A chama da lâmpada a óleo dançava sobre o rosto de Sarah McKenna enquanto ela olhava para ele. Aos 46 anos e sozinha há três invernos, sentiu algo que pensava ter morrido com seu marido. O estranho que estava em sua porta estava sangrando, sua camisa rasgada de um ferimento de bala. A neve derretia de seus ombros largos, caindo sobre o chão de madeira da pequena cabana.
“Por favor”, disse ele, com uma voz áspera como cascalho. “Meu cavalo está mancando. Só preciso de abrigo até a manhã.”
Ela deveria ter dito não. Uma mulher sozinha, a quilômetros da cidade, deixando entrar um homem que nunca tinha visto antes. Mas algo em seus olhos — não desespero, algo mais profundo — a fez dizer:
“Você pode dormir perto do fogo.”
Ele entrou e a porta se fechou atrás dele com um estrondo. Nenhum dos dois sabia que, em dois dias, tudo mudaria. O desejo proibido floresceria na neve do Colorado, segredos viriam à tona, que poderiam destruí-los.
Sarah sentiu suas mãos trêmulas enquanto aquecia água no fogão. Não era pelo frio — ela já estava acostumada aos invernos do Colorado. Era ele, a maneira como ele se movia pela sua pequena cabana, como se já pertencesse ali, como se sua presença preenchesse os espaços que estavam vazios há tanto tempo.
“Camisa fora”, ela disse, sem olhar para ele. “A ferida precisa ser limpa.”
Jack hesitou, depois tirou a camisa manchada de sangue. O peito dele era um mapa de cicatrizes: velhas marcas de balas, cortes de facas — a vida difícil de um homem que vivia pela sua arma. Mas foram seus olhos que a desarmaram. Azuis como lagos de montanha, assistindo-a com uma intensidade que a fez sentir-se uma mulher de novo, em vez de apenas uma viúva esperando pela morte.
“Você vive aqui sozinha?” ele perguntou, enquanto ela passava uísque na ferida no seu ombro.
“Três anos”, ela respondeu, tocando-o com gentileza e profissionalismo. Ela já havia costurado muito em seu marido, mas isso parecia diferente. Elétrico.
“Meu marido faleceu de doença pulmonar, das minas.”
“Desculpe. E sua família?”
Jack contraiu a mandíbula. “Nenhum que me queira.”
O silêncio se fez entre eles enquanto Sarah terminava de cuidar da ferida. Ela estava ciente da respiração dele sobre o seu cabelo, do calor irradiando de sua pele.
Quando ela se afastou, seus olhos se encontraram e ficaram ali, um reconhecendo a solidão do outro, talvez uma fome não dita.
“Eu tenho um ensopado”, disse ela, rapidamente. “Não é muito, mas fica à vontade.”
Eles sentaram à mesa, o vento uivando lá fora. Sarah o observava comer, notando a maneira cuidadosa com que ele segurava o garfo, como seus olhos nunca paravam de se mover — um homem acostumado com o perigo.
“E o que te traz por aqui, num tempo como este?” ela perguntou.
“Procurando por alguém. Um camarada que eu conhecia.”
Jack fez uma pausa e, sob a luz da lâmpada, olhou para o rosto dela.
“Você já ouviu falar de Tommy McKenna?”
O ensopado de Sarah caiu na mesa, e a cor sumiu de seu rosto.
“O que você disse? Tommy McKenna?”
“Cerca de 25 anos. Cabelos castanhos. Olhos verdes, como os seus. Trabalhamos juntos numa mina na Califórnia por cerca de seis meses… Tommy…”
As palavras saíram em um sussurro. “Tommy é meu filho.”
Jack ficou imóvel. “Seu filho?”
“Ele foi embora há dois anos para buscar ouro. Não tenho notícias dele desde então…”
Sarah soluçou, lágrimas de alívio e medo, e uma dor profunda que a havia esvaziado.
Sem pensar, Jack alcançou sua mão através da mesa e a segurou. Seus dedos eram pequenos, ásperos, mas quentes.
“Eu vou encontrá-lo”, disse Jack. “É por isso que estou indo para o Oeste. Para encontrar Tommy e resolver o que aconteceu.”
Sarah olhou para ele, um homem que conhecia seu filho, que arriscou a vida por Tommy, e sentiu algo se quebrar dentro de seu peito. Não apenas gratidão, mas algo mais escuro, mais perigoso.
