dentro dela, mas ela permaneceu firme. Os passos ficaram mais altos. O som de uma sentença final.
O homem digitava mais rápido. A maçaneta da porta girou lentamente. Uma voz mecânica profunda vazou pela fresta. — Eu sei que vocês estão aí. Entreguem o drive e morram rapidamente.
A porta rangeu, revelando a forma imponente do Rastreador encapuzado. Metal frio brilhava ao seu lado. O homem sussurrou o nome dela, implorando para que ela ficasse escondida, mas Elara colocou-se entre ele e a ameaça. O Rastreador parou, surpreso pela pequena figura bloqueando seu caminho. Sua máscara inclinou-se, estudando-a.
Ele atacou. Metal rangendo como uma besta feita de facas. Elara balançou o cano com toda a sua força. O golpe rachou a máscara dele. Faíscas explodiram enquanto ele tropeçava para trás, atordoado pelo poder inesperado dela. Atrás dela, o homem completou o upload final. Um alarme gritou, ganhando vida. — Vamos! — ele gritou.
Ela agarrou a mão dele e eles correram enquanto a torre começava a colapsar, engolindo o rugido do Rastreador. A poeira girava ao redor deles enquanto tropeçavam para a luz do sol nascente, sem fôlego. Atrás deles, a torre desmoronou em um rugido violento, enterrando o perseguidor para sempre.
Elara virou-se para o homem ferido. Em seus olhos, agora, ela via força, não fraqueza. — Você me salvou — ele sussurrou. — E salvou a verdade. O mundo saberá por sua causa.
Pela primeira vez, Elara sentiu o peso do que havia feito e o poder que carregava. De mãos dadas, eles caminharam em direção ao amanhecer, para sempre ligados pelo milagre da coragem nascido nas sombras.