A chuva batia com força no teto de metal da tenda médica em Fort Hawthorne. Sarah Cole estava ali há apenas quatro meses. Para os outros soldados, ela era só mais uma médica, silenciosa e sempre pronta com um kit de primeiros socorros. Ninguém sabia do seu passado. Ninguém sabia que ela já havia sido uma médica de voo em outra unidade, treinada para ir a zonas de perigo para salvar vidas. Ela nunca falava sobre isso. Não queria atenção. Mas naquela noite, a atenção veio até ela.
Uma equipe de reconhecimento de sete fuzileiros navais havia desaparecido durante uma missão perto da Blackwater Ridge. O último contato via rádio foi interrompido, mas uma palavra cortou o estático: “Ferido”. A tempestade chegou rapidamente. O vento uivava, a chuva caía como lâminas de vidro. Um a um, todos os helicópteros de resgate foram impedidos de decolar. Até os pilotos mais experientes se recusaram a voar. Sarah se sentou quieta, ouvindo as discussões na sala de operações.
— Isso é loucura — disse o Coronel Porter, sua voz grave. — Ninguém vai sair nessa tempestade. Vamos ter que esperar.
— Por então será tarde demais, mas mandar alguém agora é uma sentença de morte — acrescentou o Major Ross.
O coração de Sarah batia forte. Ela conseguia ver as faces dos fuzileiros em sua mente. Eles provavelmente estavam feridos, com frio, esperando por ajuda que talvez nunca chegasse. Ela se levantou da cadeira, sua voz firme.
— Eu vou.
A sala ficou em silêncio. Todos viraram a cabeça na sua direção. Ross franziu a testa.
— Você vai? Você é uma médica, não uma piloto.
Ela deu um passo à frente.
— Eu tenho treinamento de voo. Já fiz isso antes.
O Coronel balançou a cabeça.
— Essa tempestade vai despedaçar o helicóptero. Até os pilotos experientes estão recusando.
Ela não recuou.
— Se ninguém for, eles vão morrer. Eu não vou deixar isso acontecer.
O clima na sala ficou tenso. Ninguém sabia o suficiente sobre ela para acreditar. Para eles, ela era apenas uma nova médica fazendo uma oferta imprudente.
— Você não tem autorização para isso. Não é seu trabalho.
Ela olhou firme para ele.
— Salvar vidas é meu trabalho.
O Coronel a observou por um momento, então finalmente disse:
— Cole, se você pegar esse helicóptero, não posso garantir que você vai voltar.
Ela assentiu.
— Entendido.
Minutos depois, Sarah estava caminhando pela pista encharcada em direção ao helicóptero de medevac. O vento quase a derrubou, mas ela seguiu em frente, puxando a jaqueta mais apertada contra o corpo. No hangar, um velho Blackhawk UH-60 estava esperando. Não era o helicóptero mais novo da base, mas era confiável. Ela passou as mãos pelos controles, sentindo-os familiares, como se estivesse tocando um velho amigo.
Enquanto ela ligava o helicóptero, um mecânico jovem correu até ela.
— Senhora, você não pode voar sozinha. Pelo menos espere por um copiloto.
Sarah olhou para ele, sua expressão calma.
— Não há tempo. Sete homens estão esperando.
As lâminas começaram a girar. A tempestade rugiu ainda mais forte, como se quisesse impedi-la de seguir em frente. Mas Sarah não estava ouvindo. Não era sobre ela. Era sobre os sete fuzileiros ali fora, no escuro, na chuva, talvez sangrando, talvez rezando para que alguém aparecesse. Ela colocou o capacete e apertou as correias, murmurando para si mesma:
— Aguentem, meninos. Eu estou indo.
Quando o helicóptero decolou, a base foi ficando para trás. O relâmpago iluminava as nuvens à frente, cruzando o céu como um aviso. A maioria das pessoas acreditava que ela não voltaria viva. Sarah Cole acreditava que não tinha escolha. E com isso, ela voou direto para a tempestade.
A tempestade a engoliu inteira. Um momento, as luzes de Fort Hawthorne estavam atrás dela, e no próximo, ela estava em total escuridão. Nuvens espessas envolviam o helicóptero como uma parede. A chuva batia contra o vidro com tanta força que ela mal conseguia ver dez metros à frente. Os controles tremiam em suas mãos. O vento batia no Blackhawk, empurrando-o para o lado. Os alarmes de aviso começaram a soar.
Sarah apertou mais forte o controle. Ela já havia voado em condições difíceis antes, mas nada como aquilo. Sua comunicação com a base estava falhando. O radar piscava, e a tela se preenchia com estática. A tempestade estava embaralhando seus sistemas. Cada segundo no ar parecia mais longo. A cada segundo, os sete fuzileiros estavam ficando mais frios, mais fracos.