“O celeiro está muito frio”, ela disse, finalmente. “Você pode dormir perto do fogo.”
Jack assentiu, sem confiar em sua voz. Ele vinha fugindo há meses, sempre um passo à frente dos homens que queriam vê-lo morto. Mas ali, naquela cabana aquecida, com essa mulher quebrada, ele sentiu algo que não sentia há anos: paz.
Quando Sarah subiu para o loft para se deitar, Jack estendeu seu cobertor perto do fogo, ouvindo os sons dela se movendo no andar de cima, se preparando para a cama. Mas então o som parou. Ele olhou para o teto e se perguntou que tipo de homem desejava a mãe do seu melhor amigo, o tipo de homem que estava solitário demais.
Sarah acordou antes do amanhecer, como sempre fazia, mas dessa vez ouviu uma respiração diferente da sua. Ela desceu silenciosamente e encontrou Jack sentado perto do fogo que se apagava, totalmente vestido, olhando para as brasas.
“Não conseguiu dormir?” ela perguntou.
“Não sou muito bom com isso, ultimamente.”
Ela foi para o fogão, começou o café e observou o perfil dele — queixo forte, o tipo de rosto que envelheceria bem, se vivesse o suficiente.
“Me conta sobre Tommy”, ela disse.
Jack olhou suavemente para ela. “Ele falava de você todos os dias. Disse que sua mãe era a mulher mais forte do Colorado. Ele disse que ia ficar rico e voltar para cuidar de você.”
“Menino tolo”, ela sorriu. “Ele não precisa me cuidar. Só preciso dele em casa.”
“Eu sei”, Jack disse. “Mas ele pensa que falhou com você.”
“Ele é orgulhoso, como a mãe.”
Sarah suspirou. “Eu só queria que ele tivesse me ouvido.”
Jack olhou-a com intensidade. Ele era mais duro, perigoso. Sua história estava cheia de violência e arrependimentos, algo que Sarah sentia em sua alma.
“Por que você realmente está procurando por ele?”, ela perguntou.
“Porque é minha culpa que aqueles homens vieram. Meu passado nos alcançou. Tommy foi arrastado para algo que ele não tinha nada a ver.”
Sarah pensou por um momento. “E qual é esse passado?”
“O tipo que mata.”
Ela tomou o copo de uísque e passou para ele, seus dedos se tocando.
“Você está em perigo agora?”, perguntou ela.
“Sempre.”
“Então por que arriscar vir até aqui?”
“Porque Tommy disse que, se algo acontecesse, eu deveria garantir que você soubesse que ele te amava.”
“E por quê?”
“Porque eu queria ver a mulher que criou Tommy McKenna.”
Aquelas palavras ficaram no ar entre eles. Sarah se sentiu corada, seu pulso acelerando. Isso era errado. Jack era amigo do seu filho. Mas quando ele olhou para ela assim…
“Eu preciso verificar sua bandagem,” ela sussurrou, quase sem voz.
Jack colocou o copo de lado e começou a abrir a camisa, seus músculos surgindo, fortes e cobertos de cicatrizes. A ferida estava boa. Ela não se afastou. O toque dele em seu rosto a desarmou.
“Eu sei que isso é errado”, ele disse suavemente.
“Então por que?”, ela sussurrou.
“Porque estive morto por dentro durante dois anos. E você… você me fez sentir vivo de novo.”
Ela não recuou, sentindo o cheiro dele — couro e pinho e algo essencialmente masculino. O calor de sua pele a envolvia. Quando ele se inclinou, Sarah sabia que deveria se afastar. Mas em vez disso, ela foi até ele, se encontrando com seus lábios, com um desejo que vinha de um lugar muito profundo.
O beijo foi suave, depois urgente. Eles se entregaram um ao outro. Sarah sentiu-se viva novamente, como não se sentia há muito tempo.
Quando se separaram, ambos respirando pesadamente, ela sussurrou:
“Isso é loucura.”
“Louco”, ele concordou.
Mas suas mãos ainda estavam em seu cabelo.
O vento lá fora aumentou novamente, a neve chegando. Jack estaria preso ali mais um dia, pelo menos. Eles sabiam o que isso significava.
Sarah fez uma escolha que mudaria tudo.