Um relâmpago iluminou o céu, tão perto que ela pôde sentir o calor através do vidro. O trovão sacudiu a cabine. Seu coração batia forte, mas suas mãos permaneciam firmes. Ela sussurrou para si mesma:
— Aguentem, meninos. Só aguentem.
O helicóptero deu um solavanco de repente, caindo alguns metros em uma corrente descendente violenta. Seu estômago virou, mas ela puxou com força, nivelando a aeronave. Então algo apareceu: um sinal fraco na frequência de emergência. Ela ajustou o rádio, ouviu o estático, e então uma voz quebrada:
— Ridge ferido. Precisamos de evacuação.
O peito dela apertou. Era eles. Ela rapidamente inseriu as coordenadas. Eles estavam na Blackwater Ridge, como os relatórios haviam dito. Mas a localização era ruim, cercada por falésias íngremes e exposta ao vento. Aterrissar ali seria quase impossível. Mas ela seguiu em frente.
Minutos depois, ela viu. Uma luz laranja fraca à distância, piscando através da tempestade. Uma bengala. Seus olhos se encheram de alívio. Eles estavam vivos. Ela guiou o Blackhawk em direção à falésia. Quanto mais perto ela chegava, pior o vento se tornava. O helicóptero balançava como um animal selvagem. Cada movimento precisava ser perfeito. Um erro e ela cairia nas rochas.
Através da chuva, ela os viu. Sete figuras agachadas, suas roupas encharcadas, algumas se apoiando umas nas outras. Mesmo de cima, ela podia ver os ferimentos. Ela pairou sobre eles, lutando contra o vento. O helicóptero sacudiu violentamente. A falésia era estreita e irregular, quase sem espaço para pousar. Ela desceu lentamente, inchando por polegadas, os braços dormentes de tanto segurar os controles firmemente.
Os Marines olharam para cima, protegendo os olhos do vento. Ela viu a incredulidade em seus rostos. Finalmente, os patins tocaram o chão o suficiente para que os Marines subissem. Os dois primeiros subiram rapidamente, ajudando os feridos. Um tinha uma perna sangrando. O outro com o braço engessado.
Sarah saiu rapidamente da cadeira para ajudá-los a entrar. Seu treinamento como médica de combate entrou em ação automaticamente.
— Vamos, vamos! — ela gritou sobre o barulho da tempestade. Um a um, eles entraram. O último Marine, o Sargento Mike Daniels, parou na porta e olhou para ela.
— Senhora, eu pensei que ninguém viria.
Sarah deu um pequeno sorriso tenso.
— Aperte o cinto. Não estamos em casa ainda.
Todos estavam a bordo. Ela voltou para o assento do piloto, apertando os controles. A tempestade novamente atingiu o helicóptero com força enquanto ela subia. A falésia desapareceu atrás deles, engolida pela tempestade. Ela manteve os olhos firmemente no painel de instrumentos.
A base estava perto agora. Ela só precisava manter o helicóptero no ar por mais um pouco.
Finalmente, através da chuva e da escuridão, ela viu. A luz fraca da pista de aterrissagem em Fort Hawthorne. O peito dela se apertou com alívio, mas ela não relaxou. Não ainda. A aproximação final seria a mais perigosa.
A pista estava escorregadia com a chuva. Um movimento errado e eles cairiam antes de chegar ao solo. Ela desceu o helicóptero cuidadosamente, lutando contra o vento até o final. Os Marines se agarraram aos assentos, silenciosos. Os patins tocaram a pista molhada. O helicóptero deslizou ligeiramente e depois estabilizou. Eles estavam no chão.
Por um momento, ninguém se moveu. O único som era a chuva batendo contra o metal.
Então o Sargento Daniels desabotoou o cinto, a voz baixa, mas cheia de emoção.
— Senhora, eu achei que nunca mais veria minha esposa.
Sarah olhou para ele, sua voz tranquila.
— Vá vê-la. Todos vocês vão para casa.
Os Marines desceram, alguns mancando, outros se ajudando. Do lado de fora, o Coronel Porter e o Major Ross estavam esperando, suas roupas encharcadas pela chuva. Ambos os homens olharam para Sarah, boquiabertos, enquanto ela saía do cockpit. Porter balançou a cabeça.
— Cole, como você…?
Sarah apenas sorriu levemente.
— Eles precisavam de mim.
Ela passou por eles, a chuva pingando de seus cabelos, suas botas batendo nas poças. Ela não ficou para os elogios. Não precisava disso. Os Marines estavam vivos. Isso era o suficiente.
E naquela noite, no meio da pior tempestade que a base já tinha visto, Sarah Cole se tornou uma lenda.